A Virtude do Meio Termo

Por Ricardo Valim | 08/08/2010 | Filosofia

Sabe- se que Aristóteles (384 a.C. ? 322 a.C.) era discípulo de Platão e criador da Ética. Caracterizou o homem (Anthropos) como ser racional e político. Seu pensamento influenciou profundamente a Santo Tomás de Aquino (1225 ? 1274) conhecido no meio eclesial como Doctor Communis Ecclesiae.
O pensamento aristotélico é tão presente em Santo Tomás que o filosofo Frances Jacques Maritain (1882 ? 1973) chega a dizer que "Tomás batiza Aristóteles". No sentido, do incorporamento feito por Santo Tomás das idéias de Aristóteles ao Cristianismo, de forma brilhante.
O que conhecemos hoje como virtudes cuja disseminação ? diga-se de passagem ? deve-se ao cristianismo tem como plano de fundo o pensamento aristotélico.
Um exemplo típico é o que Aristóteles em sua obra Ética a Nicômaco chama de "... meio termo entre dois vícios..." e que passado pelas mãos de Tomás de Aquino torna-se o que conhecemos como A Prudência. Aliás, a prudência é tratada mais profundamente pelo Doctoris Angelicus no Artigo VI da Questão XLVII da Summa Teológica.
Se observarmos a prudência seja no pensamento antigo de Aristóteles, na mentalidade Medieval de Tomás de Aquino notaremos que ela, a prudência é ordenante. Ou seja, é ela que deve "iluminar", por assim dizer, o nosso agir. Visto que, é por meio dela que ocorre o equilíbrio no ser humano. Onde de fato, o homem não se torna corajoso demais (o que se torna um perigo), nem covarde demais (outro problema). Mas o individuo assume uma postura, o que foi definido por André Comte-Sponville (1952 -...) como, Temperança em relação ao momento.
Em um mundo cheio de ofertas e procuras é essencial manter uma postura equilibrada. Não se trata de se manifestar como indiferente a realidade corriqueira, pelo contrário é estar vivamente presente e atuante, porém com uma boa dose de equilíbrio e senso de responsabilidade.
Vivemos tempos em que não nos importamos mais com os meios, com os métodos que teremos de fazer para alcançarmos os nossos objetivos finais tão almejados. Tudo se volta para a nossa "felicidade", nem que tenhamos que magoar muitas pessoas, mas se é para produzir felicidade em minha vida, está tudo bem. Esquecemo-nos ou pelo menos fingimos não ver que a caridade, a justiça, a fraternidade e a solidariedade em prol do bem comum devem prevalecer sobre o nosso Ego Sum.
A prudência é, portanto, um saber viver. Onde o homem dotado da mesma assume um autocontrole sobre seus desejos e aspirações. A prudência separa de fato o homem consciente (virtuoso) do alienado que se embriaga nos deleites de projeções futuras, sem qualquer resquício de possibilidade de se concretizar a sua aspiração.
Devemos nos utilizar de nossa racionalidade para o bem, seja para os outros ou para nós mesmos. É perceptível em muitas pessoas ? e principalmente no meio das empresas ? que passam a maior parte do tempo mais preocupadas em "puxar o tapete" dos colegas do que propriamente se esforçando por se aperfeiçoar a cada dia como pessoas humanas. Faz parte de a nossa humanidade ser competitivos, no entanto, não quer dizer que temos maltratar os outros ou trapacear em beneficio próprio, ainda mais quando temos consciência do que é certo.
Quando trapaceamos geralmente o fazemos por que nos causa certo prazer em nós, isso é claro para pessoas que se julgam mais frias, calculistas. E é sempre levado a buscar tais coisas a qualquer custo, diria Aristóteles. Se empanturrar de comida, beber de mais são todas coisas que nos fazem mal e nos tornam cada vez mais inferiores a nossa espécie.
Para Tomás de Aquino a prudência "tem por finalidade o bem humano". É ela que vai determinar o que é necessário escolher e o que se deve ser evitado, dirá Comte-Sponville.
Sendo em nossas vidas equilibrados chegamos com segurança aos nossos objetivos, sem necessidade de "pisar" nos outros, nem muito menos entramos em desespero diante dos imprevistos da vida.
Mais do que saber que devemos aprender é preciso saber que também aprendemos com os outros e que não somos os donos de toda a verdade. Isso é um tipo de moderação interior, um pequeno exercício silencioso em nosso coração. Um exercício mais escancarado sobre isso se percebe nos escritos de Platão, onde se percebe a vida de um Protofilóso (filosofo anterior), Sócrates. Sócrates (469?399 a.C) que perambulava pelas ruas de Atenas perguntando as pessoas o que elas entendiam por verdade, justiça etc. Através desse processo conhecido como Maiêutica (parto intelectual) as pessoas "acuadas" nos questionamentos percebiam então que pouco ou nada sabiam e isso fazia com que elas se interessassem em descobrir novas coisas.
Ser cauteloso é estar com os sentidos aguçados dia a pós dia seja no trabalho, na família ou em qualquer outro lugar. Deste modo estamos sempre de prontidão para enfrentar os desafios que a vida nos impõe.
Buscar a felicidade é o nosso dever como seres humanos. No entanto, só felicidade com ausência de dor não existe. Também somente a dor sem felicidade não pode existir.
Enfim, todos nós somos filhos do prazer e da dor e pensar que um dia existirá uma sociedade anestesiada é alienante.


Referências Bibliográficas:
AQUINO, Tomás. Suma de Teologia. Tradutor: Alexandre Correa. Caxias do Sul: Co-edição, 1980.
COMTE-SPONVILLE, André. Pequeno Tratado das Grandes Virtudes. Tradutor: Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
VALLANDRO, Leonel; BORNHEIM, Gerd. Aristóteles II: Ética a Nicômaco. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979.


Referências Virtuais:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Aristóteles
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sócrates
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tomás_de_Aquino
http://pt.wikipedia.org/wiki/André_Comte-Sponville