A VOZ E O PARKINSON (Givas Demore)

Por azul cèu | 25/05/2015 | Arte

 A VOZ E O PARKINSON

Por Givas Demore[1]                  

A voz, além de ser um meio de comunicação indispensável às interações sociais do ser humano, também  revela a pessoalidade de cada um e nos faz externar nossos sentimentos. É sabido que para a sua produção há um trabalho do sistema nervoso,   articulatório, respiratório, fonatório e de músculos, ligamentos,   cartilagens e ossos.

Todos os indivíduos a medida que envelhecem vão sentido os efeitos do tempo em seu organismo. Naturalmente há um "desgaste" de toda a estrutura física.  Esse processo de "desgaste" dos órgãos é algo natural e compreensível.  Não vivemos para sempre, não é? Mas e quando o indivíduo é acometido por uma rigidez, por um enrijecimento muscular que envolve todos os músculos. Hum... Sem dúvida nós estamos falando de uma pessoa acometida pela doença de Parkinson. Infelizmente no Parkinson esse desgaste é  fisiopatológico e faz com que os essas "limitações" apareçam mais cedo.

O que podemos dizer da voz do parksoniano?  É uma voz boa, saudável, emitida sem esforço, sem dificuldade? Antes de responder a esta pergunta precisamos analisar o conceito de voz boa, voz eufônica!  De acordo com a prof. Drª Mara  Behlau (2001)  a eufonia ocorre quando o som é produzido de forma natural, emitida sem  esforço e sem dificuldade. Como dito anteriormente a voz naturalmente vai sofrendo com o passar do tempo e é padrão do ser humano em sua velhice o envelhecimento das cartilagens, dos músculos e de toda  estrutura fonatória. Esse procedimento/processo torna a voz naturalmente rouca em todas as pessoas de idade, por exemplo. No Parkinson, seja pela idade avançada, seja pela DP essa qualidade debilitada da voz  se apresenta de forma acentuada de modo que a maioria  dos portadores apresentam pouca ou nenhuma  qualidade vocal.  A Prof. Drª Mara  Behlau (1997), considera a  qualidade vocal dos portadores da DP como rouca, áspera e soprosa.  

Um dos questionamentos mais comuns do parksoniano  é: Por que minha voz é rouca?     por que isso acontece? A resposta é bem simples:  A falta de fechamento glótico completo das pregas vocais  é ocasionado pela rigidez nas estruturas do sistema vocal e impede que ocorra  a vibração total das pregas vocais. A doença afeta diretamente a forma de produção, os parâmetros do som  e a percepção da voz. Verifica-se que quando um portador da DP é submetido a uma videolaringoscopia, suas  pregas vocais não se fecham corretamente na produção do som. Não há uma boa adução das pregas vocais.  O resultado dessas alterações pelo Parkinson  são descontrole da fala, falta de articulação, falta de tonicidade muscular no controle respiratório, pausas longas ou gagueira, tessitura vocal limitada, intensidade sonora pobre,  pouca inflexão (monotonia vocal).  

Cabe ainda  destacar  que segundo um estudo realizado pela prof. Drª Luciana Azevedo (2003) foi observado que  o medicamento utilizado no tratamento da DP atua minimamente sobre a condição vocal. O medicamento não possui efeito curativo considerável.  Esse  estudo, realizado com o objetivo de verificar a prosódia nas parkinsonianas, concluiu que a frequência fundamental foi alterada, mas a tessitura vocal, que é bastante pobre,  e a monotonia da fala nas parkinsonianas não são influenciadas pelo medicamento (levedopa).  

Considerando que a voz é produzida por ação de variados músculos, articulações, ligamentos e cartilagens e que a doença de Parkinson gera uma rigidez em toda a estrutura  muscular e nas  articulações, é muito sugestivo que a voz seja um  dos mecanismos que sofra alterações constantes.   Tais alterações na voz do parksoniano são devido ao enrijecimento que atinge todos aqueles que estão sujeitos ao doença de Parkinson.

Por fim, a condição vocal do parksoniano é objeto de constantes estudos analíticos e empíricos. A assistência  de um fonoaudiólogo é de fundamental importância. Outra ferramenta importante é o canto, especificamente a performance artística por meio do coral, pois através dele  objetiva-se a prática de todos os parâmetros do som (altura, intensidade, timbre e ritmo). Tais parâmetros do som são afetados pela DP e através da prática  coral pode-se  contribuir para a diminuição dos   efeitos do mal de Parkinson  nos portadores.

Referências bibliográficas                               

1. AZEVEDO, L L; CARDOSO, F; REIS, C.- Análise acústica da prosódia em mulheres com doença de Parkinson- comparação com controles normais. Arq. Neuro-Psiquiatr. vol.61 no.4 São Paulo Dec. 2003

2. KNOOP D, PADOVANI M. Voz, Fala e Deglutição. Conhecendo Melhor a Doença de Parkinson. Limongi JCP, São Paulo:  Ed. Plexus, 2001. 164 pág.

 3. ARAÚJO, R.B. PRACOWNIK, SOARES, L.S.D. Fonoaudiologia Atual.  RJ. Ed. Revinter, 1997.

4. BEHLAU M. Voz: o livro do especialista. Rio de Janeiro: vol 1.  Ed. Revinter, 2001: 265-266.



[1] - Músico, compositor, regente e professor de canto. Atualmente está á frente do coral Parkinson da associação Parkinson de Brasília.