Abnegação, altruísmo e ascetismo: essências da crueldade, conseqüências do remorso
Por Sandra Moreira dos Santos | 18/02/2012 | LiteraturaAbnegação, altruísmo e ascetismo: essências da crueldade, conseqüências do remorso: Reflexo de crueldade psíquica no espaço ficcional de Guimarães Rosa
Minha maldade vem do mau acomodamento da alma no corpo. Ela é apertada, falta-lhe espaço interior.
Clarice Lispector.
Falar de crueldade é falar da incapacidade que um indivíduo pode apresentar para tomar o outro ou a si próprio como sujeito, mas sim como objeto, atitude que faz com que o sofrimento se torne um negócio e até uma opção de existência.
Tanto Freud como Derrida consideram a crueldade irredutível, uma pulsão natural e difícil de ser controlada em certas pessoas. Além disso, Derrida salienta que existem somente alterações de crueldade, pois o que há são “diferenças de modalidade, de qualidade, de intensidade da mesma crueldade”[1]. Nesta perspectiva, suas modalidades variam em diferentes propósitos e consequências.
Entre os povos primitivos, foram inventadas e toleradas relações de contrato entre devedor e credor. Estas relações faziam com que as mortes e as torturas passassem a ser aceitas naturalmente pelo grupo social, pois se figuravam como pagamento de dívidas e por conseguinte, faziam com que os homens se tornassem indiferentes a elas.
Segundo Nietzsche, foi a sociedade primitiva quem desenvolveu o pensamento de que todo dano deveria encontrar de algum modo seu equivalente sendo susceptível de compensar-se ao menos por uma dor que sofresse o autor do prejuízo, ou seja, o devedor. Entretanto, a moralização dos costumes dissolveu esta ética submetendo o homem ao refreamento de seus impulsos. Para Nietzsche, tal moralização serviu para treinar e educar a natureza humana promovendo a contenção de uma pulsão natural.
Todavia, o estado primitivo do homem não foi contido de forma insensível ou voluntária, nem, contudo ocorreu uma adaptação orgânica. Não obstante, o que se deu foi um rompimento obrigatório que fez com que a crueldade apenas se transformasse e não que desaparecesse. Logo, em certos casos, ela interioriza-se refluindo para o interior do indivíduo dando origem assim à má consciência que na Genealogia da Moral, de Nietzsche se equivale ao remorso. Este fenômeno implica numa seqüência de atitudes minadas pela crueldade psíquica.
Quando a crueldade em vez de seguir seu caminho primitivo e natural em direção ao exterior, desvia-se voltando-se para o interior, chega a aprofundar-se a tal ponto que passa a constituir uma alma para o indivíduo. Tal desvio ilustra-se como conseqüência do remorso e revela que certas tensões não deveriam ser exteriorizadas. Devido a isto, as tensões se voltam para dentro, contra o homem que as possui, promovendo a noção de dívida proveniente da relação credor/devedor. Desta forma, termina por implicar na ideia de autoculpa, gerando atitude e comportamento autopunitivo. Esta ideia se relaciona com a percepção de descumprimento de normas ou princípios éticos impostos à consciência para viabilizar a convivência social.
É impressionante observar como por meio do mecanismo do remorso o sujeito pode se incriminar sutilizando sua pulsão de crueldade em altruísmo ou em ascetismo exacerbados. Frente a este raciocínio é pertinente formular a seguinte questão: A abnegação, o altruísmo e até o ascetismo podem se constituírem da mesma essência da crueldade?
Objetivando o esclarecimento sobre esta problemática, a literatura servirá como objeto para fornecer elementos comportamentais que definem certas atitudes. Nesta perspectiva, a tessitura narrativa de João Guimarães Rosa demonstra-se bastante fértil e reveladora de personagens que vivenciam a crueldade de diversas formas. Alguns episódios, grandes ou pequenos se ligam em trama sutil, constituindo reflexões sobre atos e comportamentos que emanam crueldades embasadas por princípios e motivações subjetivas sobre algumas inquietações humanas.
O comportamento cruel de alguns personagens de Guimarães se equivale quanto a sequencia da qual deriva: da ação, do estado, da atitude e da finalidade. A ação consiste na crueldade, tanto contra o outro quanto contra si próprio, o estado é de remorso e de culpa, a atitude é de autopunição e a finalidade é a remissão através do comportamento abnegado, altruísta ou ascetista. Os personagens que servirão de objeto para nossa argumentação a cerca das pretensões de certos atos para remirem culpas e remorsos, traçam o seguinte triangulo: de um lado Maria Mutema, do outro Augusto Matraga e no vértice a Mula Marmela.
Maria Mutema mulher que renuncia seu instinto cruel evidenciando dramático arrependimento pelos erros cometidos submete-se ao julgamento do povo, assumindo sua culpa e desejando castigo. Notadamente, este comportamento de expor-se violenta e dramaticamente ao juízo da comunidade para purgar sua culpa, mostra e elucida com clareza a crueldade interiorizada da personagem que impõe a própria punição como forma de expiação assistida. Interessa constatar que a intenção de sua personalidade se reduziria se apenas ela se reintegrasse ao povo por via do perdão concedido. Muito embora Mutema desejasse o perdão ela também almejava intensamente remir-se de si mesma, para si e para os outros.
Kathin Rodenfild em Grande Sertão: Veredas. Roteiro de Leituras demonstra uma concepção sobre a personalidade da personagem que direciona a questão a ser discutida sobre a Mutema. Ela afirma que a crueldade de Maria Mutema
Aparece assim como a encarnação de uma maldade natural, totalmente inconsciente de si mesma, e que desconhece dúvida, hesitação ou remorso. Mais do que isso, essa maldade sem causa ou finalidade que desdobra o tema do ódio sem causa parece divertir-se de maneira perversa brincando com a consciência ética do Padre Ponte (...). O causo de Maria Mutema expõe (...) um mal que está aquém de qualquer compreensão e que se distingue de atos de maldade cometidos por certos motivos e em vista de certas finalidades. Não é egoísmo, nem cobiça nem vingança ou ressentimento, que motivam os sucessivos assassinatos de Maria Mutema, porém simplesmente sua natureza, seu ser assim.[2]
Enquanto Rodenfild trata da crueldade natural de Maria Mutema considerando-a um comportamento “totalmente inconsciente”, procuramos, por outro lado, abordar seu estado de confessado arrependimento, considerando-o uma consequência desta “maldade natural”, como sendo de efetiva autocondenação. Além disso, não é possível considerar uma completa inconsciência sobre seus atos, principalmente frente a seu arrependimento declarado. Sua contrição através do martírio e do suplício implica no interesse da remissão de seus pecados, logo, neste contexto, o fato de se voltar contra si, compreende propósitos e intenções de se fazer crer arrependida evidenciando, portanto plena consciência sobre o que faz.
Convém lembrar que não cabe aqui um julgamento da personagem nem tão pouco sua condenação ou absolvição, o que interessa não as causas de seu comportamento, mas o seu sentido.
Muito embora as tópicas freudianas: inconsciente, pré-consciente e consciente; sejam uma interessante compreensão da mente humana, no caso de Mutema, a concepção de Sartre é mais aplicável por rejeitar enfaticamente a visão determinista das causas inconscientes. Dentro dessa perspectiva, podemos considerar o dramático arrependimento da personagem no âmbito consciente, visto que mesmo motivada pela “má consciência”, a condenação movida pelo autojulgamento implica no interesse de redenção, redenção esta, muito mais para com o povo que para com Deus.
Guimarães Rosa criou uma personagem que exerce sua crueldade natural a ponto de transformá-la numa crueldade psíquica. Segundo Derrida a crueldade psíquica faz parte da psique do indivíduo e portanto, esse tipo de comportamento encontrará alguma forma de canalizar sua pulsão. Dentro desse raciocínio, é plausível considerar que a autocondenação de indivíduos como Mutema, seria mais uma variante das ferocidades que compõe uma das parcelas da constituição psíquica do homem que urge satisfação muitas vezes à revelia dos padrões socialmente determinados, ocultando sob certos subterfúgios o interesse de se realizar. Dessa maneira, nota-se a necessidade de Mutema de se sentir abrigada da culpa perante os outros e perante a si mesma, logo, de acordo com Epícuro “O primeiro castigo do culpado está em não poder absolver-se de seus próprios olhos”.
O personagem do conto “A hora e a vez de Augusto Matraga” que compõe Sagarana encontra-se do outro lado do triângulo e reveste-se de renúncia, de penitências, de abnegação e de ascetismo para lograr satisfazer seu intuito de remissão.
Augusto Matraga demonstra intenção de atingir virtudes, procurando redimir-se absorvendo a ética Cristã para renunciar à vingança. Com esse pensamento, trava um embate consigo mesmo em direção a tais paradigmas.
Convém dizer que os conflitos de Nhô Augusto refletem suas tendências instintivas reprimidas conscientemente: “uma vontade doente de fazer coisas mal feitas, (...) como que, se bebesse e cigarrasse, e ficasse sem trabalhar e sem rezar, haveria de recuperar sua força de homem”[3]. Entretanto, seu autocontrole destaca o entendimento de que precisa se redimir dos instintos, fato que na concepção de Nietzsche desperta no culpado o sentimento de falta e de remorso.
Tenho é de ficar pagando minhas culpas, penando aqui mesmo, no sozinho. Já fiz penitência esses anos todos, e não posso ter prejuízo deles! Se eu quisesse esperdiçar essa penitência feita, ficava sem uma coisa e sem outra.[4]
O conflito existencial do herói é tão explícito que o narrador onisciente permeia seus pensamentos entre a consciência moralizadora e os insistentes desejos represados:
Era só bulir com a boca que seu Joãozinho Bem-Bem (...) e todos rebentavam com o Major Consilva, com o Ovídio, com a mulher com todo-o-mundo que tivesse tido mão ou fala na sua desgarração (...) mas, qual, aí era que se perdia, mesmo, que Deus o castigava com mão mais dura (...) , e só então que ele soube de que jeito estava pegado à sua penitência, e entendeu que essa história de se navegar com religião, e de querer tirar sua alma da boca do demônio era a mesma coisa que entrar num brejão que para a frente, para trás e para os lados, é sempre dificultoso e atola sempre mais.[5]
A crueldade psíquica que o sujeito se impõe é caracterizada pela vontade de se achar culpado e de se castigar pela contenção das vontades, fato que revela prazer em ser cruel consigo mesmo.
Nhô Augusto sentia saudades de mulheres e a força da vida nele latejava (...). Assim, sim, que era bom fazer penitência, com a tentação estimulando. (...) Bastava-lhe rezar e agüentar firme, com o diabo ali perto, subjugado e apanhando de rijo, que era um prazer[6]
O estado de remorso faz com que Nhô Augusto desenvolva uma secreta violação de si através da repressão dos instintos naturais. Para Nietzsche, um sujeito que assim se comporta demonstra “uma alma partida ao meio voluntariamente que sofre pelo prazer de sofrer.”[7] . O mesmo “prazer de cão” que movia Mutema em suas investidas cruéis contra o Padre Ponte, também move Augusto Matraga ao se sentir no papel de devedor, como aquele que promete pagar, que está em dívida, e por isso é quem expia comprometendo-se com seu débito. O pagamento, portanto, consiste em sua própria tortura, em resistir aos apelos que procura expiar.
Notamos que o personagem na qualidade de devedor compromete-se a gravar na sua própria consciência a necessidade de pagamento. Tanto Mutema quanto Matraga indenizam o credor, no caso a sociedade, com alguma coisa que possui de valor, buscando ressarcirem a comunidade com autopunição através da dor, do remorso e do sacrifício. Assim, acreditam redimirem e purificarem a alma. Neste sentido, é pertinente dizer que Nhô Augusto se revela um asceta, visto que realmente pratica o ascetismo, mas não a abnegação. Isto porque, a abnegação possui o sentido religioso de negar os próprios interesses em prol dos dos outros, enquanto que o ascetismo praticado pelo personagem revela sua autopunição através de esforços supremos que busca um interesse individual: a redenção.
No vértice do triângulo, servindo de elemento de convergência entre o amor altruísta de Ágape, regido pela religiosidade cristã, representado por Matraga, e Eros, o amor regido pelos propósitos demasiadamente humanos, descrito nas ações de Mutema, está Mula Marmela, personagem de “A benfazeja” de Primeiras Estórias. Esta última também não dirige sua crueldade contra outro, mas sim contra si mesma. Isto ocorre através da sutil autopunição que é fruto da impossibilidade de conviver com a crueldade de seu companheiro, fato que a faz preferir fugir para uma situação que supôs mais aceitável e que poderia ter sido louvável; a eliminação de um assassino de um meio que se sentia ameaçado por ele. Entretanto, a sociedade não correspondeu a sua expectativa, daí, surgiu a frustração implicando numa desestabilização que solicita um ajuste correspondente. Assim, origina-se o reparo estabilizador em busca da superação do remorso, uma vez que, só é possível um ajuste aplicando-se uma ação concreta de igual teor e contrária ao motivo que desencadeou o conflito.
Portanto, na tentativa de neutralizar (ou minimizar) os efeitos de sua ação, que era tornar-se benfazeja para com a comunidade, Marmela investe em outra ação de princípio semelhante, que se equivale à mesma punição que investiu contra si quando eliminou o homem que amava. Mais uma vez, sua ação é de auto-sofriemnto, de provocar seu próprio martírio e dor psíquica. O objetivo de Marmela é ajustar o que se desajustou. Primeiro agiu em prol da comunidade não hesitando em livrá-la do homem violento que a ameaçava, depois, arrependida, faz do remorso seu exercício de sacrifício como se este fosse sua sentença condenatória. Por conta dessa situação submete-se a uma expiação voluntária que se realiza no vagar isolado, em ser os olhos do cego e em se tornar a rejeitada do mal, ainda insistindo na penitência de ser a salvadora do lugarejo. Para isso, investe num ritual de purificação do local para que seu sacrifício seja completo.
A opinião de que o sofrimento pode expiar a culpa consiste em um dos anseios básicos da vida individual, social e religiosa. As práticas religiosas do ascetismo, da flagelação e das penitências, baseiam-se nela. Pecadores como Mutema, Matraga e Marmela liberam-se da culpa, pela penitência da expiação na perspectiva de cumprir plenamente sua pena.
Existe na literatura Roseana, uma seqüência de acontecimentos derivados desse raciocínio: crueldade – culpa - remorso - necessidade de punição - expiação – busca de redenção. Para atenuar o remorso nascido do sentimento de culpa, Guimarães faz surgir no indivíduo o desejo de autopunição na esperança de não ser rejeitado e continuar sendo aceito. Dessa forma, podemos considerar que o ascetismo de Matraga possui um evidente propósito individual, bem como o declarado arrependimento de Mutema, seguido do sacrifício e da abnegação de Marmela. Guimarães induz estes sujeitos a buscarem a remissão através do arrependimento perante o povo.
É interessante destacar como Guimarães coloca o povo como elemento decisivo para as ações e expectativas destes personagens. Quem deseja a admiração do povo é Marmela e Mutema, mas é Matraga quem a conquista, além disso, quem usa do sacrifício e do martírio é Marmela, entretanto quem é santificada é Mutema. Frente a tais situações, Guimarães dá ao povo o direito de gratificar ou condenar o sujeito conforme a reflexão que busca transmitir enquanto autor.
Não é plausível considerar que o sofrimento imposto por Marmela, Matraga e Mutema a si próprios consista em uma atitude inconsciente. É mais razoável supor que essa atitude seja consequência de suas naturezas, visto que as mentes deles teriam de atribuir a repressão de seus interesses a alguma instância interna da mente que distingue entre o que deve ser reprimido e aquilo que pode ser consciente. Entretanto, a censura precisa ter consciência daquilo que precisa ser reprimido para não estar a par dele. Ora, se eles revelam consciência de seus pecados implicando no desejo de purificação através da confissão pública, da resignação e da exposição de seu sofrimento, também é plausível julgar que é consciente o sentimento que apenas se oculta no pretexto de redenção. Além disso, ainda é aceitável supor um instigante desejo de serem admirados por seus grandes arrependimentos, pelos seus contundentes sacrifícios e penitências. Dado o argumento, suas ações não se confirmam inteiramente inconscientes, já que suas consciências mostram-se necessariamente transparentes para si, não obstante, seus atos tornam-se intencionais, escolhidos, e de inteira responsabilidade.
Portanto, quando se questiona se a abnegação, o altruísmo e o ascetismo podem ser constituídos da mesma essência da crueldade, ou se essas ações podem se revelar como efeito dela, sob o aspecto da autopunição que se configura com crueldade psíquica, faz-se necessário, portanto, se levar em conta o grau de intencionalidade dessas ações. Interessa lembrar que frente a qualquer ação, o sujeito, em algum nível, está consciente o suficiente para realizar seus propósitos, em algum plano este sujeito escolhe o que pode vir claramente a sua consciência ou a forma de concretizar seus objetivos. É possível considerar a consciência dos personagens quanto à realização de seus atos, visto que tais atitudes dissimulam uma ênfase na negação de si mesmo, orientada pela capacidade de negar os próprios interesses. Entretanto, segue-se que, alguns atos de benevolência, realizado sob determinado intuito e por alguns indivíduos, podem ocultar em seu cerne elementos de autocrueldade para se chegar a um determinado fim.
Um argumento a favor da inconsciência consistiria, para os casos analisados, no Superego, órgão da repressão da mente que faz a censura dos impulsos que a sociedade e a cultura proíbem, impedindo o indivíduo de satisfazer plenamente seus instintos e desejos. Muito embora, à primeira vista, este argumento seja bastante atraente, sobretudo porque consiste na teoria psicanalítica de Freud e também por se equivaler às partes da alma platônica, faz-se necessário considerar que somos responsáveis por nossas emoções, pois há maneiras de as escolhemos para reagirmos frente ao mundo. Convém destacar que não se quer negar tais teorias, mas evidenciar propósitos conscientes da remissão através dos atos de arrependimentos que acabam por implicar, portanto, na inter-relação crueldade/benevolência.
As ilusões ou imaginações impressas pelo autor na personalidade de seus personagens, sobre o que eles poderíamos ter sido, ou sobre o que não deveriam ter sido, conferem a estes, decepções auto-infligidas que fazem com que eles procurem agir de modo diferente e assim busquem desenhar um retrato diverso deles mesmos, mesmo que para isso tenham que conferir a si dores e sofrimentos. Assim Guimarães Rosa demonstra que há sempre uma possibilidade de mudança, de começar a fazer um tipo diferente de escolha revelando que temos o poder de nos transformar indefinidamente e de forma consciente, com propósitos e objetivos sem contudo, ter que usar "o inconsciente" como desculpa para nosso comportamento. Quando alguém precisa ser admirado por seu arrependimento, como Mutema, ele é consciente o bastante para saber identificar-se e se definir pelos fins que busca. Também, quando se quer remir-se de algo como Matraga, o conhecido "Censor" ou “Superego” de Freud deve estar consciente nele para saber o que reprimir. E mesmo na frustração que sofre, a Mula Marmela sabe que é ela quem se decepciona, daí autocondena-se com sacrifícios.
Portanto, ao se saber que uma pessoa é essencialmente uma unidade, e não somente um aglomerado de desejos ou hábitos sem relação, sabe-se também que existe para cada propósito uma escolha essencial por um papel ou plano de vida que dá o significado de qualquer aspecto específico de seu comportamento. Por fim, tanto um comportamento cruel ou autocruel pode apresentar feição de benevolência, quanto uma benignidade pode abafar uma pulsão de ferocidade.
BIBLIOGRAFIA
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[1] DERRIDA, J. Estados da Alma da Psicanálise, Ed Escuta, 2001, p.74.
[2] RODENFIELD. Kathin holzermayr. Grande Sertão: Veredas. Roteiro de Leituras. Rio de Janeiro:Topbook, 2008.
[3] ROSA, João Guimarães, A hora e vez de Augusto Matraga. In: Sagarana. Rio de Janeiro: Record, 1984 p. 109.
[4] Op. 119.
[5] Op. cit. p.118.
[6] ROSA, João Guimarães, A hora e vez de Augusto Matraga. In: Sagarana. Rio de Janeiro: Record, 1984 105p. 119.
[7] NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.