Agronegócio Cooperativo

Por Alberto Jefferson da Silva Macêdo | 05/03/2017 | Adm

INTRODUÇÃO

     Cooperação na agricultura: quando unidades econômicas desenvolvem uma atividade isoladamente de forma custosa, uma alternativa seria uma congregação em uma “organização administrativa especial”, onde são desenvolvidas tarefas de modo agregado. A economia empresarial visa promover um intermédio entre o produtor cooperado e o mercado, facilitando a atividade. A sociedade cooperativa apresenta como objetivo suprir as necessidades particulares dos cooperados, ao contrário da sociedade de capital, onde os membros da cooperativa atuam de forma autônoma e independente.

     O corpo de uma cooperativa é composto por presidente, tesoureiro, secretário, três administradores e cinco diretores, outra característica é a forma de adesão onde os associados irão votar cada um com direito a um voto no comitê, outras características são: ausência de fins lucrativos, distribuição da sobra de capital (Pro rata) e Educação para os cooperados através de fundo especifico.

     Assembleia geral escolhe um conselho fiscal (três membros e três suplentes) e um conselho de administração, onde cada associado da cooperativa tem direito a um voto. Diferentes comitês, ex: conselho de produtores ou comitês por área de produção com o intuito de haver uma maior participação do associado e fomentar discussões voltadas às práticas desenvolvidas, as cooperativas são classificadas de acordo com seus objetivos sociais, ex.: de consumo, agropecuárias, de trabalho, de crédito etc. ou ainda podem ser classificadas quanto a estrutura: singular, central e confederações. Por exemplo na área de zootecnia: uma empresa que resfria o leite seria uma estrutura singular, a partir do momento que outra empresa transforma esse leite pasteurizado e resfriado em iogurte, queijo etc; essa estrutura passa a ser uma estrutura central devido à necessidade de uma estrutura maior, e em um terceiro momento onde ocorre uma representação das cooperativas em nível nacional seria uma confederação.

 

ECONOMIA DO COOPERATIVISMO

 a fixação dos preços se dá em função dos agentes envolvidos

Fixação de preços: Esse modelo baseia-se na existência de um monopólio de uma firma de capital e na estratégia de preços de uma cooperativa que entra neste mercado, situação comum na atividade agropecuária devido aos monopólios ditos geográficos

A firma de capital monopolista vai maximizar seu lucro, igualando seu custo marginal a sua receita marginal, chegando ao máximo de lucratividade possível.

Deda uma situação como essa os produtores tendem a se agrupar formando uma cooperativa que busca contornar esse tipo de situação e alcançar menores preços na hora de suas compras

Esta cooperativa poderia tender a fixar seu preço, procurando o mínimo custo e o menor preço possível ao cooperado.

Eficiência econômica: O lucro( L) é uma função do preço recebido pela processadora(Py), da quantidade dos produtos processados(y), do preço(Pi) da quantidade dos insumos(Xi) do preço(Pm), da quantidade da matéria-prima(M) adquirida dos produtores, e de um custo fixo(F) dessa empresa.

     De acordo com a disposição do associado para realizar o seus benefícios individuais de forma mais imediata, ao invés de esperar pela distribuição de sobras e, por outro lado, para não aceitar de sua própria empresa uma atitude econômica semelhante à das firmas de capital que se encontram em mesmo mercado, mesmo que seja isto porventura um benefício para a empresa coletiva.

 

Economia da integração: Deve trazer benefícios claros, promovendo a superatividade das economias envolvidas. Tem como base 4 pontos, são esses:

1 economia de operação combinadas, reunindo operações tecnologicamente distintas de forma a ganhar eficiência no processo produtivo global.

2 economia de coordenação, através da redução de custos de controle e de transações.

3 economia da informação, facilitando o acesso a informações importantes ao processo de tomada de decisão de produção e comercialização.

4 economia de relacionamentos estáveis, possibilitando a especialização nas diversas fases de produção e permitindo um ganho pela eficiência e a diferenciação do produto através da marcas e/ou pela qualidade.

Estas economias de integração permitem ao cooperado maior habilidade na agregação de valore a sua produção agrícola, rompendo algumas barreiras na entrada em mercados específicos e propiciando a diversificação.

     Sem duvida a empresa cooperativa é muito interessando ao produtor rural sob a ótica microeconômica, pelo seu tocante na questão social visa o aumento da renda média dos produtores envolvidos como um todo, mesmo que em algumas situações podemos chegar ao máximo da eficiência física, quando deveríamos chegar também ao máximo da eficiência econômica.

 

TÓPICOS DE GESTÃO DE COOPERATIVAS

Relações contratuais: A empresa deve ser vista como uma forma de relacionar relações contratuais.  O trabalho individual agora é substituído por relações de cooperação conscientes ao nível da mesma firma.

O que acarreta esse evento é que algumas economias agindo de forma conjunta exigem um grupo de especialidades mistas que só encontramos na cooperativa, desta forma a cooperativa deve existir obrigatoriamente, para atender as necessidades das economias agregadas sendo gerida pelo grupo de deu origem a este sistema.

Desta forma, é de fundamental importância a profissionalização da gestão da empresa, separando os interesses particulares de cada um e imediatos de cada associado individual da direção da empresa coletiva.

Gestão: As cooperativas como entidade não lucrativas são relativamente difíceis de se administrar, do ponto de vista que todos são donos, isso favorece a perpetuação de um só nome como presidente ou diretor por vários anos sem sucessão.

Nas empresas gerenciadas pelos próprios produtores como no caso das cooperativas as decisões são tomadas de forma coletiva, através de reuniões ou assembleias, eventualmente esses acontecimentos consomem muito tempo dos cooperados.

Nessas empresas, os membros associados que participam dos colegiados muitas vezes não são devidamente experientes ou profissionais na área de negócios.

Essa situação particular das empresas cooperativas poderá ser amenizada com a contratação de profissionais experientes para as diversas gerencias do negócio associado.

É interessante analisar que neste nível de gestão deverá haver uma separação nítida entre a direção da empresa e os associados usuários.

     A possibilidade de separação de propriedade e do controle nas empresas cooperativas, sem estas estruturas de participação do associado, pode levar a uma série de conflitos entre a administração e o cooperado associado. Portanto a tomada de decisões com a participação do associado é uma forma de minimizar este problema.

     Diante das especialidades da cooperativa esse conceito administrativo deve ser visto como um ponto positivo, da união da prática com a técnica uma parceria mais que perfeita, que resultará aumento na renda dos familiares, geração de “lucro” para a cooperativa crescer e investir em equipamentos, uma maior organização da parte da gestão deixa a cooperativa mais forte e preparada para os entraves futuros.

     Na gestão dos negócios cooperativos deve objetivar sempre a eficiência econômica, é ela que vai garantir a longo prazo uma melhora do nível de renda do produtor, e o desenvolvimento regional.

     O conceito fundamental é que a eficiência da empresa cooperativa está fortemente relacionada com a eficiência econômica da unidade de produção associada, isto é, não é possível ter empresas eficientes oriundas da associação de unidades autônomas ineficientes.

     Os negócios devem refletir a missão e as estratégias da empresa e podem condicionar um novo relacionamento comercial entre a empresa e o consumidor, e ainda um novo patamar de relação entre empresa cooperada e seus associados, em uma mútua cobrança de desempenho econômico e de qualidade.

 

ANÁLISE DE EFICIÊNCIA

     Sobre a análise de eficiência esta se apresenta de duas formas a eficiência social e a eficiência financeira. A eficiência social se avalia a capacidade da cooperativa em assegurar ao associado a capacidade de o mesmo atingir seus objetivos econômicos através da sua participação, do nível de crescimento e de aumento de sua renda particular. Já a eficiência financeira avalia os demonstrativos financeiros e os índices de eficiência. Estes avaliados de acordo com suas particularidades, como inexistência de lucros e existência de sobras, época de elaboração, índices financeiros etc.

 

TENDÊNCIAS E CONCEITOS

     O que se observa a respeito dessas tendências e conceitos é que está havendo o aparecimento de uma nova geração de cooperativas, ocorrência de grandes processos de fusão e internacionalização de negócios, como também a desmutualização dos negócios cooperativos.

 

NOVA GERAÇÃO DE COOPERATIVAS

     A cooperativa é criada quando há uma coalisão de ideias entre um grupo de pessoas que buscam por um propósito em comum, e que todos os integrantes desta tem direitos e deveres, todos no grupo possuem os mesmos direitos. Sobre os lucros que a cooperativa gera estes são divididos igualitariamente entre seus indivíduos levando a uma existência de lucros e inexistência de sobras, pois o excedente do lucro é destinado para investimentos, assistência técnica etc.

     A aplicação de recursos de capital na cooperativa não se mostra como uma reserva de valor para o associado, onde este pode reaver seu capital caso desista de participar da organização. A Nova Geração de Cooperativas (NGC) se mostra de forma igualitária onde todos possam participar das decisões de forma democrática, sempre buscando eficiência econômica. Tendo uma visão mais ampla de não apenas comercialização de produtos como também inserção no mercado. Com a NGCs se torna obrigatório a capitalização de bases processadoras por parte do cooperado onde este pode tomar crédito para realizar os investimentos pertinentes e proporcionar a entrega de produtos no futuro em quantidade e qualidade pré-estipuladas.

      Com a NGCs se caracteriza por focar em mercados específicos buscando agregar valor aos produtos em áreas definidas de negócios, o crescimento e diversificação são determinados com base no estabelecimento de novas organizações podendo haver a interligação ou redes (networks) entre cooperativas.

 

COOPERATIVAS VIRTUAIS

     Como exemplo os elevados investimentos realizados para o processamento de cana-de-açúcar, grãos, óleo de soja, café, leite além de diversos outros produtos. Devido a elevados custos de implantação e manutenção de bens e parques de processamento imobilizados, surge a formação de cooperativas virtuais, buscam a informatização de seus associados, clientes compradores e fornecedores, não possuem sede ou parque industrial fixo e lucram com a ausência de custos de manutenção e investimentos, estas cooperativas tem entre 20 e 30 produtores rurais associados, cada um dispõe de suas próprias instalações e equipamentos, com isso visam a comercializar seus produtos agregando valor devido a qualidade sendo estes destinados basicamente para nichos internos de mercado.

     A organização financeira é dependente apenas pelo estímulo de preços, se os preços não compensam a atividade cessa e volta somente em melhores condições de mercado. Estas cooperativas virtuais são criadas por uma coalizão de interesses, pelo fato de não terem custos de manutenção e de investimentos imobilizados, se tem também uma redução de custo de produção e os produtores não têm nenhum compromisso de fidelidade com a cooperativa.

 

FUSÕES E COOPERATIVAS TRANSNACIONAIS

     As cooperativas que chegam a esse nível buscam além a fusão a internacionalização da empresa chegando a possuir grandes parques industriais e membros em diferentes nações. Buscando alcançar cada vez maior poder de mercado para a comercialização de bens, produtos ou serviços. Com essas dimensões a empresa proporciona retornos mais rápidos de seus investimentos como também eficiência econômica.

 

ABERTURA DE CAPITAL E DESMUTUALIZAÇÃO

     A abertura de capital nada mais é do que abrir portas da cooperativa de forma que investidores externos possam aplicar seus recursos na cooperativa e este tem o direito de atuar na mesma obtendo lucros, mas não pode votar na tomada de decisões. Onde o capital social é dividido em ações de classe A e B as de classe A pertencem aos associados e as de classe B são negociadas em mercado aberto. Essa abertura de capital deve ser realizada cautelosamente pois a cooperativa pode vir a se tornar uma simples empresa de capital.

     Sobre o processo de desmutualização, ocorre devido ao crescimento econômico da cooperativa onde com o acesso a mercados de capitais externos, a externalização e o conflito de interesses entre os associados e os investidores levam a transformação da organização cooperativa em uma empresa, de capital aberto não mais cooperativa, onde os investidores buscam participar das tomadas de decisões e direito de propriedade, deixando de ser cooperativa.

 

NEGÓCIO COOPERATIVO

Vantagens de negócios: O cooperativismo apresenta, para o produtor rural, uma grande vantagem, uma vez que esta forma de organização aumenta seu nível de renda, apresentando-se, então, como uma empresa altamente interessante.

     Isto se dá por três vertentes. A primeira possibilita uma estrutura mesoeconômica de agregação de economias particulares, beneficiando as transações ao longo da cadeia agroalimentar, facilitando o relacionamento do produtor com o mercado e trazendo economias em seus negócios a partir das escalas de negociação. A segunda possibilita uma diminuição nos custos de transação dos produtos rurais, devido a sua organização, permitindo economia nas transações. A terceira deve-se à fundamentação doutrinária, o que possibilita uma prática de preços de médio prazo menores que os de mercado, diminuindo os custos de produção, aumentando assim a renda do produtor.

     A integração cooperativa permite que o produtor, como agente e principal de uma mesma relação contratual, com maior facilidade e estímulo, possa redirecionar seu sistema de produção para as exigências dos consumidores. Para que isso ocorra, é necessário que se estabeleça uma ponte entre o consumidor e o produtor rural, a partir de informações estratégicas.

     Portanto, contribui para uma maior eficiência da empresa a possibilidade de melhor coordenação da cadeia agroalimentar como um todo. 

  

Dificuldades de negócios: Entre as dificuldades encontramos, inicialmente, a própria questão doutrinária do cooperativismo quanto à inexistência do lucro, levando a uma situação em que poderá existir uma tendência de maximização do ganho isolado do produtor, e não de sua cooperativa. Além disso, o fato de se poder entrar ou sair da sociedade cooperativa a qualquer momento induz a uma situação contratual frágil que não proporciona uma valorização adequada do cooperado ativo em sua organização.

     Precisa-se, então, que se mantenha no cooperativismo relações contratuais mais estáveis entre os agentes e principais, que prevejam também os oportunismos dessas relações. O preceito da democracia, isto é, cada homem tem direito a um voto, pode desestimular a participação e a atividade dos associados em sua empresa.

 

RECOMENDAÇÕES E DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO

      Podemos citar dos níveis de recomendações. O primeiro é aquele que pode contribuir para um trabalho de análise e auditoria em empresas cooperadas, e o segundo é aquele que pode somar-se aos debates referentes ao desenvolvimento gerencial nestas sociedades. 

      No primeiro nível, do trabalho de análise e auditoria em cooperativas, além das informações usualmente verificadas, como aqueles referentes aos índices econômico-financeiros, podem-se citar outras análises fundamentais ao entendimento da eficiência destas empresas. A primeira é a análise da divisão entre a propriedade e o controle em cooperativas, feita através das análises da profissionalização da gestão, de forma a possibilitar a percepção da situação da empresa, se está maximizando os objetivos coletivos da sociedade ou os interesses individuais dos associados. A segunda é a análise das relações contratuais nesta empresa. É interessante investigar de que natureza é a relação entre o cooperado e sua cooperativa, de forma a saber se há ou não oportunismos contratuais neste relacionamento.

     Outro ponto fundamental nestes debates é o de que a cooperativa é uma empresa de trabalho com o objetivo de gerar serviços a seus associados. E isto só é possível se for de forma consistente, vislumbrando sempre o crescimento da empresa sob alguns preceitos de mercado, de acordo com premissas usuais de maximização de resultados, e a partir da exigência dos cooperados associados em se manter o nível de eficiência econômica de mercado, sem transferir para a empresa cooperativa suas ineficiências econômicas. Somente isso garantiria sua eficiência empresarial e, portanto, sua eficácia social.

     Um outro ponto importante nestas discussões diz respeito à participação nas decisões do empreendimento coletivo de acordo com a participação nas operações da empresa cooperada. Uma vez que as quotas-partes são limitadas e não negociáveis, talvez o critério de votação pudesse ser orientado com o intuito de buscar a maior participação e atividade do cooperado em sua empresa, sem ferir o princípio fundamental da democracia e da igualdade.

 

REFERÊNCIAS

BIALOSKORSKI NETO, Sigismundo. Agronegócio cooperativo. In: Gestão agroindustrial. BATALHA, Mário Otávio (Org.). 3 ed. 1 v. São Paulo: Atlas, 2012.Cap. 12, p. 711-734.