Alfabetização e letramento nos contextos da língua escrita na atualidade

Por Daisy Tenório dos Santos | 18/08/2016 | Educação

Resumo

O presente artigo visa esclarecer ainda mais sobre o processo de alfabetização e letramento nas escolas, em detrimento dos conhecimentos linguísticos, principalmente no que se refere aos tempos atuais, as instituições de ensino pelo país afora. Levando em conta sobre o que é alfabetizar letrando, dentro do ensino da língua escrita, é de extrema importância que todo o trabalho desenvolvido nas salas de aula, principalmente no que se refere sobre a construção da cidadania. Além disso, o referencial teórico, baseado nos trechos de Emília Ferreiro, Magda Soares, Paulo Freire, Vygotsky, Ana Teberosky, dentre outros vão corroboar com as ideias apresentadas neste texto.

1 – Introdução

A alfabetização e o letramento, no Brasil, pode ser compreendida em duas perspectivas: a mecanicista e a construtivista. Ambas as concepções exercem fortes influencias no processo de ensino e aprendizagem nos alunos que estão sendo alfabetizados. Fazendo uma leitura mais crítica, é perceptível que essas concepções possuem fortes contrastes.

        Vejamos nos tópicos abaixo.

 1.1 – Perspectiva mecanicista:     

         Durante muitos anos, os alunos eram alfabetizados da seguinte forma: primeiro se ensinavam as letras, depois juntavam as sílabas e logo em seguida, a turma foi ensinada que toda a junção das letras e das sílabas formavam as palavras. Foi assim que a alfabetização foi vista no Brasil. E também o mecanicismo tomou conta dos processos de ensino e aprendizagem, em termos de leitura e escrita nos alunos, isto fez que o principal interesse desta perspectiva é uma “definição das políticas públicas para a educação, era um investimento na criação de métodos” (...) (Lima Rego, 2012, p. 114).

     Mas que métodos são estes? Vejamos o que significa cada um:

  • Método alfabético: parte da premissa em que se ensinava o nome das letras para o das suas combinações, e ao mesmo tempo, era treinado a pronúncia e o reconhecimento da grafia, até chegar a combinação de várias letras para formar uma palavra. Por exemplo: soletração, caligrafia. A repetição e a fixação também faziam parte do repertório deste método, onde primeiro escrevia para depois ler.
  • Método silábico: sua principal base também é a soletração e a repetição. A sílaba era representada pela unidade fonética inicial. Neste aspecto, primeiro formava as palavras para depois formar as frases. Foi através desse método que as cartilhas começaram a fazer parte do cotidiano escolar, as quais eram apresentadas as famílias silábicas.
  • Método fônico ou fonético: foi uma tentativa, porém fracassada, de sanar a dificuldade que reside pelo fato do nome das letras não corresponder ao som que as mesmas representam. Também é conhecido pelo fonema.
  • Método analítico: este método foi dividido em 2 fases: palavração (estudo de palavras), sentenciação (frases) ou método global (texto na íntegra)

E também neste tempo foi popularizada diversas frases que soaram forte na alfabetização, como: “Ivo viu a uva”, “O dado é do Didi”, “O cachorro come osso”, etc. O que realmente ocorreu é que as famigeradas cartilhas não fazem com que os alunos compreendam sobre a forma de como é desenvolvida a língua escrita, de fato houve pouca contribuição para o seu uso nas escolas.

Alfabetizar uma turma de 28, 30 ou mais alunos é muito diferente de alfabetizar uma única criança, em particular. Os ritmos de aprendizagem variam, as experiências anteriores com a leitura e a escrita também. (...) Além disso, tem que ensinar a ler e escrever (CARVALHO, 2004, p.7).

1.2 – Perspectiva construtivista:

As teorias construtivistas foram um divisor de águas para o processo de alfabetização dos alunos. Com o lançamento do livro “Psicogenese da Língua Escrita” (1985), de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, ocorreram fortes mudanças sobre o que significa ensinar a ler e a escrever. Coello (2003) salienta que estes estudos trouxeram aos educadores, o entendimento de que alfabetizar vai mais além de se apropriar do código escrito, ou seja, está relacionado ao longo processo de elaboração dessas hipóteses que representam a linguística.

A memorização mecânica da descrição do objeto não se constitui em conhecimento do objeto não se constitui em conhecimento do objeto. Por isso é que a leitura de um texto, tomado como pura descrição é feita no sentido de memoriza-la, nem é a real leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto que o texto fala (FREIRE, 1988, p.17).

     Além disso, Coello (2003) afirma que:

Com o tempo, a superação do analfabetismo em massa e a crescente complexidade de nossas sociedades fazem surgir maiores e mais variadas práticas de uso da língua escrita. Tão fortes são os apelos que o mundo letrado exerce sobre as pessoas que já não lhes basta a capacidade de desenhar letras ou decifrar o código de leitura (COELLO, 2003, p. 2).

As diferenças sobre aprender a ler e a escrever são múltiplas, principalmente no que se diz no ambiente alfabetizador. Ambiente este que vai de encontro a diversas manifestações de linguagem, entre elas: a escrita e a leitura. Ferreiro (2011, p. 30, 17 ed), observa que “embora o aprendizado da língua escrita não seja exatamente similar ao da língua oral, é útil prosseguir com o contraste entre as atividades sociais frente às duas aprendizagens”. Parafraseando com a autora, a mesma demonstra que tanto a escrita quanto a leitura precisam andar lado a lado para garantir boa qualidade de ensino, onde os alunos terão mais curiosidade de aprender sobre a importância de escrever as palavras e compreender o que está lendo. Isto também mostra que a leitura de mundo, o qual o aluno possui também é válido neste processo.

Para chegar a compreender a escrita, a criança pré-escolar raciocinou inteligentemente, emitiu boas hipóteses respeito dos sistemas de escrita (ainda que não sejam boas hipóteses a respeito de nosso sistema de escrita), superou conflitos, buscou regularidades, outorgou significado constantemente. (...) Haverá que deixar o próprio saber  linguístico e a própria capacidade de pensar até que logo se descubra que é impossível compreender um texto sem recorrer a eles (FERREIRO E TEBEROSKY, 1985, 2007, p. 290).

       Além disso, o construtivismo trabalha com os níveis de desenvolvimento da escrita e leitura, de forma contextualizada e esquemática. De acordo com Ferreiro (2011), estes níveis auxiliam na investigação das hipóteses de como aluno está conseguindo escrever e ler. Sabemos que “as crianças elaboram conhecimentos sobre a leitura e escrita, passando por diferentes hipóteses até se apropriar de toda a complexidade da língua escrita. A passagem de um nível para o outro é gradual e depende muito das intervenções feitas pelo professor” (FERREIRO e TEBEROSKY, 1985).

       Em destaque, são estes:

I – Nível Pré-silábico: A criança não consegue relacionar as letras com os sons da língua falada. A mesma reconhece o papel das letras na escrita, mas não consegue assimilar seus escritos. Este nível está dividido em 2 fases: a fase pictórica (em que o desenho se torna objeto de escrita) e a fase gráfica primitiva (em que a criança começa a inventar sua própria escrita).

II – Nível Silábico: Interpreta a letra de sua maneira, atribuindo o valor da sílaba de cada uma. Por exemplo: existe a possibilidade de conviver com a quantidade mínima de letras. Também é caracterizada por 2 fases: silábico sem valor sonoro (representa cada sílaba por uma única letra qualquer) e silábico com valor sonoro (representada pela vogal).

III – Nível Silábico-alfabético: mistura a lógica da fase anterior com a identificação de algumas sílabas.

IV – Nível alfabético: domina, enfim, o valor das letras e sílabas.

      A seguir, veremos o que pensam sobre a alfabetização e o letramento em diferentes visões.

2- As principais características sobre a alfabetização e o letramento

A alfabetização e o letramento tem o mesmo significado? Ou será que ambos são distintos um do outro? O que ambos tem em comum a respeito da aprendizagem da escrita e da leitura? Perguntas e questionamentos sempre existem, sendo que as respostas podem variar.

Magda Soares (1998) afirma que tanto a alfabetização quanto o letramento são processos distintos, porém são indissociáveis. Neste ponto, a autora afirma que estes termos estão ligados um ao outro.

      Isto também significa que:

Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais concepções psicológicas, linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita – a alfabetização – e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem leitura e escrita – o letramento (SOARES, 2004, p. 14).

Outro aspecto a ser visto é que “Letramento é, pois o resultado da ação de ensinar ou aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado dela” (Soares, 2001, p. 18)

A realidade é que apesar das disparidades, estes processos são fundamentais para o bom desenvolvimento das atividades de escrita e leitura. Desta forma, vai ajudando também na construção da cidadania dos alunos. Partindo dessa premissa, é perceptível que “a entrada da criança no mundo da escrita deve articular de modo dinâmico, simultâneo e indissociável os dois processos diferentes mas interdependentes: alfabetização e letramento (FRANCHI, 2012, p.211). Também é de extrema importância que “enquanto o ato do conhecimento e ato criador, processo de alfabetização tem, no alfabetizando, o seu sujeito”, segundo Paulo Freire (1981).

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