Acessibilidade Digital

Por Liliane Castro Turolla | 14/07/2010 | Sociedade

Jhonata de Almeida Salgueiro
Liliane de Castro Turolla
Polyana Ker de Melo
Rafael Tavares da Costa
ThiagoThiago de Souza Salomao
Wagner Emerich Breder














Acessibilidade Digital: Fatores e Implicações das Mídias Digitais nas produções do Espectador/Produtor para o Cinema Digital





















Juiz de Fora
Junho de 2010
1 INTRODUÇÃO


Com o desenvolvimento dos microprocessadores e das "informações digitais", a produção audiovisual mundial foi se adequando à nova forma de decodificação de conteúdo, por meio da oferta de novos equipamentos que têm como base o código binário e o registro digital.
Um dos fatores mais relevantes sobre essa nova tecnologia é a possibilidade de acesso a equipamentos de baixo ou nenhum custo, o que permite aos novos produtores maior facilidade de criação, distribuição e execução de seus projetos. Com essas modificações, o espectador pode tornar-se, também, realizador. Um exemplo a ser considerado é a incorporação de câmeras digitais a outros dispositivos, como celulares e máquinas fotográficas, os quais permitem que o receptor crie e distribua, em poucos minutos, a sua própria produção.
É uma era que pode ser considerada nova tanto para os produtores profissionais quanto para os produtores amadores, uma vez que traz consigo possibilidades de registro e transmissão de conteúdo para ambas as classes; além das infinitas possibilidades de linguagem que podem ser experimentadas pela atual geração de espectadores/produtores.
Dissertando sobre essa acessibilidade às ferramentas digitais e suas implicações na produção audiovisual atualmente, assim como na construção de um espectador/produtor, este artigo objetiva apontar, de forma geral, os fatores que têm influenciado para as transformações desse contexto.




1 Acessibilidade Digital: Espectador/Produtor

São notáveis os avanços tecnológicos ao longo da história da produção audiovisual, assim como a consequente centralização e, outrora, democratização, resultantes desses avanços. A tecnologia digital tem um papel importante na descentralização da produção.
A acessibilidade às ferramentas de produção a custo zero tem ampliado as formas de distribuição do conteúdo e a recepção dos mesmos por parte do público. Um dos fatores que têm contribuído para isto é a presença de softwares livres na rede. Os sistemas Open-Source permitem aos usuários a feitura de cópias, distribuição e aperfeiçoamento de softwares gratuitamente, o que possibilita o aumento do número de usuários caseiros de produtos, que até então, eram propriedade exclusiva do mercado profissional.
Outro fator a ser destacado é a edição de imagens e de informação na mídia de massa e nas criações cinematográficas, que até bem pouco tempo podia ser apontada como uma das principais ferramentas de exclusão do espectador na construção de materiais audiovisuais. Entretanto, hoje, a partir da democratização e avanço das tecnologias digitais, as pessoas, individualmente, tornam pública a teia de significados que elas mesmas tecem e criam. "As antigas distinções entre produtores e receptores da imagem televisiva começaram a se borrar, pois qualquer pessoa com uma câmera na mão tornou-se potencialmente um produtor" (SANTAELLA, 2006, p.187).
Observamos três prováveis aspectos decorrentes dessa acessibilidade: diversificação do conteúdo, transformações da linguagem e narrativa e mudança na lógica de mercado. O acesso facilitado a esses dispositivos de captação e de distribuição ?(internet) gerou uma explosão de diversidade de conteúdos - todo o espaço e todo o tempo são uma possibilidade criativa: o ensaio da banda, festa em família, um "furo" jornalístico. O espectador pode agora produzir seu próprio conteúdo, ficcional ou documental, e selecionar o que lhe interessa. O conteúdo amador deve ser visto como uma manifestação e exercício cultural e não como parâmetro de qualidade. Tudo é válido e toda tentativa é bem vinda.
A variedade de conteúdo e os diferentes olhares impressos nas diversas peças audiovisuais nos levam a uma transformação da linguagem e narrativa, partindo do pressuposto que a tecnologia digital, por si, em nada alterou a narrativa, e entendendo narrativa como "o contar da história" e linguagem como os meios usados para contá-la. A massa espectadora que em grande parte desconhece os princípios da linguagem cinematográfica, ou não é fortemente influenciada por ela, tem com a câmera um instrumento de escrita, e com uma visão "ingênua e leiga" pode sugerir novas formas de linguagem e narrativa. Uma história sofre diversas alterações sobre olhares distintos e olhares distintos geram conteúdos variados.
Além disso, com as facilidades de apropriação dos mecanismos digitais, não somente os cinemas Hollywoodianos são potenciais em criação de mitos, os espectadores também o são. Com uma câmera na mão faz-se de um vizinho um mito na comunidade local ou nacionalmente, assim como torna a si próprio um deles, por meio da veiculação de vídeos em plataformas digitais como "youtube.com", e redes sociais como "Orkut" e "Facebook", por exemplo.






2 Produção Independente na Era do Cinema Digital


O Cinema Digital vem possibilitando a entrada de, cada vez mais, novos cineastas no mercado. Hoje, o acesso facilitado a equipamentos de gravação e edição de vídeo leva também à ampliação do mercado de entretenimento doméstico. As próprias Universidades têm mais condições de estimularem seus alunos a essas produções. Câmeras MiniDVs e celulares estão no hall principal desse "novo modelo de produção", pautado, muitas vezes, no imediato e no inusitado. O celular, pela mobilidade, pode garantir a captação de cenas imprevistas do dia a dia, a qualquer momento.
Além disso, com uma câmera de celular na mão, qualquer pessoa pode conseguir um grande furo jornalístico. Basta estar na hora e no lugar certo. Atualmente, o leitor, o espectador, acaba se tornando também produtor de conteúdo para os meios de comunicação.
Especificamente no caso do jornalismo, essa é uma questão extremamente importante. Hoje em dia é muito difícil que no momento que determinado fato ocorra, não tenha alguém por perto que consiga fotografar ou filmar. Até mesmo o enforcamento do ex-presidente do Iraque, Saddam Hussein, que aconteceu num local completamente protegido e isolado, foi filmado.
A diferença entre a potencialidade dessas novas tecnologias de captação de imagem para o cinema e para o jornalismo é que enquanto para o primeiro, a qualidade de imagem inferior é um problema, no segundo o importante é conseguir o registro do fato, e dentro de um determinado limite de legibilidade, a qualidade da imagem ruim, pixelada, não interfere na sua importância.

Já não há também grande preocupação em deixar a câmera ligada capturando direto todo um processo, como, por exemplo, entrevistas. Isto pode acarretar na gravação de cenas, reações e falas inesperadas e admiráveis. Esses pontos favorecem muito nos documentários. A respeito da qualidade de imagens, a baixa resolução, em alguns casos, encontra terreno propício para distribuições na web, garantindo a driblar esse fator com softwares de edição.
Outra característica que podemos observar nessas produções independentes é que os temas são mais urbanos, fazem parte da vivência, gosto e visão dos diretores. Nota-se que são agregadas: vontade de fazer cinema e carência de assistir/produzir determinados assuntos de seu próprio interesse e de seu grupo social, poucos, ou não abordados no cinema convencional.
Para esses cineastas não há problemas quanto à exibição, que pode ficar restrita à "tribo" de interesse, para qual o vídeo pode se destinar; ou se valer das "grandes salas de exibição online", como o "youtube.com". Sites como esse são responsáveis pela difusão e lançamentos de grandes produtos e de muitos talentos, confirmando também a multiplicidade de gosto e interesses da massa receptora/produtora.
Toda essa ampliação da produção visual, de acordo com Frederic Jameson (1994), vem confirmando que o homem pós moderno passa de imagem máquina a máquina de imagens.
Entretanto, ao pensarmos o cinema digital devemos relativizar alguns conceitos que são comumente usados para falar dessa forma de produção. John Belton (2002) trata o cinema digital como uma falsa revolução. Para ele, a revolução digital está totalmente ligada às questões econômicas; à indústria, aos rodutores, e todos os envolvidos nas grandes produções cinematográficas precisam constantemente de novidades para atrair o público_ além de estar sempre atingindo novas gerações de consumidores. "The digital revolution was and is all about economics ? all about marketing new digital consumer products to a new generation of consumers ".
Conforme Belton (2002), com o advento do novo milênio, a mídia procurava um evento simbólico para marcar o momento e o cinema digital foi usado como grande novidade. O determinismo digital também é citado como algo que vem acontecendo. As produções hollywoodianas vêm cada vez mais dependendo desta tecnologia: "Even those (movies) without digital imaging were currently edited on computers ".
Michael Punt (1998), professor de arte e tecnologia da Universidade de Plymouth na Inglaterra, também contemplava esse conceito: "Technological determinism would argue that the popular cinema is driven by new technologies (especially digital media) in a very straightforward way ".
Essa tecnologia vista apenas como algo imposto pelo mercado e não tão inovadora não transforma a natureza da experiência do sujeito ao assistir um filme:
"Digital projection as it exists today does not, in any way, transform the nature of motion-picture experience ". "The cinematic apparatus has remained relatively unchanged for a century?" .
Para finalizar, a implicação financeira para a conversão de salas de cinema de analógico para digital, também segundo Belton (2002), seria muito cara. No entanto, uma parte dos teóricos pensa na grande indústria, notadamente a de Hollywood.
CONCLUSÃO



Em suma, a tecnologia digital não transformou apenas a maneira como se capta e se distribui informações, mas abriu a possibilidade de criar e experimentar novas formas de se fazer audiovisual.
É uma nova era tanto para produtores profissionais e amadores, uma vez que traz consigo novas possibilidades de registro e transmissão de conteúdo, sem contar as infinitas possibilidades de linguagem que podem ser experimentadas por essa nova geração de criadores de conteúdo.
A distribuição dos conteúdos amadores pela internet proporcionou visibilidade para os produtores, mas o retorno financeiro ainda está na mídia tradicional. Esta por sua vez, encontrou no amadorismo uma possibilidade lucrativa: o uso da força de trabalho barata. Um programa de TV que utiliza vídeos da internet ou incentiva o envio de vídeos ou qualquer outro conteúdo amador está aproveitando da disponibilidade e do trabalho do espectador/produtor ao invés de produzir seu próprio conteúdo; economizando tempo e dinheiro.












REFERÊNCIAS



BELTON, John. Digital Cinema: A False Revolution. October Magazine Ltd. And Massachusetts Institute of Technology, 2002, p. 98-114.

FRANKLIN, Tiago. O Homem com uma Câmera de Celular. Disponível em:
http://portais.ufg.br/projetos/seminariodeculturavisual/images/pdf_I_Seminario/GT2/tiago.pdf, acesso em: 13 jun.2010.

GERBASE, Carlos. Quem Tem Medo do Cinema Digital? Famecos/ PUCRS-Nº 5, Jun.2000- anual. Disponível em: http://www2.eptic.com.br/sgw/data/bib/recortes/1176f144fa6b786359bbd8d60a044274.pdf.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A 2005.

JAMESON, Fredric. Espaço e imagem: teorias do pós-moderno e outros ensaios de Fredric Jameson. Rio de Janeiro: UFRJ, 1994.

SANTAELLA, Lucia. Por uma epistemologia das imagens tecnológicas: seu modos de apresentar, indicar e representar a realidade. In: ARAUJO, Denise Correa (Org). Imagem (Ir) Realidade: comunicação e cibermídia. Porto Alegre: Sulina, p.327, 2006.

PUNT, Michael. Digital Media, Artificial Life, and Postclassical Cinema. Condition, Sympton or a Rethoric of Founding? Leonardo, v.31, 1998, p. 349-356.

KERR, Jônatas. A Nova Ordem digital no cinema: Como a internet e as mídias digitais têm transformado a forma como os filmes são produzidos, distribuídos e consumidos. Disponível em: http://www.ufscar.br/rua/site/?p=631.

VILLAÇA, Nízia. Em pauta: corpo, globalização e novas tecnologias. Rio de Janeiro: Mauad, 1999.