ADOLESCÊNCIA E SEXUALIDADE

Por Sandra Pedrosa Amorim | 14/10/2015 | Psicologia

ADOLESCÊNCIA E SEXUALIDADE: A RELAÇÃO ENTRE A PRÁTICA SEXUAL DE RISCO E O CONTEXTO FAMILIAR DE ADOLESCENTES DE 11 A 14 ANOS DO CAPP DE PASSOS/MG

 

Adolescence and sexuality: the relation between sexual practices of risk and family context of adolescents from 11 to 14 years old of CAPP Passos/MG

 

Aline Oliveira Marques de Melo1

Cláudia Lima Andrade Reis1

Kaleb de Castro Galdino1

Sandra Pedrosa Amorim1

Ana Paula Barbosa2

RESUMO

Nos últimos anos tem aumentado o número de jovens e adolescentes que vem adquirindo doenças sexualmente transmissíveis e enfrentando a realidade da gravidez na adolescência cada vez mais cedo. Tal fato chamou a atenção à prática sexual de risco nessa fase da vida, bem como a influência da família neste processo. O presente artigo objetivou verificar se há relação entre a prática sexual de risco de adolescentes e seus respectivos contextos familiares. Para isto, foi feita uma pesquisa descritiva-exploratória através do método dedutivo com adolescentes entre 11 e 14 anos participantes do CAPP (Centro de Aprendizagem Pró-Menor de Passos-MG) e a coleta de dados deu-se a partir de observação e aplicação de questionários. Assim, foi possível perceber a existência e importância da relação entre a família do adolescente e a prática sexual de risco.

Palavras-chave: Adolescência, prática sexual de risco, contexto familiar.

ABSTRACT

In the last years the number of young people and adolescents that have been acquiring sexually transmissible diseases and facing the reality of teenage pregnancy earlier and earlier has increased. This fact draws our attention to the sexual practice of risk in this period of life, as well as the influence of the family in this process. This article aimed to verify if there is a relation between the sexual practice of risk of teenagers and their respective familiar contexts. Therefore, it was made a descriptive-exploratory research through deductive method with adolescents between 11 and 14 years old members of CAPP (Center of Learning Pro Minor of Passos-MG) and data collect occurred through observation and questionnaire. Thereby, it was possible to realize the existence and importance of the relation between the teenager’s family and the sexual practice of risk.

Key words: Adolescence, sexual practice of risk, family context.

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1 Alunos do Curso de Psicologia da Universidade de Franca, cursando o 6º semestre da disciplina Laboratório de Pesquisa IV.

 2Professora  Orientadora do Projeto , Docente do Curso de Psicologia da Universidade de Franca, Especialista em Didática pela Universidade de Franca, Mestre em Educação pela UFSCar e Doutora em Serviço Social pela UNESP/Franca.

Introdução

 

A adolescência tem surgido como alvo de grande atenção de vários estudos nos últimos anos. É importante que prestemos maior atenção a esta fase, pois é nela que começam a surgir diversos conflitos relacionados à sexualidade.

Um dos maiores desafios na adolescência é a questão da prática sexual de risco. As consequências podem ser sérias: a Aids tem sido responsável pelos anos de vida perdidos entre jovens e a gravidez é a primeira causa de internações em moças com idade de 10 a 19 anos no Sistema Único de Saúde (BENINCASA; REZENDE; CONIARIC, 2008). A idéia de praticar sexo, entre os adolescentes, envolve sentimentos de imunidade relacionados a doenças e gravidez, e, por esse motivo, não se preocupam com prevenção.

Dentro dessa temática surge o contexto familiar em que o adolescente está inserido. A relação entre o papel da família e a prática sexual de risco por adolescentes é algo importante e deve ser revista. O período da adolescência favorece as condições necessárias para a emergência de uma série de problemas e conflitos dentro do contexto familiar, sendo que muitos estudos salientam que há um aumento das brigas e disputas entre pais e filhos durante essa fase (WAGNER e cols, 2002).

Assim sendo, o estudo desenvolvido teve como objetivo observar e verificar se há relação entre a prática sexual de risco de adolescentes entre 11 e 14 anos e seus respectivos contextos familiares por meio de questionários e observação participante no CAPP de Passos – MG. Objetivou-se também verificar se a influência exercida pelo contexto familiar ocorre igualmente sobre adolescentes do sexo masculino e feminino entre 11 e 14 anos que estudam no CAPP de Passos – MG.

Referencial Teórico

 

Segundo Osório (1992), a adolescência é uma etapa da vida na qual a personalidade está em fase final de estruturação e a sexualidade se insere nesse processo, sobretudo como um elemento estruturador da identidade do adolescente. A orientação sexual engloba as relações de gênero, o respeito a si mesmo e ao outro e a diversidade de crenças valores e expressões culturais existentes em uma sociedade democrática e pluralista. Um dos objetivos da orientação sexual é contribuir para comportamentos de proteção à saúde sexual e emocional do adolescente.

A adolescência é a transição da infância para a fase adulta, e sua família, o contexto em que vive, é de extrema importância exercendo influência na formação e no desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial desse individuo, pois através das experiências vivenciadas nesse meio o adolescente construirá sua personalidade, sua própria forma de pensamento e julgamento moral diante as situações encontradas na sociedade (PAPALIA, OLDS e FELDMAN, 2009).

Segundo Docherty (1989), a sexualidade é a combinação de nosso sexo, masculino ou feminino, com os nossos interesses e comportamentos sexuais.

           O desconhecimento do ato sexual remete a fantasia, que são distintas em meninos e meninas. Os meninos são alvo de pressão social acerca do desempenho sexual e, portanto pode viver dúvidas angustiantes em ter ou não ereção. Muitos como é possível saber se a mulher esta gostando das relações amorosas; ou se preocupam se vão acertar a vagina: uma minoria se preocupa com doenças sexualmente transmissíveis (ABRAÃO, 1988).

                     Segundo Benincasa, Rezende e Coniaric (2008), a maioria demonstra saber sobre os meios de contagio e prevenção, mas infelizmente muitas dessas informações são incorretas ou inconsistentes.

O diálogo entre pais e adolescentes que poderia favorecer a aprendizagem correta acerca do assunto mostra-se muito restrito. Não há abertura para conversar sobre questões pessoais, íntimas. A dificuldade em procurar os pais para esclarecer dúvidas sobre assuntos relacionados à sexualidade está vinculada ao sentimento de medo de sofrer represálias. Tabus e preconceitos impedem o indivíduo, de até mesmo, buscar aprender. Diante disso, o adolescente busca auxílio com outros adolescentes, visando à troca de idéias ou mesmo ao compartilhamento de medos.

O diálogo assume um papel ainda mais importante nessa fase da vida, apesar da tendência dos adolescentes em buscarem se isolar. Portanto, a falta de diálogo no ambiente familiar pode gerar ou acentuar algumas dificuldades no relacionamento, podendo afetar até mesmo o bem-estar e a saúde psíquica do adolescente (PRATTA; SANTOS, 2007).

Segundo Benincasa, Rezende e Coniaric (2008), existe uma necessidade de orientação a respeito da responsabilidade de se assumir uma prática sexual segura, bem como a necessidade de trabalhar mitos e tabus relativos à sexualidade, desmitificando os estereótipos do sexo. Estabelecer uma relação de troca com os adolescentes deixá-los expor seus conflitos, ouvi-los, trabalhar a autoestima, o relacionamento interpessoal, a imagem corporal e a afetividade também são fatores essenciais neste processo, considerando-se o contexto social e cultural. Somente através desse ambiente, o adolescente é capaz de obter maior responsabilidade e conscientização pessoal e social desenvolvendo-se de maneira saudável.

Resultados

A pesquisa deu-se em duas etapas: primeiramente, foi feita uma pesquisa bibliográfica sobre o tema proposto e, posteriormente, uma pesquisa de campo, ambas com caráter descritivo-exploratório, utilizando o método dedutivo. Os dados foram colhidos através da observação participante e aplicação de questionários objetivos, e seguidamente, representados através de gráficos para melhor compreensão e análise.

A amostra utilizada na pesquisa consistiu em 21 meninos e 23 meninas, distribuídos pela faixa etária entre 11 e 14 anos de idade, havendo uma prevalência de adolescentes pertencentes à faixa etária de 12 anos, cursando a 7ª série do ensino fundamental. Sendo, todos, alunos do Centro de Aprendizagem Pró-Menor de Passos/MG (CAPP).

A partir dos dados coletados, tornou-se possível afirmar que os adolescentes do sexo masculino, em sua maioria, consideram o sexo como algo natural e prazeroso.

Gráfico 1

Fonte: Autoria própria

Ainda, eles afirmam que “não está na hora” quando são pressionados por outros a realizarem relação sexual de risco, sendo que outros dizem “sentir-se tentados”, ao passo que todos afirmam manter prática sexual ativa no momento, o que representa um fator de risco maior, visto que uma grande minoria o faz dentro de um relacionamento amoroso.

Gráfico 2

Fonte: Autoria própria

Os adolescentes do sexo masculino buscam informações sobre sexualidade principalmente através de amigos e na internet, e em último lugar recorrem à família. Além disso, a maioria dos familiares transmite a eles a ideia de que o sexo é algo natural.

Gráfico 3

Fonte: Autoria própria

                                                           

Apesar de a maior parte dos adolescentes do sexo masculino considerar seu ambiente familiar harmonioso e sentir-se bem quando está em casa, pouco mais da metade deles ficam preferencialmente em casa quando não estão na escola, os demais se distribuem em outros lugares, a minoria deles mora com o pai e a mãe juntos. Este dado somado ao fato da distância existente entre a maioria deles e suas famílias em relação ao assunto “sexo”, bem como a busca de informações através de amigos e internet, sem a devida orientação e ajuda de responsáveis, nos permite afirmar que o contexto familiar em que a maior parte deles está inserido acaba contribuindo, mesmo que por omissão ou ausência, conjuntamente com diversos outros fatores, para que eles adotem práticas sexuais de risco.

Em contrapartida, a maioria das meninas afirmou que não pensam  nada a respeito ou concebem o sexo como algo natural (Quadro 1). Afirmaram, em sua maioria esmagadora, que dizem não estar na hora quando são pressionadas a terem relação sexual de risco, ou seja, futuramente, elas podem se sujeitar às práticas sexuais de risco, visto que esse fato não significa uma proibição, mas sim uma questão de tempo (Quadro 2).

Apesar de, como com a maioria dos adolescentes do sexo masculino, não haver muitos diálogos sobre sexo entre a maior parte das meninas e seus familiares, elas ainda recorrem mais à família do que os meninos e buscam informações e orientação na escola em primeiro lugar, onde provavelmente serão devidamente informadas. O fato de muitas terem afirmado não conceberem nada a respeito do assunto e apenas uma afirmar manter prática sexual ativa, pode indicar diferenças na concepção entre meninos e meninas relacionada à padrões sócio-culturais e familiares. Posto que a maioria dos pais das mesmas não fala sobre o assunto (Quadro 3), diferentemente dos pais de meninos, e ter-se um padrão cultural, ainda predominante, de que a mulher não deve expor sua vida sexual.

Portanto, baseando-se nos dados apresentados pode-se perceber que, com efeito, o contexto familiar constituiu uma importante fonte de interferências sobre a maneira como o adolescente concebe a sexualidade e se relaciona com a mesma. Sendo essas interferências exercidas de modos diferentes sobre adolescentes do sexo masculino e feminino.

Considerações Finais

Através da pesquisa realizada e dos dados coletados, bem como do estudo a respeito do tema proposto, foi possível verificar a existência da  relação entre o contexto familiar do adolescente e a prática sexual de risco e possíveis interferências, percebendo que quanto mais presente e receptiva a família for, possibilitando a discussão desse tema, buscando orientar e ajudar o adolescente e tratando o sexo como algo natural, porém com responsabilidade e devida seriedade, maior será a contribuição para que ele não adote práticas sexuais de risco.

Contudo, quanto mais omissa a família for, quanto menos esse assunto for conversado nesse contexto, possibilitando o esclarecimento de dúvidas e questionamentos, mais o adolescente irá atrás de outras fontes não-confiáveis para tirar suas dúvidas e curiosidade. Se o sexo for tratado de maneira banal ou excessivamente rígida, mais o adolescente irá tratá-lo da maneira errada, contribuindo para que ele venha adotar práticas sexuais de risco.

E por fim, foi possível perceber que a influência exercida pelo contexto familiar ocorre de maneira diferente para os adolescentes do sexo masculino e feminino entre 11 e 14 anos do CAPP de Passos-MG. Observou-se que, pais de adolescentes do sexo masculino tendem a conceber e transmitir o conceito de sexualidade diferentemente de pais de meninas. A maioria dos adolescentes do sexo masculino relatou que seus familiares entendem o sexo como algo natural, já os pais de meninas tendem a não falar sobre o assunto. Estas posturas refletem diretamente no modo de pensar do adolescente. Os meninos afirmando ser o sexo algo prazeroso e natural, e parte considerável das meninas afirmando não conceber nada sobre o mesmo.

Esta pesquisa propiciou o ensino e aprendizagem dos alunos de Psicologia, capacitando-os, através do contato com a instituição, além de aproximar a teoria à prática, criar certa familiarização com o universo científico, incluindo elaboração de relatórios, desenvolvimento de pesquisas e técnicas de observação, aperfeiçoamento da postura ética ao lidar com o outro, entre outros conceitos indispensáveis à formação de um psicólogo.

Contribuiu também por, após verificar a relação entre o contexto familiar e a exposição de adolescentes à prática sexual de risco, tornar possível a reflexão sobre estratégias mais eficazes em favorecer mudanças nas atitudes dos mesmos, sendo capaz de colaborar com a qualidade de vida dos adolescentes envolvidos, atendendo à solicitação feita pela instituição.

Referências Bibliográficas

 

 

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