Acessibilidade em rotas turísticas
Por Alliny Teles Vinhas Alves | 08/02/2012 | Ambiental1
ACESSIBILIDADE EM ROTAS TURÍSTICAS
TURISMO PARA TODOS
Alliny Teles Vinhas Alves ¹
RESUMO
Desde 1994 o Brasil conta com a NBR9050, norma que estabelece diretrizes e padrões a
serem observados nos projetos e construções, tornando as edificações acessíveis para todos, que
em 2004 ganhou força legal com a promulgação da Lei Federal no 10.098.
Atualmente, a discussão sobre o assunto se intensificou, mas muito pouco tem sido feito
para melhorar as condições de acessibilidade no nosso país. Além da acessibilidade ao meio
físico, que é muito importante, existem também as barreiras atitudinais impostas pela sociedade,
que tornam o problema uma questão social. Portanto, a acessibilidade é a condição de acesso ao
meio físico, integrada com a inclusão social.
O turismo pode ser considerado como uma ferramenta de inclusão para todas as pessoas,
inclusive para as pessoas com deficiência. A socialização numa atividade turística permite
conhecer e conversar com outras pessoas num ambiente agradável e descontraído de forma
natural e democrática.
O objetivo deste artigo é mostrar os caminhos do turismo acessível na cidade de São
Paulo, onde aos poucos estão sendo feitas intervenções a favor da acessibilidade, mas por ser
uma grande metrópole, apresenta ainda diversas dificuldades e um caminho longo a ser
percorrido.
Foram analisadas duas rotas turísticas guiadas na cidade de São Paulo, uma na Região da
Sé, centro histórico, e outra, na Av. Paulista, centro financeiro e recém-adaptada. A escolha foi
feita com o objetivo de verificar os principais vantagens e desvantagens de dois pontos tão
diferentes e tão importantes da cidade.
Em paralelo com a cidade de São Paulo foi feito um estudo da cidade Curitiba, que é
considerada a cidade mais acessível do Brasil.
Os três locais são bem distintos entre si quanto aos seus usos, administração e cultura,
assim sendo, foram criados comparativos e propostas de soluções para os principais problemas e
necessidades identificadas.
PALAVRAS CHAVE: Acessibilidade, Rotas Turísticas, Turismo.
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¹ Alliny Teles Vinhas Alves – Técnica em Edificações (FITO) – Arquiteta e Urbanista (UNIBAN) – Especialista em
Acessibilidade (UNINOVE) – arqallinyalves@gmail.com
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ABSTRACT
Since 1994, Brazil has had the NBR9050 rule, which establishes guidelines and standards
to be observed in projects and constructions, making buildings accessible to everyone. This
subject became stronger in 2004 with the enactment of the Federal Law no 10.098.
Nowadays, this discussion has intensified, but little has been done to improve the
accessibility conditions in our country. In addition to the physical accessibility issue, which is
extremely important, there are also attitudinal barriers imposed on society which makes this issue
a social question.
Therefore, accessibility is a condition of access to physical means integrated in social
inclusion.
Tourism can be considered as a tool to the inclusion of all people, including disabled
people. The socialization in touristic activities gives us the opportunity to meet others and engage
in conversations in a nice environment in a natural and democratic way.
The objective of this article is to show the ways for an accessible tourism in the city of São
Paulo, where little by little changes have been implemented in favour of accessibility. Since São
Paulo is a big city, it presents many difficulties and has a long way to go.
Two touristic destinations has been analyzed in São Paulo, one downtown, in the Sé
region, historical center, and other at Paulista Avenue, financial center and newly adapted. The
intention was to analyze the advantages and disadvantages of the two different and important
locations in the city.
In parallel with São Paulo, a study was conducted on the city of Curitiba, which is
considered the most affordable city in Brazil.
These three places are very different between themselves when we talk about their amenities,
administration and culture, therefore, comparisons and solutions were created for the main
problems and identifiable needs.
KEY WORDS: Acessibility, Tourist Routes, Tourism.
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1. INTRODUÇÃO
Desde a antiguidade até pouco tempo atrás, a inclusão das pessoas com deficiência foi
vista como um problema isolado, onde a família e entidades especializadas eram responsáveis
pelos cuidados e por todas as atividades que se fizessem necessárias. Muitas vezes essas
pessoas eram, e ainda são vistas como doentes, portanto não tendo necessidade de praticar
atividades de lazer e turismo. A falta de contatos sociais somente ajuda a aumentar a
desigualdade e a exclusão.
As tentativas de integração que ocorreram nos últimos anos se deram em ambientes sem
nenhum tipo de adaptação, tendo a pessoa deficiente que se adaptar aos locais, o que dificultava
ainda mais o processo.
Para efetivar este movimento pela inclusão, as semelhanças e diferenças devem ser
compreendidas, criando soluções que propiciem iguais oportunidades de acessos ao meio físico
para todos.
Todos os esforços devem ser feitos para incluir e nunca para segregar, ou seja, as
atividades de turismo devem ser feitas integrando pessoas com e sem deficiência, com
democracia e igualdade, para que a deficiência não seja mais vista como uma vergonha familiar e
sim como uma situação normal.
Nos anos 2000, o IBGE realizou pela primeira vez fez um levantamento considerando as
pessoas com alguma deficiência e os resultados mostraram que no Brasil, 14,5% da população
tem algum tipo de deficiência, atualmente isto significa 24 milhões de brasileiros.
Segundo a mesma pesquisa, em 2000, os idosos representavam 14 milhões do total da população
brasileira e até 2006 este número saltou para 19 milhões. Estas pessoas são as que mais se
beneficiam quando os espaços são acessíveis, pois precisam de atenção especial devido à perda
dos movimentos que ocorrem com a idade avançada.
Apesar do conhecimento destes dados, da existência da NBR9050/04 e de diversas leis
impondo condições de acessibilidade nas cidades, edificações e transportes, ainda estamos
bastante atrasados neste quesito.
Esta grande quantidade dos brasileiros, além de estudar e trabalhar precisa também de
condições mínimas de lazer, independente de suas condições físicas.
Além disso, nosso país é conhecido pelo clima, praias, música e cultura, o que atrai milhares de
pessoas de todo o mundo, inclusive pessoas que necessitam que as cidades, hotéis, restaurantes
e locais turísticos sejam acessíveis para sua locomoção. Nos próximos anos, com os dois grandes
eventos mundiais que acontecerão em nosso país, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas e
Paraolimpíadas de 2016, com certeza virão mais milhares de pessoas com deficiência.
Sendo assim, as cidades que receberão os jogos devem estar prontas para a chegada de
pessoas com diferentes necessidades, pois além da participação nos jogos, virão também muitas
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pessoas como expectadores e turistas. Para atendê-las de forma justa e digna ainda teremos que
percorrer um árduo caminho para transformar as cidades em locais acessíveis.
É muito comum as pessoas entenderem o termo acessibilidade como uma necessidade
para os deficientes, em especial, para os usuários de cadeiras de rodas, por requerem maior
espaço físico para sua locomoção com a cadeira, o que acaba muitas vezes sendo visto como um
problema na concepção do projeto. Esta é uma visão equivocada, pois os espaços livres de
obstáculos são para todos e da mesma forma que uma rampa será utilizada para locomoção do
deficiente físico, também será utilizada por uma pessoa idosa, uma gestante, uma mãe com
carrinho de bebê, uma criança, um anão, uma pessoa com dificuldade de locomoção, etc.
A acessibilidade pode ser entendida como outro nome dado ao desenho universal que é
um termo bem mais antigo, cujo objetivo é projetar sem barreiras, uma questão tão importante e
tão necessária, mas que nunca foi dada a devida importância.
Outro fator a ser considerado é o crescimento constante da população idosa, conforme os
dados mostrados. Estas pessoas também utilizarão estas cidades e construções, portanto é mais
um motivo para que a partir de agora a atitude dos arquitetos ao projetar seja em busca de uma
arquitetura inclusiva, pois eles são os principais responsáveis pela concepção das cidades e dos
edifícios, ou seja, é deles a responsabilidade por dar autonomia para todas as pessoas circularem
sem tantas dificuldades e barreiras físicas quanto às encontradas hoje.
Observando a quantidade de pessoas que necessitam da acessibilidade e as condições
que as cidades brasileiras se encontram hoje, conseguimos caracterizar as metrópoles como
locais altamente excludentes, onde o não-idêntico é imediatamente ignorado, pois tudo é
planejado única e exclusivamente para o homem padrão.
Os arquitetos aprendem na própria faculdade as dimensões do homem padrão e é nisso
que se baseiam para tudo o que projetam. É ai que esta o maior erro, basta olhar ao redor para
ver que o homem padrão não existe, as pessoas são das mais diversas formas, altas, baixas,
crianças, idosos, cadeirantes, obesos, etc. Ou seja, o princípio a ser utilizado deve “atender a
maior quantidade de pessoas possível” e não a um único tipo físico. O ensino da arquitetura deve
incorporar a acessibilidade como questão primordial, este assunto tem que ser difundido e tratado
com seriedade desde o ambiente acadêmico.
A falta de acessibilidade é, antes de tudo, um problema cultural. A disseminação do
assunto e a quebra de barreiras atitudinais são os primeiros passos para uma mudança do quadro
encontrado hoje na sociedade.
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2. TURISMO ACESSÍVEL NA CIDADE DE SÃO PAULO
São Paulo, a maior cidade da América do Sul, é famosa pela variedade de atrações que
oferece. É a cidade onde se encontram os principais movimentos de pessoas com deficiência
portanto, onde muita coisa a respeito da inclusão e da acessibilidade acontece, tornando-a
apesar das dificuldades que toda grade metrópole possui, a cidade mais acessível do Brasil.
O metrô de São Paulo é um dos melhores do mundo, todas as novas estações são
acessíveis e algumas das estações antigas tiveram a instalação de elevadores, mas ainda há
diversas sem nenhum acesso para pessoas com deficiência física, o que é um problema
gravíssimo tendo em vista a importância deste meio de transporte na cidade de São Paulo.
A maioria da frota de ônibus já tem sistemas de plataformas ou rampas e a previsão é que
até 2014 todos os carros estejam adaptados. Além disso, há frotas táxis adaptados para
transportar pessoas em cadeiras de rodas, mas poucos têm condições financeiras para utilizá-los.
Alguns locais, como por exemplo, a Pinacoteca e o MAM, possuem programas
educacionais especiais para pessoas com deficiência, que permitem o contato à arte por meio de
estímulos multisensoriais, com material especial e monitores treinados.
A Biblioteca de São Paulo, localizada no Parque da Juventude, possui uma biblioteca
Braille com diversos sistemas disponíveis, como leitores de Braille, impressora Braille,
equipamentos que permitem a leitura automática de documentos impressos, etc.
Além dos exemplos citados existem muitas outras opções de lazer e turismo adaptados
para os mais diversos tipos de deficiência.
O maior desafio é justamente a cidade e suas ruas, que muitas vezes não possuem
calçadas, ou estão em péssimo estado de conservação, impedindo a circulação de usuários de
cadeiras de rodas e até mesmo de pedestres. As próprias calçadas ou obstáculos nelas existentes
acabam se tornando barreiras, sendo na correria do dia-a-dia ou sendo num simples passeio.
Estudos mostram que um dos maiores problemas de acessibilidade em São Paulo são as
calçadas, pois por desconhecimento ou economia, as pessoas fazem suas calças quase sempre
fora dos padrões. Um levantamento feito pelo Jornal da Tarde em 2009 mostra que mais de 98%
dos 30.000 km de passeios paulistanos não seguem os requisitos legais.
Para se chegar a qualquer destino é indispensável à utilização das calçadas, sendo elas então
parte essencial de qualquer roteiro turístico a ser explorado.
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2.1 ANÁLISE DE ACESSIBILIDADE DAS ROTAS VISITADAS
2.1.1 CENTRO – SÉ – SP
Na capital paulista existe um programa feito pela São Paulo Turismo em parceria com o
Metrô, o chamado Turismetrô, que tem a disposição da população diversos roteiros turísticos
saindo, gratuitamente, da estação Sé do Metrô, com o acompanhamento de guias bilíngüe e
atores encenando a história de São Paulo. Trata-se de um projeto muito interessante e educativo
que é pouco divulgado, mas só tende a crescer. O programa não tem rotas exclusivas para
pessoas com deficiência, o que é ótimo, pois como já foi falado anteriormente, tudo o que
segrega, conseqüentemente exclui.
Ao questionar sobre a utilização das rotas por pessoas com deficiência, percebeu-se que
aconteceram raras vezes, sendo uma das vezes, por um cadeirante totalmente independente que
utilizava cadeira motorizada, e conseguiu fazer o percurso da Sé sem grandes dificuldades,
segundo a monitora informou. Mas sem um acompanhamento in loco fica difícil imaginar como
esse percurso possa ter sido feito sem dificuldades, pois o caminho é bastante conturbado,
conforme será descrito a seguir.
Certa vez foi feito um grande passeio com cerca de cem pessoas com vários tipos de
deficiência, muitas delas com acompanhantes para empurrar as cadeiras, mas o percurso
escolhido foi o mais acessível de todos, o da Avenida Paulista, que será abordado no próximo
item.
Para fazer o roteiro da Sé, o grupo sai da Estação Sé, pelo 1° vagão do carro, destinado a
pessoas com deficiência, e segue até a estação São Bento, por onde sai por uma escada rolante
e mais uma grande escadaria. Não existem elevadores nem rampas nesta estação, o que
inviabiliza o uso por usuário de cadeira de rodas e pessoas com mobilidade reduzida. Na linha
azul, por exemplo, somente cinco estações têm elevadores para uso de pessoas com deficiência.
Imagem 1: Escada de saída da Estação São Bento
Fonte: Acervo pessoal
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No entorno da estação todo o percurso é bastante acidentado, com pisos quebrados e
esburacados, diversos obstáculos nos passeios, guias de travessia sem rebaixamento, mobiliário
sem identificação, etc.
As vias de passeio público representam em sua maioria um risco para qualquer pessoa, as
principalmente para as pessoas com dificuldade de locomoção, deficientes visuais e idosos. As
calçadas do centro têm pavimentação inadequada ou pisos irregulares e escorregadios, com
desníveis vencidos por degraus fora do padrão ou rampas muito íngremes.
Durante o percurso é feita uma parada no centro cultural Banco do Brasil, onde existe uma
rampa de acesso pela porta lateral do edifício, e na parte interna do prédio, é visível a
preocupação com a acessibilidade, existem telefones para surdos, orelhões com altura mais
baixa, rampas de acesso, balcão com duas alturas, elevadores e etc. O museu conta com várias
programações voltadas para pessoa com deficiência, como interpretes de libras e exposições
sensoriais.
A caminho do próximo ponto de visitação existem trechos com piso tátil aplicado de forma
incorreta, exageradamente em alguns casos, inclusive entre mosaico português onde se torna
imperceptível pela bengala de rastreamento devido à textura. Esses são exemplos de como itens
a norma de acessibilidade são aplicados de forma incorreta. O ideal é que o piso tátil seja aplicado
sobre uma superfície lisa, uniforme e antiderrapante, no caso de identificação de mobiliários
suspensos basta que seja aplicado em volta, e não sobre toda sua projeção, proporcionando mais
segurança aos pedestres.
Ao aplicar a norma deve-se levar em conta cada situação e estudar qual a melhor solução
para cada caso. Simplesmente copiar sem analisar caso a caso, pode piorar ainda mais as
condições de uso, além de causar insegurança e confusão para o usuário, e ainda gerar gastos
que poderiam ser melhor utilizados.
Imagem 2: Piso tátil entre mosaicos
Fonte: Acervo Pessoal
Imagem 3: Piso tátil em excesso
Fonte: Acervo Pessoal
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O percurso encerra-se na Catedral da Sé, por onde o acesso principal se dá por uma
imponente escadaria. No entanto, duas entradas laterais contam com rampas de acesso, o que
atende a norma, pois em casos de edificações já existentes basta que apenas uma das entradas
seja acessível.
Foi constatado claramente que o centro da cidade de São Paulo ainda está bem longe de
ser um local acessível a todos. O que se encontra são fragmentos de tentativas de implantação da
acessibilidade, mas que sem um planejamento maior acaba virando uma confusão para os nossos
olhos e nossos sentidos.
2.1.2 AVENIDA PAULISTA – SP
No passeio guiado pela Avenida Paulista, as constatações da situação de acessibilidade
foram bem diferentes das encontradas no centro da cidade.
O roteiro começa também na Estação Sé do metrô, novamente do 1° vagão, destinado a
pessoas com deficiência e parte em direção a Estação Brigadeiro, onde existem plenas condições
de acessibilidade, com piso tátil, circulação e elevador exclusivo para embarque e desembarque
de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.
As calçadas da Avenida Paulista foram reformadas recentemente, em 2008. Os pisos em
concreto substituíram o mosaico português existente anteriormente, facilitando bastante a
circulação. Os pisos táteis foram instalados corretamente em sua maioria, assim como os
desníveis de travessia. Pela área de calçada ser bastante larga, é interessante ter um piso
direcional durante toda sua extensão, pois assim o deficiente visual não perde a referência. A
largura do passeio também possibilitou que os mobiliários fossem instalados nas faixas de
serviço, desobstruindo as circulações e evitando acidentes.
A reforma seguiu as diretrizes do Decreto nº 45.904/05 que se refere à padronização e
conservação dos passeios públicos, no município de São Paulo. Os principais objetivos do decreto
são melhorar a paisagem urbana, a acessibilidade, o resgate do passeio público pela calçada e a
socialização dos espaços públicos. Existe também uma cartilha chamada Passeio Livre, onde a
proposta do decreto é colocada de maneira didática e com ilustrações que facilitam a
interpretação.
Pela legislação atual do município, o proprietário do imóvel ou terreno é responsável pela
construção e manutenção da sua calçada, porém o programa estabeleceu rotas estratégicas de
acessibilidade onde a calçada foi ou será padronizada com recursos públicos, e a Avenida
Paulista é um desses locais.
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Imagem 4: Pessoa em cadeira de rodas
Fonte: Acervo Pessoal
Imagem 5: Acesso à Estação Brigadeiro
Fonte: Acervo Pessoal
Em alguns pontos em específico, onde já houve algum tipo de manutenção após a
reforma, existem pisos táteis instalados de forma incorreta ou faltante, e ainda há pontos onde
existem buracos abertos ou cobertos provisoriamente, que podem causar acidentes. É muito
comum encontrar pedaços de pisos táteis de alerta faltando, que foram completados com piso
direcional, ou pisos direcionais instalados na posição errada. Isto acaba acontecendo devido à
desinformação das equipes de manutenção ou do proprietário. Outra situação comum é a
colocação de mobiliário, cadeiras e mesas, por exemplo, sobre o piso tátil direcional, isto acontece
também pelo simples desconhecimento da função do piso diferenciado, por isso é importante a
conscientização de todos.
A primeira parada é uma agência da caixa econômica, onde há uma gravura mostrando a
avenida nos seus primeiros anos de existência. Por ser uma agência bancária, por exigência da lei
está adaptada conforme a norma, porém contém um degrau que não permite que a cadeira de
rodas se aproxime da gravura.
A próxima parada é no Hospital Santa Catarina e Capela, ambos no piso térreo, por ser um
hospital, também tem plenas condições de acessibilidade, além da arquitetura que é maravilhosa.
Já na Casa das Rosas, o problema está logo na entrada, onde o corredor que leva a porta
tem peças em pedra com trechos de poemas distribuídos pelo chão, formando um caminho, mas
as tais peças contêm pontas vivas que podem causar ferimentos as pessoas mais distraídas,
deficientes visuais, crianças ou idosos. O ideal é optar sempre por cantos arredondados, visando
prevenir acidentes.
Mas o maior problema é no acesso principal, que se dá somente por uma escada de cinco
degraus. Ao lado existe uma placa que diz para o portador de deficiência pedir ajuda dos
funcionários para adentrar ao museu, pois estão ainda providenciando a instalação da rampa. Por
ser um bem tombado existe muita burocracia para a instalação de rampas ou qualquer outra
alteração que descaracterize as condições originais do imóvel.
Apesar da situação constrangedora no acesso, o interior da casa conta com adaptações
que permitem a circulação da cadeira de rodas, inclusive no 2° andar.
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Imagem 6: Acesso a Casa das Rosas
Fonte: Acervo Pessoal
Imagem 7: Rampa metálica em frente ao Instituto
Pasteur
Fonte: Acervo Pessoal
O Instituto Pasteur também é um bem tombado e para atender a lei de implantação de
acessibilidade teve que instalar uma rampa metálica provisória no acesso principal.
A rampa ocupa parte do passeio público e deixa a nítida impressão de improviso, além de
desvalorizar a fachada. A solução ideal seria a instalação de uma rampa definitiva planejada para
não atrapalhar a circulação.
É necessária uma atitude mais flexível dos órgãos responsáveis quanto à adaptação dos
bens tombados, afinal esses imóveis são públicos e utilizados pela população, que tem direito a
livre acesso, e por que não de uma forma mais confortável, definitiva e justa? Afinal, estes bens
existem para serem utilizados por todos, não importando suas condições físicas.
Os pontos de ônibus têm identificação com piso tátil nas paradas indicando os locais de
espera, mas ficam fora da cobertura e não tem nenhum tipo de informação em Braille indicando
quais linhas atendem aquele ponto e nem os itinerários. Isto não é exigido por norma, mas é uma
sugestão que poderia dar mais independência ao deficiente visual neste caso específico.
O passeio é encerrado no vão livre do MASP, que tem um piso liso logo no acesso ao vão,
inclusive com desnível rampado, que leva a bilheteria, mas o restante do piso é bastante
trepidante, irregular e escorregadio.
De uma maneira geral podemos dizer que a Avenida Paulista está se esforçando nas
questões da acessibilidade e inclusão social. Atualmente é o lugar mais acessível da cidade de
São Paulo, mas ainda pode melhorar, principalmente com a conscientização dos proprietários,
que deveriam devolver às vias suas condições originais após as manutenções e aos órgãos
responsáveis pelos patrimônios históricos que poderiam ser mais flexíveis quanto à implantação
da acessibilidade.
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3. CURITIBA – PA
Uma pesquisa recente feita pela Prefeitura da cidade de Curitiba mostra que 10% dos
Curitibanos têm algum tipo de deficiência. A cidade é bastante avançada nas questões de
acessibilidade urbana, mas ainda assim, o governo continua investindo, a fim de torná-la 100%
acessível.
Imagem 8: Cruzamento elevado
Fonte: Acervo Pessoal
Imagem 9: Estação Tubo
Fonte: Acervo Pessoal
O sistema de transporte coletivo de Curitiba é um dos mais eficientes do Brasil, o que é
comprovado por uma série de prêmios internacionais. É um tipo de metrô de superfície, pois são
linhas diretas que se interligam com outras periféricas. Em cada uma dessas estações existe um
cobrador que recebe antecipadamente a passagem, tornando a viagem mais rápida. O embarque
é realizado em nível, pelas estações tubo, a maioria com acesso para pessoas com deficiência.
Estas estações contam com plataformas elevatórias, mas uma solução mais prática seria o
uso de rampas nos locais onde tem espaço para isso, pois além de mais baratas, são mais fáceis
de usar e dispensam manutenção.
Em Curitiba existe uma opção de turismo muito interessante que é a Linha Turismo,
tratasse de uma linha de ônibus especial que circula nos principais pontos turísticos da cidade.
Com ela, é possível conhecer as principais atrações da cidade. É considerada uma das melhores
do país, circula a cada trinta minutos, percorrendo aproximadamente 45 km. É possível iniciar o
trajeto em qualquer um dos pontos e o passageiro pode desembarcar em qualquer ponto turístico
e depois pegar o próximo ônibus circular.
Todos os ônibus da linha são acessíveis no piso térreo, pois ele tem dois andares, e a
parte de cima é descoberta, o que torna o passeio bem divertido e aproveitável. Infelizmente
pessoas com dificuldades de locomoção não conseguem acessar o andar de cima, mas no piso
térreo existem bancos especiais para pessoas obesas, local para cadeira de rodas e bancos
comuns também.
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Um dos principais pontos turísticos da cidade é o Jardim Botânico. Lá a circulação tem
rotas demarcadas por canteiros e bem livres de obstáculos, mas para uma cadeira de rodas, por
exemplo, a circulação fica prejudicada devido ao tipo de piso, que em boa parte do parque é de
pedrinhas e causa muita trepidação na cadeira.
Dentro da estufa o piso é totalmente em grelha, o que causa muita insegurança em circular
e é bastante perigoso, principalmente para mulheres calçando salto alto, que podem prender os
pés facilmente. Não há acessibilidade no andar de cima da estufa, sendo que o acesso só se dá
por escadas.
Já adentrando mais ao parque, existe um trecho é asfaltado, onde a cadeira circula melhor,
apesar da grande descida que leva até um maravilhoso jardim sensorial.
O jardim sensorial possibilita que todas as pessoas, inclusive aquelas com algum tipo de
limitação, visual, auditiva, intelectual ou motora, possam apreciá-lo, já que é pensado para aguçar
todos os sentidos:
Tato - através da textura das folhas, flores e troncos das plantas.
Audição - através dos sons da natureza, pássaros, vento na folhagem
e quedas d'água.
Visão - através da beleza das cores e texturas das árvores, arbustos
e flores.
Olfato - através do aroma das plantas, árvores, frutas e flores.
Paladar - através dos sabores das frutas e ervas.
Imagem 6: Jardim Sensorial
Fonte: Acervo Pessoal
Pode-se tocar nas plantas, para sentir suas formas, texturas e aromas. Também é possível
ouvir o som da cascata e passar num túnel vegetal, possibilitando novas e agradáveis sensações.
A placa na entrada do Jardim tem todas as informações em Braille, porém as plaquinhas
informativas com os nomes da cada planta não têm. Seria interessante que tivesse o Braille,
assim o deficiente visual poderia mais autonomia no trajeto.
Os pisos são em pedrinhas, conforme o restante do parque, com trechos em mosaico
português, mas por estarem em bom estado de conservação, atrapalham, mas não impedem a
circulação da cadeira de rodas.
A próxima parada foi no Museu Oscar Niemeyer, conhecido como Olho, maravilhosa obra
de arquitetura, mas com problemas graves relativos à acessibilidade, como o que acontece com a
maioria das obras deste renomado arquiteto.
O maior problema encontrado foi justamente às rampas, com declividade extremamente
acentuada, principalmente já dentro do museu, no principal acesso. Adentrar o local causa
bastante desconforto, até mesmo para quem está na sua plena forma física. Os corrimãos,
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quando existem estão nas proporções erradas. Conforme a NBR9050 as rampas devem ter
inclinação máxima de 8,33% e dispor de corrimãos em duas alturas e patamares.
Dentro das áreas de exposições, os pisos são bem lisos e há bastante espaço livre, o que
facilita a circulação.
Para acessar o último andar do museu, existem elevadores e uma plataforma elevatória
instalada junto às escadas, o que é uma solução bastante prática quando não tem espaço útil
para a instalação de uma rampa com inclinação correta, que acaba ocupando bastante espaço
dependendo do desnível a ser vencido.
Já na ópera de arame existem acessos em rampa e sinalizados para pessoas com
deficiência. As adaptações para acessibilidade foram feitas recentemente pela prefeitura da
cidade. Apesar disso, os pisos em grelha se repetem conforme comentado anteriormente quando
citado o Jardim Botânico. Neste caso, foi colocada uma chapa metálica sobre as grelhas para
facilitar a circulação, mas somente em um trecho da ponte de acesso.
A ópera fica dentro do parque das pedreiras, devidamente adaptado, com banheiros,
vagas, telefones e piso tátil de sinalização. Em alguns trechos o piso tátil chega a ser exagerado,
criando trilhas desnecessárias, sendo que há diferença entre a textura de pisos e gramado que
podem facilmente cumprir o trabalho de guia a ser rastreada pela bengala do deficiente visual.
O Parque Tanguá é todo em piso inter-travado, o que facilita na locomoção da cadeira. Só
não é possível o acesso ao mirante, que se dá somente por escadas.
Um problema encontrado em todos os locais visitados foi a ausência de banco para
aguardar o ônibus turísticos nos pontos exclusivos. Os ônibus podem demorar até meia hora para
chegar e muitas pessoas têm dificuldade para aguardarem de pé durante tanto tempo. A
NBR9050 recomenda prever uma área de descanso a cada 50m para pisos com até 3% de
inclinação, ou a cada 30m para pisos de 3% a 5% de inclinação.
De uma forma geral a cidade de Curitiba e seus principais pontos turísticos contemplam as
necessidades mínimas de acessibilidade, apesar de falhas poderem ser observadas numa
avaliação mais rigorosa.
Uma qualidade importante são as ruas do centro, sempre com rebaixo nas travessias ou
travessias elevadas em nível com os passeios, apesar de vários locais ainda utilizarem o mosaico
português, que é um piso de difícil circulação. Os passeios nos bairros mais afastados do centro
têm faixa de acesso e faixa de serviço gramadas, o que deixa a cidade mais permeável e a
circulação livre no centro.
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4. CONCLUSÃO
Só se poderá falar em uma sociedade inclusiva quando a diversidade humana for
compreendida, garantindo assim uma vida com total autonomia para as pessoas com deficiência.
O valor da igualdade corresponde à dignidade, ou seja, ter os direitos em relação às
necessidades básicas, como saúde, educação, habitação, trabalho e atividades complementares
como o lazer e o turismo.
O Brasil possui uma das mais ricas legislações do mundo, inclusive com relação à
acessibilidade. O que falta é fiscalização por parte dos governantes e consciência por parte dos
cidadãos. Não basta ter uma legislação, se ela não é atendida por falta de interesse
governamental ou social.
Cada cidadão que compõe a sociedade precisa deixar de olhar somente para si mesmo, e
olhar para todos, enxergando a grande diversidade existente. Às vezes não é preciso nem olhar
ao redor, pois qualquer pessoa está sujeita a ficar em uma situação de mobilidade reduzida, seja
pela idade avançada, gravidez, doença, acidente, etc. Infelizmente, a maioria das pessoas não
tem esta visão, onde o os princípios do desenho universal são uma necessidade de todos. Tudo
depende da cultura e da educação das pessoas que vão construir a cidade.
É importante sempre partir do princípio da inclusão e não da segregação, pois se um
passeio ou praça pública é acessível a uma pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida,
significa que todos poderão usufruir deste espaço.
Sem calçadas em boas condições fica impossível desenvolver qualquer rota turística, pois não se
chega há lugar algum sem passar por elas. Outro ponto importante são as adaptações pontuais
dos locais turísticos, deve-se sempre pensar no trajeto que será feito para chegar até o local. É
preciso tomar muito cuidado ao adaptar, seguir as recomendações da norma, mas sempre
pensando na melhor solução e colocar-se no lugar do usuário, somente assim é possível chegar à
boas soluções.
Com relação ao turismo na copa do mundo, olimpíadas e para-olimpíadas, além dos
estádios, toda a infra-estrutura das cidades também deve ser pensada em relação à
acessibilidade. Pois o evento influenciará outras questões como os transportes, aéreo e
rodoviário, hotelaria, restaurantes, comércios, praias, bares, shoppings, visitação de pontos
turísticos de cada cidade sede, etc.
As exigências da FIFA, contém informações precisas sobre a acessibilidade nos estádios,
afim de fazer uma copa 100% acessível. Porém a Copa não se resume somente aos jogos nos
estádios. Segurança, transporte, hospedagem são outros itens importantes que compõem toda a
infra-estrutura necessária para a cidade receber um evento desse porte. Quase a totalidade dos
hotéis brasileiros não cumpre a norma da ABNT onde é indicada que, pelo menos 5% do total dos
dormitórios devem ser acessíveis. Existe também a possibilidade de se hospedar num navio
cruzeiro, onde a acessibilidade é considerada muito boa.
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A importância de se fazer as implantações de acessibilidade corretamente demonstrará
que nosso país tem uma consciência de inclusão, uma atitude muito valorizada mundialmente e
que deixará um legado para as gerações futuras, visto que estes eventos serão um marco no
país.
É muito importante que estes eventos tratem deste tema, pois grandes eventos sempre
deixam marcas. É possível criar, a partir da Copa, uma cultura de acessibilidade, um conceito de
arquitetura que leve esta questão em consideração, educando o país.
Em outros países já se encontra estabelecido um negócio turístico abrangendo as pessoas
com deficiência, com uma movimentação financeira bastante considerável. No Brasil, com o
aumento da população deficiente empregada graças à lei das cotas e o crescimento do nível
escolar, está surgindo um novo mercado, com um público exigente e que cobrará uma cidade e
um país sem as limitações de acesso atuais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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