Administração da produção e operações

Por Eliana Sfalsin | 03/11/2016 | Adm

Administração da produção e operações: origem, importância e diferenciação dos processos produtivos

Qual é a importância da administração da produção e operações para as organizações? 

  • Planejar, organizar, executar e controlar as atividades produtivas (ou serviços) com eficiência e eficácia;
  • Garantir a qualidade e a produtividade em produtos e serviços para maior competitividade da organização;
  • Alinhar a gestão da produção e operações à estratégica da organização (ou seja, alinhar todo planejamento operacional ou planejamento estratégico)

No século XVIII 80% dos ingleses ainda viviam no campo (áreas rurais). Com a chamada “revolução agrícola” os ingleses começaram a mudar para as cidades. E com o aumento de número de habitantes nas cidades, também aumentaram os trabalhos dos artesãos e o comércio em geral. O número de artesãos que formavam guildas (corporações de mercadores, de artesãos, etc) cresceu devido ao aumento do comércio. E tal mercado se destacava principalmente com o comércio de tecidos. Surgiram as primeiras máquinas a vapor construídas na Inglaterra durante o século XVIII e graças a essas máquinas, a produção de mercadorias aumentou muito. Os lucros dos burgueses, donos de fábricas, cresceram na mesma proporção. Por isso, os empresários ingleses começaram a investir na instalação de indústrias.A ampliação do comércio inglês incentivou, indiretamente, o aumento da produção. Com o aumento da produção, era preciso melhorar os processos produtivos, maquinário, métodos de produção, etc. Naquele período (1880) a Inglaterra já contava com uma população de cerca de 5 milhões de habitantes nas áreas urbanas. Portanto, já havia demanda (para o que quer que fosse produzido) e mão de obra para produzir.

As fábricas começaram a surgir e com a revolução industrial que se seguiu, os estudos acerca da forma de se administrar esse novo advento também. Eli Whitney contribui inventando o descaroçador de algodão e, algum tempo depois, com a padronização por meio de croquis quando aplicou a técnica à montagem dos mosquetes por qualquer pessoa.  O americano Frederick Winslow Taylor foi o precursor das teorias e metodologias para fabricação de produtos e Henry Ford, seu discípulo mais do que fiel, colocou suas teorias em prática quando montou sua fábrica de carros e começou a produzir seu Modelo T. Embora não tenha produzido nenhum material acadêmico, Henry Ford revolucionou os métodos de produção e foi um dos maiores disseminadores dos estudos de Taylor, colocando suas ideias administrativas em prática. Ford inovou na organização do trabalho com a produção do maior número de produtos acabados com o menor custo possível naquela época. Em 1913 ele já produzia 800 carros por dia.

O fordismo (como ficou conhecido) defendia a racionalização da produção. Ford criou a linha de montagem que permitia a produção em série. Com suas inovações, em vez de um operário ficar responsável pela produção de todas as etapas de um carro (como acontecia com processos artesanais), várias pessoas ficavam responsáveis pela produção de etapas distintas de vários carros. Henry Ford criou um engenhoso sistema de esteira, que movimentava o carro em produção em frente aos operários, para que cada um executasse a sua etapa. Isto aumentou em muito a produtividade, pois um carro ficava pronto a cada minuto e meio. Esse sistema é utilizado até hoje por várias organizações e produção de diversos tipos de bens.Ford afirmava que a condição chave para produção em massa é a simplicidade. Para obter um esquema caracterizado pela aceleração da produção por meio de um trabalho ritmado, coordenado e econômico, Ford adotou três princípios básicos:

  • Princípio da intensificação
  • Princípio da economicidade
  • Princípio da produtividade 

A partir de Taylor e Ford, foi possível perceber a importância de adaptar os sistemas produtivos aos tipos de empresa e produtos diferentes. Mas o que é Administração da produção? 

  • “A administração da produção trata da maneira pela qual as organizações produzem bens e serviços”. Slack (1999, p. 25)
  • “A administração da produção é a gestão do sistema que transforma insumos em produtos e serviços da organização”. (Gaither e Frazier (2001) 

O termo operações só foi introduzido à administra da produção quando os serviços passaram a ter maior representatividade na economia e a partir daí precisarem de métodos mais voltados para sua estrutura. Autores como Petrônio Garcia Martins (2005), e Norman Gaither e  Greg Frazier (2001) salientam  a importância de se entender a produção como um sistema inteiro e interdependente, que envolve entrada de insumos, transformação, saída de produtos e controle de resultados para manter a melhoria contínua do processo. Neste contexto, a natureza dos inputs e outputs torna-se fator determinante para a administração da produção. 

É possível enxergar esse “sistema inteiro” melhor quando usamos gráficos ou fluxogramas. Dentro desse fluxograma de uma empresa de montagem de computadores é possível perceber que há vários inputs e outputs internos até o output externo que é a entrega ao consumidor.

 

FONTE: a autora 

Quando se trata de inputs, Slack (1997) classifica-os em recursos transformados e recursos de transformação. Os processos de transformação envolvem inputs internos e externos e geram outputs para clientes internos e externos, o que configura, segundo o mesmo autor, as micro e macro - operações respectivamente.

FUNÇÃO PRODUÇÃO

A função da produção consiste em todas as atividades que diretamente estão relacionadas com a produção de bens e serviços. A função da produção é transformar insumos em bens e serviços por meio de um ou mais processos organizados de conversão. Portanto a produção conta com o suporte ao sistema produtivo, que vai, sistematicamente, interagir para que a produção aconteça com o menor custo, maior qualidade e agilidade. 

O processo produtivo, é definido e influenciado pela natureza do processo. As unidades produtivas variam de acordo com as características do produto transformado e suas necessidades de transformação. Desta maneira têm-se diversos processos produtivos. É necessário observar o volume do fluxo processado; a variedade do fluxo processado; o recurso dominante; os incrementos de capacidade e o critério competitivo de vocação; tendência à eficiência ou à flexibilidade. Na visão de Slack essas diferenciações na maneira de produzir são fatores que exercem influência direta na administração da produção. Slack (1997, p. 135) afirma que “cada tipo de processo em manufatura implica em uma forma diferente de organizar as atividades das operações com diferentes características de volume e variedade”.  Essas diferentes características dão origem aos diferentes processos produtivos. 

Tipos de Processo Produtivo  

  1. Processo por tarefa ou celular;
  2. Processo em lotes;
  3. Processo em linha;
  4. Processo em fluxo continuo; 
  1. Processo por Tarefa ou Celular

Este é um tipo de processo adequado a pequenos lotes de uma grande variedade de produtos, com variados roteiros de fabricação e geralmente aliado a um layout funcional.  Através desse método é desenvolvida uma codificação para as peças produzidas envolvendo suas características e necessidades de processamento, a fim de separar as famílias a serem produzidas em uma unidade de produção denominada célula. Por meio dessa metodologia têm-se benefícios como menores custo e tempo para rearranjos de máquinas em cada troca de produto, menor tempo para treinamentos de funcionários, maior rapidez na produção, menores estoques em processo e melhor qualidade. Os equipamentos, nesse tipo de processo são universais e muito flexíveis e ficam agrupados por função. Não há conexão entre os centros produtivos e, em geral, os trabalhadores são responsáveis pela completa produção do produto necessitando assim de serem polivalentes. Esse autor considera o processo celular como um processo híbrido que consiste no cruzamento do processo em lotes com o processo em linha trazendo vantagens em tempo e qualidade.   

  1. Processo em Lotes

Este é um processo similar ao por tarefa, quando analisadas as características de layouts necessárias. É um modelo utilizado em produção de alta variedade. Nesses processos, também chamados por Slack (1997) de processo por lotes ou “bateadas”, nesse processo existe maiores níveis de volume e variedade, compreendendo em cada lote uma sequência de repetição de atividades em produtos iguais. Nesse processo há a produção de um mesmo item várias vezes em tamanhos de lotes específicos, com características de custos relativamente altos e com necessidade de alta qualificação dos trabalhadores em acordo com a necessidade de especialização. (isso acontece em empresas de informática, por exemplo). 

  1. Processo em linha

Este tipo de processo é adequado para produções com características de alto volume realizadas por estações de trabalho conexas umas às outras. Nesse processo os produtos fluem em uma sequência prevista na qual deve-se observar os gargalos da produção. Esse processo pode ser possível tanto para produções contínuas e padronizadas quanto para produções em massa e de produtos variados. Há uma flexibilidade/ eficiência nesse processo, pois  existe grande eficiência em detrimento da flexibilidade o que torna o desenvolvimento de uma linha produtiva nesse processo muito custosa e arriscada diante das constantes mudanças necessárias para acompanhar as necessidades e desejos da demanda.  

  1. Processo em Fluxo Contínuo (ou o famoso Just in Time da Toyota – onde as partes necessárias a montagem alcançam a linha de produção no momento exato em que são requisitados e somente na quantidade necessária)

Este é um tipo de processo caracterizado por gerar baixos níveis de estoque em processo em produções ininterruptas assim como Slack (1997), que acrescenta como características desse processo os maiores volumes e baixa variedade em longos fluxos. Também chamado de linha produtiva, caracteriza-se por exigir maior especialidade dos funcionários que executam tarefas rotineiras de forma contínua em um fluxo produtivo que passa por eles muitas vezes de forma inflexível.   

Junto com a decisão sobre qual processo produtivo adotar, é importante avaliar e planejar o arranjo físico e seu fluxo; planejar o layout ou arranjo físico das instalações é determinar o local exato para cada móvel ou máquina da organização de maneira a atender ao tipo de sistema produtivo que será adotado.

REFERÊNCIAS:

FABER, Marcos E. E., A revolução industrial inglesa. Disponível em http://www.historialivre.com/moderna/industria.htm, acesso em 07/05/2016.

GAITHER, N; FRAZIER, G. Administração da Produção e Operações. São Paulo: Pioneira, 2001.

MARTINS, P. Garcia; LAUGENI, Fernando Piero. Administração da Produção. São Paulo: Saraiva, 2005.

SLACK, Nigel et al. Administração da Produção. São Paulo: Atlas, 1999.