ADEUS GUACIRA

Por Renato Ladeia | 19/08/2016 | Crônicas

ADEUS GUACIRA

Guacira é um nome mulher, mas tem um significado pouco poético: “tudo que é cortante”. Será que era mesmo um nome de mulher para os nossos indígenas? Mas é um nome sonoro, bonito, independentemente do significado. Conheço duas Guaciras, uma delas, de origem japonesa, adotou-o como nome de batismo na igreja católica ao se casar, pois o padre não gostou do nome Fuzae, tipicamente japonês.  O noivo, Milton Eto, um nissei boêmio comentou na mesa de um bar o dilema de sua amada que deveria escolher um novo nome depois de adulta. E assim, por sugestão de outro amigo boêmio, Edélcio Thenório, que o nome Guacira ficou sacramentado. Ela achou o nome estranho, mas depois de ouvir a canção concordou. A outra Guacira que conheço é minha Sobrinha, cujo nome foi escolhido por minha irmã por influência da outra. Infelizmente ela odeia o nome e se pudesse já teria mudado para Carolina.

Mas Guacira é mesmo o nome de uma música, uma bela canção composta por Hekel Tavares e Joracy Camargo, gravada em meados do século passado. Entre os que gravaram a canção, estão Orlando Silva, Silvio Caldas e Inezita Barroso. É uma canção de exaltação de um cantinho onde nem Deus sabe onde está. Provavelmente fica entre a terra do nunca e a terra de ninguém, pois nenhum mapa indica a existência de vila, cidade ou povoado.

 Até os vinte e poucos anos não conhecia a canção e fui ouví-la pela primeira vez na voz inesquecível do Oscar de Vito, um daqueles cantores que lamentamos não ter conseguido se destacar no show-business, pois era muito bom. Ele interpretava com a alma e derramava emoções em tudo que cantava. A primeira vista, “Adeus Guacira” sugere ser uma canção paulista ou mineira e retrataria algum lugarejo bem distante da capital, mas o compositor da música nasceu em Alagoas e o letrista foi o poeta Joracy Camargo, carioca da gema.

A cidade de Maringá, no interior paranaense, ao contrário da romântica Guacira, passou a existir em homenagem a canção do compositor carioca, Joubert de Carvalho.  Maringá, segundo o Edson Zeca da Silva, um grande conhecedor da música popular é a junção de Maria + Ingá. Maria foi uma fã do Joubert de Carvalho que lhe pediu uma canção para sua cidade natal, no Nordeste, chamada Ingá. Ao se lembrar do pedido, Joubert criou a famosa canção que fez muito sucesso nos anos 40. A outra versão da origem da música foi um pedido do governo para que o autor compusesse uma música sobre a seca no Nordeste. Foi aí que o autor juntou a cidade de Ingá com Maria.  Conta-se que em 1947, quando estava sendo construída a estrada de ferro na região, os operários cantavam a canção Maringá, dia e noite. Assim, o antigo distrito de Mandaguari mudou seu nome para Maringá.  Infelizmente, o mesmo não aconteceu com a bela canção Adeus Guacira, para que os seresteiros  pudessem cantá-la como hino nas noites de luar.

Enquanto isso não acontece, Guacira continuará sendo a cidadezinha imaginária que encheu de poesia meus doces tempos de juventude ao lado de velhos amigos e amigas com a voz do nosso bardo Oscar de Vito, que, também, ninguém sabe por onde anda. Quem sabe se enveredou pelo sertão a procura da romântica cidadezinha que fica na terra do nunca, seguindo a primeira estrela a direita para resgatar o tempo perdido tal como Marcel Proust.