A vida que vale apena ser vivida - Filosofando com Professor Clovis de Barros Filho
Por Rabim Saize Chiria | 10/12/2017 | FilosofiaRabim Saize Chira
Saizemmm@gmail.com
Licenciado em Filosofia Pela Universidade Eduardo Mondlane; Moçambique
A VIDA QUE VALE A PENA SER VIVIDA – FILOSOFANDO COM PROFESSOR CLOVIS DE BARROS FILHO
Desde que o homem pensa para a viver, a pergunta sobre a vida boa é mais importante. Em relação a essa pergunta todas as outras são secundárias, senão meio ridículas. No entanto, a reflexão sobre a vida boa atravessa os séculos. Por exemplo lá na mitologia Úmero escreveu a odisseia, neste caso, a odisseia é aventura de Ulisses. Pois, Ulisses é nosso herói e a odisseia é a sua aventura. Ulisses era rei em Ítaca, e foi convidado para participar duma guerra dos Gregos contra Troa. Porque dessa guerra? O príncipe de Troa pegou a mulher do rei de Esparta, Menelau. A mulher era Helena, o príncipe de Troa impiedosamente a seduziu, então Minelau atravessado pelo Ciúme declara guerra e convoca todos os gregos para se juntarem a ele.
Ulisses não queria guerra, pois ele vivia em Ítaca com a sua mulher Penélope. Ulisses era um rei bom, um rei que era aplaudido por onde passava. Porém, Minelau constrangeu todos os reis gregos para participarem dessa vingança contra os troianos. Neste contexto, a permanência de Ulisses na Guerra foi de 10 (dez anos), e durante esse tempo os troianos estavam ganhando a guerra, e o Ulisses teve a ideia popularmente já conhecida, “Cavalo de Troa”. Ulisses encheu o cavalo de Troa de soldados e deu de presente à Troa. Os troianos encheram a cara comemorando a vitória, e, consequentemente, os gregos desceram do cavalo e ganharam a guerra.
Ulisses então volta para casa, foi condecorado herói, mas durante a guerra Ulisses fez uma asneira, ele furou o olho do Ciclópepolifemo, filho de Posseindom Deus dos mares. E o cíclope só tinha um olho. Posseindom, então aborrecido resolve castigar Ulisses, onde o qual levou 10 (dez anos) para voltar para casa. Dos dez anos que Ulisses levou para voltar para casa, 7 (sete anos) foi passar na ilha de calípso. Calípso era uma Deusa grega.
Ora, Calípso se apaixonou por Ulisses, mas toda a noite Ulisses ia para praia para chorar de modo a voltar para sua amada Penélope em Ítaca. E por consequência, Zeus manda que Calípso liberte Ulisses. Zeus era Deus dos Deuses. Só para brincar, “Calípso era Deusa de quinta”. E Calípso olhou para Ulisses e disse o seguinte: eu tenho que te liberar, contudo, se você ficar comigo vou-te dar uma vida eterna e a juventude. Isto o que significaria virar Deus, porque Ulisses era humano e mortal. E Calípso estava propondo a ele uma eternidade, mas com uma cautela, porque não basta viver eternamente enquanto envelhece. No entanto, Calípso propôs à Ulisses a eternidade e a juventude. E Ulisses tinha resposta na manga, neste caso, a primeira resposta que Ulisses deu é a respostas da Filosofia sobre a vida boa. “É preferível uma vida de humano vivida no lugar certo, do que uma vida de Deus no lugar errado! Agradeço a sua proposta.” Dalí, Ulisses se foi.
Entretanto, aqui está a grande lição do pensamento ocidental. Pois existe um lugar certo para o homem, um jeito certo de viver que tem a ver com a sua natureza, que tem a ver com as suas especifidades, talentos, dons naturais. Se você estiver no lugar certo, a vida tem tudo para ser boa, se você estiver no lugar errado, a vida tem tudo para dar errado.
Neste artigo é justamente aqui onde a Filosofia começa! O que a vida tem que ter para valer a pena? E o primeiro grande pensador a responder essa questão é Aristóteles (350 ac). Pois, segundo Aristóteles, o que o homem deve buscar desde o seu nascimento até a morte é a sua própria excelência. Ou seja, o homem deve buscar a excelência de si mesmo. Assim, cada um tem seus talentos. Um pequeno desenhista buscará o talento no desenho, o cantor buscará a excelência no canto. Neste caso haverá quem tem talentos para cálculos matemáticos, haverá quem tem talentos para a venda, haverá quem tem talentos para o convencimento, outros tem talentos para a explicação, tornar ideias complexas em discursos simples.
Portanto, descobrindo os seus talentos, o homem viverá feliz, neste caso, cada homem tem que buscar a excelência, porque a excelência é a condição para a felicidade, a felicidade que os gregos denominavam de Eudaimonia. E quando você não descobre os seus talentos, sempre pode dar errado, você pode passar toda vida inteira sem saber o que a natureza esperava de você, com efeito, você tenderá a viver de qualquer jeito e a vida passa a ser medíocre, menos perfeita, menos espectacular, e portanto, sem graça.
Ora, Nietzsche um Filósofo do século XIX que escreveu uma obra complicadíssima, intitulada “assim falava Zaratustra”, nessa obra tem umas palavras que se aproximam a este tema em debate. O filósofo dizia o seguinte: "demore o tempo para perceber o que você quer da vida, pois percebendo do que quer da vida não recue nenhum pretexto porque não faltam no mundo quem queira te dissuadir". Essas palavras enfatizam esta primeira reflexão de pensamento, a reflexão de que existe um lugar para o homem, visto que, cada homem tem uma natureza que é só dele, e descobrindo qual é a sua praia, você viverá feliz. A vida feliz é possível, pois é só descobrir os seus talentos, ou seja, desenvolver para o mundo em forma de performance aquilo que o mundo te deu em potencialidade, em forma de talentos, em forma de recursos natural. Portanto, este é o primeiro ponto deste tema.
No entanto, este pensamento foi pouco a pouco substituído por um outro, ou seja, por um outro jeito de pensar a vida, o homem e universo. E este outro jeito também tinha um grande líder, o grande mestre espiritual, chamado Jesus. Jesus nasceu em Nazaré (350 anos depois de Aristóteles). Aristóteles era grego estudou na academia de Platão e Jesus se formou no judaísmo, Aristóteles tornou-se um subversivo na academia, Jesus tornou-se um subversivo no judaísmo, Jesus disse coisas que ninguém tinha dito antes, e Jesus grande sábio que era, respondeu a pergunta inerente ao tema. O que a vida tem que ter para valer a pena? A resposta de Jesus vigora até hoje, por mais que vivamos em sociedades de culturas cristã, a resposta de Jesus quando anunciada com clareza produz extraordinários impactos no espírito de quem houve.
Entretanto, segundo Jesus, a vida que vale a pena a ser vivida é a vida assumidamente dedicada ao outro. Isto é a absolutamente incrível e assustador, sobretudo para quem está a costumado em ouvir que o sucesso para a vida tem a ver com o seu próprio ganho, com sua própria riqueza, com o seu próprio conforto, com o seu próprio poder. Jesus dirá mais ou menos o contrário. Aquilo que fará o homem vivente feliz é a entrega, é permitir que o outro viva melhor do que viveria se você não existisse, é permitir que o outro sorria um sorriso que se você não fosse ele não sorriria, é permitir que o outro sinta alegria que se você não estivesse, ele não sentiria, e aí sim, você terá vivido uma vida boa. Esta é a lição de Jesus. Portanto, segundo Jesus, o a mor é que mais vale do que a própria vida.
Este exemplo de Jesus encontra abrigo em situações de afectos familiares, mas no mundo das empresas e de trabalho pode não ter espaço. Contudo, esta posição é discutível, tem-se por exemplo professores que fazem tudo para o aluno, independentemente do salário, eles fazem tudo para o bem do aluno, pois é ele quem apreende. A título de exemplos, todas as demais profissões podem ser assim. Portanto, pode-se inferir que “trabalhar é quebrar o galho de alguém com conhecimento de causa e com formação,” “com métodos”.“Trabalhar é quebrar o galho de alguém com protocolo”. “Feliz daquele que consegue enxergar na alegria do outro o resultado das suas acções”, “do seu investimento”, “da sua dedicação e do seu empenho.”
Portanto, é evidente que alguém que trabalha com maior valor de felicidade que é a segurança, tem clareza no seu espírito de que se empenha para progredir, por ampliar seus negócios, por servir ao maior números de pessoas, porém, muito antes de pensar no próprio enriquecimento, muito antes de pensar no próprio acúmulo de recursos, muito antes de pensar na própria fatia de mercado, muito antes de pensar em si, você sabe o quão bem fazes as pessoas que bateram a sua porta, você sabe quanto as pessoas confiaram em você para bater a sua porta, você sabe que as pessoas não dominam o sector como você domina, confiaram em você para entregar a você a segurança daqueles que mais amam, e você entende a responsabilidade que é a sua, e sabe que a sua responsabilidade não está na simples ampliação dos seus negócios, mas está na protecção daqueles que acreditaram em você, em proteger daqueles que são indefesos, aqueles que vieram bater aporta confiaram em serviços que você oferece, tanto você entende que só isso dará a dimensão do sentido do seu trabalho, o sorriso dos outros, mas muitos outros, famílias inteiras enorme de pessoas que sorriem muito mais, aí está o sentido do seu trabalho. Esta é a lição de Jesus de Nazaré.
E na modernidade está visão é ultrapassada, o grande mestre agora é Espinosa, pensador Holandês. Para Espinosa a vida boa é com muita energia, a qual denomina de potência de agir, quantidade de energia que o homem dispõe para viver num determinado segundo, potência de agir, ou seja, energia vital. Vontade de continuar vivo, libido etc. Então a vida do homem é uma luta pela potência do agir. No entanto, essa energia oscila, oscila porque o homem está no mundo, e por seu turno, o mundo afecta o homem, e esta afectação faz oscilar a sua potência de agir. Portanto, a filosofia de Espinosa é o estudo criterioso de preservação de potência de agir.
No entanto, a potência de agir é denominada por Espinosa de alegria, ou seja, passagem para um estado mais potente do próprio ser. Essa seria uma maior distância da morte. E as condições de alegria são mundos alegradores. Uma questão de provocação! Quando alguém não amar o mundo quando o alegra vai amar o que? O homem não tem o direito de patrocinar para si uma tristeza crónica. O homem é espectador da vida, é por isso que deve gostar daquilo o que faz. Mais atenção! O mundo que alegra um não é o mesmo que alegra o outro, cada qual procura alegria no seu canto. Não existem regras de alegria, cada indivíduo procura alegria no seu canto. Pois, aquilo que te alegra hoje poderá não te alegrar a manhã. A vitória de ontem não faz você vitorioso por definição. A vitória de ontem é a vitória de ontem, pois, a vida é o resultado de consequência inédito com mundo. A vitória de ontem e alegria de ontem não garantem por si a alegria de hoje. Sobretudo, no mundo que se transforma numa velocidade insólita. Pode ser chato em ouvir, mas é muito lúcido. Essa é a lição de Espinosa. Portanto a lição de Espinosa é uma lição de humildade, humildade perante a vida. A humildade de entender que o mundo é mais complexo, e a nossa capacidade para diagnostica-la é a condição de uma alegria que se repete.
E nesta linha de pensamento temos Rousseau. No entanto, Rousseau dirá que a felicidade do homem nada tem a ver com o resto da natureza, porque a vida do homem nada tem a ver com o resto da natureza, na natureza tudo é necessariamente do jeito que é. Para o homem já é diferente, portanto, diz Rousseau, a verdadeira felicidade é quando você acerta na sua escolha, a verdadeira felicidade é quando você faz o uso adequado da sua liberdade. O homem é livre de decidir como quer conviver, ao passo que o gato vive na única forma que poderia viver, tanto como as formigas no formigueiro vivem da única forma que poderiam viver, não há ética no formigueiro, mas entre homem há ética, ou seja, a inteligência compartilhada ao serviço do aperfeiçoamento da convivência.
Em síntese: para que vida possa valer a pena, para Aristóteles é a excelência de si mesmo, para Jesus é a entrega e o amor, para Espinosa é alegria e potência de agir, para Rousseau é a liberdade e a fidelidade aos próprios valores. Qual dos quatros é que tem razão? Certamente são os quatros, sua vida é melhor se você explorar o que tem de mais forte, a sua vida é melhor se você se entregar, se você tiver alguém para comemorar, se tiver gente feliz por perto, se você conseguir se alegrar com inteligência e com a fidelidade.
Por isso os quatros falam em felicidade, pois, felicidade é um instante de vida que agente gostaria de um dia repetir. O instante da vida que você gostaria que não acabasse alí. Portanto, a meta que todos homens deveriam perseguir, a meta das metas deveria ser: proporcionar alegria de alguém que eu nunca vi, alguém que talvez nunca venha a conhecer nunca, proporcional um mísero segundo de felicidade. Se todos os homens se dispusessem ater como meta proporcionar a felicidade daqueles que confiam neles, então, todos os homens patrocinariam uma sociedade mais digna, uma sociedade mais honesta, uma sociedade mais justa, e portanto, uma sociedade para deixar para a geração futura.