ALFABETIZAÇÃO DA CRIANÇA COM DIFICULDADE AUDITIVA...

Por FABIANE BAYS DA ROCHA | 03/12/2016 | Educação

ALFABETIZAÇÃO DA CRIANÇA COM DIFICULDADE AUDITIVA; O BILINGUISMO COMO PROPOSTA EDUCACIONAL.

ROCHA, Fabiane Bays da

RESUMO

A alfabetização de crianças com deficiência auditiva e um assunto que preocupa e tem sido um desafio, principalmente no que se diz respeito a apropriação do Sistema de Escrita Alfabética (SEA) e língua de sinais (libras). Muitas perguntas tem sobre o tema. A proposta deste trabalho é conhecer, aprofundar sobre a problematização, compreender a aquisição da língua de sinais (Libras), como sendo a primeira língua e língua portuguesa a segunda, compreender o processo de alfabetização e importante a todos os profissionais de educação, família, escola, e a sociedade como um todo são responsáveis pela inclusão das pessoas com deficiência auditiva ou outras deficiências no ambiente escolar e social e ter atendimento especializado, recurso e profissionais com formação para atender todas as necessidades educativas especiais, conforme Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, 1996).

 

INTRODUÇÃO

Durante séculos pessoas com dificuldades auditiva ou algum tipo de deficiência eram segregadas, e tratadas como incapazes.

A partir da década de 90 e início do século XXI, iniciou a busca pela igualdade, através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-LDBEN 9394/96, em seu artigo 59, capitulo V, que fala sobre a Educação Especial, assegura uma educação de qualidade, porém não garantia a capacitação dos profissionais de educação que trabalhavam e trabalham com portadores de necessidades especiais.

Durante as pesquisa e estudo para realizar este artigo, percebemos que ainda tem muito o que se fazer para que essa inclusão de fato seja e tenha efeito positivo para aqueles que necessitam, pois essa situação nos levou a defrontar com a realidade em que nos encontramos, na problematização que a escolarização, ou seja, na alfabetização dos alunos.

Além disso todos os profissionais de educação, devem ser preparados para poder atender, trabalhar com pessoas com necessidades especiais, não só com dificuldades auditivas mas sim com todos os tipos de necessidades especiais e essa preparação deve ser ofertada pelo governo gratuitamente para que todos os profissionais de educação esteja capacitado quando em sua sala de aula tiver que pessoas com necessidades especiais, e para que essas pessoas se sintam valorizados e capazes.   

IDENTIFICANDO A CRIANÇA COM DIFICULDADE AUDITIVA     

A aprendizagem da criança com dificuldade auditiva, deve iniciar assim que a família ou profissional de saúde perceber alguma dificuldade da criança na percepção sonora do ambiente que ela se encontra ou quando é estimulada.

A linguagem de sinais é a primeira língua da criança quando é diagnosticada com dificuldades auditivas, ela deve ser inserida para poder fazer uso dela, para favorecer o desenvolvimento cognitivo. Pois esse desenvolvimento só é possível através da linguagem sendo ela falada ou gestual.

Quando mais cedo for inserido a língua de sinais para a criança melhor será o seu desenvolvimento. A linguagem é fundamental para a formação dos processos mentais, conforme Vygotsky e tem a função de regular e organizar os pensamentos.   

A língua de sinais, tem um papel fundamental durante a aquisição da leitura e da escrita, pois possibilitará a construção de conhecimento de mundo, fazendo com, que pessoas com dificuldades auditivas, entenda o significado do que estão lendo, deixando de ser decodificadores da escrita.

Para tal é preciso um modelo de educação no qual a alfabetização seja voltada para pessoas surdas:

Um modelo no qual o déficit auditivo não cumpra nenhum papel relevante, um modelo que se origina e se justifiquem nas interações normais e habituais dos surdos entre si, no qual a língua de sinais seja o traço fundamental de identificação sociocultural e no qual o modelo pedagógico não seja uma obsessão para corrigir o déficit, mas a continuação de um mecanismo de compensação que os próprios surdos, historicamente, já demonstraram utilizar (SKLIAR, 1997, p 140).

Todos tem o direito a educação, a pessoa com dificuldade auditiva também, com professores que saibam utilizar a língua de sinais, mas esta é uma das grandes dificuldades. Além disso a família é uma grande parceira para o propósito.

A linguagem tem um papel importante na percepção, porque a criança começa ver o mundo não só com os olhos, e sim também da fala, que é parte essencial para o desenvolvimento cognitivo. A fala tem uma importante função na organização da percepção e de novas relações entre as funções psicológicas.

Como toda criança o desenvolvimento depende de sua interação com o ambiente e com as pessoas a sua volta, ou seja, precisa haver algum tipo de comunicação, e é esse o propósito da língua de sinais, estabelecer uma comunicação já que a função auditiva está prejudicada, deste modo o repasse de informações e conhecimentos poderá ser realizado. É muito importante que as crianças com dificuldades auditivas tenham acesso a língua de sinais, sem ela segundo Moreira:

(...) os surdos passam por muitas dificuldades no decorrer de suas vidas, tanto no aspecto social como no psicológico e acadêmico. Consideram que tais dificuldades estão diretamente relacionadas com a questão do desenvolvimento linguístico, porque ao sofrer um atraso de linguagem, mesmo aprendendo tardiamente uma língua, a criança surda sempre terá consequências como problemas emocionais, sócias e cognitivos, pois só com a linguagem simbólica é possível operar funções mentais superiores e o atraso na aquisição da linguagem produz retardo no desenvolvimento cognitivo. Esta relação entre desenvolvimento linguístico e cognição coloca o conceito de linguagem além da função comunicativa, mas também como função de regular ou organizar o pensamento, assumindo a linguagem um papel essencial para o desenvolvimento cognitivo.

Todo o conhecimento de mundo e de convivência nos é repassado no convívio com nossos familiares e amigos através da socialização, e consequentemente através da fala também, e quando o indivíduo possui alguma dificuldade, precisa estabelecer outro tipo de comunicação.

Primeiramente, a criança precisa ser alfabetizada em libras, e logo depois ela deve ter contato com a língua portuguesa, através de objetos e coisas que ela está habituada e a partir daí estabelecer uma relação entre o objeto e a palavra respectivamente.  

Tornando-se assim essencial a língua de sinais para o processo de aprendizagem, visto que será mediadora para a língua portuguesa, e assim a alfabetização acontecera com êxito.

Lacerda diz:

O objetivo da educação bilíngue é que a criança surda possa ter um desenvolvimento cognitivo-linguístico equivalente ao verificado na criança ouvinte, e que possa desenvolver uma relação harmoniosa também com os ouvintes, tendo acesso ás duas línguas: a língua de sinais e a língua do grupo ouvinte.

Assim teremos surdos alfabetizados na língua de sinais e língua portuguesa, favorecendo o pleno desenvolvimento do indivíduo e com participação efetiva na sociedade. 

Segundo Vygotsky apud Andrade:

(...) a fala é usada imediatamente em todas as práticas e contextos sociais. Ao brincar, na escola e na vida cotidiana, a criança, sem este propósito ou consciência, aprende a usar a fala, a compreendê-la, a fixar a sua atenção e a organizar a sua vida em função dela. Sem a fala, estas atividades se tornariam impossíveis.

E segundo Pereira 2000:

A língua de sinais preenche as mesmas funções que a língua falada tem para os ouvintes. Como ocorre com as crianças ouvintes, espera-se que a língua de sinais seja adquirida na interação com usuários fluentes da mesma, os quais, envolvendo as crianças surdas em práticas discursivas e interpretando os enunciados produzidos por elas, insiram-se no funcionamento dessa língua.

E assim sendo a melhor opção para a criança surda é o ensino bilíngue segundo Goldfeld, 1997, pag. 160:

(...) a melhor opção educacional para a criança surda, pois a  expõe a uma língua de fácil acesso, a língua de sinais, que pode evitar o atraso da linguagem  e possibilitar um pleno desenvolvimento cognitivo, além de expor a criança a linguagem oral, que é essencial para o seu convívio com a comunidade ouvinte e sua própria família.

REFERENCIAS

ANDRADE, Wagner Teobaldo Lopes de. Cognição e Surdez na Educação: A Lingua em Questão. Disponível em: http://editora-arara-azul.com.br/novoeaa/revista/?:p=381. Acesso em: 08/02/2016.

GOLDFELD, Marcia. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sociointeracionista. 2ª ed. São Paulo: Plexus Editora, 2002.

LACERDA, Cristina B. Feitosa de. A prática pedagógica mediada (também) pela língua de sinais: Trabalhando com sujeitos surdos.

MOREIRA, Patricia Leite. O fator linguístico na aprendizagem e desenvolvimento cognitivo da criança surda. Disponível em:http://editora-arara-azul.com.br/novoeaa/revista/?p=120. Acesso em:08/02/2016.

PEREIRA, M.C.C. Aquisição da língua portuguesa por aprendizes surdos. In: Seminário Desafios para o próximo milênio. Rio de Janeiro: INES,Divisão de Estudos e Pesquisas, 2000. P.95-100.

SKILIAR, C. Uma perspectiva sócio-histórica sobre a psicologia e a educação dos surdos. In (org) Educação e exclusão: abordagens socioantropológicas em educação especial. Porto Alegre: Editora Mediação, 1997.