Aconteceu, Virou Notícia

Por Edinaldo Antonino dos Santos | 30/04/2011 | Filosofia

Edinaldo Antonino dos Santos














ACONTECEU, VIROU NOTÍCIA? ESTUDOS SOBRE TEORIAS DO JORNALISMO APLICADOS AO JORNAL DA RECORD JORNAL DA CULTURA.













Faculdade Araguaia
Comunicação Social - Jornalismo
Goiânia 2008
Edinaldo Antonino dos Santos














ACONTECEU, VIROU NOTÍCIA? ESTUDOS SOBRE TEORIAS DO JORNALISMO APLICADOS AO JORNAL DA RECORD JORNAL DA CULTURA.







Monografia apresentada à Banca Examinadora do Curso de Jornalismo da Faculdade Araguaia, como requisito parcial para a obtenção do título de Jornalista, sob a orientação do Professor MS. Gildézio Bonfim de Oliveira.






Faculdade Araguaia
Comunicação Social - Jornalismo
Goiânia 2008




BANCA EXAMINADORA


____________________________________
Profº MS. Gildézio Bonfim de Oliveira
- Orientador -


____________________________________
Professora Adriana Moraes

____________________________________
Professor Dayvidson Costa




Nota:____________

Data:____________















AGRADECIMENTO

Em primeiro lugar ao meu Senhor Jesus que é a única e principal razão do meu existir, pois sem Ele eu jamais chegaria até aqui.

À minha amada esposa que se esforçou o quanto pode para me ajudar e tentou não se aborrecer quando teve que me dividir com os trabalhos da faculdade.

A minha adorada mãezinha que sempre sonhou em me ver formado e, segundo ela, "sendo alguém na vida.".

Ao meu Professor e orientador Ms Gildézio Bonfim de Oliveira que com seu carisma e dedicação me apoiou e me ensinou os dois últimos semestres do curso.

Aos meus amigos de turma que estiveram comigo durante o curso, em especial ao Marco Horácio, Segismar, Adriano e a Márcia.



SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

1. A NOTÍCIA E SUAS TEORIAS 10
1.1 Mas o que é notícia? 10
1.2 Notícia: Uma questão de Agenda 12
1.3 Da seleção à produção da notícia 15

2 A NOTÍCIA NA TV - DAS HIPÓTESES E TEORIAS À PRÁTICA DO DIA-A-DIA JORNALÍSTICO 20
2.1 Sentidos e significados através da televisão 20
2.2 A produção do Telejornalismo 22
2.3 O Que Dizem Os Telejornais? 24

3 OS TELEJORNAIS EM CENA 29
3.1 O Jornal da Record 29
3.2 O Jornal da Cultura 31
3.3 A notícia no Jornal da Record e no Jornal da Cultura 35
3.3 Sobre o Newsmaking no Jornal Record e Jornal da Cultura 38

CONSIDERAÇÕES FINAIS 42
BIBLIOGRAFIAS UTILIZADAS 44







LISTA DE FIGURAS E ILUSTRAÇÃO


Figura 1 Gráfico apresentado na edição do dia 19/09/2008 no jornal da cultura em matéria sobre a crise financeira mundial. Extraída de uma das amostras gravadas para pesquisa de campo 25
Figura 2 Celso Freitas, apresentador do Jornal da Record chamando a matéria sobre aumento da renda dos brasileiros. Imagem extraída de uma das amostras gravadas para pesquisa de campo 28
Figura 4 Logotipo do Jornal disponível em:http://www. rederecord.com.br /frameset. asp?prog=5 30
Figura 5 Logotipo do telejornal-fonte: http://www.tvcultura.com.br/fpa/institucional quemsomos.aspx 31
Figura 6 Matérias exibidas no dia 24/09/2008 33
Figura 7 Matérias exibidas em 24/09/2008 34
Figura 8 Cena retirada da matéria sobre aumento de preços da farina de trigo em função da crise. Fonte: Arquivo pessoal gravado para pesquisa de campo 35
Figura 9 Cena do pássaro avançando no repórter da Record no momento de gravação da matéria 36
Figura: 10 Repórter apresentando um dos coletes a prova de bala utilizado pela PM do Rio. Imagem extraída da gravação do programa exibido em 19/09/2008 39

Ilustração 1 Repórter em concessionária de veículos. Mudança de postura do mercado varejista. Imagem extraída da amostra de gravações do programa em 13/10/2008 40



RESUMO

Esta pesquisa bibliográfica apresenta um estudo sobre hipótese de agenda-setting e newsmaking aplicado ao Jornal da Cultura e Jornal da Record de forma crítica objetivando esclarecer alguns questionamentos pertinentes e contribuir com os estudos sobre o papel social do jornalismo. A pesquisa aqui realizada fundamenta-se nas idéias de autores como FILHO (2000) WOLF (2003), ATTUCH (1998) HOHLFELDT (2008) Dentre outros. No primeiro capítulo apresento o conceito de notícias na visão de alguns autores acima citados, exponho o conceito de Agenda-setting e Newsmaking. No segundo capítulo discuto o papel da imagem dentro do contexto jornalístico e apresento a forma em que a notícia é apresentada pela televisão. No terceiro capítulo faço uma aplicação prática das teorias aos meus objetos de pesquisa utilizando de material gravado dos dois telejornais.

Palavras-chave: Noticia, teorias e telejornal.



ABSTRACT

This research literature presents a case study of agenda-setting and newsmaking applied to the Official Journal of Culture and the Record of a critical aiming to clarify some pertinent questions and help with studies on the social role of journalism. The research conducted here is based on the ideas of authors such as Son (2000) WOLF (2003), ATTUCH (1998) HOHLFELDT (2008) among others. In the first chapter introduce the concept of news in the view of some authors cited above, expose the concept of agenda-setting and Newsmaking. The second chapter discusses the role of the image within the journalistic context and presenting the way in which news is presented on television. In the third chapter I have a practical application of theories to my objects of research using material recorded from the two news.

Keywords: News, theories and news.



INTRODUÇÃO

O telejornalismo faz parte dos aparatos utilizados pela TV para difundir imagens, falas cuja intenção é levar informação e conhecimento aos indivíduos, constituindo o que se pode chamar de gênero informativo midiático e tem se esforçado para produzir informação seja a que preço for. Uma incerteza que sempre me acompanhou durante a realização do curso de jornalismo era saber se as mídias pautam a sociedade, fazendo com que as discussões propostas pelos regimes midiáticos sejam amplamente debatidos; ou se a sociedade pauta as mídias, fornecendo-lhes a matéria-prima para a construção das notícias e alimentando-as com fatos e eventos da vida cotidiana, que preenche diariamente dezenas de páginas de jornais impressos e espaços preciosos na grade de programação das emissoras de TV. Nesse sentido, perguntas aparentes e simples vinham e ainda vêm à tona, por exemplo: por que os telejornais veiculam quase sempre as mesmas notícias? Por que as notícias, dependendo do que acontece, sempre gira em torno de um fato de maior relevância.
A proposta desse trabalho é tentar responder a essas questões e contribuir para estudos futuros sobre o fazer jornalístico, ainda que, as respostas não estejam prontas e nem sejam definitivas. Afinal, o que busco é oferecer pistas para o entendimento acerca das escolhas, construção, afirmação e legitimação das informações transformadas em notícias, especialmente nos telejornais.
O ponto de partida para essa análise foi escolher dois telejornais que oferecessem linhas editoriais diferentes em que eu pudesse fazer comparações entre eles. Após uma pesquisa, resultante da experiência como espectador, vi que os jornais que se encaixavam no perfil que estava procurando era o Jornal da Cultura e o Jornal da Record. O primeiro por se tratar de um telejornal realizado por uma TV Pública, logo o estilo jornalístico poderia apresentar característica diversa e específica. Características essas que exponho no capítulo 3, quando trato da análise, propriamente dita. O segundo telejornal, por hipoteticamente tratar-se de um programa de cunho mais popular. O segundo passo foi estabelecer um período para empreender a coleta de dados, que se deu na segunda quinzena de setembro e início da primeira quinzena de Outubro de 2008, as gravações do Jornal da Cultura foram feitas em VHS e posteriormente transferidas para DVD. O jornal da Record, graças a ajuda de um amigo, foi gravado direto em DVD.
No intuito de responder os meus questionamentos me pautei pelos estudos de agenda-setting e newsmaking, pois esses estudos procuram apontar os critérios que norteiam a escolha das notícias a serem exploradas e disseminadas pelas mídias. As hipóteses para uns ou teorias para outros, se concentram em destacar aspectos como valores jornalísticos e de noticiabilidade intrínsecos aos fatos do cotidiano. As pesquisas sobre a agenda-setting e o newsmaking, estão entre os estudos de maior repercussão no Brasil, já alcançando alguns registros, em traduções, em obras que, baseadas nestas pesquisas, buscam desenvolver reflexões a respeito dos processos comunicacionais em nosso país.
No capitulo 1 ? A NOTÍCIA E SUAS TEORIAS ? apresento uma série de conceitos procurando inicialmente entender o que é notícia, a partir de diversos autores, como Ciro Marcondes Filho (2005), Maria da Graça França Monteiro (1998), entre outros. Ainda neste capítulo, trato do conceito de agenda-Setting e da discussão sobre se ele é uma teoria ou Hipótese e discuto também os conceitos de newsmaking, gatekeeper e sua aplicação prática na construção da notícia.
No capitulo 2 ? A NOTÍCIA NA TV - DAS HIPÓTESES E TEORIAS À PRÁTICA DO DIA-A-DIA JORNALÍSTICO ? empreendo uma discussão em torno da notícia na tv e a respeito do funcionamento das hipóteses e teorias na prática do dia-a-dia jornalístico, destacando aspectos como a construção dos sentidos e significados através da imagem ressaltando o grau de relevância da imagem para a construção da notícia jornalística na TV, apresentando a forma de produção da notícia o que implica em discutir sobre o que os jornais se esforçam para mostrar todos os dias.
No capítulo3 ? OS TELEJORNAIS EM CENA ? busco aplicar os conceitos de notícia, agenda-setting e newsmaking ao meu objeto de pesquisa. Apresento os dois telejornais e abordo o perfil e a possível linha editorial de cada um, apresentando exemplos de reportagens que nos ajuda a compreender esses conceitos.
Por fim, no capítulo 4 ? Considerações finais ? faço um panorama de todo o trabalho, recuperando as questões centrais e articulando idéias e posicionamentos que vieram à tona a partir da análise da análise qualitativa.



1. A NOTÍCIA E SUAS TEORIAS


Os estudos de agenda-setting e newsmaking procuram apontar os critérios que norteiam a escolha das notícias a serem disseminadas pelas mídias. As hipóteses para uns ou teorias para outros, se concentram em destacar aspectos como valores jornalísticos e de noticiabilidade intrínsecos aos fatos do cotidiano. As pesquisas sobre a agenda-setting e o newsmaking, estão entre os estudos de maior repercussão no Brasil, já alcançando alguns registros, em traduções, em obras que, baseadas nestas pesquisas, buscam desenvolver reflexões a respeito dos processos comunicacionais em nosso país.
Neste capítulo busco conceituar notícia, agenda-setting e newsmaking com o intuito de identificá-los dentro dos fatos veiculadas no jornal da cultura e jornal da Record que são meus objetos de pesquisa neste trabalho.


1.1 Mas o que é notícia?

Existem diferentes pontos de vista e inúmeras conceituações sobre o que é notícia. De acordo com FILHO (2000), os critérios utilizados para determinar se um fato é notícia não são tão evidentes, mas segundo ele, existe um conceito no meio jornalístico de que o fato para ser noticioso tem de ter algo de espetacular ou sensacional e deve ser carregado de emoção. Para FILHO (2000), a natureza, a pesquisa científica e a astronomia estão cheias de ocorrências extraordinárias, raras, mas a vida social, política, econômica de um país só encaram como sensacionais os procedimentos que violam as normas, e nesse caso, posso utilizar como exemplo a clássica frase de Amus Cumings, ex-editor do New York Sun, segundo a qual "se um cachorro morde um homen, não é notícia, mas, se um homem morde um cachorro, é notícia". Completando essa idéia, ATTUCH (1998) acredita que a notícia é aquilo que normalmente foge à ordem natural dos acontecimentos, ou seja, é o fato que desfaz a rotina do dia-a-dia. O Dicionário de comunicação, de Carlos Rabaça e Gustavo Barros (1987), define notícia como relato de fatos ou acontecimentos atuais, de interesse e importância para a comunidade, capaz de ser compreendido pelo público.
O uso ou efeito pretendido com a notícia é outro aspecto explorado nas conceituações de Marcondes FILHO (1989) que escreve:

A informação transformada em mercadoria com todos os seus apelos estéticos, emocionais e sensacionais; pra isso a informação sofre um tratamento que a adapta às normas mercadológicas de generalização, padronização, simplificação e negação do subjetivismo. Além do mais, ela é um meio de manipulação ideológica de grupos de poder social e uma forma de poder político. Ela pertence, portanto, ao jogo de forças da sociedade e só é compreensível por meio de sua lógica (p.13).

Com esse conceito, FILHO ressalta o valor mercadológico da notícia e sua forma de preparo par torná-la atrativa a seus compradores.
Já para MOTTA (1997, p.305) a notícia é algo complexo, Motta escreve que ela "intervem vários fatores e o produto final é o balanço possível de todos eles", ou seja, para ele a notícia é a soma do fato real, mais seus atributos, mais a intervenção do jornalista selecionando a parte do real que lhe interessa.
Não posso deixar de citar a visão de MONTEIRO (1998, p.144), segundo a qual existem várias angulações para conceituar notícia e, entre elas, as que vêem não como um "espelho da realidade", mas como uma "construção da realidade", na qual o jornalista, regido pela lógica da objetividade e da imparcialidade, na prática, é afetado por inúmeros fatores que o levam a interagir socialmente e a realizar uma série de negociações durante o processo de produção da notícia.
Como se pode ver existem pontos de vista diferentes sobre o que é notícia, porém acredito ser ela a principal e essencial substância de qualquer meio jornalístico, seja impresso, rádiojornalismo ou telejornalismo. Pois somente depois que os fatos são divulgados e conhecidos é que os assuntos aos quais se referem podem ser comentados, interpretados e pesquisados pelo público.
A notícia tem caráter informativo e factual e é a base para construção das reportagens que possuem um estilo mais interpretativo. Exemplo disso foi o ocorrido na edição do dia 20 de agosto de 2008 do Jornal da Record, que foi ao ar por volta das 20h. O telejornal apresentou em sua manchete principal o acidente com um avião da companhia aérea Spanair em Madri na Espanha, no qual morreram 154 pessoas. Essa manchete tinha forte conteúdo apelativo e remetia ao factual, visto que o acidente havia ocorrido a poucas horas antes da exibição do telejornal. Logo após a notícia ir ao ar, a produção do telejornal preparou uma reportagem correlacionada ao fato sobre acidentes aéreos no Brasil. Nessa reportagem o telejornal fez um balanço dos principais acidentes ocorridos no país, entrevistou parentes de vítimas, ouviu especialistas em aviação fazendo um comparativo entre a segurança do transporte aéreo e o transporte terrestre.

A minha intenção com esse exemplo é destacar o grau de importância da notícia para as redações jornalísticas e identificar nele aplicação dos conceitos mencionados acima. Para isso, foram gravados 15 quinze edições do jornal da cultura e do jornal da Record. O material coletado está sendo analisado e comparado a linha editorial de cada um, no sentido de identificar na prática a aplicação das hipóteses e conceitos por mim mencionados.


1.2 Notícia: Uma questão de Agenda

A comunicação de massa tomou proporções inimagináveis nas últimas décadas, especificamente, na mídia televisiva. O volume de informações veiculadas diariamente nos telejornais ressalta o grau de relevância que a opinião pública dá às notícias jornalísticas. Diante desse quadro, especialistas em teorias da comunicação se dedicam a estudar, entre outros aspectos, o papel das mídias na construção e produção da notícia e sua influência nas discussões e agendas do cotidiano social.
Nesse âmbito de construção e produção da notícia jornalística, a hipótese de agenda-setting ocupa lugar de destaque. Antes de tudo, devo esclarecer o porquê de se caracterizar o agenda-setting como hipótese e não teoria. O fato é que a teoria é um modelo fechado, acabado, não permitindo nenhum tipo de complementação. Uma hipótese, ao contrario, é um sistema aberto, sempre inacabado e permitindo alterações. Sobre essa conceituação HOHLFELDT (2008) afirma que:

Assim, a uma hipótese não se pode jamais agregar um adjetivo que caracterize uma falha: uma hipótese é sempre uma experiência, um caminho a ser comprovado e que, se eventualmente não der certo naquela situação específica, não invalida necessariamente a perspectiva teórica (p.189).

Dentre as várias implicações da hipótese de agendamento, HOHLFELDT destaca: a) O fluxo contínuo de informações; b) Os meios de comunicação, por conseqüência, influenciam sobre o receptor não a curto prazo, como boa parte das antigas teorias pressupunham, mas sim a médio e longo prazos e c) Os meios de comunicação, embora não sejam capazes de impor o quê pensar em relação a um determinado tema, são capazes de, a médio e longo prazos, influenciar sobre o que pensar e falar, o que segundo Hohlfeldt motiva o batismo desta hipótese de trabalho. A meu ver, essas implicações inerentes ao agendamento destacadas por ele, corroboram o que WOLF (2003) chamou de Estudo dos efeitos a longo prazo, ou seja, os efeitos da notícia na construção da realidade social são sentidos pelos destinatários a longo prazo.

Essa hipótese foi estabelecida em forma de pesquisa por Maswell E. McCombs e Donald L. Shaw no final da década de 1960. Ela se tornou a formulação central para um estudo em escala reduzida do noticiário acerca da campanha presidencial de 1968 nos Estados Unidos e de como as pessoas perceberam a importância dos problemas em jogo. Na ocasião McCombs e Donald fizeram uma análise de conteúdo acerca de como a televisão, jornais e revistas apresentavam o noticiário político a respeito dos candidatos e dos pontos em debate durante um período de tempo extenso. Eles realizaram um levantamento para avaliar se as pessoas pesquisadas davam crédito a respeito da importância diferencial desses pontos em debate que haviam sido cobertos pela mídia. A idéia central é existir relação próxima entre a maneira pela qual a mídia apresenta problemas em foco durante uma campanha política e a ordem de importância atribuída a esses problemas pelos receptores.
Um aspecto importante desta hipótese, segundo WOLF (p.160) é a diferente capacidade que os Mass media possuem para gerar em seu público algum tipo de conhecimento. A premissa básica da teoria em sua forma moderna, entretanto, foi formulada originalmente por Bernard Cohen em 1963, de acordo com ele, na maior parte do tempo, a imprensa pode não ter êxito em dizer aos leitores o que pensar, mas é vitoriosa quando diz aos leitores sobre o que pensar. Ao estudarem a forma como os veículos de comunicação cobriam campanhas políticas e eleitorais, Shaw e McCombs constataram que o principal efeito da imprensa é pautar os assuntos da esfera pública dizendo às pessoas não "o que pensar", mas "em que pensar". Geralmente se refere ao agendamento como uma função da mídia e não como teoria (McCombs & Shaw, 1972).
Sob minha própria concepção, os telejornais como parte integrante dos mass media, são os principais promotores da agenda do público, eles definem a esfera de interesse desse público refletindo automaticamente no conhecimento que o público tem dos fatos no cotidiano.
Posso concluir, portanto, que a influência do agendamento por parte da mídia depende, efetivamente, do grau de exposição que o receptor esteja exposto, mas, mais que isso, do tipo de mídia, do grau de relevância e interesse que este receptor venha a emprestar ao tema, a notoriedade que ele lhe reconhecer, sua necessidade de orientação ou sua falta de informação, ou ainda, seu grau de incerteza, além dos diferentes níveis de comunicação interpessoal que desenvolver.



1.3 Da seleção à produção da notícia

No item anterior mostrei que a hipótese do agenda-setting tem a função imediata de selecionar os grandes temas nos quais se devem concentrar a atenção pública e colocá-los na ordem do dia em forma de agenda, ou seja, essa hipótese se concentra em estudar o caráter da notícia em si e como influencia o cotidiano popular. Outra perspectiva que abordarei é a do newsmaking, que é um estudo ligado à sociologia das profissões, no, caso o jornalismo. Essa é também uma hipótese por se tratar de algo inacabado, portanto passível de mudanças.
Enquanto a teoria do Agenda-setting se preocupa com o efeito da mensagem sobre o público, os estudos sobre os newsmaking centralizam suas atenções nos emissores e nos processos de produção nas comunicações de massa. No âmbito do newsmaking se estudam, entre outros temas, o gatekeeping ou a filtragem. Nesse caso, há um indivíduo, ou um grupo de indivíduos que tem o poder de decidir se deixa passar as informações ou se as bloqueia.
As decisões do gatekeeper, de acordo com Robinson citado por Wolf (1985 p. 1981) são tomadas levando mais em consideração os conjuntos de valores que incluem critérios profissionais e organizativos, tais como a eficiência, a produção de notícia, a rapidez do que a notícia propriamente dita. O gatekeeping nos sistemas de mídia contemporânea inclui todas as formas de controle da informação. Vale lembrar que o controle do qual mencionei nada tem a ver com censura, pois esta está ligada a questões ideológicas e políticas e aquele está ligado às rotinas de produção da informação.
O âmbito de atuação do gatekeeper está na seleção do que vai ser ou não notícia. Ele se caracteriza também como um uma forma distorção involuntária, uma vez que não se trata de uma intervenção consciente. Ratificando essa afirmativa Hohlfeldt (2008) escreve:

O gatekeeping constituir-se-ia, portanto, uma distorção involuntária ? na medida em que não se trata de uma intervenção consciente, sensorial ? da informação, devida ao modo pelo qual se organiza, institucionaliza e desenvolve a função jornalística, as chamadas estruturas inferênciais, que não significam manipulação, pura e simplesmente, eis que não são distorções deliberadas, mas involuntárias, inconscientes, que podem chegar, por isso mesmo, a níveis bem mais radicais e perigosos, na medida em que omitem ou marginalizam acontecimentos que, por vezes, poderiam ser efetivamente importantes e significativos ao menos para determinadas coletividades. Hohlfeldt (2008, p. 206)

A afirmativa de HOHLFELDT (2008) sobre os níveis de distorções da notícia que podem ser radicais ou perigosos dar-se-ia à medida que o processo de seleção da notícia leva mais em consideração as experiências do grupo de colegas da redação e no sistema das fontes do que sobre nas necessidades implícitas do próprio público. Enquanto este último é pouco conhecido pelos jornalistas, o contexto profissional, organizacional e burocrático da empresa jornalística exerce influência decisiva nas escolhas dos gatekeepers.
HOHLFELDT (2008) explica que a função de gatekeeping depende, entre outros fatores, da autoridade institucional e suas eventuais sanções, sobre o sentimento de fidelidade e estima para com os superiores, as aspirações à mobilidade social da parte do profissional e a ausência de fidelidade de grupos que se opõem. Os fatores mencionados por HOHLFELDT inerentes a atuação de gatekeeping ultrapassam em muito qualquer preocupação ou referência ao telespectador, que seria o verdadeiro motivo da atividade profissional do jornalista.
Os estudos sobre os newsmaking têm como base duas premissas: a) a cultura profissional dos jornalistas, comumente considerada e b) a organização específica do trabalho e dos processos produtivos da informação, em suas relações e conexões, consideradas á realidade de cada veículo. Esses pilares da referida hipótese "[...] determinam e definem o que seja notícia e legitima o processo produtivo das mesmas constituindo o conceito de noticiabilidade". (HOHLFELDT, 2008 p. 208). A noticiabilidade nada mais é que a capacidade possível de um fato para se tornar notícia. Sobre noticiabilidade Hohlfeldt escreve:

O acontecimento se transforma em notícia quando, trabalhado pelo órgão de informação, entra na agenda do público receptor. A noticiabilidade de um fato pode então ser analisada segundo sua possibilidade de integrar-se ou não ao fluxo normal e rotineiro da produção de informações. (Hohlfeldt 2008, p. 208)

A noticiabilidade é gerida por valores-notícia, que pode ser caracterizada "[...] pelo conjunto de elementos e princípios através dos quais os acontecimentos são avaliados pelos meios de comunicação de massa" (HOHLFELDT 2008, p. 208). Desse modo, um fato só será noticioso se atender aos critérios de avaliação por parte da organização jornalística. Os valores notícia. Dentre os elementos e princípios utilizados pelos meios de comunicação para avaliar se um fato é noticioso ou não Wolf (2003) destaca:

1 - Critérios substantivos:
Os critérios substantivos são caracterizados pela importância e o interesse da notícia. A importância pode ser destacada variavelmente, elevada ou acentuada em relação, por exemplo, aos valores/notícia relativos à concorrência, que está diretamente ligado à questão do furo de reportagem e a exclusividade.

2- Critérios relativos ao produto:
O critério relativo ao produto diz respeito à disponibilidade de material e aos caracteres específicos do produto informativo. Eles são aplicados em cada notícia e entram em jogo durante a avaliação da própria notícia. Esse é um fator importantíssimo ligado ao produto é a novidade, nele os jornalistas avaliam a novidade em relação ao fato de uma notícia ser nova para eles mesmos, presumindo que, se for assim será nova também para o público.

3 - Critérios relativos ao meio:
Este critério está relacionado ao tempo de transmissão de uma notícia, a imagens disponíveis a serem utilizadas em uma reportagem, a certeza de se ter um bom material visual em mãos que possa incrementar melhor a matéria. Além disso, esse valor/notícia vincula-se com quase todos os critérios de relevância, relativos ao público, seja em relação à finalidade de entretê-lo e de fornecer-lhe um produto interessante, seja em relação à finalidade de não cair no sensacionalismo, de não infringir os limites do bom gosto, de privacidade e decência.

4 - Critérios relativos ao público:
Estes dizem respeito ao público na construção da notícia de acordo com a visão dos jornalistas. Este critério um aspecto difícil de definir, uma vez que os profissionais da informação conhecem pouco seu público, mesmo em face de grandes aparatos tecnológicos e de ricos campos de pesquisas hoje existentes. A meu ver a dificuldade nesse âmbito se dá pelo fato de que o jornalista trabalha para um público, produzem notícia para esse público que pouco conhece, mas quanto menos eles conhecerem do público mais atenção darão ás notícias. Por outro lado se faz necessário atender aos apelos e ás exigências do telespectador.

5- Critérios relativos a concorrência:
Este critério está ligado à competição entre os meios de comunicação. A competição resulta na contribuição para e o estabelecimento de parâmetros profissionais dos modelos de referência. Neste sentido quando, por exemplo, no caso de Brasil, a rede Globo adota uma forma de procedimento, as outras emissoras a tomam como parâmetro para delimitar suas ações.
Todos esses valores notícia apresentados por WOLF atuam de forma sistemática para tornar possível a rotina do trabalho jornalístico. Dessa forma, esses valores devem ser mais bem discutidos dentro dos procedimentos de produção, pois eles só adquirem significado no processo produtivo da notícia e ali desenvolvem a sua função.
As rotinas de produção das quais os valores notícia são partes integrantes, apresentam três fases que são: a coleta, a seleção e a apresentação. A coleta tem como fundamento as fontes e elas são fatores determinantes para a qualidade da informação. O material coletado pelos correspondentes, pelos enviados especiais, pelos cronistas e que chega por meio das agências é reduzido a certo número de notícias, destinadas à transmissão do noticiário. O fluxo de informações recebidas nas redações já é regulado de forma que possa atender os procedimentos e os hábitos operacionais e individuais de cada organização. Dessa maneira, o recebimento coordenado das notícias por parte das empresas jornalísticas já se configura como um processo de seleção. .
A última etapa do processo produtivo da notícia é a edição e apresentação das notícias. Dentro do aspecto de apresentação o principal fundamento da atividade de edição nos noticiários é transformar o acontecimento numa história com um início, meio e fim. "A edição destina-se, portanto a dar uma representação sintética, necessariamente breve, visivelmente coerente e possivelmente significativa do objeto da notícia" (WOLF 2003 p. 260).
Sobre essa "teoria", Traquina (2005) afirma que o processo de produção da informação nasce como uma série de escolhas onde o fluxo de notícias tem de passar por diversos gates, isto é, portões, que não são mais do que áreas de decisão em relação às quais o jornalista, isto é o gatekeeper, tem de decidir se vai escolher se essa notícia passa ou não passa pelo "portão", ou seja , se a notícia vai ou não ser veiculada.
Pena (2006) resume que a perspectiva da teoria do newsmaking, da qual se incluem o gatekeeper, é uma teoria construtivista, ou seja, ela enfatiza o caráter convencional das notícias, admitindo que elas informam e têm referência na realidade. Para Pena (idem) a notícia vista por essa ótica, ajuda a construir essa mesma realidade e possui uma lógica interna de constituição que influencia todo o processo de construção.
Posso concluir neste capítulo que sob todas as análises, visões e sob todos os aspectos a notícia é a matéria prima de qualquer meio jornalístico. Ela é o fundamento do qual se alicerça grandes reportagens. É em torno dela que as atividades de gigantescas organizações jornalísticas se concentram e que os estudiosos sobre o assunto se debruçam no sentido de formar conceitos, hipóteses e teorias sobre os seus efeitos causados ao meio social.
A notícia passa por uma rotina de produção, que envolve muitas variáveis de diferente natureza. Os aparatos de produção seguidos pela sociologia da profissão jornalística, influenciam no processo produtivo da informação, da qual a notícia é o ingrediente básico.
Para finalizar, os conceitos e exemplos que utilizei neste primeiro capítulo foram para nortear o assunto sobre o que é noticia na TV, temas que tratarei no capitulo seguinte e dar uma fundamentação teórica à análise que será feita no terceiro capitulo.




2 A NOTÍCIA NA TV - DAS HIPÓTESES E TEORIAS À PRÁTICA DO DIA-A-DIA JORNALÍSTICO

No capítulo anterior destaquei a importância de teorias que em minha concepção influenciam a comunicação e a mídia em geral, sobretudo o telejornalismo. Minha intenção nos dois capítulos a seguir é identificar a aplicação prática dessas teorias em meus objetos de análise, jornal da Record e Jornal da Cultura.
Começarei, portanto por uma análise sobre os efeitos da imagem veiculada pela TV no contexto social e sobre o telejornalismo como sendo parte integrante do processo de produção televisiva.


2.1 Sentidos e significados através da televisão

Além das transformações históricas, econômicas e socioculturais próprias de nosso tempo, o modo das mediações entre o ser humano e o mundo real também vem mudando. As mediações, feitas através das imagens e das tecnologias vêm transformando as formas de ver e de olhar. Em Filosofia da caixa preta, Vilém Flusser (2002, p. 9) escreve: "imagens são mediações entre homem e mundo [...] Imagens têm o propósito de representar o mundo". A esse respeito, Pesavento (2003, p.39) sintetiza: "As representações construídas sobre o mundo não só se colocam no lugar deste mundo, como fazem com que os homens percebam a realidade e pautem a sua existência". São os modos de representação do real que o tornam mais verossímil. Ele está plasticamente mais bonito, uniforme, tanto que esta representação pode ultrapassar os limites do objeto representado.
A construção imaginária do mundo põe em relação duas características essenciais da cultura pós-moderna: tecnicidade e visualidade. Elas se imbricam, embaralham-se com o objetivo de encurtar as distâncias entre o imaginário e o real; entre realidade e ficção; entre o natural e o artificial.
No centro dessas dicotomias estão as mídias e, sobretudo, a televisão. Esse aparelho de produção de imagens técnicas, que Collins (1989, apud, Storey, 2002, p.263) classificou como "o auge da cultura pós-moderna", revolucionou as formas de percepção, de ver, de olhar, e colocou a imagística com um sentido muito mais forte em nossa vida cotidiana.
As imagens, captadas através de uma atividade mecânica são capazes de representar com intensidade aspectos do mundo real. Porém, a realidade colocada diante do aparelho é ambígua e complexa. Ao mesmo tempo em que o aparelho se pretende reprodutor objetivo da realidade, ele se orienta por meio do olhar de um realizador, seguindo uma série de operações possíveis, que indicam, principalmente, o quê e como mostrar, captando apenas aspectos precisos e determinados da realidade.
As operações e mecanismos empregados na captação de uma determinada realidade impõem certo ponto de vista ou perspectiva ao espectador. A perspectiva proporciona à imagem um efeito de realidade, porque ela procura reproduzir na tela, ou na TV, exatamente a forma geométrica como o próprio olho humano visualiza os objetos.
Meio híbrido por excelência, qualquer análise que se faça sobre a televisão não pode desprezar a palavra, os recursos intertextuais, de sonorização e montagem que se relacionam às imagens e juntos se entrelaçam para melhor representar o mundo social. Como aponta Mitchel (2003, p. 33): "O postulado dos meios híbridos, mistos, nos conduz aos códigos de especificidade, aos materiais, tecnologias, práticas perceptivas, funções sígnicas e definitivamente às condições institucionais de produção e consumo que recobrem um meio".
Para MACHADO (2005, p.71), "herdeira direta do rádio, a televisão se funda primordialmente no discurso oral e faz da palavra a sua matéria-prima principal". A televisão caracteriza-se, basicamente, pela articulação do domínio visual ao sonoro, por um processo de combinação entre esses dois sistemas sígnicos, e funciona como uma "máquina de fabricar sentido social" (CHARAUDEAU, 2006, p.29).
Em pouco mais de cinqüenta anos de existência sabemos ainda muito pouco sobre a televisão. Nesse período costumes, valores e hábitos têm sido alterados desde a inserção desse meio nos processos de comunicação e na vida social, política e econômica das sociedades contemporâneas.
Os recursos tecnológicos, sobretudo em informática e telecomunicações transformaram as formas de ver, de olhar, e possibilitaram à televisão se apropriar simbolicamente de elementos da cultura para reproduzi-los como se fossem parte da identidade de determinado povo, ou comunidade. Assim, o que podemos apreender é que visualidade e tecnicidade caminham juntas. A difusão massiva de imagens rompeu as fronteiras e os limites foram transpostos.
Como uma das mais importantes instâncias de representação dos objetos, da vida cotidiana, do mundo social, as imagens televisuais podem ser consideradas como o marco das hibridações de nosso tempo. Eficientes em apresentar a evidência da realidade, a representação imaginada do real, estas imagens fazem parte de um arsenal de artefatos e objetos, por meio dos quais os indivíduos se orientam, produzem sentidos e significados para as suas práticas e sua cultura.


2.2 A produção do Telejornalismo

O telejornalismo faz parte dos aparatos utilizados pela TV para difundir imagens cuja intenção é levar informação e conhecimento aos indivíduos. O telejornal constitui o que se pode chamar de gênero informativo midiático. Os gêneros são tipologias, categorias e classificações da programação televisiva. Os principais gêneros televisuais se situam entre os pólos da ficção (telenovelas) e informação (telejornais). O telejornal é o gênero televisivo cujo principal objetivo é transmitir informações a respeito de fatos e eventos da vida cotidiana. A difusão de informações no telejornal se dá através de enunciados como nota simples, que é a notícia lida pelo apresentador em estúdio; nota coberta, que é a informação coberta por imagens, mas sem a presença do repórter no local do acontecimento e a reportagem. Este enunciado é onde a informação aparece como relato, como narrativa realizada por repórter, comumente presente no local do acontecimento.
Na televisão, construir uma reportagem é como montar um quebra-cabeça. Dentro dessa visão, MACHADO (2005) afirma que o papel do telejornal é o de desmontar discursos a respeito dos acontecimentos. Eu ainda posso ir além. O telejornal também é capaz de montar esses discursos. Para Machado (idem) o telejornal é uma colagem de depoimentos e fontes numa seqüência de assuntos divididos por classes ou categorias, que representam os temas abordados. Essa categorização corresponde à nomeação dos acontecimentos, que consiste em identificar, selecionar os fatos dentro de um esquema de rubrica, como se fossem áreas diversas da vida cotidiana, como por exemplo: as áreas do esporte, economia, política, ciência.
A montagem da reportagem, por sua vez, jamais chega a constituir um discurso único, lógico ou organizado a ponto de poder ser considerado legível como alguma coisa verdadeira ou falsa. Essa montagem a qual MACHADO (2005) se refere está em evidência na produção jornalística televisiva, na qual algumas peças se encaixam melhor na passagem do repórter, outras nos trechos selecionados das entrevistas, e as restantes compõem o off, , que será coberto por imagens. Nos departamentos de arte, computadores e programas cada vez mais sofisticados ajudam na criação de recursos visuais para construção das matérias. A televisão é audiovisual, ou seja, é som e imagem, sendo que as representações visuais constituem a principal essência das reportagens. Já os sons também fazem parte da estrutura narrativa, assim é indispensável o uso de background ou BG nas imagens que são gravadas em som ambiente.
O trabalho em televisão nesse aspecto torna-se uma representação de determinada realidade. Conforme pontuam BISTANE e BACELLAR (2005, p. 84): "... a televisão torna-se, então um simulacro do que acontece e, em vez de comunicar, esgota-se na encenação da comunicação". Bistane e Bacellar acreditam que a comunicação instantânea da TV gera uma gama enorme de informações que reduz o tempo de reflexão, dá aos fatos uma roupagem virtual e provoca perda da dimensão histórica dos acontecimentos. Nesse mesmo contexto DUARTE (2003) completa:

O recorte estilístico, a angulação narrativa, a escolha cuidadosa das imagens, das falas e dos repórteres (no que diz respeito à aparência) fazem do telejornal um produto que está cada vez mais distante da realidade dos comunicadores que se encontram do lado de fora do sistema de televisão. (p.118).

Tecnicamente, um telejornal é composto de uma mistura de diferentes fontes de imagem e som: gravações em fita, filmes, material de arquivo, fotografia, gráficos, mapas, textos, além de locução, música e ruídos. Mas, acima de tudo e fundamentalmente, o telejornal consiste de tomadas em primeiro plano enfocando pessoas que falam diretamente para a câmera, sejam elas jornalistas ou testemunhas implicadas no acontecimento.
Além dos aparatos tecnológicos presentes na construção da notícia, existem um arsenal de manuais de jornalismo ensinando como fazer uma reportagem e conduzir uma entrevista na TV; como elaborar uma pauta e produzir um programa de telejornalismo. Esses manuais ensinam também técnicas para serem aplicadas em toda cadeia produtiva da notícia, desde a pauta à edição das imagens. Todos os cuidados dedicados ao processo de construção da notícia são baseados na crença de que os jornalistas trabalham imaginando o que o público quer ouvir e em pesquisas onde o foco é o público, o que de acordo com BISTANE e BACELLAR (2005) merece melhor reflexão, uma vez que na produção da notícia envolvem-se várias condicionantes como: o contexto social, político, religioso e econômico no qual a emissora está inserida, o tipo de programa e até o horário de exibição.


2.3 O Que Dizem Os Telejornais?

Diante do esforço gigantesco das emissoras na produção jornalística, tenho um questionamento a ser feito: Os telejornais têm se esforçado para construir que tipo de informação? Existe uma compreensão bastante genérica de que o papel do telejornal é de informar à sociedade sobre os acontecimentos do cotidiano que ocorrem à sua volta ou em qualquer parte do mundo. Como esse é um pressuposto aceito, em geral as abordagens dos estudos sobre telejornais se restringem a tentar verificar o grau de exatidão ou de confiabilidade da informação veiculada. Na realidade, o telejornal não é constituído apenas de exatidão e confiabilidade, existem outros fatores que em minha opinião fazem parte da construção de um programa telejornalístico. Por isso é que me dediquei a pesquisar sobre o que vem a ser notícia, sobre a notícia na TV, sobre a importância da imagem para o jornalismo e as hipóteses e teorias de agenda-setting e newsmaking.
A minha preocupação nesse trabalho em pesquisar essas teorias e hipóteses e aplicá-las ao jornal da cultura e ao jornal da record, se deu pelo fato de que dois fatores me intrigavam: O primeiro era saber por que os telejornais veiculam quase sempre as mesmas notícias? A segunda é saber por que as notícias, dependendo do que acontece, sempre gira em torno de um fato de maior relevância. Um exemplo mais próximo é a crise mundial que se iniciou no mercado norte americano. Os primeiros sinais da crise foram dados pelo mercado em meados de 2007, mas complicaram de vez um ano depois. Essa crise teve início no setor financeiro imobiliário com os financiamentos concedidos sem garantias e de alto risco. Os títulos hipotecários deram origem a diversos outros títulos, no chamado mercado de derivativos, os quais foram vendidos para outros bancos em diversos países. Com a multiplicação dos títulos para o mercado internacional, a crise que era americana, se espalhou pelo resto do mundo.


Figura 1 ? Gráfico apresentado na edição do dia 19/09/2008 no jornal da cultura em matéria sobre a crise financeira mundial. Extraída de uma das amostras gravadas para pesquisa de campo.

Nas edições dos dois telejornais dos dias 19, 20,21 e 22 de setembro de 2008, o assunto é bastante relevante e pauta outras reportagens nos dois programas informativos, sendo que no Jornal da Cultura é ainda mais acentuado que no Jornal da Record, pois o tema é bastante explorado em entrevistas especiais e em várias matérias correlatas.
A escolha por dois veículos de emissoras diferentes não foi por acaso, cada um deles possui uma característica distinta. O Jornal da Record segue a linha mais popular e investigativa. Já o Jornal da Cultura segue a linha do jornalismo público de cunho educativo. A minha intenção com a aplicação dos conceitos e das hipóteses nesses telejornais é levantar discussões que possam contribuir com a melhoria do fazer jornalístico televisivo nacional e tentar responder as questões que me intrigam com relação ao telejornalismo.
Os telejornais se preocupam em expor versões ou pontos de vista diferentes sobre determinado acontecimento, isso remete ao que MACHADO (2005) caracteriza como uma notícia em andamento, uma vez que essa forma de informar por parte dos telejornais exige do telespectador uma interpretação do que foi veiculado: "Por mais que se queira ou se possa manipular as informações, elas chegam ao telespectador ainda não processadas, portanto brutas, contraditórias, sem ordenação, sem acabamento final" (p.110).
Segundo MACHADO (2005), o telejornal coloca em choque as diferentes visões sobre um fato e o relativiza ou o anula no mesmo momento que lhe dá publicidade, quando apresenta pontos de vista diferentes sobre um mesmo fato simultaneamente e de fontes diversas. Sendo assim, o fluxo de informações em um telejornal nada mais é que uma sucessão de versões a respeito do mesmo acontecimento. A verdade fica "portanto, afastada do sistema significante do telejornal, pois a rigor, não é com a verdade que ele trabalha, mas com a enunciação de cada porta-voz sobre os eventos" (MACHADO, 2005 p.111). Em qualquer fato noticioso, ou qualquer conflito social, todos são verdadeiros e ou mentirosos, pois os personagens ou testemunhas reduzem o acontecimento ao seu próprio ponto de vista. Mesmo quando o telejornal tenta construir sua versão, ainda que sob os crivos de suas redações, o que no geral conseguem é anular algumas versões, jogando umas contra as outras.
Em uma análise do Jornal da Record nas edições dos dias 18, 19 e 20 de setembro de 2008 fica evidente essa questão. Em todas as reportagens polêmicas que necessitem de declarações comprometedoras, o repórter utiliza a frase "segundo fulano...". Nas três edições acima o apresentador dá ênfase às matérias exclusivas, falando a palavra: "EXCLUSIVO" antes das chamadas , isso porque a informação exclusiva antes da concorrência pode proporcionar prestígio ao veículo de comunicação. Esse tipo de procedimento não é específico apenas do telejornal da Record, utilizo-o como exemplo pois trata-se de um dos telejornais que escolhi como objeto de estudo para este trabalho. Esses procedimentos são realizados por telejornais em todo o mundo, conforme exemplo descrito por MACHADO (2005), que cita o trabalho realizado no ano de 1987 pelos videoartistas Antonio Muntadas e Hank Bull. O trabalho intitulado de Cross-cultural Television, um vídeo em que as imagens pirateadas de telejornais de todo mundo e editadas segundo suas semelhanças estruturais, demonstram que, apesar das variações locais influenciadas por fatores culturais ou lingüísticas e por diferenças sócio-econômicas, o telejornal se constrói da mesma maneira, se endereça de forma semelhante ao telespectador, fala sempre no mesmo tom de voz e utiliza o mesmo repertório de imagens sob qualquer fato noticioso.
A preocupação nesse modelo padrão de telejornais nos quais são imaginados como uma estrutura sem uma instituição narradora central, na qual o evento é reproduzido através das falas de seus personagens principais, é, sobretudo, apresentar todos os pontos de vista implicados num fato, tanto que MACHADO (2005) afirma que "O que salta enfim, desse modelo é a idéia de telejornal como polifonia de vozes, cada uma delas existindo de forma mais ou menos autônoma e prescindindo de qualquer síntese global" (p.108). Diante dessa afirmativa, tenho um exemplo que pode ilustrar de forma prática esse fato: Na edição do dia 22/09/2008, o jornal da Record veiculou uma reportagem sobre o aumento da renda dos brasileiros. A matéria apresentou números, gráficos e dados. Ao mesmo tempo em que comemorava os resultados, o telejornal ressaltava o aumento da pobreza e da desigualdade social em todas as regiões do país. Para a construção da reportagem a emissora utilizou cinco pessoas, além do repórter. Cada uma dessas pessoas apresentou suas opiniões e ao telespectador coube o papel de codificar todas as versões e tirar sua própria conclusão. Em momento algum o telejornal expôs seu posicionamento sobre o assunto, ele apenas lançou as diversas versões no ar.


Figura 2 ? Celso Freitas, apresentador do Jornal da Record chamando a matéria sobre aumento da renda dos brasileiros. Imagem extraída de uma das amostras gravadas para pesquisa de campo.

Posso concluir, portanto que essa forma de fazer telejornalismo não é capaz de favorecer uma visão coerente e sistemática dos conflitos, sendo assim, o telejornal acaba semeando confusão onde deveria cumprir a missão social de informar e apregoar a ordem, coerência e sistematização da notícia.
Os conceitos e discussões em torno da televisão e do telejornal apresentados neste capítulo servem de base para o passo seguinte que compreende a aplicação desses conceitos ao meu objeto de estudo, a partir de uma seleção de edições dos programas que constituem a amostra coletada na pesquisa de campo.




3 OS TELEJORNAIS EM CENA

Trato neste capítulo da aplicação dos conceitos discutidos ao longo do trabalho ao meu objeto de pesquisa analisando aspectos sobre o que é notícia, sobre a teoria, ou hipótese de agenda-setting e newsmaking. Agora vem à tona idéias, versões, percepções que são resultado de uma análise qualitativa, esta por sua vez, tem uma relação intrínseca com a interpretação, com a subjetividade, intuição e demarca posições de sujeito que tem a ver com minhas experiências, minha cultura, minha formação.Essas interpretações não têm o objetivo de ser definitivas ou estanques, mas de oferecer subsídios para uma crítica sistemática dos meios de comunicação no que diz respeito ao tratamento da informação no telejornal.


3.1 O Jornal da Record

A Rede Record de Televisão é uma rede de televisão aberta do Brasil fundada por Paulo Machado de Carvalho em 1953, sendo a mais antiga emissora em atividade do país. Sua sede está localizada no bairro da Barra Funda, na cidade de São Paulo. A emissora possui um núcleo de teledramaturgia sediado no bairro de Vargem Grande, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro conhecido como RecNov. No final da década de 80, a emissora que antes pertencia ao Grupo Silvio Santos foi vendida ao empresário Edir Macedo.

Figura 4 ? Logotipo do Jornal disponível em:http://www.rederecord.com.br/frameset.asp?prog=5

Em 16 de julho de 1990, a Record apresentou seu novo logotipo, novo slogan e sua nova programação. Sua primeira afiliada foi a TV Capital de Brasília, hoje TV Record Centro-Oeste.
Segundo a página oficial da emissora na internet, em 1991, a mudança do controle acionário deu início a uma nova fase. A Record ampliou sua programação, mantendo o jornalismo como carro-chefe e iniciou a formação de uma rede nacional de emissoras.
O Jornal da Record foi exibido pela primeira vez em 1972, e foi criado sucedendo o Jornal da Rei, criado em 1970, que por sua vez sucedeu o Repórter Esso, sucesso na década de 60. O telejornal passou por uma reformulação com a ida de Boris Casoy , em 1997, que passou a apresentar e ancorar o Jornal da Record, entre 19h15min até 20h00min. De acordo com o site oficial da emissora, o telejornal tornou-se então um dos programas de maior audiência e faturamento do canal, isso dado segundo a emissora, pela qualidade e credibilidade, além dos comentários de Boris Casoy.
No dia 30 de Dezembro de 2005, Casoy não teve o contrato renovado pela TV Record, por não concordar com mudanças do departamento de jornalismo da emissora. Essas mudanças, de acordo com o próprio Boris Casoy em entrevista concedida à revista Isto é Gente em 10 de abril de 2006, se deu a medida que a emissora começou a interferir em seu trabalho, uma vez, que de acordo com o jornalista, ele foi contratado com liberdade para gerir o jornal sem a intervenção da emissora e que não tinha compromisso com o índices de audiência. A emissora segundo ele, queria fazer uma especie de Jornal Nacional e Boris se recusou a copiar o estilo jornalístico da Rede Globo, tanto que ele afirma na entrevista a Isto é Gente (10 de abril de 2006): "Eu não sei fazer o Jornal Nacional e a Globo faz Jornal Nacional melhor que qualquer um. Não quero fazer um clone! Não sei se topasse fazer um Jornal Nacional estaria na Record. Eles sabiam que eu não faria um clone, mas propuseram". Hoje a nova versão do telejornal segue o estilo parecido com o que Boris Casoy se recusou a fazer: Apresentado por um casal de apresentadores, o jornalista Celso Freitas (ex-Rede Globo) e Adriana Araújo e sem a interferência do apresentador emitindo sua opinião, que é uma característica própria do jornalista Boris Casoy.

Figura 5: Logotipo do telejornal-fonte: http://www.tvcultura.com.br/fpa/institucional/quemsomos.aspx


3.2 O Jornal da Cultura

A Fundação Padre Anchieta - Centro Paulista de Rádio e TV Educativa-mantém a TV Cultura, a TV Rá-Tim-Bum, emissora de TV a cabo por assinatura; e duas emissoras de rádio: a Cultura AM e a Cultura FM. Ela foi instituída pelo governo do Estado de São Paulo em 1967. A Fundação Padre Anchieta é Custeada por dotações orçamentárias legalmente estabelecidas e recursos próprios obtidos junto à iniciativa privada.
As emissoras de sinal aberto da Fundação não são nem entidades governamentais, nem comerciais, são emissoras públicas, por essa razão os fatos da vida cotidiana são colocados de forma literária, a emissora presa por passar informações que gere no telespectador algum tipo de conhecimento, ela pauta os assuntos da esfera pública indicando ao telespectador não sobre o que pensar, mas em que pensar, sendo essa a principal característica de agenda-setting. O jornalismo na TV cultura possui doze programas ocupando a grade de programação semanal, sendo o Jornal da Cultura um programa diário que vai ao ar de segunda à sábado as 21:00h. Apesar do jornalismo da emissora se apresentar como jornalismo público, ele não tem nenhuma característica de jornalismo comunitário, pois jornalismo comunitário é aquele jornalismo pensado, idealizada e realizado por uma determinada comunidade. Ele não visa lucro, somente o bem comum da sociedade envolvida, o que não é o caso do Jornal da Cultura, que é realizado por uma empresa e depende de financiamento por parte do Governo e da iniciativa privada.
Como escrevi anteriormente, a escolha dos dois telejornais se deu pelo fato de possuírem características editoriais diferentes. O Jornal da Record durante sua apresentação desencadeia uma grande quantidade de informações. Situação que pode reduzir o tempo de reflexão e reveste os fatos com uma roupagem acelerada, caracterizando um intenso fluxo de notícias e provocando perda da dimensão histórica dos acontecimentos. Para se ter uma idéia, na edição do dia 20/09/2008 o telejornal apresentou trinta e duas reportagens que iam de acidente de trânsito à apresentação da ex-namorada brasileira do então candidato à presidência dos Estados Unidos John S. McCain. O tempo de produção do telejornal, ou seja, a duração efetiva do programa que compreende todo o material veiculado é de 40 minutos. Com isso, a média de duração de cada reportagem é de pouco mais de um minuto. Isso demarca aspectos como agilidade e objetividade da informação no telejornal e por outro lado, revela a presença de uma grande quantidade de temas abordados. Os temas são os assuntos tratados e são formas de nomear e enquadrar os fatos em categorias específicas de acontecimentos do mundo social. A divisão temática tem relação com uma rubricagem, que consiste em separar os fatos em uma espécie de editoria, como ocorre no jornal impresso, que conta com editorias de economia, política, esportes, cultura, ciência, por exemplo.
A tabela abaixo mostra os temas mais recorrentes no Jornal da Record dentro da amostra dos programas gravados para esta análise.

Tabela 1 - Temas e respectiva quantidade de notícias no Jornal da Record do dia 24 de setembro de 2008.
Economia Política Esportes Ciência Curiosidades Cidades Polícia
03 02 0 01 01 05 07

Figura 6: Matérias exibidas no dia 24/09/2008

O tema polícia ocupou a maior parte do tempo do telejornal num total de 37% seguido por cidades que ocupou 26%. Os outros 37% restantes ficaram divididos entre os demais assuntos. Esses dados apontam para um tipo de cobertura que privilegia temas ligados à factualidade, aos eventos e acontecimentos que extrapolam a rotina e não fazem parte de uma agenda programada. Esses números também podem indicar uma linha editorial que privilegia aspectos popularescos, com a representação, sobretudo, da violência. Isso chama a atenção para o aspecto do telejornal buscar despertar a atenção do telespectador através de fatos chocantes e dramáticos da vida cotidiana, como por exemplo, a exploração do caso do seqüestro e morte da adolescente Eloah Pimentel . Embora esse estudo não abranja os aspectos da recepção, é possível inferir que o perfil do público do telejornal está nas classes C,D, E, com grau de instrução predominantemente de ensino médio.
Tabela 2 - Temas e respectiva quantidade de notícias no Jornal da Cultura do dia 24 de setembro de 2008.
Economia Política Meio Ambiente Ciência Cultura Cidades Polícia
06 01 02 01 03 02 01

Figura 7: Matérias exibidas em 24/09/2008

Esses dados indicam uma preocupação do Jornal da Cultura com uma cobertura de fatos e eventos ligados à economia. Ao contrário do que ocorre no telejornal da Record, o Jornal da Cultura privilegia a cobertura de acontecimentos que mais podem interessar o público localizado, principalmente, nas classes A e B.



Figura 8: Cena retirada da matéria sobre aumento de preços da farina de trigo em função da crise. Fonte: Arquivo pessoal gravado para pesquisa de campo.

A proposta da emissora é co-relacionar as matérias, restringir o número de temas e aprofundar nas informações. No gráfico acima que representa a distribuição das matérias da edição do dia 24 de setembro de 2008, o assunto economia permeou 37% do total de temas abordados pelo telejornal, os outros temas como política, cultura, ciências etc. somaram o restante, sendo que os temas estão bem relacionados com o tema de maior relevância que economia devido a crise que se alastrou por toda a economia mundial a partir dos Estados Unidos. Um exemplo bem característico de como o Jornal se pauta pelo tema economia foi a reportagem da edição do dia 13/10/2008 o Jornal da Cultura, após informar sobre a alta do dólar em todo mundo, mostrou uma matéria sobre o aumento do preço da farinha de trigo aqui no Brasil e a determinação do sindicato das panificadoras de São Paulo em não repassar os custos para o consumidor.


3.3 A notícia no Jornal da Record e no Jornal da Cultura

Apesar das diferenças ideológicas de cada linha editorial, o que eles compactuam é o fato de ter a notícia como elemento fundamental em sua construção. Fazendo um paralelo entre as amostras coletadas dos programas, posso afirmar que o que é notícia para o Jornal da Cultura nem sempre é notícia para o jornal da Record. Essa questão está ligada a noticiabilidade do fato . Desse modo, um fato só é noticioso se atender aos critérios de avaliação por parte da organização jornalística.

Figura 9: Cena do pássaro avançando no repórter da Record no momento de gravação da matéria.

A notícia, como escreveu Attuch (1998) é algo que normalmente foge à ordem natural dos acontecimentos. Na edição do dia 19/09/2008 o jornal da Record exibiu uma reportagem sobre um pássaro que avançava nas pessoas quando elas passavam sob a arvore onde estava localizado o seu ninho, nem a equipe da televisão foi poupada.
Esse exemplo pode ser comparado à clássica frase de Amus Cumings, ex-editor do New York Sun "se um cachorro morde um homem, não é notícia, mas, se um homem morde um cachorro, é notícia. Dentro das amostras coletadas do Jornal da Record esse tipo de reportagem é bastante comum, sua linha editorial busca a atenção dos telespectadores através também do entretenimento, proporcionando ao espectador alívio da tensão, normalmente após veicular temas factuais de impacto.
Já a linha editorial do jornal da cultura utiliza-se de matérias mais elaboradas com maior número de fontes e com pontos de vista variados sobre o mesmo tema. Essa postura editorial do Jornal da Cultura está relacionada ao que Machado (2005) chama de enunciação dos "porta-vozes" sobre os eventos.


3.4 O agendamento temático dos fatos

Outro aspecto que me propus a identificar no Jornal da Record e Jornal da Cultura foi a aplicação da hipótese do agenda-setting. A premissa maior dessa hipótese é que a imprensa pauta os assuntos da esfera pública, dizendo às pessoas não "o que pensar", mas "em que pensar". Nessa perspectiva, Hohlfeldt (2008) destaca três características inerentes a hipótese de agenda-setting: a primeira é sobre o fluxo contínuo de informação. Essa característica é bem peculiar do Jornal da Record , visto que as matérias veiculadas são curtas e variadas, oferecendo ao telespectador uma gama de temas sobre os quais ele deve pensar . Já o jornal da cultura não comunga da mesma característica, porém apresenta laços bem próximos com agenda-setting a medida que também influencia o telespectador a pensar sobre as matérias por ele veiculadas.
A segunda característica destacada por Hohlfeldt e identificada nos dois telejornais é a forma que os meios de comunicação causam influência no receptor a médio e longo prazo, ou seja, os temas são exaustivamente apresentados nos telejornais até impor ao telespectador não sobre o que pensar e sim em que pensar. Essa característica também é marcante nos dois telejornais basta fazer uma leitura dos gráficos acima. No gráfico do jornal da cultura o assunto de maior relevância é sobre violência, no gráfico do jornal da Cultura o assunto mais pautado é sobre economia.
A terceira característica que Hohlfeldt destaca é que embora os meios de comunicação não sejam capazes de impor ao telespectador sobre o quê pensar em relação a determinado tema, são capazes de, a médio e longo prazo, influenciar sobre o que pensar e falar. Nesse caso, se destaca as chamadas séries de reportagens apresentadas no Jornal da Record. Na edição do dia 19/09/208 o telejornal finalizava uma série de reportagens sobre a camada pré-sal e já anunciava o início de outra série de reportagens sobre violência contra crianças. Essas séries também recebem apresentam a característica de agendamento temático, uma vez que no fim de cada reportagem da série o apresentador chama a atenção do telespectador para o que vai ser mostrado no dia seguinte dando continuidade ao tema proposto.


3.5 Sobre o Newsmaking no Jornal Record e Jornal da Cultura

O trabalho em televisão lembra o das linhas de montagem das fábricas, em que cada operário é responsável por uma etapa da produção. O telejornal é um dos produtos oferecidos por essas fábricas de informação. Na produção do telejornal, conforme pontuado anteriormente, o início de tudo começa com a seleção da notícia, e aí entra os critérios da cada editoria para avaliar o que pode ser noticiado ou não. É nessa etapa que aparece o gatekeeping ( insira uma nota de rodapé indicando onde pode-se ler sobre isso), que se trata de tudo que inclui formas de controle da informação nos sistemas de mídia contemporânea. Esses controles selecionam de acordo com a linha editorial e com critérios profissionais da organização jornalística o que vai ser noticiado levando em consideração os valores-notícia de cada empresa ou grupo jornalístico.
No Jornal da Cultura o gatekeeper é representado pela postura da emissora em restringir os assuntos e a aprofundar bem nas discussões sobre determinados temas. Os trabalhos da redação são norteados por um guia lançado pela emissora para orientar os profissionais na construção das matérias. No Jornal da Cultura a figura do gatekeeper é mais perceptível que no Jornal da Record, uma vez que esse último apresenta fatos variados com pouca ou nenhuma ligação entre eles e no primeiro as matérias seguem uma ordem e se co-relacionam.
Os critérios de noticiabilidade que são de acordo com Hohlfeldt (2008) o conjunto de elementos e princípios que as emissoras utilizam para avaliar os acontecimentos fazem parte da construção da notícia nos veículos por mim analisados. Esses critérios são:

1 - Critérios substantivo:
O critério substantivo está ligado ao furo de reportagem, à exclusividade. No Jornal da Record ele está facilmente identificado nas reportagens de denúncias como por exemplo na matéria exibida no dia 19/09/2008 sobre a denúncia de que os coletes à prova de bala utilizados pelos policiais militares do Rio de Janeiro estão vencidos e não suportam o impacto das balas usadas nas armas dos bandidos. Em matérias como essas o apresentador do jornal, antes de fazer a chamada, informa que a matéria é exclusiva.


Figura: 10. Repórter apresentando um dos coletes a prova de bala utilizado pela PM do Rio. Imagem extraída da gravação do programa exibido em 19/09/2008.

2 - Critérios relativos ao produto:
O critério relativo ao produto diz respeito à disponibilidade de material e aos caracteres específicos do produto informativo. Nas reportagens do jornal da cultura, por exemplo, em que as matérias são mais aprofundadas, esse critério possui relevância gigantesca, uma vez que elas exigem maior quantidade de fontes expondo seu ponto de vista sobre determinado tema. A matéria capaz de ilustrar esse critério dentro do jornal da cultura foi veiculada no dia 13/10/2008 sobre a mudança de postura do comercio varejista e dos bancos. Na construção da matéria, além da repórter, foram utilizadas quatro fontes, a primeira foi o comerciante falando sobre a redução da linha de crédito e dos prazos oferecidos pelos bancos, a segunda foi a vendedora falando sobre a mudança periódica das tabelas, a terceira foi o presidente da FENABRAVE - Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores - falando sobre a postura dos bancos e a quarta foi o diretor do instituto de desenvolvimento do Varejo falando afirmando que o mercado varejista não sofrerá nenhum prejuízo com a crise, uma vez que, segundo ele a crise é mais especulativa que real.

Ilustração 1 - Repórter em concessionária de veículos. Mudança de postura do mercado varejista. Imagem extraída da amostra de gravações do programa em 13/10/2008.
3 - critério relativo ao meio
Este critério está relacionado ao tempo de transmissão de uma notícia. No jornal da Record, dada a quantidade de matérias exibidas por edição, elas são curtas e mais rápidas, com exceção das reportagens especiais. Já no jornal da cultura, as matérias são mais longas e em grande parte delas Heródoto Barbeiro tece algum tipo de comentário no final, o que acaba aumentando o tempo de transmissão. Esse valor notícia apresenta algumas finalidades, tais como: entreter ou fornecer um produto interessante. Para o jornal da cultura, a finalidade é oferecer um bom material ao telespectador, o jornal da Record pos sua vez pretende entreter seu publico com variedade de informações no menor espaço de tempo possível.

4 - Critério relativo ao público
As emissoras aqui tentam levar o público em consideração na hora de definir as matérias. A linha editorial do jornal da Record se pauta pela popularidade, as matérias veiculadas nas amostras pesquisadas falam de violência, comportamento, miséria humana, transito etc. O jornal da cultura segue uma linha mais literária, utiliza-se de assuntos mais voltados para economia, artes, musica, educação etc. Dentro da complexidade desse critério, os dois telejornais tentam agradar seu público apresentando matérias que podem ser de interesse geral.

5 - Critério Relativo à concorrência
Este critério está ligado a competição ente os meios de comunicação. Os dois telejornais apresentam características próprias capazes de nortear qualquer trabalho jornalístico. As características de cada um pode se traduzir em uma forma de ganhar a atenção do telespectador que possui gosto variado.
Todos esses critérios fazem parte da rotina de construção dos dois telejornais e atuam na seleção da notícia veiculada por eles. Ao se utilizarem desses critérios, as emissoras atribuem níveis de importância aos fatos, levando em consideração a visão editorial de cada uma. A aplicação dos critérios acima é uma forma de filtrar as informações e dar notoriedade a certos fatos que nem mereçam tanto e ignorar a importância de outros. A imposição sutil e coercitiva oferecida aos telespectadores pelos jornais sobre em que tipo de notícia pensar e não sobre o que pensar é uma forma de fazer jornalismo que deve ser repensada.
No capítulo seguinte faço minhas considerações finais retomando as discussões que nortearam esse trabalho.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo de uma inquietação que era de saber os motivos pelos quais os programas telejornalísticos veiculam quase sempre as mesmas notícias e por que as notícias, dependendo do que acontece, sempre gira em torno de um fato de maior relevância, iniciei esse trabalho no primeiro capítulo apresentando visões de diferentes autores sobre o que é notícia. Na busca de respostas às minhas indagações fiz uma viagem em torno os estudos existentes sobre teorias que norteiam a comunicação em todo mundo. O resultado surpreendente é que em meio as diversas teorias existentes, percebi que os estudos de agenda-setting e newsmaking seria o caminho para me orientar, pois esses estudos procuram apontar os critérios que norteiam a escolha das notícias a serem disseminadas pelas mídias. As hipóteses ou teorias se concentram em destacar aspectos como valores jornalísticos e de noticiabilidade intrínsecos aos fatos do cotidiano.
Dando continuidade a busca por respostas aos meus questionamentos, procurei discutir no segundo capítulo sobre o que é notícia na televisão. Dediquei parte do capítulo a destacar a importância da imagem para o meio telejornalístico e discuti sobre o conteúdo apresentado pelos telejornais. Por fim, no terceiro capítulo, procurei aplicar os conceitos estudados nos dois primeiros capítulos ao meu objeto de pesquisa que é o Jornal da Cultura e Jornal da Record. Apresentei os conceitos de Noticia, Agenda-setting e newsmaking e fiz relação dos mesmos com notícias veiculadas pelos dois telejornais. Essas discussões me ajudaram a concluir que os dois programas são influenciados por fatores intrínsecos a cada teoria pesquisada.
O estudo me levou a ver que por mais que as emissoras sigam um caminho editorial diferente elas se tornam bem parecidas. Isso se dá pelo fato de elas seguirem os mesmos padrões comumicacionais ditados pelo mercado. Esses padrões se baseiam em contextos econômicos, políticos e sociais visto que as emissoras de televisão são empresas que necessitam de recursos financeiros para se manterem e para isso se rendem aos índices de audiência. Nesse aspecto a notícia se torna a principal matéria prima que move a indústria da comunicação a diante. Sendo tratada como um produto de valor comercial a notícia é selecionada, moldada e apresentada levando em consideração fatores inerentes à empresa jornalística que as apresenta.
As hipóteses de agenda-setting e newsmaking exaltam a característica de produção da notícia aplicada pela mídia, uma vez que os critérios avaliados dentro de cada uma delas estão inteiramente ligados à forma em que as empresas jornalísticas moldam a notícia de maneira que ela se torne vendável. A hipótese de agenda-setting, por exemplo, tem a principal característica de fazer com o que o telespectador pense em que a mídia quer que ele pense, para que isso ocorra, ela trabalhará a informação de forma que seu objetivo seja alcançado, mesmo que para isso ela tenha que gastar algum tempo. Já o newsmaking norteia a forma como a notícia é produzida, desde a seleção do que vai ao ar até a apresentação. É o newsmaking o responsável por fazer com que a notícia siga uma linearidade com início meio e fim. É ele também o responsável pela total sintonia entre imagem e texto apresentado pelo telejornal.
Dessa forma concluo os motivos pelos quais os programas telejornalísticos veiculam quase sempre as mesmas notícias e que as notícias, dependendo do que acontece, sempre gira em torno de um fato de maior relevância estão inteiramente ligados as hipóteses aqui estudadas.



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