A "violência" Midiática - Ilusão E Consumismo

Por Paula Patrícia Santos Oliveira Martins | 14/09/2007 | Educação

A "Violência" Midiática - ilusão e Consumismo

O mundo se depara com uma nova realidade, uma nova ordem mundial, o fenômeno da globalização. Assiste-se ao advento de uma sociedade global em que a ordem é consumir. Neste sentido, para que possa, além de manter a ordem vigente estabelecida, alcançar maiores índices de audiência, a mídia, por diversas vezes, recorre a elementos afinados com a lógica sensacionalista, do espetacular, do grotesco, do violento.
Nessa (ir)realidade, o espetáculo, o conflito e o superficial entram em cena. Segundo Bourdieu (1997: 23), as notícias de variedades, por exemplo, produzem a despolitização social, reduzindo a vida do planeta "à anedota e ao mexerico", típicos da "imprensa poubelle" ou "imprensa people" (Ramonet, 1999: 12). Elas agem "fixando e prendendo a atenção em acontecimentos sem conseqüências políticas, que são dramatizados para deles ?tirar lições?, ou para os transformar em ?problemas da sociedade".
Dependendo do "cardápio", apresentado aos telespectadores, um telejornal pode formar mentes similares a do "analfabeto político", de Brecht. Ao que parece, hoje, os media e, em especial a televisão, vão além das cercas e muros das casas, pois isso é notícia. Para eles (os media), as fofocas ou a distorção contam mais que a informação e a veracidade dos fatos. Por vezes, instaura-se a "estética do grotesco" (Sodré, 1972). O espetáculo (difundido pelos meios de comunicação) mantém a ordem vigente, ou seja, "constitui o modelo atual da vida dominante na sociedade". "O espetáculo que inverte o real é efetivamente um produto" (Debord, 1997: 14-15).
Segundo Silva (2000: 40), "a lógica do Fait Divers (notícia sensacionalista) é o mais cristalino reflexo deste final de século de derrisão: tudo deve ser leve, fácil, claro, cartesiano. Negação do avanço do saber, o qual não se cansa de demonstrar o contrário. Saber cansa".
O Fait Divers implica reflexões superficiais, e mostra, ao mesmo tempo que oculta (Bourdieu, 1997: 24), buscando única e exclusivamente a emoção gratuita. Livre da substancialidade, logo, o consumidor transforma-se num mero colecionador de ilusões, onde o espetáculo é a palavra de ordem. Para Debord (1997: 138), "o discurso espetacular faz calar, além do que é propriamente secreto, tudo o que não lhe convém. O que ele mostra vem sempre isolado do ambiente, do passado, das intenções, das conseqüências. É, portanto, totalmente ilógico".
Possuindo um consumo imediato, e provido de um caráter atemporal, "o ?Fait Divers?, em suas diferentes manifestações, é utilizado, na mídia, com diversas abordagens. Aparece no tratamento da realidade e da ficção, seja nas telenovelas, nos telejornais, nos ?talk shows?, nos programas humorísticos, no noticiário da imprensa e na publicidade" (Ramos, 1999).
Juntos, os meios de comunicação e o Fait Divers independem de estilo jornalístico, e mostram, ao invés de demonstrar, informar com veemência e aprofundamento, os fatos do dia, pois priorizam a superficialidade, com base no emocional (Ramos: 1999).
Norteando essa realidade através da Pedagogia crítica de Kellner (2001), observa-se, no horizonte social, um cenário permeado pela lógica globalizante, em que a ordem é consumir. Neste cenário, assiste-se, na mídia, uma verdadeira corrida desenfreada pelo maior índice de audiência, onde as informações substanciais seriam deixadas de lado, num processo de tentativa, pelo menos, de congelar as estruturas mentais receptoras fortalecendo, assim, a ideologia vigente.
Assim, a cultura produzida pela mídia promove articulações com o sistema vigente no sentido de reforçar a homogeneização das identidades. Baudrillard (1997: 80) afirma: "Por trás de cada informação, um acontecimento desapareceu; sob a cobertura da informação, um a um os acontecimentos nos são retirados". Assim, o mundo atual se depara com um processo de "ofuscamento do saber", a "falsa clareza", de Adorno e Horkheimer. Vivencia-se o chamado "efeito paravento", de Ramonet (1999: 31) ? onde um evento desbota outro ?, o "ocultar mostrando", de Bourdieu (1997: 24) ? em que a realidade é mostrada de forma distorcida, mascarando alguns elementos.
O campo discursivo abriga, em seu cerne, portanto, os produtores de informação, a mediação desta, a recepção e determinados efeitos. Na ação social, a cultura da mídia televisiva promove uma subjetividade imposta com calibre sensacionalista. De forma implícita ou explícita, a "violência" está sempre presente.
Destarte, a mídia respira sob a égide capitalista e promove a "violência". Com o objetivo de manter o status quo, detectam-se, no dia-a-dia, várias formas de "violência" midiáticas, as quais acarretam um pensar fragmentado, efêmero, volátil, em perfeita sintonia com os ditames da indústria cultural.
No telejornalismo, por exemplo, percebe-se claramente a ausência das questões básicas de um lide jornalístico, a saber: "quem fez o quê?", "quando?", "onde?", "como?", "por quê?", "com que meios?", "em que circunstâncias?", e "quais são as conseqüências?". Ocorre, portanto, a primazia do "o quê?", do "quem" sobre o "como?" e o "por quê?". Esta carência de informação leva a informações descontextualizadas, por vezes sem nexo. Conforme exposto anteriormente, a superficialidade reina absoluta também nas telenovelas, programas de variedades, na publicidade etc.
Como foi dito antes, nesse processo de banalização da informação, é óbvio que os receptores não reagirão da mesma maneira frente a uma notícia. Há muito não se pode considerar a máxima franfurtiana do receptor passivo. No entanto, a questão é outra: acima de todo e qualquer interesse, seja ele social, político, econômico, cultural ou ideológico, as informações transmitidas pelo emissor devem primar única e exclusivamente pela verdade e a ética. As revelações de meias verdades, embora não possam ser consideradas mentiras absolutas, distorcem fatos e prejudicam imagens, alcançando, por vezes, o mesmo efeito de uma notícia falaciosa. Na busca pelo lucro e a audiência, a cultura midiática é comercial. Numa realidade em que consumir é a palavra de ordem, a produção da mídia consiste em mercadorias a serviço dos grandes conglomerados da comunicação.