Abandono do tabagismo

Por Kassio Henrique Rodrigues Correa | 08/12/2010 | Saúde

1. INTRODUÇÃO


O tabagismo representa na atualidade o mais sério problema de saúde pública que a maioria dos países enfrenta, por seus efeitos comprovados no surgimento e agravamento de dezenas de doenças. O fumo é fator de risco para as quatro principais causas de morte em todo o mundo, entre elas, doença cardíaca, pulmonar obstrutiva crônica, câncer e acidente vascular cerebral. O tabagismo é considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a principal causa de morte evitável em todo o mundo.
Segundo estatísticas da OMS estima-se que 1/3 da população mundial adulta (1 bilhão e 200 milhões de pessoas) seja fumante, e que de toda a população masculina, 47% seja tabagista, enquanto na população feminina este índice é de 12%.
A cada dia, cerca de 100 mil jovens começam a fumar no mundo e 80% deles vivem em países em desenvolvimento. No Brasil, vários fatores contribuem para a experimentação e a iniciação do tabagismo entre jovens. O cigarro brasileiro é um dos mais baratos do mundo, os baixos preços dos cigarros representam um elemento facilitador do acesso e, assim, da experimentação e da iniciação no tabagismo. O mercado ilegal de cigarros (contrabando e falsificação) coloca no mercado cigarros ainda mais baratos do que os vendidos no mercado legal (INCA, 2008).
Toda e qualquer ação dirigida ao controle do tabagismo deve ter um foco muito além da dimensão do indivíduo, buscando abarcar tanto as variáveis sociais, políticas e econômicas que contribuem para que tantas pessoas ainda comecem a fumar, quanto os fatores que aqueles que se tornaram dependentes parem de fumar e se mantenham abstinentes (CALVACANTE, 2005).
Mesmo sendo o segundo maior produtor e o maior exportador de tabaco, o Brasil tem conseguido desenvolver ações para controle do tabagismo fortes e abrangentes Cavalcante, 2005 apud (AMERICAN CÂNCER SOCIETY, 2003).
Devido ao novo entendimento do vício tabágico e ao surgimento de novas drogas, as possibilidades de sucesso nas tentativas de abandono do fumo aumentaram significativamente. Os institutos especializados recomendam que todos os pacientes que pretendem parar de fumar comecem a participar de programa de apoio ao abandono do tabagismo, pois esta não é uma decisão simples e abrupta.
Pesquisas mostram que cerca de 80% dos fumantes querem parar de fumar. No entanto, apenas 3% conseguem a cada ano, e a maioria desse grupo pára sem ajuda. Esse dado é indicador da capacidade da nicotina causar dependência, pois, provavelmente, os que têm baixa dependência são os que mais conseguem parar de fumar sem um tratamento formal. Também é um indicador de baixo acesso dos fumantes aos avanços no campo da cessação de fumar, que chegam a aumentar as taxas de cessação de 3% para 20% a 30% por ano (INCA, 2001).
A diminuição de 50% no consumo da nicotina pode desencadear sintomas de abstinência nos indivíduos dependentes: ansiedade, irritabilidade, distúrbios do sono, aumento do apetite, alterações cognitivas e fissura pelo cigarro (BALBANI, 2005).
O Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT) articula em média um conjunto de ações de caráter educativo, de atenção à saúde, legislativas e econômicas para prevenir a iniciação do consumo, promover sua cessação e proteger a população dos riscos do tabagismo passivo (INCA, 2008).
A motivação para o abandono do tabagismo precisa ser trabalhada e aprimorada por cada profissional de saúde junto ao paciente (COSTA, 2006).
Mesmo tendo diversas ações e campanhas sobre o abandono do tabagismo pouco se sabe sobre as motivações para o abandono do tabagismo. Os profissionais de saúde precisam discutir com os tabagistas sobre as dificuldades para abandono, fatores que levam a recaída, bem como ações que motivem os indivíduos a permanecerem abstinentes.
O conhecimento sobre as motivações para o abandono do tabagismo pode contribuir para que os profissionais de saúde adquiram mais condições para influenciar positivamente a mudança de comportamento dos indivíduos que querem abandonar o tabagismo.

2. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de natureza descritivo,, elaborado pelo modelo de revi~sao bibliografica, com abordagem quali-quantitativa. A pesquisa foi realizada no período de 1999 a 2009. foram realizadas buscas nas bases de dados: Scielo, Bireme, Lilacs, para esses periódicos, para isso foram utilizados os seguintes descritores: Enfermagem,tabagismo, fatores de abandono.


3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O tabagismo era praticado em todas as suas formas, por diversas culturas indígenas espalhadas pelo continente americano. Durante os rituais sagrados, o sacerdote, cacique ou pajé entrava em transe aspirando ao fumo do tabaco. A este eram atribuídos poderes maravilhosos, mágicos, que fortaleciam os ímpetos guerreiros, além de predizer o futuro. Muitas tribos utilizavam o tabaco como medicamento, na cura de todos os males, acreditando tratar-se de uma erva feiticeira. Quando os europeus descobriram as Américas, encantaram-se com o tabaco, levando suas sementes para a Europa. Jean Nicot, um embaixador francês, foi reconhecido como o primeiro divulgador da planta do tabaco, a qual recebeu o nome de Nicotiana tabacum em sua homenagem. Atualmente o valor arrecadado, por meio de impostos e taxas sobre o cigarro, não supera os prejuízos com assistência médica às doenças crônicas provocadas pelo tabaco (DF, Secretaria de Saúde, 2006).
De acordo com o INCA o tabagismo é amplamente conhecido como uma doença resultante da dependência de nicotina, que obriga os usuários dos produtos de tabaco a se exporem continuamente à cerca de 4.720 substâncias tóxicas e, assim a contraírem outras doenças limitantes e fatais.
O cigarro mata mais que a soma de outras causas evitáveis de morte como cocaína, heroína, álcool, incêndios, suicídios e AIDS, nos países desenvolvidos. Não se pode esquecer que 2/3 da população está em países pobres e, nesses, a fome e a desnutrição são a principal causa de morte também evitável (ARAÚJO, 2004)
O tabaco corresponde por 40% a 45% das mortes por câncer, 90% a 95% das mortes por câncer de pulmão; 75% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica; 20% das mortes por doenças vasculares e 35% das mortes por doenças cardiovasculares entre homens e mulheres de 35 a 69 anos (COSTA, 2006).
A cessação do tabagismo leva a redução significativa da mortalidade e morbidade associadas a este hábito. Há uma grande redução do risco de doenças cardiovasculares e neoplásicas (COSTA, 2006).
Portanto, é sob a ótica da promoção da saúde que, desde 1989, o INCA, órgão do Ministério da Saúde responsável pela Política Nacional de Controle do Câncer, coordena as ações nacionais do Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT), desenvolvidas em parceria com as secretarias estaduais e municipais de Saúde e de vários setores da sociedade civil organizada, sobretudo, das sociedades científicas e de conselhos profissionais da área da saúde. Com objetivo de reduzir a prevalência de fumantes e a conseqüente morbi-mortalidade, relacionada ao consumo de derivados do tabaco no Brasil, o Programa tem investido em ações para reduzir a iniciação do tabagismo entre jovens, promover a cessação do hábito de fumar e reduzir a exposição á fumaça ambiental do tabaco (INCA, 2008).
O reconhecimento de que a epidemia do tabagismo é um problema de saúde pública globalizado, que transcende fronteiras de países, e que existem medidas intersetoriais comprovadamente efetivas para controlar a sua expansão e de que a eficácia dessas medidas depende de uma ampla cooperação internacional levou a 49a Assembléia Mundial da Saúde, realizada em maio de 1996, a adotar uma resolução voltada para a elaboração do primeiro tratado internacional de saúde pública, à Convenção Quadro para Controle do Tabaco (CQCT) da OMS. Esse tratado foi negociado durante quatro anos por 192 países, entre 1999 e 2003. Em maio de 2003, o texto final da Convenção foi aprovado, por consenso, durante a 56ª Assembléia Mundial da Saúde. Entrou em vigor em fevereiro de 2005, depois que 40 países ratificaram a adesão ao Tratado (CALVALCANTE, 2005).
Ao ratificarem a CQCT, os Estados Partes assumem o compromisso da construção de uma Agenda de Estado com vistas à implementação de medidas legislativas, executivas, administrativas e/ou outras medidas adequadas para prevenir e reduzir o consumo de tabaco, a dependência da nicotina e a exposição à fumaça do tabaco, além de cooperar com outros Estados Partes na elaboração de políticas, protegendo estas dos interesses comerciais da indústria do tabaco (INCA, 2008).
O PNCT articula diferentes tipos de ações como: capacitação de profissionais de saúde e financiamento de ações voltadas para a abordagem e tratamento do fumante na rede do Sistema Único de Saúde (SUS), elaboração de um Consenso Nacional sobre métodos eficazes para cessação do tabagismo, divulgação desses métodos através de campanhas, da mídia, e de eventos dirigidos a profissionais de saúde e implementação do Disque Pare de Fumar com inserção do número desse serviço nas embalagens dos produtos derivados de tabaco ao lado de advertências sanitárias contundentes (INCA, 2004).
As ações educativas dividem-se em pontuais e contínuas. As ações pontuais envolvem campanhas: Dia Mundial sem Tabaco, Dia Nacional de Combate ao Fumo e Dia Nacional de Combate ao Câncer, que têm como perspectiva comum a sensibilização e informação da comunidade e as lideranças em geral sobre o assunto, bem como a divulgação através da mídia e a realização de eventos como congressos, seminários e outros para chamar a atenção de profissionais de saúde sobre o tema. As ações contínuas objetivam manter um fluxo contínuo de informações sobre prevenção do câncer, tanto em relação ao tabagismo como aos demais fatores de risco de câncer. Considera-se que culturas e hábitos são passíveis de mudança somente a longo prazo. Portanto, essas ações utilizam canais para alcançar a comunidade de forma contínua e dentro da realidade de sua rotina. Dessa forma, através da realização de atividades sistematizadas em subprogramas dirigidos aos ambientes de trabalho, escolas e às unidades de saúde, o tema é inserido nas rotinas desses ambientes (INCA, 2008).
Desde 2000, a propaganda de produtos de tabaco e proibida em revistas, jornais, televisão, rádio, outdoor, e internet. E em 2003 foi proibido o patrocínio de eventos esportivos, além disso, as indústrias de tabaco foram obrigadas a inserirem mensagem de advertência.
Em agosto de 2008 foi divulgado estudo sobre a Mortalidade atribuível ao tabagismo passivo na população brasileira, realizado por pesquisadores do INCA e do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ, pelo menos 2.655 não-fumantes morrem a cada ano no Brasil por doenças atribuíveis ao tabagismo passivo. A maioria das mortes ocorre entre mulheres (60,3%). O ar poluído contém, em média, três vezes mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono, e até cinqüenta vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que entra pela boca do fumante depois de passar pelo filtro do cigarro (INCA, 2008).
O Dia Nacional de Combate ao Fumo é comemorado no dia 29 de agosto e neste ano teve como objetivo reforçar as ações nacionais de sensibilização e mobilização da população brasileira para os danos sociais, políticos, econômicos e ambientais ocasionados pelo tabaco. O tema Escolhido foi "Ambientes 100% Livres de Fumo: um direito de todos", com o propósito de promover o conhecimento dos malefícios da fumaça ambiental do tabaco e a necessidade de alteração da Lei Federal nº 9294/96, que proíbe o fumo em ambientes coletivos fechados, mas ainda permite áreas reservadas para fumar, que não impedem o contato com a fumaça de produtos do tabaco. Além disso, é importante que o conceito seja um estímulo para a criação de decretos locais, com preceitos similares à Lei Federal, o que, inclusive, já vêm acontecendo em diversos municípios brasileiros (INCA, 2008).

4. RERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ARAÚJO, A.J.;MENEZES, A.M.B., DÓREA, A.J. P.S. et al. Diretrizes para Cessação do Tabagismo. J. Bras. Pneumol., Aug. 2004, vol.30 suppl. 2, p.S1-S76. ISSN 1806-3713.


BALBANI, A.P.S.; MONTOVANI, J.C. Métodos para abandono do tabagismo e tratamento da dependência da nicotina. Rev. Bras. Otorrinolaringol. V.71, N.6, 820-7, nov/dez. 2005.


BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Instituto Nacional do Câncer ? INCA. Abordagem e Tratamento do Fumante. Consenso. Rio de Janeiro: INCA, 2001.


BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Instituto Nacional do Câncer. INCA. O Manual de Orientações do Dia Nacional de Combate ao Fumo ( 29 de Agosto )" Ambientes 100% Livres de Fumo: um direito de todos", Rio de Janeiro: 2008.


BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Instituto Nacional do Câncer - INCA. Manual de Orientações Dia Mundial Sem Tabaco 2008. Juventude Livre do Tabaco. Rio de Janeiro: 2008.


BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Instituto Nacional do Câncer - INCA. Plano de Implantação da Abordagem e Tratamento do Tabagista na Rede SUS, 2004.


BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Instituto Nacional do Câncer ? INCA. Manual de Orientações para Comemoração do Dia Mundial Sem Tabaco 2004,
Tabaco e Pobreza Um Círculo Vicioso. Rio de Janeiro, 2004.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Instituto Nacional do Câncer - INCA. Atualidades em tabagismo: INCA divulga estimativa de mortalidade de não-fumantes expostos à fumaça do tabaco, em 29 de agosto de 2008. Disponível em: http://www.inca.gov.br/tabagismo/frameset.asp? Item = atualidades&link = lista.asp
Acesso em 06 de setembro.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Instituto Nacional do Câncer. Disponível em: http://www.inca.gov.br/tabagismo/frameset.asp?item=dadosnum&link=mundo. htm. Acesso em : 06 de Agosto de 2008.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Instituto Nacional do Câncer. Disponível em: http://www.inca.gov.br/tabagismo/frameset.asp?item=cquadro3&link=perguntas.htm. Acesso em 06 de Agosto de 2008.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Instituto Nacional do Câncer. Disponível em:
http://www.inca.gov.br/tabagismo/frameset.asp?item=dadosnum&link=brasil. htm. Acesso em 06 de Agosto de 2008.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Instituto Nacional do Câncer. Disponível em:
http://www.inca.gov.br/tabagismo/programa/inicial.asp?pagina=introducao.htm&item=programa Acesso em 06 de agosto de 2008.


CAVALCANTE, T.M. O controle do tabagismo no Brasil: avanços e desafios. Rev. Psiquiatr. Clín., set./out. 2005, vol.32, no.5, p.283-300. ISSN 0101-6083.

COSTA, A.A.; FILHO, J.E.; ARAÚJO, M.L.; et al. Programa Multiprofissional de controle do tabagismo: aspectos relacionados à abstinência de longo prazo. Revista da SOCERJ ? set/out. 2006.

Governo do Distrito Federal, Secretaria de Estado de Saúde. Histórico do tabagismo, (11/ 01/ 2006). Disponível: http://www.saude.df.gov.br/003/00301009.asp?ttCD_CHAVE=23267
Acessado em 06 de setembro de 2009.


LAKATUS, E.M.;MARCONI, M.A. Fundamentos de Metodologia Científica/ 6ª Edição ? São Paulo: Atlas 2005.

MINAYO, M.C.S. (Org) Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade Petrópolis: Editora Vozes, 1994.