Agressividade no Comportamento dos Presidiários devido à Abstinência Sexual

Por Ariane Cristina Silva | 25/08/2011 | Psicologia

Agressividade no Comportamento dos Presidiários devido à Abstinência Sexual


Resumo

Todo indivíduo carrega consigo um impulso agressivo. É algo que se desenvolve. Mas desde a mais tenra idade a criança já apresenta atitudes e reações de agressividade em seu comportamento. É um processo gradual.
A agressividade surge entre os presidiários quando estes, através do isolamento forçado são privados de inúmeras ações, inclusive do contato íntimo com o parceiro sexual.
A abstinência sexual no âmbito dos presídios pode resultar em graves conseqüências psíquicas, como baixa auto-estima, melancolia, depressão de difícil tratamento e principalmente agressividade.
Até que ponto a Abstinência Sexual interfere no comportamento do presidiário?

Objetivo

Identificar fatores ligados à abstinência sexual dos presidiários, em seus comportamentos agressivos como a irritabilidade e o estresse com outrem.

Agressividade no Comportamento Humano

A agressividade designa uma tendência especificamente humana marcada pelo carácter ou vontade de cometer um ato violento sobre outrem. Pode também ser definida como uma tendência ou conjunto de tendências que se atualizam em condutas reais ou fantasmáticas, as quais visam causar dano a outrem, destruí-lo, coagi-lo, humilhá-lo, etc.
A agressividade é uma força instintiva inerente ao ser humano e faz parte da afetividade. É uma forma de conduta que objetiva ferir alguém, psicologicamente ou fisicamente. Todo indivíduo carrega consigo um impulso agressivo. É algo que se desenvolve. Mas desde a mais tenra idade a criança já apresenta atitudes e reações de agressividade em seu comportamento. É que todo ser humano desenvolve mecanismos para reagir às situações desagradáveis. A maneira de reagir frente à agressividade varia de sociedade pra sociedade e está ligada a valores. Alguns comportamentos agressivos são tolerados, outros são proibidos.
A agressividade é um processo gradual. Certamente a criança foi se tornando agressiva aos poucos e ninguém percebeu. Pais ou educadores somente percebem quando o comportamento agressivo se torna exagerado. Importante lembrar que por trás de uma criança agressiva, quase sempre existe uma situação de desafeto familiar.
Nas relações humanas parece haver uma espécie de metamorfose do instinto de agressividade. Essa transformação pode ser observada na negatividade que o conceito de agressividade ganhou. Uma pessoa chamada de agressiva na atualidade é quase que imediatamente comparada a alguém violento, destrutivo. A agressividade passou a ser concebida, portanto como sinônimo de destrutividade. No entanto, torna-se pertinente frisar que a agressividade tem aspectos positivos no que tange à luta pela sobrevivência e também em situações nas quais é preciso defender-se de algo ou de alguém.
Entende-se, portanto que a agressividade é inerente ao ser humano e a violência, não. Esta última surge a partir de um gatilho disparador que coloca a agressividade a serviço de outros objetivos que não a sobrevivência ou a defesa. O instinto de morte descrito por Freud (1929) como presente no psiquismo humano, não é um desejo de destrutividade intrínseco à humanidade, não pelo mero interesse destrutivo, mas pelo alívio de tensão. A descida para a morte é uma fuga inconsciente à dor e às carências vitais. É uma expressão da eterna luta contra o sofrimento e a repressão. E o próprio instinto de morte parece ser afetado pelas mudanças históricas que influem nessa luta.
O ser humano possui um potencial destrutivo que pode ser acionado todas às vezes em que se encontra em posição de sentir-se reprimido ou frustrado em alguma perspectiva. Por isso a via da violência apresenta-se como uma possibilidade do indivíduo libertar-se de tais sentimentos. A partir de então, a violência apresenta-se mais como um sintoma de situações perante as quais o ser humano experiencia sentimentos e sensações desagradáveis, do que uma característica inata.
Segundo Foucault (1975), a prisão não foi primeiro uma privação de liberdade a que se teria dado em seguida uma função técnica de correção; ela foi desde o início uma detenção legal encarregada de um suplemento corretivo.
A abstinência sexual é apresentada em muitos presídios como forma de correção, privando o detento do prazer sexual, sem diagnosticar as possíveis conseqüências físicas e psíquicas desta privação.


Abstinência Sexual em Presídios

Abstinência é uma atitude humana de decisão que se caracteriza por abster-se de alguma coisa como uma bebida, um alimento ou até mesmo uma necessidade ou privar-se de fazer uma determinada ação. A abstinência sexual corresponde à privação de relações sexuais e costuma ser defendida como um recurso preventivo contra AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis, principalmente entre adolescentes. Sua adoção é preconizada por determinadas denominações religiosas que a consideram como uma virtude, estando ligada ao termo castidade.
Apesar das alterações anatômicas e fisiológicas, o problema maior da abstinência sexual está na medida em que isso significa abster-se de um contato mais intimo com outra pessoa. No caso de presidiários, esse isolamento forçado, além de ser contra a nossa própria natureza humana, pode resultar em graves conseqüências psíquicas, como baixa auto-estima, melancolia, depressão de difícil tratamento e principalmente agressividade.

Metodologia

A pesquisa realizada utilizou de metodologia qualitativa, através de observação sistêmica e aplicação de questionários e entrevista semi-diretiva e de metodologia quantitativa, através de dados quantificados representados pelos gráficos.
A amostra foi composta por 39 detentos de quatro presídios da região Leste de Minas Gerais.



Resultados

Gráfico 01


















A maioria dos presidiários entrevistados está na faixa etária dos 20 a 30 anos. São jovens no ápice da maturidade sexual.

Gráfico 02


















A maioria é do sexo masculino, casados não de acordo com o direito civil, mas viveram junto com suas companheiras.
Gráfico 03















Gráfico 04


Gráfico 04




















90% dos presidiários, por ser amasiados, tinham vida sexual ativa antes de serem presos.



Gráfico 05

















75% dos presidiários estão em média há 06 meses sem manter relação sexual, demonstrando assim que são presos recentes.

Gráfico 06



















60% dos presidiários se masturbam.

Gráfico 07


















60% dos presidiários acreditam que a prática de esportes ajuda a descarregar a energia sexual.

Gráfico 08


















50% dos presidiários têm visita intima, por suas companheiras fixas.

Gráfico 09



















? 18% dos presidiários disseram que a fome aumenta com a abstinência sexual.
? 28% dos presidiários disseram que a ansiedade aumenta com a abstinência sexual.
? 25% dos presidiários disseram que o nervosismo aumenta com a abstinência sexual.
? 87% dos presidiários disseram que o sono diminui com a abstinência sexual.
? 16% dos presidiários disseram que a vontade de fumar aumenta com a abstinência sexual.


















Gráfico 10




















? 25% dos presidiários afirmaram estar tristes e estressados devido à abstinência sexual.
? 20% dos presidiários afirmaram estar mais agressivos devido à abstinência sexual.
? 20% dos presidiários afirmaram estar mais deprimidos e se isolam devido à abstinência sexual.


















Conclusão

Analisando os gráficos 09 e 10, observamos que a abstinência sexual entre os presidiários aumenta o nervosismo, a ansiedade, a tristeza e o stress.
Pelos gráficos 07 e 08, nota-se que os detentos que praticam esportes e tem visita íntima, são menos propensos a atitudes de agressividade. Aqueles que não possuem visita íntima, e se encontram pelo menos seis meses detidos, a masturbação é a válvula de escape para amenizar a tensão, análise pelos gráficos 05 e 06.
Por serem maioria jovens, homens, casados e com vida sexual ativa antes de serem detidos (gráficos 01, 02, 03 e 04), quando a abstinência sexual é usada como castigo, devido às atitudes erradas dos presos como tentativa de fuga, brigas e mau comportamento, há uma influência direta no humor e no temperamento dos mesmos.
A agressividade entre os presidiários é resultado desencadeante de diversos fatores associados: superlotação de celas, condições precárias de higiene, morosidade da justiça em determinar sentenças, conflitos de gangues rivais e a falta de relação sexual, como forma de amenizar a tensão existente entre presidiários tão jovens.
Há uma necessidade urgente de revisão da estrutura penal no Brasil, com políticas públicas sérias e engajamento de profissionais de todas as áreas para que se criem alternativas e novas formas de punição para os criminosos do país; com pensamento em presídios modelos de re-socialização e reeducação para estes, com oficinas, estudos e esportes, como formas de trabalhar a energia sexual e que se mantenham os direitos básicos de todo ser humano, inclusive o direito a visita íntima para os detentos casados, prezando uma saúde física, espiritual e principalmente psíquica.

Referências Bibliográficas

*FREUD, Sigmund. Edição Eletrônica das Obras Psicológicas de Sigmund Freud. Carta de Freud a Einstein. Rio de Janeiro: Imago. CD-ROM.
*MARCUSE, Herbert. Eros e Civilização: Uma Interpretação Filosófica do Pensamento de Freud. 8. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1999. Tradução de Álvaro Cabral.
*GOFFMAN, Ervin. Manicômios, Prisões e Conventos; Editora Perspectiva; 7ª Edição, São Paulo, 2007.
*FOUCAULT, Michael. Vigiar e Punir; Editora Vozes; 31ª Edição, São Paulo, 2005.