ALFABETIZAÇÃO NOS DIAS ATUAIS: O QUE MUDOU DOS MÉTODOS ANTIGOS PARA OS QUE UTILIZAMOS HOJE.
Por João Paulo Nogueira de Souza | 04/08/2017 | EducaçãoJoão Paulo Nogueira de Souza
Ai de mim, ai das crianças abandonadas na escuridão. (Graciliano Ramos)
1 INTRODUÇÃO
O artigo em questão trata do processo de alfabetização, realizando um paralelo entre os métodos utilizados hoje e os que já foram realizados em outras épocas da história da educação no Brasil.
É do conhecimento de todos que vivenciam a educação de que o processo de alfabetização é de suma importância para o desenvolvimento do estudante nas demais etapas de sua vida estudantil e que uma vez esse processo ocorrendo de forma incorreta as consequências são graves e por vezes até irreversíveis, perdurando por todo o percurso escolar. Com base nesse pensamento, os investimentos nos primeiros anos de ensino tem sido algo constante dos sistemas de governo, seja ele federal, estadual ou municipal e os avanços já começam a ser evidenciados, mas ainda há muito o que se fazer para que os objetivos de alfabetizar nossas crianças seja realmente alcançados.
Muitas pessoas questionam os processos de alfabetização utilizados atualmente usando termos como “antigamente as crianças aprendiam a ler mais rápido, mesmo sem tantas formações para professores” ou “os métodos atuais de alfabetização servem apenas para ensinar a criança a brincar e desenhar”, contudo, o que precisa se ter em mente é que o processo de alfabetização que utilizamos na escola nos dias de hoje se baseia em alfabetizar a criança através do conhecimento holístico do texto que cerca uma palavra, sílaba ou letra, diferentemente da forma como ocorria a alguns anos atrás, onde os pequenos alunos aprendiam as letras através de seu fonema, sem qualquer preocupação com o contexto que cercava aquele símbolo, e essa forma de alfabetizar através de fonemas traz reflexos ainda hoje para aqueles que vivenciaram, principalmente no que diz respeito a interpretação de textos, formação crítica, argumentação, uma vez que não foram preparados para tais situações.
Partindo do assunto acima proposto, surgiu a necessidade de elaborar esse artigo que tem como objetivo analisar o processo de alfabetização realizado nas escolas nos primeiros anos do ensino fundamental, preocupando-se com os resquícios que a forma antiga de alfabetizar foneticamente possa trazer às novas metodologias alfabetizadoras, compreendendo a necessidade de conhecimento por parte dos educadores de aprimorar seus conhecimentos sobre o que é realmente alfabetizar na perspectiva do letramento, buscando perceber os avanços alcançados e o que e onde precisa-se melhorar no processo de alfabetização.
Para a realização desse artigo serão utilizados referenciais que deem ao autor subsídios para que realmente compreenda a temática em questão, dentre eles Emília Ferrero, Ana Teberoski, Magda Soares, Paulo Freire, Jean Piaget, Lev Vygotsky, além de outros que realizaram estudos a cerca do assunto e que terão relevância no decorrer do trabalho.
Assim, a metodologia que será utilizada no trabalho será de cunho bibliográfico, com base, como citado no parágrafo anterior, em estudos de teóricos que conhecem mais profundamente o universo da alfabetização e, através da leitura e escrita, espera-se familiarizar-se com o tema e buscar formas de aplicar na prática, quando preciso for, os conhecimentos adquiridos.
2 O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
É fato que o processo de alfabetização desempenha papel fundamental na vida estudantil de quem por ele passa e uma vez acontecendo de forma ineficaz pode gerar consequências graves que prejudique o desempenho do estudante nas séries posteriores.
É necessário que se perceba que não é possível trabalhar a educação como sendo algo individual, já que somos seres sociais e recebemos do meio mecanismos que interferem na aprendizagem. Segundo Ferreiro (1996, p.24) “O desenvolvimento da alfabetização ocorre, sem duvida, em um ambiente social. Mas as praticas sociais assim como as informações sociais, não são recebidas passivamente pelas crianças.” Ou seja, o pequeno estudante não se comporta como um ser passivo que apenas absorve tudo aquilo que lhe repassam, ela também aprende através da observação, do diálogo, do jogo simbólico.
Outro conceito equivocado que as pessoas, inclusive muitos professores têm acerca da alfabetização é de que ela faz parte de um estágio que a criança vai atingir em uma determinada época do ciclo estudantil, FERRERO (1996), esquecendo-se de que faz parte de um processo que é constituído por estágios de aprendizagem, que depende muito do estímulo recebido e que se inicia bem antes da vida escolar.
2.1 CONCEITO DE ALFABETIZAÇÃO
Estamos a cada dia evidenciando nas escolas a importância de trabalhar bem as crianças no seu processo de alfabetização, pois, uma vez alfabetizada, esse pequeno estudante terá grandes chances de obter êxito nos seus estudos, contudo, mesmo sabendo dessa responsabilidade, quando se pergunta sobre o que é uma criança alfabetizada ainda surgem dúvidas até mesmo daqueles que são responsáveis pela aquisição desse processo, e, mais grave que isso, muitas vezes um professor acredita ainda ter alfabetizado uma criança pelo fato de conseguir ajuda-lo a juntar sílabas e formar palavras, ignorando outros elementos importante dessa etapa.
Por muito tempo perdurou que está alfabetizado era saber as letras, juntar sílabas e formar palavras, nessa época se aprendia as através da repetição de sons e era comum o uso das cartilhas nas escolas, eram o que se chama atualmente de método sintético, principalmente utilizando a fonação e a soletração.
As cartilhas que por muito tempo, sobretudo nas décadas de 70 e 80 fizeram parte do processo de alfabetização eram livros com leituras restritas que partiam de palavras-chave, principalmente substantivos e que priorizavam os métodos acima citados.
O que se tem de certo é que o conceito de pessoa alfabetizada hoje se diferencia muito de anos atrás e preenche vários requisitos que até algum tempo passava despercebido.
Soares (2003) considera que alfabetização é a aprendizagem da técnica, domínio da escrita, da leitura e da relação que existe entre grafemas e fonemas, assim como dos diferentes instrumentos de escrita. Ou seja, é um processo que vai muito além de decodificação de letras e sílabas.
No sentido ainda mais amplo que o de Magda Soares, acima descrito, a UNESCO descreve alfabetização como:
...conhecimento básico, necessário a todos num mundo em transformação; em sentido amplo, é um direito humano fundamental. Em toda a sociedade, a alfabetização é uma habilidade primordial em si mesma e um dos pilares para o desenvolvimento de outras habilidades. Existem milhões de pessoas, a maioria mulheres, que não têm a oportunidade de aprender (...) a Alfabetização tem também o papel de promover a participação em atividades sociais, econômicas, políticas e culturais, além de ser requisito básico para a educação continuada durante a vida (UNESCO, 1999, p. 23).
Nesse sentido, a UNESCO coloca como a alfabetização é primordial para as pessoas e como esse processo implica nas mudanças não somente individuais, mas sociais e interferem diretamente na sociedade.
Outro ponto que merece questionamento e que tem sido tema de debates entre educadores e estudiosos é o porquê de mesmo com tantos avanços e incentivos na educação ainda existe tantas dificuldades para se alfabetizar, mesmo uma criança em sua idade própria para realização desse processo e porque tantos estudantes ainda chegam as séries finais do ensino fundamental e mesmo ao ensino médio sem o domínio pleno da leitura e escrita.
2.2 DO MÉTODO DE FONAÇÃO AO DE NOTAÇÃO NA ALFABETIZAÇÃO.
Como já foi citado acima nesse trabalho, durante muitos anos utilizou-se nas escolas o método de fonação para alfabetizar, acreditando-se ser a forma ideal de aprender. A fonação, como o próprio nome diz, apresenta uma relação de dependência da escrita com a oralidade, ou seja, a criança era ensinada a repetir as letras e as sílabas que eram ora oralizada, ora escrita pelos professores.
Mortatti (2006), divide o método sintético em alfabético, fônico e silábico, de acordo com o elemento que o aluno teria que aprender, contanto que em qualquer desses a criança aprende com o elemento de forma isolada.
No método sintético de alfabetizar, como relata CAGLARI (1998), o estudante decorava o alfabeto e utilizava os nomes das letras como base, como por exemplo, a de avião, b de bola, e assim por diante. Até aí não se percebe o principal equívoco utilizado, mas o problema está no fato de que a tentativa de aquisição está partindo da parte para chegar no global e não do global para chegar nas partes como sugere o método da notação, e essa inversão trouxe aos nossos estudantes da época e ainda traz para aqueles que passam por esse tipo de alfabetização problemas graves, principalmente no que diz respeito a escrita gráfica, uma vez que aprendem a escrever como leem e também no que diz respeito a interpretação de textos, já que aprendem a partir de palavras soltas, descontextualizadas, daí as críticas ao uso das cartilhas nas escolas, já que essas, segundo CHARMEUX (1995) citado em SANTOS (2014) não passam de ferramentas prontas de aprendizagem.
Práticas como a utilização das cartas de ABC, repetição de letras e ditado de palavras eram vivenciadas no método fônico. É interessante salientar que o auge desse método coincidiu com a predominância da tendência tradicional que considerava a criança como uma tábua rasa e o professor como o dono do saber. Assim, o aluno deveria aprender somente o que era ensinado pelo professor e a cartilha era a única ferramenta de aprendizagem.
Hilário Rabelo (1936), autor de cartilha do ABC, parafraseado por Mortatti (2000), ao falar sobre o uso das cartilhas cita:
“Como a arte da leitura é a análise da fala, levemos desde logo o aluno a conhecer os valores fônicos das letras, porque é com o valor que há de ler e não com o nome delas” (Ribeiro, 1936, apud Mortatti, 2000: 54).
O método analítico de aprendizagem na alfabetização, como também é conhecido trata desse processo como algo muito maior que a decodificação de letras e sílabas, ele trata do reconhecimento das palavras e orações como um todo, para depois tratar dos componentes (FERREIRO & TEBEROSKY 1995, P.19).
Diferentemente do método sintético que tinha como base o Behaviorismo, o analítico tem como referência a teoria de Gestalt e acredita que a aprendizagem acontece através de insight. Mortatti (2006), classifica o método analítico em palavração, sentenciação e global.
No entanto, assim como no método de fonação, esse também trabalha com elementos isolados, só que dessa vez, através da leitura de palavras, colaborando assim para a decoração e assim como no anterior prejudicando a interpretação do texto.
Dessa forma, mesmo na época sendo considerados métodos opostos, os dois métodos até aqui se assemelham na sua forma de alfabetizar, por supervalorizar a oralização e a escrita em detrimento a compreensão do texto.
Percebendo a ineficácia dos métodos utilizados, surgiu a necessidade de uma nova forma de alfabetizar, que unisse o que de melhor tivesse nos que eram utilizados, mas favorece aspectos que até então eram deixados de lado. Esse método é o de notação, que colocava a aprendizagem em prevalência ao ensino (FERRERO e TEBEROSKY, 1986).
Outro ponto que diferencia o método notacional dos demais é que esse considera o que o aluno traz de casa, ou seja, a aprendizagem também ocorre fora da escola, dessa forma, coloca em pauta o que Vygotsky chama de influência do meio na aprendizagem, dessa forma, como se baseia numa tendência construtivista, não mais considera o aluno como um ser passivo, mas considera suas habilidades cognitivas e sociais.
2.3 O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO NOS DIAS ATUAIS
As últimas décadas representaram tempos de intensas mudanças na educação brasileira, inclusive no processo de alfabetização, a contar que se antes a criança entrava na escola aos sete anos de idade, cursando já a primeira série, e tinha nos dois primeiros anos de estudo o foco na aquisição da leitura e escrita, que, como já foi retratado anteriormente nesse trabalho tinha como características a soletração de letras e sílabas e o foco na oralidade, representados pelas cartas de ABC e pelos ditados de palavras, a partir da década de 90, sobretudo a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação- LDB 9394/96, a presença de crianças em creches e pré-escolas aumentou consideravelmente e posteriormente passou a se tornar obrigatória, sendo as creches oferecidas para estudantes de zero a três anos e a pré escola para aqueles de 04 e cinco anos (LDB 1996).
Sem contar o fato de que o ensino fundamental que antes era de oito anos, passou a ser de nove anos, o que culminou na entrada das crianças nessa etapa do ensino de forma antecipada, aos seis anos de idade, contudo, contrário ao que acontecia antes, esse pequeno estudante já tendo passado pela educação infantil. O ministério da Educação- MEC, ao retratar o ensino fundamental de nove anos, cita o seguinte:
[...] podemos ver o ensino fundamental de nove anos como mais uma estratégia de democratização e acesso à escola. A Lei nº. 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, assegura o direito das crianças de seis anos à educação formal, obrigando as famílias a matriculá-las e o Estado a oferecer o atendimento. (Brasil, 2007, p. 27)
No entanto, as mudanças não ocorreram apenas nos níveis de ensino, no que se refere a alfabetização, as modificações aconteceram também na forma como se passou a encarar essa etapa estudantil, que passou a ser objeto de estudo intenso por parte de professores e teóricos da educação.
A partir dos anos 80 os métodos sintéticos e analíticos passaram a ser questionados e uma nova forma de alfabetizar começou a ganhar força, principalmente com a chegada do construtivismo, que mesmo não sendo entendido inicialmente de forma correta por alguns educadores, trouxe um novo rumo à educação.
Soares (2003), cita a importância do construtivismo da seguinte forma:
...Trouxe uma significativa mudança de pressupostos e objetivos na área da alfabetização, porque alterou fundamentalmente a concepção do processo de aprendizagem e apagou a distinção entre aprendizagem do sistema de escrita e práticas efetivas de leitura e de escrita...
A criança passava a ser compreendida como um ser pensante e como tal não podia ser limitado a decorar palavras como se essas não tivessem significados, daí a necessidade de se pensar uma forma de alfabetizar os alunos de maneira que eles não somente decodifiquem as letras, sílabas e palavras, mas que entendam o que elas representam, o que elas notam.
O método notacional, que predomina nas escolas nos dias atuais tem como princípio norteador os estudos da psicogênese de Emília Ferrero e Ana Teberosky, além de sofrer influências de teóricos como Vygotsky e Piaget.
Ferrero e Teberosky (1999) nos seus estudos sobre a psicogênese da língua escrita, explicam a aprendizagem da criança por meio de níveis diferentes de estruturação do pensamento, criando hipóteses para aquisição da leitura e escrita de acordo com o nível em que se encontra. Para as autoras supracitadas, a criança passa por cinco níveis até ornar-se alfabético, relatando ainda que a passagem de um nível para outro depende do incentivo externo, seja na escola, principalmente advindos do professor ou dos colegas e em casa, por parte da família.
As pesquisas desenvolvidas em torno da alfabetização tem impulsionado nos últimos anos a implantação de programas desenvolvidos pelas Secretarias de Educação a nível municipal e estadual, assim como por parte do Ministério da Educação. Dentre esses programas pode-se citar o Programa de Alfabetização na Idade Certa- PAIC desenvolvido pelo estado do Ceará e reconhecido em todo país pela eficácia, influenciando inclusive a implantação do Plano de Alfabetização na Idade Certa- PNAIC desenvolvido pelo governo federal.
Contudo, é necessário deixar claro que um único método não é o suficiente para que o processo de alfabetização aconteça, muito menos ignorar métodos passados achando que esses não tem validade, o que se deve fazer é unir o que de melhor cada um possui e aplicar na prática de sala de aula, de modo que favoreça a aprendizagem das crianças.
É preciso também refletir as causas que levam as escolas brasileiras a terem tanta dificuldade em fazer com que suas crianças consigam se alfabetizar na idade propícia, o que é demonstrado em avaliações externas e pode ser facilmente presenciado nas séries finais do ensino fundamental, para, a partir daí buscar soluções.
3 METODOLOGIA
Para realização desse trabalho tão valioso foi utilizada pesquisa de cunho qualitativo, já que a pretensão no artigo não é desvendar números, mas compreender melhor o assunto, no caso o processo de alfabetização brasileira nas últimas décadas.
Maanen (1979, p. 520) descreve a pesquisa qualitativa como:
A expressão pesquisa qualitativa assume diferentes significados no campo das ciências sociais. Compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social, trata-se de reduzir a distância entre indicador e indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação.
A pesquisa aqui realizada é de base exploratória com cunho qualitativo e se baseou nos estudos teóricos de autores que conhecem a fundo o tema, para, a partir da leitura das obras, aprofundar o conhecimento e mergulhar com mais segurança na escrita.
Para a realização desse trabalho, constantes leituras precisaram acontecer, com registros dos principais tópicos através de rabiscos, assim como intensas pesquisas em fontes que possibilitassem melhor compreensão do fenômeno estudado. No momento da escrita, não menos desafiador, mas facilitado pelas leituras era a hora de colocar no papel, ou melhor, tirar dos rabiscos e colocar digitar o que ficou na mente desse autor das grandiosas obras acerca do processo de alfabetização.
O tema pesquisado nesse artigo é objeto de estudo de muitos, por isso, o material encontrado é de fácil acesso, o que, por vezes importante pela gama de material coletado, mas por outro lado exige de quem está lendo a habilidade de fazer o paralelo entre os artigos, livros, dissertações e monografias analisadas, extraindo deles o melhor que elas podem oferecer.
4 ANÁLISE DOS DADOS
Estudar o percurso seguido pelo processo de alfabetização ao longo dos anos é mergulhar no universo de imaginação e reflexão, que provoca ao mesmo tempo que esperança pelos avanços alcançados, certa angústias pelos desafios que ainda seguem.
Não é possível trabalhar a educação isolada do que acontece na sociedade. Quando Ferreiro (1996, p.24) cita que a alfabetização não é um processo individual, mas social, está implícito que a autora percebe que os acontecimentos sociais influenciam, como já falava Vygotsky, na aprendizagem da criança, o que se torna algo desafiador para a escola, sobretudo para educadores, uma vez que a cada dia que passa a contribuição da família no processo se torna menor, aumentando a responsabilidade na escola.
Merece destaque também o fato de que, por mais que décadas tenham se passado, antigos métodos como o fônico ainda são vivenciado nos dias atuais. E que tantos professores ainda pensem como antigamente, como registrado em Mortatti (2006), que o aluno deve aprender a ler as letras das palavras, pois é através do som que ele aprende a palavra. Isso depois de tantas décadas de estudo e de se ter percebido tantos prejuízos na educação como jovens que não conseguem interpretar o sentido de um texto, adultos que escrevem como leem, agindo de forma contrária ao pensamento de (FERRERO e TEBEROSKY, 1986) que falam que a aprendizagem deve se sobressair ao ensino.
Ainda sobre a influência social na alfabetização, Emília Ferrero e Ana Teberosky, em psicogênese da língua escrita, (1986), deixa claro que o processo de apropriação da leitura e da escrita da criança começa muito antes do que pensa a escola, além de seguir inusitados caminhos. Nessa perspectiva, não se admite um único método ou uma única estratégia de alfabetizar, como se as salas fossem homogêneas e aos alunos aprendessem da mesma forma e ao mesmo tempo.
E quando se questiona o fato de tantas escolas fracassarem no processo de alfabetização, deve-se refletir sobre a dificuldade que esses educadores tem de mudar sua forma de lecionar, de entender que seu aluno já possui um conhecimento prévio que precisa ser valorizado e continuam ministrando suas aulas como antigamente. A cerca dessa resistência dos docentes e do quanto contribui para o fracasso escolar ALVARENGA, vem dizer,
Embora escrever e ler sejam comportamentos que ultrapassem de muito a aprendizagem das relações entre os sons da fala e as letras da escrita, essa aprendizagem, é, inegavelmente, o primeiro passo na formação desses comportamentos. Ora, é justamente nesse primeiro passo que tem fracassado a escola brasileira já que os altos índices de repetência se verificam na série em que se inicia a aprendizagem da língua escrita. (ALVARENGA et al., 1989, p. 6).
O autor acima citado, concorda com CAGLARI (1998) que trata em sua fala do fato de que o aluno não aprendia mais decorava, e é aí onde está o grande problema. Ainda sobre o decoreba, não foram poucas as críticas de FERRERO e TEBEROSKY (1986) as críticas em relação a cartilha, principalmente por trabalhar com palavras soltas, descontextualizadas, mesmo assim, por incrível que pareça, mesmo sem as cartilhas práticas semelhantes ainda acontecem.
Diante de tantos questionamentos fica a pergunta sobre de que adiantou tanto estudo sobre o universo alfabetizador se ainda temos tanta dificuldade de conseguir fazer com que nossas crianças avancem nesse processo, contanto, nem tudo é negativo, muitos avanços ocorreram, a iniciar pelo fato de que, como relata Soares (2003), na época da cartilha havia método sem teoria, hoje temos a teoria sem método específico, cabendo a cada educador utilizar as melhores estratégias em suas salas de aula.
Outro fator que deve ser levado em conta quando o assunto é alfabetização é que, com as mudanças que ocorreram na legislação educacional, como a mudança do ensino fundamental para nove anos a cada dia que passa a criança entra mais cedo no ensino fundamental, assim como na educação básica como um todo, já que, como trata o MEC em (Brasil, 2007, p. 27), e precisamos está preparado para os desafios que iremos enfrentar. E além de tudo isso, temos que levar em conta, como menciona FERRERO (2001) que a tomada de consciência para a alfabetização inicial, ou seja, de nossas crianças é a única solução para o problema da alfabetização remediativa, ou seja, na fase adulta.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As linhas escritas nesse trabalho científico mostrou a importância da alfabetização no processo escolar de qualquer estudante e a necessidade de que os professores conheçam as metodologias que venham trazer um melhor resultado para a sua turma.
Durante o percurso do artigo foi realizado um passeio pelo processo de alfabetização nas últimas décadas onde pôde-se conhecer melhor as principais características do método sintético, analítico e de notação. Dessa forma, a partir dos estudos realizados chegou-se a uma conclusão de que não há um método próprio para alfabetizar, mas um conjunto de estratégias que facilitam o trabalho do professor.
Foi dado ênfase a necessidade de que o docente perceba que cada criança aprende de forma diferente e que esse aluno não chega na escola vazio de aprendizado, mas traz uma bagagem de casa e que é preciso extrair dele esse conhecimento prévio.
E após tantas leituras e análises do que ocorreu com o passar dos anos nas escolas percebeu-se que muito já se avançou no processo de alfabetização, mas que ainda há muito a se fazer para que as nossas crianças tenham realmente o direito de aprender respeitado.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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