Afro-brasileiros e justiça: uma dívida social histórica

Por Maitê Oliveira da Silva | 21/02/2017 | Resumos

No caso em questão, sobre o povo negro, deve-se passar esclarecimento já nos bancos escolares sobre o valor desse povo. O sofrimento e o isolamento pelo qual passou, a chaga social que foi a escravatura, e muitos outros movimentos onde os negros foram por vezes discriminados como uma raça a parte da sociedade comum “branca”, com isso temos uma dívida social para com o Negro. Recuperar a sua dignidade é o que se pede, valorizando a sua cultura, historiando o seu povo, demonstrando aos professores e posteriormente aos alunos desde muito cedo a importância dessas pessoas em suas vidas e a importância que essa raça teve na história.

Durante os três primeiro séculos da história do nosso país os negros foram trazidos para cá como escravos, mais de três milhões de africanos, os quais, através da força do seu trabalho, acumularam riquezas que hoje formam o patrimônio das atuais elites econômicas brasileiras. Com a abolição da escravatura em 1888, o Estado Brasileiro deixou os negros a mercê da concorrência do mercado capitalista, sendo que eles não tinham bem algum, herança nenhuma, educação básica alguma, e nada para que pudessem iniciar uma vida e participar dessa corrida atrás da riqueza que é o Brasil. Somente após 100 anos do fim da escravidão é que este país se propõe a pensar e elaborar políticas públicas para a valorização dos descendentes de africanos escravizados no Brasil.

No Brasil Colônia, a base da economia e de sua riqueza estava no trabalho escravo. O Brasil foi o último país da América a abolir o regime escravista. Foi quando, condenando a Monarquia, abriu as portas para a República. Na época o trabalho assalariado era o que demonstrava ser o mais adequado a sociedade industrial em formação. Os negros que até então não tinham outro trabalho, a não ser o braçal, se viram repentinamente sem labor, ou onde morar, pois não existia mais a possibilidade de permanecerem nas terras do seu antigo Senhor. Neste mesmo momento o Brasil abriu às portas a mão de obra imigrante, desprezando assim o negro, que tudo havia construído no Brasil através de seu “trabalho escravo”, foi negligenciado e posto a mercê da marginalização. O povo negro, muito fez, muito sofreu, muito trabalhou, apenas para a sua própria sobrevivência, e quando chegado o momento em que se acreditava que essa realidade mudaria, ela apenas mudou de forma e sua discriminação ganhou uma nova perspectiva, o esquecimento.

A partir dai começamos a compreender a dívida que temos para com os Afrodescendentes, praticamente foi a sua mão de obra “escrava” que montou o Brasil onde vivemos hoje, foi através da escravidão que foi formada uma base para um Brasil com elites sociais. Os negros eram arrancados de sua cultura e país e despejados em um lugar ao qual nem sabiam que existia e nem ao menos gostariam de estar, mas por força maior eram obrigados a fazerem parte de uma raça de pessoas que não tinham escolhas, não tinham destino certo e nem futuro que os aguardava. A dívida que o povo brasileiro tenta hoje pagar de diversas formas é muito maior do que imaginamos, é algo que vai além do nosso entendimento, além daquilo que entendemos ser a forma moralmente correta de se pagar uma dívida.

Sou levado a tomar conhecimento da adoção de medidas governamentais ou da sociedade civil que vêm de encontro ao favorecimento da diversidade racial. Estímulos na área social, no mercado de trabalho, visando à ascensão profissional do negro estão sendo pensados e postos em prática. São empresas que oportunizam a contratação de afrodescendentes que se dispõem a reservar um percentual de vagas para trabalhadores negros em seus cursos de treinamento, atualização e aperfeiçoamento. Dessa forma, estudando e reciclando-se, este trabalhador prepara-se para obter sucesso, podendo exercer condignamente a sua função.

Vemos também o exemplo do sistema de Cotas para Negros nas Universidades. Acredito que esse sistema deva sim existir, pois pelos números demonstrados em 1994 pela Universidade de São Paulo, de seus 50.000 estudantes apenas 2% eram negros. Por não terem o mesmo acesso a educação e aos recursos fornecidos aos brancos desde sua infância, encontram uma grande dificuldade quanto ao ingresso em uma Universidade, assim entendemos que o sistema de Cotas Raciais aplicado em algumas Universidades Públicas e Particulares tem se tornado realmente uma necessidade, para assim pagarmos uma parte da dívida e corrigir erros históricos, como a escravidão. Isso nos revela que os negros possuem muita dificuldade para ingressarem no mercado, pois ainda não possuem as mesmas condições que os brancos.

Também temos o ensino da cultura afro, mostrando assim a contribuição cultural dos negros para o país através de diversas disciplinas escolares, as mais notáveis entre elas são: história e educação artística e também o “Dia da Consciência Negra”.

Conseguinte a essas ferramentas, acredito que, poderemos criar um país onde a discriminação se torne algo fútil, banal, que não faça mais parte da sociedade. Só transformaremos a realidade em que vivemos, quando soubermos estender a todos as mesmas formas de tratamento.