Acolhimento: Um SUS que funciona.
Por Julia Moraes da Fonseca | 09/08/2013 | CrescimentoAs políticas de humanização é uma das práticas do SUS, que tem por objetivo a melhora no atendimento, no acolhimento e muitas outras áreas emergentes e que precisam de uma melhora consideravelmente necessária para uma saúde de qualidade no território brasileiro. A saúde é um direito de todos os cidadãos brasileiros e também de outros cidadãos que se encontram em território brasileiro; “A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício” (Lei Nº 8.080, Art 2º, 15 de setembro de 1990). O SUS é uma lei e um direito, é público, único, tem o objetivo de socializar a saúde e de dar suporte.
Mesmo com tantas perguntas sem respostas e problemas pertinentes a saúde, o SUS é um sistema que nos fornece certa felicidade, por ser um sistema que mesmo com tantas falhas, funcione e que mesmo com tantos empecilhos visa o progresso da prevenção, cuidado, tratamento, proteção, recuperação e produção da saúde; “a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas” (Lei Nº 8.080, Art. 5º, parágrafo III, 15 de setembro de 1990). É uma política que visa o bem estar social e uma universalização dos direitos, desvinculado de qualquer preconceito e tendo em vista as prioridades de quem mais precisa e a descentralização da gestão.
O SUS deve atender de forma integral, promovendo ações de prevenção e tratamento, enxergar os indivíduos como um todo que compõe a sociedade e não como simples partes que se amontoam em um determinado espaço. A Política Nacional de Humanização caminha no sentido da inclusão tanto dos processos de produção de saúde quanto dos agentes e utilizadores deste sistema. Outra proposta muito pertinente do SUS é a participação da comunidade nas decisões do sistema, por exemplo, na mudança de gestão, na forma de atendimento, ou seja, a população tem participação integral nas decisões tomadas pela gestão, e essa é outra característica benéfica do SUS, uma vez que tal proposta possibilita os usuários serem os coautores das decisões.
A PNH possui uma série de diretrizes que são referentes à saúde pública. No entanto será abordada a questão do acolhimento enquanto uma diretriz, uma vez que esta uma proposta do SUS, mas que ainda possui muitas falhas e problemas que as vezes atrapalham o processo de desenvolvimento do sistema. O Ministério da Saúde propõe uma política chamada rede HumanizaSUS, que visa um SUS que dá certo, promovendo mudanças na forma de se organizar, "valorizar a dimensão humana e subjetiva, presente em todo ato de assistência à saúde..." (HumanizaSUS). Por meio dessa política temos uma série de fatores que contribuem para a política de acolhimento, que é um dos procedimentos mais necessários e que demanda muita atenção e comprometimento por parte do acolhedor.
“O acolhimento, pensamos, é uma das diretrizes que contribui para alterar essa situação, na medida em que incorpora a análise e a revisão cotidiana das práticas de atenção e gestão implementadas nas unidades do SUS” (http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/APPS_PNH.pdf; 16/03/2012, 18:13h). O acolhimento não esta restrito ao espaço do atendimento, acolher significa mudança nas práticas de recebimento dos necessitados, acolhimento enquanto uma prática terapêutica e isso facilita a relação entre todos os envolvidos no processo. A prática de acolher não significa um atendimento hospitalar, demanda todo um processo subjetivo, particular e pessoal de todos os envolvidos. Quando colocamos uma barreira ou nos distanciamos do outro, passamos a ter um atendimento mecânico, robotizado, e nos tornamos indiferente ao sofrimento do outro. Uma vez que nos propomos a nos doar para outro, percebemos uma mudança no afeto e no compartilhamento de emoções. O acolhimento deve tratar o outro como um ser humano que esta sofrendo e que se ele esta ali, é porque necessariamente, ele precisa de ajuda, seja lá o grau de sofrimento daquele sujeito. Desvinculando-se de todo preconceito ou privilégios, assim fazemos com que o outro se sinta verdadeiramente atendido e importante.
Se colocar a disposição do outro é um dos princípios da diretriz do acolhimento. De acordo com o IPPMG, que apresenta uma série de formas para que o acolhimento dê certo, alguns dos modos de realização do acolhimento são: melhora da ambiência, com maior aproximação com o usuário, quando foram abolidos vidros e grades, sendo hoje o atendimento feito frente a frente, com local para o usuário sentar; sempre que possível, parece que há orientação para o usuário sobre o local a ser procurado, caso o atendimento não seja possível no IPPMG; oficina de acolhimento envolvendo profissionais de diversos setores; apoio da gestão para a execução das Oficinas de Acolhimento; Pactuar com os gestores os encaminhamentos necessários para a obtenção de recursos visando à melhoria da ambiência conforme entendida pela PNH; consolidar a Ouvidoria; implantar avaliação permanente de satisfação dos trabalhadores, dentre outras muitas práticas que são, ou deveriam ser exercidas no campo do acolhimento.
Outro processo que pode contribuir para uma melhor efetivação do acolhimento é a transversalidade, ou seja, neste caso, todos os profissionais (e não profissionais) podem contribuir para política de acolhimento, esquecendo toda a hierarquização da instituição, logo médicos, enfermeiros, técnicos, atendentes, dentre outros podem fazer o papel de acolhedor, como numa família, a intenção é fazer com que o indivíduo sinta-se bem, querido. Claro que sempre vai faltar algo, até porque se trata de uma política a médio ou longo prazo, mesmo sendo tão importante e emergente a estrutura de acolhimento nas instituições públicas.
A HumanizaSUS apresenta uma série de instruções para um melhor desenvolvimento do acolhimento, foi selecionada aqui duas que são bem aplicáveis: “organizar as unidades de saúde com os princípios de responsabilidade territorial, adscrição de clientela, vínculo com responsabilização clínico-sanitária, trabalho em equipe e gestão participativa, entendendo-se o acolhimento como prática intrínseca e inerente ao exercício profissional em saúde. Tal medida proporciona, assim, a superação da prática tradicional, centrada na exclusividade da dimensão biológica e na realização de procedimentos a despeito da perspectiva humana na interação e na constituição de vínculos entre profissionais de saúde e usuários” e “ampliar a qualificação técnica dos profissionais e das equipes em atributos e habilidades relacionais de escuta qualificada, de modo a estabelecer interação humanizada, cidadã e solidária com usuários, familiares e comunidade, bem como o reconhecimento e a atuação em problemas de saúde de natureza aguda ou relevantes para a saúde pública. A elaboração de protocolos, sob a ótica da intervenção multi e interprofissional na qualificação da assistência, legitima a inserção do conjunto de profissionais ligados à assistência na identificação de risco e na definição de prioridades, contribuindo, assim, para a formação e o fortalecimento da equipe”.
A perspectiva do acolhimento é atender da melhor forma possível às necessidades do outro, sem uma visão preconceituosa, determinista ou seletiva, abrindo mão de qualquer privilégio, assistindo o outro como um ser humano e que tem todo o direito de ter uma saúde digna e de qualidade. A intenção é aumentar a responsabilização em todas as partes, para que todos os que de alguma maneira, utilizam do SUS enxerguem resultados satisfatórios. “A ciência e tecnologia se tornam desumanizantes quando ficamos reduzidos a objetos despersonalizados de nossa própria técnica, de uma investigação fria e objetiva. O preço que pagamos pela suposta objetividade da ciência é a eliminação da condição humana da palavra, que não pode ser reduzida, no caso da prestação de serviços de saúde” (Manual da Humanização).
Referências Bibliográficas.
http://apoioparaosus.net/blog/2011/04/20/886/. 16/03/2012. 16:38h.
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/APPS_PNH.pdf. 16/03/2013. 19:07h.
http://www.redehumanizasus.net/category/tags/acolhimento. 15/03/2013. 22:20h.
www.humanizasaude.rs.gov.br/site/artigos/manual/. 16/03/2013. 17:56h.
A humanização como dimensão pública das políticas públicas. BENEVIDES, Regina e PASSOS, Eduardo; pag 561-571; 2005.