AFETIVIDADE NO ESPAÇO PEDAGÓGICO

Por Aline Morgan de Queiroz Dias | 11/08/2017 | Educação

Título: AFETIVIDADE NO ESPAÇO PEDAGÓGICO

Aline Morgan de Queiroz Dias– aline_morgan@yahoo.com.br

 

Resumo

Este trabalho tem como objetivo demonstrar a importância da afetividade na relação professor-aluno, definindo-a como condição imprescindível para o desenvolvimento da aprendizagem nas séries iniciais. Pensando na escola, como um espaço para promover a apropriação da experiência culturalmente acumulada, deve-se levar em conta que os aspectos cognitivos e afetivos são indissociáveis e proporcionar o desenvolvimento do indivíduo na sua totalidade. . Fundamentaremos nossa análise nas teorias de Henri Wallon, Jean Piaget, Paulo Freire e Emília Ferreiro, tendo a pretensão entender as diversas atitudes do professor e comportamentos dos alunos em sala de aula, refletindo, também, sobre sua prática pedagógica.

Palavras-chave: Afetividade. Aprendizagem. Relação professor-aluno.

Introdução

A escola, vista como um espaço em que os alunos ficam durante parte de seu tempo, precisa envolver-se de carinho, afeto e atenção às crianças, já que ela é um espaço de interação, tanto entre professor-aluno, como entre alunos e destes com os conteúdos escolares. Portanto, falar sobre a relação professor-aluno dentro da sala de aula é falar sobre estratégias de se promover o processo de ensino-aprendizagem.

Paulo Freire (1998), através da sua proposta pedagógica, defende que pode-se fazer da educação um processo mais amplo que o mero reproduzir de informações. As pedagogias centradas na educação bancária foram por ele contestadas pois, em seu modo de entender o ser humano só pode assumir e reassumir sua condição humana, quando forem respeitadas suas características de ordem ontológica, que é ser livre e a sua natureza histórica, que é transformar e participar do processo de mudanças.

Além disso, segundo a pedagogia da autonomia (Freire, 1998), antes de querer ensinar, tem-se que querer bem. O querer bem aos educandos já é uma prática educativa libertadora, por isso, em suas cartas a quem gosta de ensinar, defende a prática do professor, que também é estudante, deve ser séria, com prepara científico, físico, emocional e afetivo; escreve ainda que é impossível ensinar e aprender sem querer bem e amar.

Portanto, é fundamental cuidarmos do aspecto afetivo no espaço pedagógico que envolvem, professores, alunos e processos de ensino-aprendizagem. Precisamos ainda compreender que a criança é uma criança diferente cognitiva e afetivamente falando a cada fase de seu desenvolvimento.

Afetividade e Aprendizagem

Ultimamente, muito tem-se falado sobre a questão da afetividade no processo de ensino-aprendizagem, como sendo algo indissociável, já que, o desenvolvimento afetivo é tão importante quanto o cognitivo. Dessa forma, o professor pode trabalhar além dos conteúdos tradicionais da escola, com os de natureza afetiva, entendendo-os como objetos de conhecimento para a vida dos alunos.

A posição de Wallon a respeito da importância da afetividade para o desenvolvimento da criança é bem definida. Na sua opinião, ela tem papel imprescindível no processo de desenvolvimento da personalidade e este, por sua vez, se constitui sob a alternância dos domínios funcionais.

No momento que se fala sobre construção do conhecimento e da aprendizagem e sua relação com a afetividade, se está envolvendo o uso e o desenvolvimento de todos os poderes e capacidades do homem, tanto físicas, quanto mentais e afetivas. Sendo assim, não se entende a aprendizagem do conhecimento como uma simples memorização mecânica de conteúdos, fatos e experiências, mas sim abrangendo o ser humano como um todo, no seu universo físico-psico-emocional, tendo em vista que a construção do conhecimento não pode ser analisada de forma fragmentada.

Segundo Wallon, a afetividade passa então a constituir um outro fator que influencia diretamente na aprendizagem, ou seja, a relação afetiva entre quem ensina e quem aprende, isto é, a afetividade entre o professor e o aluno. O caráter afetivo influencia nas construções cognitivas, possibilitando liberdade, confiança, segurança, entre outros, na elaboração de saberes e conhecimentos.

Se levar em consideração que os alunos possuem características comuns, mas também características diferenciadas, entende-se que as características comuns são a manifestação pelo desejo de aprender e a expectativa de que a escola possa melhorar sua vida. Por outro lado, as características diferenciadas englobam alguns fatores, tais como constituição física, aparência, nível intelectual, sociabilidade, temperamento, antecedentes familiares e condições socioeconômicas. É no respeito às diferenças das crianças e na condução adequada de formas de tratamento a todos com igualdade, amor e afeto que o aluno terá sucesso na aprendizagem cognitiva. Assim, o sucesso da aprendizagem se caracteriza como resultado da afetividade por parte do professor.

É de grande importância que o professor tenha consciência de que ele e seus alunos estão em locais, ângulos opostos: por outro lado, ele não deve se vangloriar desta hierarquia e muito menos de seu conhecimento. Para que haja uma boa convivência entre professor e aluno um bom diálogo é fator de essencialmente.

Entretanto, não é esta realidade que observamos no contexto educacional brasileiro, pois o professor geralmente é arrogante, inseguro, ansioso e acaba criando um clima de terror em sala de aula. Na maioria das vezes a causa desta problemática esta na má remuneração, na falta de preparo, na instabilidade familiar, fatores que influenciam no desempenho do docente “Uma boa estruturação é essencial na carreira do docente. A dinâmica de grupo e os debates constituem-se em eixos norteadores na resolução de problemas, já que se tratam de ferramentas que aproximam educador e educando” (FERREIRO, 1982, p.12).. A aula deve ser encarada como uma relação entre professor e aluno, numa aprendizagem mútua, onde a escola seja encarada como um lugar de reflexões na construção e reconstrução do saber.

Segundo Piaget (1980), vida afetiva e vida cognitiva são inseparáveis, embora distintas, já que o ato de inteligência pressupõe uma regulação energética interna (interesse, esforço, facilidade, etc), o interesse e a relação afetiva entre a necessidade e o objeto susceptível de satisfazê-la.

Certamente, a afetividade interfere na aquisição da aprendizagem, pois pode acelerar ou retardar o desenvolvimento cognitivo de uma criança, um fato que pode ser percebido quando se observa a importância/diferença que faz a criança quando a professora espera na porta da sala de aula e diz a cada um bom-dia, dando-lhe um abraço, um beijo, antes do início das atividades diárias de sala de aula.

É muito importante para a criança perceber no educador um amigo, já que é o laço afetivo que irá influenciar diretamente no processo de aprendizagem. Vale ressaltar que, na dinâmica do processo ensino-aprendizagem, encontra-se também a moralidade, pois esta estabelece regras do jogo que se chama aprendizagem.

Segundo Wallon, a emoção é considerada o mais forte vínculo entre indivíduos, então é fundamental darmos importância aos olhares, gestos e mímicas, dar atenção à expressão facial, pois são condutivos da atividade emocional.

A partir do momento em que se começa a relacionar-se com o nosso meio sócio-cultural é que se passa a ter consciência das coisas que giram ao redor. É quando começa-se a dar importância e significado às coisas do nosso mundo, que aprende-se a agir dentro do contexto social em que se está inserido, podendo assim criar novos conceitos, onde a linguagem fornece as formas de organização do real, que constituem a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento.

Desse modo, a linguagem encontra-se relacionada com a interação entre os aspectos cognitivos e afetivos. Este fato pode ser verificado em sala de aula, pois quando há relação afetiva boa entre professor e aluno, a criança é falante e extrovertida. Mas, quando ocorre o contrário, vemos um quadro de pouco uso da linguagem, bem como das emoções.

Atualmente temos uma variedade de teorias, técnicas e modelos para a alfabetização e por outro lado encontramos ainda uma demanda de alunos que não se “encaixam” em nenhum destes modelos conhecidos. Neste momento o educador se depara com sentimentos de impotência, desânimo, irritação, etc. Por outro lado no aluno, iniciam-se ou acentuam-se os comportamentos de apatia, agressividade, desinteresse, baixa freqüência às aulas, etc. Sem que se percebam educador/aluno estão presos na normalização do Sistema Educacional.

Muitas vezes o conceito de aprender, vem intimamente ligado ao de inteligência. Isto significa que somos mais inteligentes porque aprendemos com mais facilidade aquilo que nos é ensinado. Como traz o Aurélio, inteligência é “a facilidade de aprender, apreender e compreender ou adaptar-se facilmente às situações da vida” (FERREIRA, 2000, p. 395). Em resumo, inteligência é a capacidade de aprender e de saber utilizar o que aprendeu.

Considerações finais

A questão da afetividade, juntamente com a aprendizagem, ocupa um lugar central na vida dos alunos, pois vê-se que são duas questões indissociáveis. Desta forma, cabe à educação, enquanto meio de propagação de conhecimentos, satisfazer as necessidades orgânicas e afetivas dos educando, dando oportunidade para a manipulação da realidade e a estimulação da função simbólica, depois a construção de si mesmo. Na realidade, a educação deveria ser o mecanismo pelo qual a criança será trabalhada em seus aspectos físico, psíquico e emocional, proporcionando uma reconstrução do eu individual e social.

Vale ressaltar que estes vínculos são construídos primeiramente no ambiente familiar e posteriormente na relação professor/aluno e aluno/aluno e o meio social, por este motivo é muito importante o respeito pelos conhecimentos prévios dos alunos, suas vivências, enfim é de fundamental importância respeitar a diversidade dos alunos e vê-los como ser único e complexo, pois cada um tem seu histórico de vida.

Acredito que o conhecimento e o desejo de mudança caminham juntos na arte de ensinar, pois envolve o saber e o significado, que correspondem respectivamente ao conhecimento e ao afeto, pois não é possível significado sem um elo afetivo, por este motivo acredito que há um elo indissociável entre a aprendizagem e a afetividade.

 

Bibliografia

 

FERREIRA, Aurélio B. de H. Miniaurélio século XXI escolar: O minidicionário da Língua Portuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

FERREIRO , E.; TEBEROSKY, A .Psicogênese da língua Escrita. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 1986.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.

PIAGET, Jean. Psicologia e Epistemologia. Rio de Janeiro: Forense, 1980.

WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança. Lisboa: Edições 70, 1968.