Agronegócio no Vale do São Francisco...

Por Pedro Vieira Souza Santos | 31/10/2016 | Economia

Agronegócio no Vale do São Francisco: desafios e desenvolvimento de culturas específicas

O Vale do São Francisco é um dos principais produtores de fruta no País e também a principal região exportadora de produtos oriundos da agricultura. Diversos fatores naturais contribuem como boas características que aliadas às técnicas de irrigação tornam possível o desenvolvimento local, são eles: relevo formado por solos sedimentares e bem drenados, relevo plano, clima semiárido é uma vantagem comparativa, ou seja, excelente característica para a agricultura apoiada na irrigação e suas tecnologias.
A localização do Vale do São Francisco também é um fator decisivo, encontra-se situado próximo de importantes capitais nordestinas, como Recife, Salvador e Fortaleza, sendo também mais próxima do continente europeu e americano quando observado do ponto de vista de transporte marítimo.
As empresas em estudo, localizam-se na zona rural do município de Petrolina - PE, situadas no Projeto de Irrigação Senador Nilo Coelho – PSNC. Apesar da vasta gama de produtos produzidos e comercializados no Vale, os produtos analisados foram a goiaba, coco seco e coco verde.
Os produtores estão sujeitos as variações de demanda, segundo variações climáticas nas estações do ano, períodos de seca ou chuva, dentre outros. A demanda de consumo destes produtos é por época, o coco seco, como exemplo, em época de baixas temperaturas o preço de mercado é melhor, ao contrário do coco verde. A demanda da goiaba também é maior em períodos de frio.
O impacto dessas variações de demanda afeta diretamente o planejamento e o controle da produção, comprometendo o abastecimento dos produtos para o varejo e o atacado.
A maioria dos produtos processados nesta região possuem alto grau de perecibilidade, logo, geralmente a qualidade desses tipos de produtos encontram-se associadas ao seu modo de transporte e velocidade com que o produto é posto à disposição do consumidor final, no caso estudado, empresas e profissionais liberais do Centro de Abastecimento – CEASA, localizado no município de Juazeiro – BA.
Algumas culturas irrigadas nas regiões semiáridas tropicais, como, por exemplo, o coco, podem ser obtidas durante todo o ano, dependendo apenas do planejamento e de manejo especiais. Mesmo assim, são sujeitas a períodos de produção mais elevada intercalados com períodos de baixa. A produção média do coco seco é de 55000 unidades a cada 60 dias e o coco verde 8000 unidades a cada mês e o volume produzido de goiaba nestas empresas é de 160 t/ano.
No caso em estudo, todo transporte da produção é feito por caminhões. Esse tipo de transporte tem a vantagem de ser rápido e mais flexível na ligação entre o produtor e o consumidor.
Um ponto importante a ser considerado em produtos agropecuários é que grande parte dos produtos processados não podem ser estocados por longos prazos, devendo ser distribuídos rapidamente ao mercado consumidor. O estoque nem sempre é viável, pois aumenta os custos de produção, sendo pouco praticado por produtores locais.
Questões ligadas à logística de distribuição são essenciais para o sucesso do empreendimento. No caso em estudo, o transporte por caminhões é a única executada devido a facilidades como disponibilidade de veículos e rotas de escoamento bem definidas.
Além do transporte até o canal de distribuição, o armazenamento temporário da fruta na embalagem adequada também é fundamental, pois têm por objetivo imediato a conservação do fruto até o consumidor final. Um armazenamento adequado permite administrar e comercializar o produto pelo melhor preço de mercado, evitando perdas por deterioração da fruta e preservando suas principais qualidades. Porém, apenas uma boa conservação, no momento do armazenamento, não assegura a manutenção da qualidade, necessitando de embalagem adequada e transporte eficiente.
Muitas frutas, como a goiaba ainda são transportadas em embalagens de madeira e em caminhões abertos, sem refrigeração. As operações de carga e descarga são realizadas caixa por caixa, com a ocorrência de altos índices de perdas de produto e de tempo.
Nas empresas estudadas, o nível de perda da produção é em média, 5,5 %. O maior índice de perda da produção é do coco verde, entre 10% e 15%, o coco seco com 5% a 8% e a goiaba entre 5% e 7%.
Alguns gargalos são observados em relação a produção dessas culturas. No caso do coco, são eles: demora a produzir, em média 3 anos após o plantio inicial, pragas ligadas ao solo e aos frutos e mão-de-obra cada vez mais difícil devida a baixa qualificação. No caso da goiaba, a nematóide – doença de solo – ameaça a produção deste fruto, além disso, é necessário registrar os produtos devido ao uso de agrotóxicos, exige mão-de-obra qualificada para poda das goiabeiras e alta variação de preços no mercado são alguns dos gargalos mais comuns.
As frutas selecionadas para esse estudo têm sido objeto de inovações tecnológicas importantes. Esse fato tem contribuído gradativamente para aumentar a competitividade do setor produtivo das cadeias de produção locais.
No setor de produção de frutas, pode-se citar o melhoramento genético como o setor mais importante em termos de tecnologia, pois dele depende o desenvolvimento de variedades mais produtivas e resistentes às pragas, às doenças, ao frio e à seca, afetando diretamente a competitividade das frutas.
O produtor do Vale do São Francisco enfrenta um outro problema, as barreiras fitossanitárias. As exportações de frutas brasileiras são altamente prejudicadas pela
aplicação de regulamentos fitossanitários. Para obter autorização de importação para esses produtos é necessário um processo longo e caro. Após a autorização da importação, as frutas ainda ficam sujeitas a inspeção rigorosa por ambos os lados comerciais, uma vez que as inspeções são realizadas no país exportador e também na entrada do país importador.
No ambiente rural, a gerência do negócio assume grande importância, porém, a gestão neste tipo de segmento torna-se mais difícil devido ao condicionamento das dificuldades a vários fatores, tais como variações climáticas, sazonalidade, perecibilidade dos produtos, dentre outros que não estão ao alcance da técnica e/ou tecnologia.
Entretanto, a competitividade das empresas está intimamente associada à capacidade de gestão do empreendimento, que quando bem realizada permite uma coordenação das atividades de produção e comercialização mais eficiente.