Acorda Amor!
Por Majoh Rodrigues | 14/11/2016 | CrônicasÉ tempo de despertar para o outono de nossas vidas.
Varrer as folhas mortas, as calçadas, aparar as arestas dos galhos secos, tirar a poeira do tempo que nos cobriu de decepções, colocar um sorriso no rosto, o chapéu roxo na cabeça e retomar a caminhada.
Deixa que pensem, que conjecturem, que falem, dê de ombros e retome a marcha que ainda tem muito chão para pisar, muita estrela para olhar, muito sol pra ver nascer!
Tem muito chute pra dar no ar, assoprar a brisa e espantar a tristeza desses olhos, levantar os lábios pra sorrir e atiçar as covinhas e por que não?
O tempo dos amores arrebatadores, os de tirar o fôlego, espantar o sono e te encher de adrenalina ainda não passou não!
Aliás, não passa é nunca!
Coração remendado, que não bate, mas apanha, borboletas no estômago e sede de vida não passam é nunca!
Mais que tudo nós sabemos agora que o tempo dos amores pode ser a qualquer hora, tempo e momento da vida, num eterno ir e vir, num perene despertar e desfalecer.
Que bom é saber distinguir cascalho de pedra preciosa e ter sangue frio e paciência para fazer uso do silêncio necessário quando se faz momento.
Ninguém aprende sem entrar na dança, ninguém cresce, amadurece e aparece se não souber dominar seus instintos, aquelas coisas erradas que detestamos em nós, mas que vivemos fazendo e quebrando a cara, por sucessivas décadas.
Agora que devemos caminhar porque nos faz bem, comer melhor porque nos favorece, temos também que pensar melhor porque devemos ou talvez nem sempre nessa ordem, mas assim é!
Sigamos nossos caminhos a passos que nos convém, façamos nossas coisas no ritmo que suportamos e sejamos mais nós mesmos, e tenhamos mais esperteza para afastar e superar velhos hábitos falidos e ineficientes.
Já passamos pela primavera e pelo verão, e agora que estamos em pleno outono, façamos testes conosco, sejamos nossas cobaias nos caminhos suaves, retos e sem aclives ou declives pronunciados, se conseguirmos, porque fomos nós que criamos os abismos intransponíveis que atravessamos...
Tudo que nos aconteceu antes, os remendos que tivemos de nos fazer ao longo do caminho, as feridas que tivemos de pensar até curar, os delírios de poder, juventude e força ainda estão aqui, mas controlados, dosados e medidos a milímetros, miligramas e não a toneladas e quilômetros como fazíamos antes sem muita seleção, pela quantidade e não pela qualidade!
Sejamos coerentes para medir nossas passadas, deixemos pegadas e não feridas e cicatrizes, porque não precisamos mais de tanto ego inflado, esses balões ao vento nunca foram estrelas e mesmo assim, estrelas também murcham, morrem e ainda continuam a brilhar e os balões são absorvidos pelo ar, pela sua fragilidade...
Velhos com ego inflado são mal vistos, viram moleques irreverentes, dos quais se tem vontade de se afastar e não de se aproximar em busca de abrigo, abraço, consolo, conselho, sabedoria...
Ninguém é tão velho que não possa aprender novos truques, mas sejamos coerentes com nossa própria energia e vamos gastá-la no brilho, na beleza, no esplendor e não naquela máscara mofada ou na fantasia desbotada que teimamos em vestir a todo instante, vida afora...
Velho rabugento, marrento é pessoa que queremos evitar, velho orgulhoso é antipático e antissocial, ninguém gosta e muito menos quer por perto.
Mas, deixemos que as pessoas sejam o que são, e sejamos quem somos de verdade, sem máscara, sem falsos pudores, sem medo de sermos felizes!
Vamos tentar e acordar para o Amor?
Esse gigante adormecido, mas nunca esquecido, tão negligenciado quanto desejado, tão forte quanto enfraquecido e tão necessário como o ar que respiramos.