ALFABETIZAÇÃO: Um olhar sobre as dificuldades de aprendizagem

Por Adriana Lanteman Mariano Martins | 06/06/2018 | Educação

1.1. ALFABETIZAÇÃO: Um olhar sobre as dificuldades de aprendizagem

 

Adriana Lanteman Mariano Martins

RESUMO

 

Esse trabalho focaliza as inúmeras dificuldades apresentadas durante o processo de alfabetização, considerando as formas utilizadas por educadores em sala de aula e sua sintonia entre teorias e metodologias. Oportunamente nos remete a reflexão sobre como melhorar o ensino/aprendizagem diante das inúmeras dúvidas relacionadas à alfabetização e a inclusão. Contemplar os estudos realizados por Emilia Ferreiro, Ana Teberoski, Jean Piaget dentre outros autores que propõem a teoria junto à prática, na tentativa de elucidar as dificuldades encontradas no processo de alfabetização. Objetivar a compreensão dos métodos e aprofundamento do tema para discernir as dúvidas de educadores quanto à verdadeira função da alfabetização e sua necessidade enquanto mecanismo social que possibilitará o exercício da cidadania. Possibilitar aos educadores que sejam atuantes durante o processo de alfabetização, projetando uma escola transformadora. Conscientizar todos os co-responsáveis do processo ensino/aprendizagem e  inclusão do papel político e social de um ensino eficiente. Apresentar aspectos relevantes quanto a aprendizagem e técnicas de ensino.

Palavras-chave: Alfabetização. Letramento. Dificuldades.

SUMÁRIO

 

 

1.  INTRODUÇÃO.. 9

2.   A ALFABETIZAÇÃO.. 12

3.   AS DIMENSÕES DO APRENDER E AS DISFUNÇÕES QUE PRECISAM SER INVESTIGADAS.. 14

4.    AS FASES DA ESCRITA INFANTIL.. 20

4.1. HIPÓTESE PRÉ-SILÁBICA.. 21

4.2. INTERMEDIÁRIO I 21

4.3. HIPÓTESE SILÁBICA.. 22

4.4. HIPÓTESE SILÁBICA – ALFABÉTICA OU INTERMEDIÁRIA II 22

4.5. HIPÓTESE ALFABÉTICA.. 22

5. COMPREENDENDO OS MÉTODOS.. 24

5.1  MÉTODOS SINTÉTICOS.. 24

5.2    MÉTODOS ANALÍTICOS OU GLOBAIS.. 26

6.   CONSTRUTIVISMO.. 28

7.   DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO.. 30

7.1.  OS ALFABETIZADORES.. 30

7.2.  MÉTODOS QUE UTILIZAM.. 31

8.   CONSIDERAÇÕES FINAIS.. 37

9.   REFERÊNCIAS.. 39

 

 

 

1.  INTRODUÇÃO

  

Ao depararmos com questões relacionadas à alfabetização e considerando a diversidade atendida nas escolas, compreende-se a necessidade de viabilizar meios de intervir num processo de importância fundamental, a alfabetização e inclusão, não restrita, a saber, sons, letras e palavras, mas a de compreendê-las dentro do contexto social oportunizando também ao PNEE, avanços dentro do seu potencial. Segundo os PCNs da Língua Portuguesa e a Portaria Ministerial nº555 de 5/7/2007, Política nacional de educação especial na perspectiva de educação inclusiva.

[...] É pela mediação da linguagem que a criança aprende os sentidos atribuídos pela cultura às coisas, ao mundo e as pessoas; é usando a linguagem que constrói sentidos sobre a vida, sobre si mesmos, sobre a própria linguagem. Essas são as principais razões para, da perspectiva didática, tomar como ponto de partida os usos que o aluno já faz da língua ao chegar à escola, para ensinar-lhe aqueles que ainda não conhece. (PCN, 1997, p.67)

Pode-se constatar o real significado sobre a alfabetização e sua função social, há de se compreender as necessidades, ou melhor, os pré-requisitos para sua iniciação e as dimensões que podem ser alcançadas através do seu aprendizado, esse que deverá ser de relevante teor para que assim garanta aos educandos o uso eficaz da linguagem.

O fracasso escolar ainda em alta é produtor de vários estudos e pesquisas que visam contribuir para senão erradicação dos problemas a respeito da alfabetização, ao menos para melhoria de nossa prática, desta forma, avalia-se como se dá o processo e evolução da alfabetização. O aprendizado a ser ofertado aos educandos deve ter a finalidade de intervir e colaborar na comunicação oral e escrita, então cabe ao educador divulgar a diversidade dos meios para expressar-se e melhor forma de usá-las.                                                                                                       

Partindo do pressuposto que para qualquer ensinamento deve haver um aprendizado, nos é ofertado enquanto educandos vários meios de ensinar, daí recebermos orientações de teóricos e metodologias que expiram meios para concretizar o trabalho de alfabetizar. Assim, expomos os métodos mais utilizados e conhecidos para intermediar a relação entre eles e os educadores, na verdade busca-se compreender a viabilidade de cada um e como melhor direcioná-los num contexto de múltiplas ideias, porém com um único objetivo, o de alfabetizar em sua totalidade.

Das autoras Ferreiro e Teberosky obtivemos uma análise face ao construtivismo de Jean Piaget, que proporcionou-nos uma interrogativa em virtude de sua tese e para que pudéssemos entendê-la coube um estudo sucinto frente à vida desse teórico que contribuiu na área educacional, levantando hipóteses e considerando como fundamental a aprendizagem participativa do sujeito que deve buscar o aprendizado e ter como intermediário o educador. Espera-se sanar dúvidas dessa teoria e como utiliza-la no processo de alfabetização, considerando essa frase de Piaget “O principal objetivo da educação é criar indivíduos capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram.", devemos nos preparar para obter um novo conceito entre teoria, prática e resultados.

Diante dessas perspectivas junto ao processo de alfabetização não poderíamos deixar de expor o elenco que o rodeia, nessa cena entram educadores, educandos, a escola, a família, a comunidade e também as políticas públicas como colaboradores ou intermediários do processo ensino/aprendizagem, que não só permeiam educadores e educandos, mas também os seus produtores e interventores. Apresentamos todos os agentes que compõem o processo de alfabetização e que de uma forma ou de outra interferem no contexto escolar.

 Apresentamos as metodologias utilizadas em nosso trabalho objetivando ampliar nosso conhecimento sobre o assunto, buscando melhores formas de conduzir o aprendizado e conscientizar que não devemos apenas promover o aluno, mas formar um cidadão crítico reflexivo e principalmente capaz de argumentar sobre a sociedade e sua realidade.

2.   A ALFABETIZAÇÃO

Em síntese podemos definir alfabetização como o aprendizado do alfabeto e sua utilização como código de comunicação, porém como defini-lo assim quando se trata de um processo complexo e sistemático no qual o objetivo, além das habilidades mecânicas de codificação e decodificação, ainda apreende a capacidade de compreender, interpretar, criticar, resignar e produzir conhecimento?

Haja vista as possibilidades que a alfabetização causa nos indivíduos remetem-se aos primórdios das relações de comunicação a fim de desvendarmos o porquê da construção desses códigos que permeiam nossa vida em tantas circunstancias então um breve histórico na construção da escrita e leitura fará com que se assimile sua complexidade.

Na Antiguidade a necessidade de registro dos acontecimentos fez com que o homem das cavernas se utilizasse de imagens gravadas nas paredes, a escrita pictórica. Após, surgiu à escrita ideográfica, que não utilizava apenas rabiscos e figuras associados à imagem que se queria registrar, mas sim uma imagem ou figura que representasse uma ideia, tornando-se posteriormente uma convenção de escrita. Os leitores dependiam do contexto e do senso comum para decifrar o significado. As letras do nosso alfabeto vieram desse tipo de evolução.

Então a última evolução foi a escrita alfabética que no inicio não contava com vogais, mas os gregos a aperfeiçoaram com o acréscimo de vogais e transmitiram aos latinos, que difundiram na Gália e no Ocidente. A escrita exerceu um papel importante, servindo  para a conservação dos textos religiosos, como entre os árabes - onde se conservou o corão1 [1]- e os hebreus - onde o hebraico foi conservado para os textos bíblicos. Além de exercer um papel importante no religioso, a escrita, foi muito importante para a vida econômica na Mesopotâmia, em Chipre e entre os fenícios estava mesmo relacionada com a estrutura social do conjunto.

Depois de compreendermos a necessidade da existência da escrita, pode-se deduzir sua importância para os indivíduos, no entanto deve-se conceber de forma linear sua complexidade e relação social, a partir desse ponto verificam-se os pré-requisitos para ser alfabetizado.

 

3.   AS DIMENSÕES DO APRENDER E AS DISFUNÇÕES QUE PRECISAM SER INVESTIGADAS

 

Centralizam-se as discussões sobre as dificuldades que circundam o processo de alfabetização e voltam-se por momentos na relação do educando com esse aprendizado, e a que sentido e significado têm a alfabetização para quem ensina e quem aprende.

O significado da alfabetização reflete o que irá acontecer independente das relações individuais ou pessoais do ser humano, pois o homem se apropria de significações já construídas historicamente. Daí o que esse significado ser tornará depois de apropriado por cada indivíduo irá depender do sentido subjetivo e pessoal de cada um. Ou seja, toda a ação tem uma motivação que é chegar ao fim do objetivo pretendido. “[...] Então para que se encontre o sentido pessoal do que a significação tem para os indivíduos é necessário que se encontre o que motiva a ação”. (GONTIJO, 2002, p.40).

É importante que os educadores, educandos e família tenham consciência do que é ser alfabetizado e qual o seu valor, quais são as possibilidades que podem ser alcançadas a partir dela e como dirimi-las no contexto social.

Ao banquetearmos com a obra de Gontijo (2002), encontramos um trabalho consistente no que se refere ao desenvolvimento da leitura e da escrita desse processo, a autora contempla-nos com novas pesquisas para os diferentes olhares, e principalmente com relação ao sentido que é atribuído à aprendizagem da leitura e da escrita no processo de alfabetização.

De acordo com a pesquisa feita pela autora Gontijo, a alfabetização se transforma dentro do contexto escolar como um meio necessário apenas na realização de tarefas. Por exemplo, quando a autora pergunta em sua pesquisa para as crianças qual a importância da leitura e da escrita? As respostas são: ‘’[...] porque na hora que eu chegar eu já sei ler (Samila)’ [...] vou poder fazer meu nome todinho completo, o alfabeto todo, o nome da escola e poder ler o dever do quadro (Larissa)” (GONTIJO; 2002 p. 42). Conota-se que o aprendizado não passa os muros da escola, não estando interligado às facetas da relação social.

Lembramos também da alfabetização com sentidos construídos para uma sociedade capitalista cuja principal atividade econômica é a indústria, desse modo, faz-se necessário a escolarização de trabalhadores, ou seja, as crianças concordam que a alfabetização é uma condição necessária para ser trabalhador quando em suas falas dizem assim: ‘’[...] pra gente ficar grande ir crescendo e pra gente trabalhar [...] pra gente trabalhar quando eu crescer. Quando eu crescer, vou ser médica. ’’ (GONTIJO; 2002 p. 45), com intuito básico de servidão, apropria-se dos códigos alfabéticos para manter-se próxima das relações comerciais.

Contudo isso não é suficiente para que elas realizem todas as tarefas propostas pela professora. Entende-se então um pouco a questão do trabalho sem significações, onde os sentidos não permeiam os alunos, firmariam o fazer por fazer, ler por ler e copiar por copiar ocultando assim que a alfabetização é um processo na formação dos indivíduos. Processo esse pelo qual indivíduos tomam para si o resultado do desenvolvimento histórico – social para universalidade e liberdade do homem. De acordo com Gontijo devemos considerar cada criança como ser único que vivencia e compartilha diversos contextos sociais, educativo, familiar e econômico construindo assim seu próprio conhecimento para apropriar-se da leitura e da escrita já existente.

Porém, devemos ficar atentos aos diversos fatores que podem impedir que esses conhecimentos sejam absorvidos pela criança. Pois todo indivíduo tem o direito a educação, mesmo aqueles com alguma deficiência, de acordo com a política nacional de educação especial na perspectiva de educação inclusiva.

A área da educação nem sempre é cercada somente por sucessos e aprovações. Muitas vezes, no decorrer do ensino, nos deparamos com problemas que deixam os alunos paralisados diante do processo de aprendizagem, assim são rotulados pela própria família, professores e colegas.

 Segundo Bossa (2000) é importante que todos os envolvidos no processo educativo estejam atentos a essas dificuldades, observando se são momentâneas ou se persistem há algum tempo. As dificuldades podem advir de fatores orgânicos ou mesmo emocionais e é importante que sejam descobertas a fim de auxiliar o desenvolvimento do processo educativo, percebendo se estão associadas à preguiça, cansaço, sono, tristeza, agitação, desordem, dentre outros, considerados fatores que também desmotivam o aprendizado.

 Para Carvalho (2007) a dificuldade mais conhecida e que vem tendo grande repercussão na atualidade é a dislexia, porém, é necessário estarmos atentos a outros sérios problemas: disgrafia, discalculia, dislalia, disortografia e o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).

-Dislexia: é a dificuldade que aparece na leitura, impedindo o aluno de ser fluente, pois faz trocas ou omissões de letras, inverte sílabas, apresenta leitura lenta, dá pulos de linhas ao ler um texto, etc. Estudiosos afirmam que sua causa vem de fatores genéticos, mas nada foi comprovado pela medicina.

- Disgrafia: normalmente vem associada à dislexia, porque se o aluno faz trocas e inversões de letras consequentemente encontra dificuldade na escrita. Além disso, está associada a letras mal traçadas e ilegíveis, letras muito próximas e desorganização ao produzir um texto.

 - Discalculia: é a dificuldade para cálculos e números, de um modo geral os portadores não identificam os sinais das quatro operações e não sabem usá-los, não entendem enunciados de problemas, não conseguem quantificar ou fazer comparações, não entendem sequencias lógicas e outros. Esse problema é um dos mais sérios, porém ainda pouco conhecido.

- Dislalia: é a dificuldade na emissão da fala, apresenta pronúncia inadequada das palavras, com trocas de fonemas e sons errados, tornando-as confusas. Manifesta-se mais em pessoas com problemas no palato, flacidez na língua ou lábio leporino.

- Disortografia: é a dificuldade na linguagem escrita e também pode aparecer como consequência da dislexia. Suas principais características são: troca de grafemas, desmotivação para escrever, aglutinação ou separação indevida das palavras, falta de percepção e compreensão dos sinais de pontuação e acentuação.

- TDAH O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um problema de ordem neurológica, que traz consigo sinais evidentes de inquietude, desatenção, falta de concentração e impulsividade. Hoje em dia é muito comum vermos crianças e adolescentes sendo rotulados como DDA (Distúrbio de Déficit de Atenção), porque apresentam alguma agitação, nervosismo e inquietação, fatores que podem advir de causas emocionais. É importante que esse diagnóstico seja feito por um médico e outros profissionais capacitados.

Professores podem ser os mais importantes no processo de identificação e descoberta desses problemas, porém não possuem formação específica para fazer tais diagnósticos, que devem ser feitos por médicos, psicólogos e psicopedagogos. O papel do professor se restringe em observar o aluno e auxiliar o seu processo de aprendizagem, tornando as aulas mais motivadas e dinâmicas, não rotulando o aluno, mas dando-lhe a oportunidade de descobrir suas potencialidades.

4.     AS FASES DA ESCRITA INFANTIL

Os alfabetizadores devem conscientizar-se da necessidade desse entendimento quanto à relação aprendiz x mediador, uma vez que o processo somente se dá através de fases, estas que devem ser bem compreendidas pelos mesmos para um melhor aproveitamento das partes. Devem-se explicitar os anseios de ambos, sujeitando-se aos estudos aqui demonstrados.

Sabe-se que o momento da escrita da criança começa muito antes da primeira vez que nós educadores colocamos o lápis na mão da criança, de acordo com Ferreiro a escrita pode ser concebida de duas formas: que são representações da linguagem ou como um código de transcrição gráfica das unidades sonoras, perfazendo um significado a vida da criança.

Imitar o ato de escrever é uma coisa, interpretar a escrita produzida é outra, pois então, quando saber em que momento deixa de ser um traçado para se converter num objeto substitutivo, numa representação simbólica?

Portanto cabe ao educador intervir didaticamente no processo de construção de conhecimento da criança, de maneira apropriada, para isso deve conhecer bastante sobre o sujeito, sobre a língua escrita e sobre as mediações possíveis entre sujeito e objeto.

Então por acreditarem que a criança busca a aprendizagem na medida em que constrói o raciocínio lógico e que o processo evolutivo de aprender a ler e escrever passa por níveis de conceitualização que revelam as hipóteses a que chegou a criança, Emilia Ferreiro e Ana Teberosky definiram, na Psicogênese da Língua Escrita, cinco níveis:


• Nível 1: Hipótese Pré-Silábica;
• Nível 2: Intermediário I;
• Nível 3: Hipótese Silábica;
• Nível 4: Hipótese Silábico-Alfabética ou Intermediário II;
• Nível 5: Hipótese Alfabética.

4.1. HIPÓTESE PRÉ-SILÁBICA

A criança:

 Ø  Não estabelece vínculo entre fala e escrita;

Ø  Demonstra intenção de escrever através de traçado linear com formas diferentes;

Ø  Usa letras do próprio nome ou letras e números na mesma palavra;

Ø  Caracteriza uma palavra como letra inicial;

Ø  Tem leitura global, individual e instável do que escreve: só ela sabe o que quis escrever;

 

4.2. INTERMEDIÁRIO I

A criança:

 Ø  Começa a ter consciência de que existe alguma relação entre pronúncia e a escrita;

Ø  Começa a desvincular a escrita das imagens e os números das letras;

Ø  Conserva as hipóteses da quantidade mínima e da variedade de caracteres.

 

4.3. HIPÓTESE SILÁBICA

A criança:

 Ø  Já supõe que a escrita representa a fala;

Ø  Tenta fonetizar a escrita e dar valor sonoro às letras;

Ø  Já supõe que a menor unidade de língua seja a sílaba;

Ø  Em frases, pode escrever uma letra para cada palavra.

 

 4.4. HIPÓTESE SILÁBICA – ALFABÉTICA OU INTERMEDIÁRIA II

A criança:

 Ø  Inicia a superação da hipótese silábica;

Ø  Compreende que a escrita representa o som da fala;

Ø  Passa a fazer uma leitura termo a termo; (não global)

Ø  Consegue combinar vogais e consoantes numa mesma palavra, numa tentativa de combinar sons, sem tornar, ainda, sua escrita socializável.

 

4..5. HIPÓTESE ALFABÉTICA

A criança:

 Ø  Compreende que a escrita tem função social;

Ø  Compreende o modo de construção do código da escrita;

Ø  Omite letras quando mistura as hipóteses alfabética e silábica;

Ø  Não tem problemas de escrita no que se refere a conceito;

Ø  Não é ortográfica e nem léxica.

 

A alfabetização não é mais vista como sendo o ensino de um sistema gráfico que equivale a sons. Um aspecto que tem que ser considerado nessa nova perspectiva e que a relação da escrita com a oralidade não é uma relação de dependência da primeira com a segunda, mas é antes uma relação de interdependência, isto é, ambos os sistemas de representação influenciam-se igualmente.

Entende-se que cada educando apresenta sua dificuldade, alguns tem bloqueios para escrever, expressar suas emoções, falar etc. Nesse contexto, o educador precisa estar atento a essas dificuldades, a fim de criar mecanismo para seu enfrentamento, reconhecendo que na fase inicial, a criança absorve o que lhe é repassado e incorpora valores que no decorrer da vida escolar, se contemporizam com outros, podendo gerar conflito ou dificuldades.

 Para Soares (2003) no processo de alfabetização caberá ao educador muito mais que responder a estatísticas, será de sua total importância à alfabetização contextualizada em acordo com o PCN da Língua Portuguesa, onde esse processo deve ser mais do que codificação e decodificação, e sim possibilitar a construção social desse indivíduo.

5. COMPREENDENDO OS MÉTODOS

Em nosso país, a história da alfabetização tem sua face mais visível na história dos métodos de alfabetização, em torno dos quais, especialmente desde o final do século XIX, vêm-se gerando tensas disputas relacionadas com "antigas" e "novas" explicações para um mesmo problema: a dificuldade de nossas crianças em aprender a ler e a escrever.

A fim de contribuir para a compreensão desse processo e para a busca de respostas sobre o processo de alfabetização, como se pode intervir ou intermediar, utilizando uma diversidade de métodos, apresenta-se a seguir, conforme leituras, momentos cruciais das discussões caracterizados pela disputa em torno de certas tematizações, normatizações e concretizações, relacionados ao ensino da leitura e escrita, considerando novas e melhores, contrapondo antiga e tradicional forma de aprendizagem.

O que se deve levar em conta no momento da escolha do método é seus fundamentos teóricos, etapas de aplicação, material necessário e os possíveis resultados.

 

5.1  MÉTODOS SINTÉTICOS

Ao final do Império brasileiro o ensino carecia de organização, pois as escolas não possuíam instalações convenientes de funcionamento, o ensino era muito dependente do empenho do professor e alunos. O ensino da leitura acontecia mediante utilização de “cartas do ABC”, daí liam e depois copiavam.

O método sintético, do ensino a partir da parte para o todo: primeiro a soletração, partindo do nome das letras; fônico, partindo dos sons das letras; e da silabação, emissão de sons das sílabas.

Os métodos sintéticos podem ser divididos em três tipos: o alfabético, o fônico e o silábico.

No alfabético, o estudante aprende inicialmente as letras, depois forma as sílabas juntando as consoantes com as vogais, para, depois, formar as palavras que constroem o texto.

No fônico, também conhecido como fonético, o aluno parte do som das letras, unindo o som da consoante com o som da vogal, pronunciando a sílaba formada.

Já no silábico, ou silabação, o estudante aprende primeiro as sílabas para formar as palavras.

Por este método, a aprendizagem é feita primeiro através de uma leitura mecânica do texto, através da decifração das palavras, vindo posteriormente a sua leitura com compreensão. 


Neste método, as cartilhas são utilizadas para orientar os alunos e professores no aprendizado, apresentando um fonema e seu grafema correspondente por vez, evitando confusões auditivas e visuais.

Como este aprendizado é feito de forma mecânica, através da repetição, o método sintético é tido pelos críticos como mais cansativo e enfadonho para as crianças, pois é baseado apenas na repetição e é fora da realidade da criança, que não cria nada, apenas age sem autonomia.

Ensinava-se a ler palavras formadas com essas letras e/ou sons e/ou sílabas e, por fim, ensinavam-se frases isoladas ou agrupadas.

Quanto à escrita, está se restringia a caligrafia e ortografia, e seu ensino a cópia, ditados e formação de frases, enfatizando-se o desenho correto das letras.

 

 5.2    MÉTODOS ANALÍTICOS OU GLOBAIS

 

O método analítico, influência da pedagogia norte-americana, baseava-se em princípios didáticos derivados e uma nova concepção de criança.

Opunha-se ao método sintético, questionando dois argumentos dessa teoria. Um que diz respeito à maneira como o sentido é deixado de lado e outro que supunha que a criança não reconheceria uma palavra sem antes reconhecer sua unidade mínima.

A principal característica que diferencia o método sintético do analítico é o ponto de partida. Enquanto o primeiro, parte do menor componente para o maior, o segundo, parte de um dado maior para unidades menores.

Justificando o método analítico, Nicolas Adam, responsável por suas bases, vai utilizar-se de uma metáfora, dizendo que, quando se apresenta um casaco a uma criança mostra-se ele todo, e não a gola, depois os bolsos, os botões etc.

Adam afirma que é dessa forma que uma criança aprende a falar, portanto deve ser da mesma forma que deve aprender a ler e escrever, partindo do todo, decompondo-o, mais tarde, em porções menores. Para ele, era imprescindível ressaltar a importância que a criança tem de ler e não decifrar o que está escrito, isso quer dizer que ela tem a necessidade de encontrar um significado afetivo e efetivo nas palavras.

O método analítico/global se decompõe em:

1. Palavração: diz respeito ao estudo de palavras, sem decompô-las, imediatamente, em sílabas; assim, quando as crianças conhecem determinadas palavras, é proposto que componham pequenos textos;

2. Sentenciarão: formam-se as orações de acordo com os interesses dominantes da sala. Depois de exposta uma oração, essa vai ser decomposta em palavras, depois em sílabas;

3. Conto: a ideia fundamental aqui é fazer com que a criança entenda que ler é descobrir o que está escrito. Da mesma maneira que as modalidades anteriores pretendiam-se decompor pequenas histórias em partes cada vez menores: orações, expressões, palavras e sílabas. O ensino da leitura deveria ser iniciado pelo todo, para depois se proceder a análise de suas partes constitutivas, priorizava-se o conjunto de frases relacionadas entre si por meio de nexos lógicos, como núcleo de sentido e ponto de partida para o ensino da leitura.

A ênfase era dada no ensino da leitura dando-se pouca importância a escrita, entendida como uma questão de caligrafia e de tipo de letra, o que demandava exercícios de cópia e ditado.

Os métodos globais permitem iniciar a alfabetização com materiais mais interessantes, mais significativos, mais motivadores do que a sílaba, letra ou fonema. São mais adequados para mostrar ao aprendiz as funções e os usos sociais da escrita e da leitura e levá-lo a perceber que para compreender o texto é preciso pensar sobre o que está escrito e não apenas transformar letras em sons.

6.   CONSTRUTIVISMO

Construtivismo é uma das correntes teóricas empenhadas em explicar como a inteligência humana se desenvolve partindo do princípio de que o desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ações mútuas entre o indivíduo e o meio.

A ideia é que o homem não nasce inteligente, mas também não é passivo sob a influência do meio, isto é, ele responde aos estímulos externos agindo sobre eles para construir e organizar o seu próprio conhecimento, de forma cada vez mais elaborada.

Na década de 80 os estudos a cerca da psicogênese da língua escrita, a partir de estudiosas da área como Ana Teberosky e Emília Ferreiro, esta linha defende que a escola deve valorizar o conhecimento que a criança  tem antes de ingressar no estabelecimento. A sua ênfase é na leitura e na língua escrita e trouxe aos educadores o entendimento de que a alfabetização, longe de ser a apropriação de um código que envolve um complexo processo de elaboração de hipóteses sobre a representação linguística.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais, também conhecidos como PCNs, são uma espécie de manual para as escolas sobre como deveria ser a orientação para o ensino, de acordo com o Ministério da Educação.  Criado em 1998, este documento tem como função orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato com a produção pedagógica atual.

Os PCN’s   propõem um currículo baseado no domínio das competências básicas e que esteja em consonância com os diversos contextos de vida dos alunos. Mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou identificar símbolos, estar formado para a vida, num mundo como o atual, de tão rápidas transformações e de tão difíceis contradições, significa saber se informar se comunicar, argumentar, compreender e agir, enfrentar problemas de qualquer natureza, participar socialmente, de forma prática e solidária, ser capaz de elaborar críticas ou propostas e, especialmente, adquirir uma atitude de permanente aprendizado.

Os PCN´s  foram estabelecidos a partir de uma série de encontros, reuniões e de discussão realizados por especialistas e educadores de todo o país, de acordo com as Diretrizes gerais estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases. Segundo o MEC, estes documentos foram feitos para ajudar o professor na execução de seu trabalho, servindo de estímulo e apoio à reflexão sobre a sua prática diária, ao planejamento das aulas e, sobretudo, ao desenvolvimento do currículo da escola, formando jovens brasileiros para enfrentar a vida adulta com mais segurança.

7.   DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

O processo de alfabetização como vimos até o presente momento é complexo e norteado por metodologias diversas que intensificam as buscas por resultados positivos e qualificação da aprendizagem, e ainda conta com fatores internos e externos de aprendizagem que serão estudados a partir desse ponto.

No intuito de subsidiar alternativas de trabalho objetivando resultados positivos na aprendizagem e domínio da leitura e escrita, é necessária a compreensão de que cada um é corresponsável pelo desenvolvimento desse processo, considerando que ao longo das décadas, houve uma mudança da forma de pensar a educação, que passou de ser vista da perspectiva de como o educando aprende e não como o educador ensina.

A alfabetização constitui um instrumento para tomada de consciência de direitos e deveres do cidadão e de luta pela diminuição das desigualdades sociais.

 7.1.  OS ALFABETIZADORES

Segundo os PCN’s podemos compreender alfabetizadores como intermediadores do processo ensino-aprendizagem. O maior desafio para os educadores dos primeiros quatro anos do Ensino Fundamental consiste em ensinar as crianças a ler, escrever e a se expressar de maneira competente utilizando a Língua Portuguesa.

Segundo Lemle, o alfabetizador deve deter conhecimentos referentes aos sons da fala, a relação entre os sons da fala e as letras da língua escrita, as diferentes maneiras existentes de pronunciar as palavras, as maneiras como essas variações de pronúncia podem afetar a aprendizagem da língua escrita e a distinção entre língua escrita e língua falada, para ser capaz de sanar as dúvidas dos alunos enquanto alfabetizando e saber especificar os casos e motivos pelos quais muitos erros devem ser observados e analisados de forma coerente.

O educador durante as aulas, ao mesmo tempo em que ensina, também aprende, em uma relação de troca. Na maioria das vezes, o educador tem o papel de orientador do processo de ensino-aprendizado. Ele é o que está disponível quando um educando necessita de algum esclarecimento. Está aberto à escuta, ao diálogo, buscando sempre aumentar as potencialidades dos seus educandos, incentivando o trabalho cooperativo entre eles, sendo ao mesmo tempo um mediador e um problematizador das questões relativas ao aprendizado, permitindo que seus educandos se transformem em pessoas críticas, autônomas e conscientes de seus atos.

O educador deve considerar seus educandos como pessoas únicas, que são testemunhos de uma experiência única, e que deve ser acolhida com o maior respeito. Porque quando eles encontram um ambiente de respeito e de confiança, são capazes de expressarem o seu imaginário e suas emoções sem medo de serem julgados. Na relação educador/educando, respeito, acolhimento, escuta e compreensão são palavras que devem ser vivenciadas, experimentadas e interiorizadas.

O que se conclui é que a competência do alfabetizador, seu envolvimento com o trabalho, a atitude encorajadora e confiante em relação aos alunos pesam muito mais para o sucesso da alfabetização do que propriamente o método que utilizam.

7.2.  MÉTODOS QUE UTILIZAM

Uma das questões mais levantadas em discussões sobre o processo de alfabetização diz respeito ao não uso das cartilhas, em pesquisa realizada com alfabetizadores podemos constatar que não se faz mais uso do ensino do bê-á-bá, porém com esse método o ensino se dava em dois estágios, o primeiro onde se apresentava o sistema alfabético representando o som das palavras graficamente. E na etapa seguinte era feito o estudo da língua, com exercícios de redação e treinos ortográficos e gramaticais. Tratava-se de um processo lento.

Será mais eficiente o alfabetizador que abandonar a noção de que há uma maneira correta de fazer as coisas e que essa maneira encontra-se nos livros didáticos clássicos. É preciso desenvolver seus próprios métodos e seu próprio conteúdo, baseando-se em necessidades, interesses, características e condições locais, sua abordagem será mais significativa também para aqueles que estão sendo alfabetizados. Mantenha os princípios expostos aqui em vez de simplesmente copiar o que os outros fizeram, tanto em conteúdo como em método.

8.   CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das mais diversas áreas de ensino, há de salientar que a área de língua portuguesa é a mais importante quanto à aprendizagem e ensino, pois precisamos compreender que não trata apenas de codificação e decodificação, mas de entendimento sobre a vida cotidiana de cada indivíduo e implica na prática cívica de um cidadão.

Conclui-se que a alfabetização é uma preocupação social, e também de cunho político, pois é reconhecida a discriminação desde os primórdios do descobrimento do Brasil, e ali já projetavam a disseminação de ideais junto aos indivíduos, que eram manipulados de acordo com interesses políticos, porém, hoje, o governo disponibiliza vias de acesso à escolarização e ainda adota políticas públicas para sanar as problemáticas em relação à alfabetização e a inclusão.

Compreende-se que a alfabetização implica na vida do educando e educador, pois a qualidade deve atender todos os princípios norteadores do processo, já que é do senso comum que Leitura e Escrita não são apenas conteúdos de Língua Portuguesa e que a Alfabetização Plena nunca termina, pois a visão de homem que nossa atual sociedade tem, é a de um homem que “entenda” várias linguagens. A cada dia nasce ou renasce um novo gênero textual, ainda temos o caso da alfabetização digital entre outros. A alfabetização é um processo que começa, mas que nunca termina. O que nos falta agora é reverter o quadro que se nos apresenta a começar pelas nossas escolas e educadores.

Surge-se depois dessa pesquisa a alteração dos mecanismos para admissão de um educador na área de alfabetização que deveria somente ocorrer mediante graduação e especialização para esse fim, visto que através dos resultados das pesquisas o pouco conhecimento implica no processo ensino/aprendizagem dos educandos.

Diante do número cada vez mais crescente dos índices de exclusão, de evasão escolar e de repetência, faz-se necessário reavaliar a qualidade das práticas pedagógicas alfabetizadoras.

Cabe ressaltar mais uma vez que, além dos conhecimentos pedagógicos, metodológicos, psicológicos, entre outros, o educador que alfabetiza necessita saber como a língua oral e a escrita, funcionam e que usos têm. Uma prática pedagógica que privilegie a união de todos esses conhecimentos, incluindo os linguísticos, certamente trará resultados mais consistentes e efetivos à alfabetização.

Para concluir, é importante acrescentar que não foi o objetivo julgar ou desqualificar o sistema de ensino ou o aprendizado do educador. A ideia central que permeou as considerações tecidas é a de que, independente da realidade educacional em que o educador alfabetizador atua, é fundamental que ele faça por si mesmo, aprofundando seus conhecimentos, buscando aperfeiçoamento e soluções, a fim de tornar sua prática pedagógica mais competente e eficaz, conduzindo assim, de forma agradável e produtiva, o processo de alfabetização e inclusão.

9.   REFERÊNCIAS:

                                         

BARROS, Jussara.  Portaria ministerial nº555 de 5/7/2007, Política Nacional de educação Especial na perspectiva da educação inclusiva. Equipe Brasil escola.

BOSSA, Nadia A.. Dificuldades de aprendizagem: o que são? Como tratá-las. Porto Alegre: Artes Médica Sul, 2000.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares da Língua Portuguesa – Brasília;

CARVALHO, Marlene. Guia Prático do Alfabetizador; cinco. Ed.: São Paulo: Ática, 2007.

ESTEBAN, Maria Tereza. O que sabe quem erra? Reflexões sobre avaliação e fracasso escolar. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

FONSECA, V. Introdução ás dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

GONTIJO, C.M.M. O processo de alfabetização: novas Contribuições. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2003.

VIGOTSKY, L. S. Linguagem desenvolvimento e aprendizagemSão Paulo: Ícone, 1988.

 

 

 

 

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