Agricultura de baixo carbono e a realidade do cerrado

Por Romão Miranda Vidal | 16/06/2012 | Crônicas

AGRICULTURA DE BAIXO CARBONO E A REALIDADE DO CERRADO.

O bioma cerrado hoje ainda considerado o segundo em extensão territorial, se comparado com o bioma amazônico, está há mais de quatro décadas sofrendo agressões ambientais de todas as formas. A pretexto do desenvolvimento e da necessidade de progredir no ramo do agronegócio, milhares de hectares de cerrado, foram destruídos. Novas explorações se fizeram presentes. O cerrado foi destruído para se implantar a pecuária de corte, para o plantio de arroz que em seguida, daria lugar as pastagens, ou para o plantio de soja. Em algumas áreas do cerrado mineiro, um ex-ministro da agricultura (aquele da célebre frase “plante que o governo garante” protagonizou um projeto de colonização, com famílias estrangeiras e deu inicio a cultura do café e outras explorações. À medida que ocorria o avanço rumo ao centro-oeste, o cerrado foi sendo dizimado e as conseqüências ambientais, negativas na sua totalidade, irreparáveis e com danos que jamais serão recuperados. No momento estamos nos posicionando, para deflagrar um dos maiores avanços, rumo à produção de grãos e de florestas. Florestas plantadas com espécies e variedades exóticas. Qual a finalidade destas florestas plantadas? Produzir carvão, para o coqueamento de ferro guza? Produção de celulose? Pasta mecânica? Painéis? Móveis? Bioenergia? Perguntas a serem respondidas. Não as acima citadas. Mas que serão colocadas, de forma a ensejar um raciocínio ambientalmente sustentável. Quais são as pesquisas referenciadas, por um mais organismos acreditados, que informem se no cerrado, apresenta ou não espécies florestais, que devidamente melhoradas na sua genética e na correção de solos, não se apresente em igual patamar de produção, quando não maior,em comparação com as exóticas? Pesquisas focadas em banco de germoplasma ou em seqüenciamento genético, que poderão informar quais as espécies florestais nativas, que produzem mais metros cúbicos e com maior poder calorífico, por hectare, foram realizadas? As análises de solo, tanto na parte macro como na parte de micro ou traços, foram realizadas, na busca de encontrar as respostas, para comparar quais as espécies florestais do cerrado, que podem competir com as exóticas? Por falar em exóticas, na Califórnia esta espécie foi alvo de uma ação de erradicação, assim como em Portugal. Grandes acidentes ou grandes incêndios em geral têm a sua origem nos plantios de florestas exóticas. Devido a sua grande capacidade das suas raízes, penetrarem no solo em camadas mais profundas, em busca de água, faz-se necessário a construção de um marco regulatório, em relação ao distanciamento das Veredas, pois devem provocar graves e irreparáveis danos. O cerrado não deve e nem necessita ser considerado como um bioma sem valor comercial, a tal ponto de permitir a sua quase total extinção. Várias espécies arbóreas, desde que devidamente estudadas, assim como as suas necessidades nutricionais, devem apresentar um grau de competitividade igual, quando não superior em relação às exóticas. Na realidade o que estamos vivenciando é uma competição desequilibrada, ante a implantação de grandes maciços verdes, assemelhados a desertos verdes, que vêm com um handicap, estribado nas pesquisas, no lobby, no capital, contra um sistema biótico natural secular, que por razões edafo-climáticas mostra-se em um primeiro momento como sem serventia alguma. Pelo contrário. Existem potenciais inúmeros, que devem ser analisados pela pesquisa, pelas Academias, pelos Institutos de Pesquisas para que se posicionem a respeito, antes de condenar a extinção o bioma cerrado. De outro prisma, existe a necessidade latente de se analisar a fauna do cerrado, que apresenta a sua necessidade de vida e sobrevivência em termos territoriais. Várias espécies de mamíferos, aves, insetos necessitam de áreas territoriais de grandes dimensões e mantém seus sistemas reprodutivos em função da frutificação, de acordo com as estações do ano. Não obstante a este exemplo, existe uma relação, desde tempos imemoriais, da convivência, sobrevivência e perpetuação das espécies, em relação ao dimensionamento quantitativo e qualitativo territorial. À medida que se implantam os maciços florestais exóticos, digamos em uma área de 100.000,00 hectares, quanto da biodiversidade deixa de existir? Mas... dirão outros, existe o dispositivo da Reserva Legal. Então vamos acreditar que o número de mamíferos, aves, insetos, répteis que antes viviam em 100.000,00 hectares, passarão a conviver em um sistema de confinamento pseudo-ambiental de 30.000,00 hectares? Ou de outra forma mais específica e clara: condenando a morte, ao desaparecimento, a extinção de 70% desta biodiversidade: mamíferos, insetos, répteis, sem contar com a flora. Mas e o progresso? O desenvolvimento? A dinâmica econômica e financeira onde fica? Não se discute. Mas não se curva de forma serviçal a este estado de coisas. Por qual razão implementar desertos verdes, em detrimento a permanência do cerrado biodiversificado? Existem soluções? Só não existe solução para a morte. Uma avaliação rápida junto ao INCRA indicará quantos milhões de hectares foram destinados à Reforma Agrária. Se utilizados 50% destas áreas para o plantio de florestas exóticas, estaremos diante de um processo de Economia Verde. E se formos enveredar para os milhões e milhões de pastagens degradadas? E ali implantarmos após os devidos estudos do aproveitamento de espécies florestais nativas, para o seqüestro de carbono, para a produção de madeira, para a produção de carvão, para a produção de celulose, de papel, de papelão? Antes de agredir o cerrado se faz necessário, pensar que a Natureza é indefesa, não possui meios de fugir as agressões. Que a Natureza, que o cerrado é frágil. Que não possui um sistema de defesa. A Natureza não se vinga. Mas quando ela reage, em função dos desmandos, dos interesses contra a biodiversidade, vamos nos deparar com algo nunca imaginado. O caos e o fim de tudo. Médico Veterinário Romão Miranda Vidal.