AINDA HÁ TEMPO - DE BOA

Por Jose Aderaldo de Miranda Souza | 17/08/2011 | Família

AINDA HÁ TEMPO - DE BOA
José Aderaldo de Miranda de Souza.

Resumo: Este trabalho foi desenvolvido a partir das percepções do pesquisador no ambiente de trabalho, por haver inúmeros militares reclamando por não possuir capacitação suficiente para enfrentar os avanços tecnológicos ocorridos mundialmente. Outro fator agravante é o de serem transferidos para a inatividade sem a devida preparação, esta ruptura trás um sentimento de perda de status, distúrbios emocionais e alcoolismo, dificultando o equilíbrio familiar e sua vivência na sociedade.

Palavras-chave: Militar da Marinha ? Reserva ? Reinserção Social.

Militar da Marinha

A nossa realidade de embarques, viagens a serviço, transferências de local de trabalho, leva a homens e mulheres militares após cumprirem seu tempo de serviço, almejam a inserção neste cenário, "Novo Mercado de Trabalho", pelo fato de ainda estarem com suas energias concentradas para a produção. Porém, desconhecem as dinâmicas e os desafios que estão por vir, que devido à grande dedicação e a especialização de seu processo de trabalho, ficaram de certo modo, à parte das mudanças ocorridas no mundo do trabalho fora da caserna.
Sendo assim, a passagem para a Reserva Remunerada tende a tornar-se um período difícil para o militar e sua família, por ser um momento de profundas mudanças, que requer a construção de novos caminhos pessoais e profissionais.
Sabe-se que a categoria profissional militar em alguns aspectos se diferencia das demais, tendo em vista a natureza do serviço e o que decorre dela. Sendo assim, a higidez física e mental necessária para atender as exigências da carreira, associada ao trabalho extra e freqüente, acumulado ao longo dos anos, faz com que a passagem para a inatividade ocorra por volta dos 48 anos. Este homem ou mulher não se considera idoso e nem prejudicado em sua vida financeira, no entanto, esse processo parece ser vivido com grande sofrimento na medida em que, num dado momento da vida, esse profissional se vê sem saber como preencher o tempo, antes totalmente ocupado. Essa situação pode ser agravada se ele não for preparado previamente para viver esta nova fase.
Se na teoria, chegar à aposentadoria é algo desejável, na prática pode ser frustrante (SOARES, 2008). À primeira vista, pode representar maior disponibilidade de tempo para suas realizações e não ter necessidade de cumprimento de horários rígidos que, ao longo da carreira, foi obrigado a cumprir. Mas, em contrapartida, o período pós-caserna, também o remete a sentimentos de perdas, tanto de ordem física, quanto intelectual e social, o que conduz o homem maduro a se confrontar com o seu envelhecimento. O momento de ruptura com o trabalho por anos desenvolvido, também traduz a sensação de perda do status que mantinha junto às pessoas de seu convívio.
Após o término da carreira, todas as relações tendem a se limitar ao ambiente familiar, obrigando o militar a criar novos mecanismos para sua reinserção familiar que implica em nova distribuição do espaço doméstico, assim como o estabelecimento de um novo equilíbrio da dinâmica familiar.
Diante do exposto, observa-se um dualismo: o militar deseja a Reserva Remunerada, pois percebe as suas vantagens e ao mesmo tempo, teme viver a inatividade.
Recorrendo aos atendimentos realizados por profissionais entre os anos de 2000 a 2009 junto aos militares da Marinha, observou-se algumas situações que ocorreram ou se acentuaram após a Reserva: conflitos familiares; problemas de saúde; desencadeamento de distúrbios emocionais e alcoolismo. Foram coletados relatos dos próprios ou de seus familiares que demonstraram o quanto pode ser impactante este momento de transição. Este impacto pode ser atribuído ao ato compulsório de desatrelar a sua identidade, antes fundida com a sua categoria status funcionais, fato que se traduz, por exemplo, no desuso da farda, e também na separação abrupta de um ambiente de especificidades e com espírito próprio, conforme Castro (2004: 328).
Neste contexto, verifica-se a importância de medidas que tornem menos traumática a transição da vida na ativa para a Reserva Remunerada e garanta uma vida saudável. Faz-se necessário programas de preparação para a inatividade, o militar pode ter um espaço para refletir sobre as possibilidades de sua vida futura, buscar maior auto-conhecimento para identificar melhor seus interesses e aspirações. Esses programas integram um processo educativo, contribuindo para reduzir os efeitos negativos já mencionados que são criados em torno da figura do militar na Reserva. Destacam-se fatores componentes de uma vida saudável, a ser buscada também na Reserva, considerando a sua importância contínua: integração social; descoberta de fontes de satisfação, lazer, espiritualidade, produção cultural, engajamento comunitário; equilíbrio do orçamento familiar; bem-estar físico, mental e espiritual; prevenção de doenças e existência de projetos de vida em todas as fases do desenvolvimento humano.
Alguns profissionais de Serviço Social, Psicologia e Direito do Núcleo de Serviço de Assistência Integrada ao Pessoal da Marinha (N-SAIPM), realizam ações de apoio para que militares e servidores civis consigam lidar com as mudanças relacionadas ao fim da atividade profissional e com sua reinserção social e familiar. Essas ações orientadas como destaca Rey et al. (1996), cria um espaço para reflexão e obtenção de informações que dá oportunidade ao militar de construir o seu próprio projeto de vida. Esta eficácia é uma conseqüência, considerando, como aponta Almeida (1978: 24), que as transformações não vêm dos meios ou programas, mas do sujeito numa relação dialética. Recomenda-se que a administração militar faça reflexões acerca da maneira como transferem seus militares para a inatividade, jovens militares, com bastante disposição física, com reciclagem insuficiente para corresponder as exigências do mercado de trabalho altamente competitivo.

Conclusão

O propósito deste trabalho é demonstrar a necessidade da ampliação e continuidade dos projetos existentes bem como a criação de novos projetos visando capacitar os militares, ainda na ativa, a fim de que ao serem transferidos para a reserva, sintam-se capazes de serem utilizados em outros setores da sociedade, evitando assim, inúmeros transtornos ocasionados pela ociosidade que a aposentadoria lhes reserva, ficando evidente a necessidade de inserir o familiar como fator importante para consecução dos objetivos propostos.
Ao realizar este trabalho, o pesquisador almejou fazer com que as organizações militares que cuidam da transferência para a reserva e aquelas que cuidam da assistência social dos inativos e pensionistas, busquem aprimorar alguns projetos sociais que já existem, com foco na reinserção social e familiar, retribuindo a esse veterano que dedicou 30 anos de sua vida na ativa, viabilizando capacitações de maneira contínua, proporcionando e oportunizando a estes a probabilidade de continuarem trabalhando em outros setores da sociedade, ao deixarem o Serviço Ativo da Marinha.


Referências Bibliográficas:


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ESTATUTO DOS MILITARES Brasil - Lei 6.880/1980.
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KOTLER, Philip, ROBERTO, Eduardo L. estratégia para alterar o comportamento público Rio de Janeiro 1992.
Diretoria Geral de Pessoal Militar DGPM - 501
Guia de Orientações do SIAD Serviço Integrado de Atendimento Domiciliar
e ILPI Instituição de Longa Permanência para Idosos
Manual de Inativos e Pensionistas da Marinha