Adaptação às Mudanças Climáticas no Campo e na Cidade

Por Gabriel Beraldo Affá Ferreira | 05/12/2016 | Arte

1. Introdução: 

A grande aceleração no desenvolvimento humano iniciado em 1950 (pós-guerra), com a globalização da economia mundial e a forte industrialização das nações emergentes , como o Brasil, resultou na ampliação do uso de matérias primas e combustíveis fósseis como os derivados do petróleo, o carvão mineral e o gás natural. Outras atividades como o desmatamento de áreas florestais para o avanço da agropecuária também foram intesificadas. Todas estas atividades tem como produto a emissão para a atmosfera dos chamados Gases do Efeito Estufa. O efeito estufa é um processo naturalmente presente no planeta e Terra e compreende a retenção da radiação solar próxima a superfície de modo que fica garantida a manutenção de uma temperatura ambiente média no planeta (15 graus celsius) que possibilita a presença de água em estado líquido e consequentemente a vida. A acreção de grandes quantidades destes gases na atmosfera , em especial o gás carbônico, resultam na intensificação deste processo, com maior quantidade de radiação retida e aumento de temperatura: está configurado o aquecimento global.

Os estudos climatológicos convergem para uma tendência de aumento da temperatura global pelo menos desde o século dezenove. Valores variam para cada estudo e autor, mas em média o aumento registrado é da ordem de 1 grau celsius, o suficiente para afetar o equilíbrio do sistema atmosfera-oceano. Os esforços atuais da comunidade científica se concentram na tentativa de determinar se este efeito é resultado da ação antrópica ou de processos naturais do planeta (variações na atividade solar, variações de distância e excentricidade orbital, atividade tectônica, entre outros) ou ainda uma combinação de ambos. Os anos de 2014 e 2015 especialmente foram considerados os mais quentes desde do início dos registros em 1880 e a frequência de eventos extremos espalhados pelo globo como , ondas de calor ou frio intensos, grandes tempestades e secas prolongadas e a incidência de raios, aumentou sensivelmente de modo que se tornou crescente a preocupação do impacto destes eventos sobre as atividades humanas na Terra. Há também de se considerar o avanço de doenças típicas de regiões de clima quente sobre regiões previamente livres dos vetores.

Ações tem sido tomadas tanto para a mitigação dos impactos das mudanças, com destque para os acordos internacionais para a redução das emissões de gases do efeito estufa, especialmente para as nações mais desenvolvidas e industrializadas, pois são as que mais contribuiram para o aquecimento ao longo das décadas. Como estão envolvidos grandes interesses econômicos nestas ações, os acordos têm tido dificuldades para avançar, em especial devido a resistência de grandes potências como os Estados Unidos da América. Os encontros visam a volta dos níves de emissão do passado, entre eles o Protocolo de Kyoto em 1997 e o Acordo de Paris em 2016.

Além das ações de mitigação, se espalharam pelo globo ações de adaptação ás mudanças climáticas. Nestes casos, tenta-se minimizar os efeitos nocivos e maximizar as oportunidades trazidas pelas mudanças. Estas ações podem ser aplicadas tanto no campo, na agropecuária, quanto na vida urbana nas grandes cidades. Nas próximas seções serão apresentadas algumas das soluções às mudanças climáticas sendo implementadas e desenvolvidas pelo homem contemporâneo.

2.Adaptação: ações atuais e futuras 

2.1. Adaptação no campo

A produção de alimentos é extremamente sensível às mudanças climáticas. As espécies vegetais estão intimamente ligadas ás condições de clima de uma região, de modo que produções em larga escala são sempre feitas ao relento, já que a produção em condições controladas de uma estufa elevaria muito os custos da produção, refletindo nos preços praticados nos comércios, no consumo das famílias e na economia de modo geral. Assim sendo, a agricultura em geral já nasceu adaptada ao clima local, onde se dá preferência a produtos resistentes ao clima da região.

Segundo Jones et al. (1987) a produção em áreas tropicais e subtropicais seria mais afetadas do que as regiões temperadas do globo, portanto a produção agrícola brasileira encontra-se na zona mais sensível ás mudanças. Por isto, existe no país O Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC) que compreende tanto ações de mitigação quanto adaptação a serem implementadas até 2020. Mitigação se encontra presente pois a agricultura também é fonte dos gases de efeito estufa , em especial o metano. As ações previstas pelo plano incluem:

Ações adaptativas:

- técnica do plantio direto, manejo do solo que visa diminuir o impacto da agricultura e das máquinas agrícolas e assim suaviza a perda de humidade pelo solo;

- desenvolvimento de cenários e mapas de risco de desastres de escala regional;

- programas de conservação e uso sustentável de recursos genéticos e de melhoramento vegetal;

- migração de culturas entre regiões, por exemplo de regiões de menor para as de maior latitude;

- sistemas de irrigação que otimizam o uso da água;

O sucesso destas medidas depende das condições socioeconômicas da região. O relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas entendeu que a região Sul, especialmente os estados do Paraná e Santa Catarina teriam condições de contornar os efeitos nocivos das mudanças, enquanto que a agricultura subdesenvolvida da região Nordeste seria a mais afetada. O relatório ainda concluiu que caso não sejam tomadas medidas de mitigação e adaptação, a geografia da produção nacional
pode se alterar nas próximas décadas, influenciada pela intensificação de mudanças climáticas, diminuindo
regiões aptas para o cultivo de café no Sudeste do Brasil e da soja no Centro-Oeste, sendo este dois dos principais produtos agrícolas brasileiros.

2.2. Adaptação na cidade

As mudanças climáticas nas cidades envolvem grandes custos sejam eles financeiros devido a destruição de bens materiais e infraestrutura e a perda de qualidade de vida e saúde dos habitantes. Cada cidade sente as mudanças de acordo com suas próprias características e as do clima da região em que está inserida. Cidades de regiões montanhosas estarão expostas a diferentes adversidades quando comparadas com cidades litorãneas, por exemplo. As ações mais comuns aplicadas atualmente nas cidades do Brasil e do mundo incluem:

Ações pontuais

- construções "verdes" ou ecológicas, que visam a melhor utilização da luz solar e circulação do ar;

- otimização dos canais de drenagem para comportar grandes volumes de água;

- otimização do recolhimento de resíduos nas ruas que causam entupimentos e servem como facilitadores da proliferação de vetores de doenças;

- desocupação de área de risco, em especial encostas de morros;

- ações de poda de árvores e sua substituição por espécies mais propícias a vida urbana para evitar riscos com quedas e amenizar as ilhas de calor;

- reutilização de água;

Ações de reestruturação:

Entre as ações que exigem maior planejamento e mudanças estruturais nas cidades podemos destacar:

- agricultura urbana, para otimizar a distribuição de alimentos em momentos de crise;

- revisão do sistema de captação e retenção de água em represas, para evitar crises de abastescimento em períodos de seca;

- planejamento urbano, para que se evite o povoamento urbano em áreas de várzea de rio ou encostas de morros sujeitos a erosão e desmoronamento;

- contrução de sistemas de diques para conter a elevação do mar em cidades litorâneas;

- prédios, como hospitais, a prova d'água;
Além de ações físicas, o sucesso das medidas depende da agilidade e planejamento de gestão pelas autoridades competentes, que devem monitorar a eficácia das ações e modifica-las continuamente conforme mudam as circunstãncias da cidade e do clima.Finalmente, medidas adaptativas urbanas visarão suprir necessidades locais específicas e precisam da integração da população, governo, iniciativa privada, universidades e indústria.


3. Conclusão

As medidas adaptativas serão de grande importância para que sejam preservadas a saúde humana, a qualidade de vida e bem-estar da sociedade e também o desenvolvimento econômico nos próximos séculos. Elas podem prevenir que mais pessoas perdam suas vidas em eventos extremos do clima e dos problemas trazidos por eles , como a falta de condições básicas de higiene e a fome.

Mesmo que haja sucesso na diminuição da emissão dos gases, as medidas de adaptação continuaram sendo necessárias , uma vez que ainda não se sabe o quão eficientes são e em que escala de tempo observaríamos uma reversão do aquecimento. Portanto as medidas adaptativas são de extrema importãncia a curto e médio prazo, tanto no campo quanto nas cidades.A criação de programas que envolvam aspectos de adaptação às mudanças no campo e a implementação de intervenções urbanas
deverão ser consideradas na definição do destino de recursos públicos pelos governantes.


4. Fontes consultadas

1) Agricultura e adaptação às mudanças do clima.

2) Guia da Adaptação à Mudança Climática nas Cidades.
3) Impactos, Vulnerabilidades e Adaptação - Volume 2. Painel Brasileiro de Mudanças climáticas.

4) Notas de aula da disciplina ACA0415: O Clima da Terra. IAG-USP. 2016

5) JONES ET AL. Hemispheric Surface Air Temperature Variations. University of East Anglia, Norwich, United Kingdom.