A Fala de Lula e a Vergonhosa Subserviência da Imprensa Brasileira

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 07/06/2024 | História

Faz alguns meses que o Presidente da República disse, numa conferência na Etiópia, que Israel age na Faixa de Gaza como quando “Hitler decidiu matar os judeus”. Ao contrário de muitos, não me surpreende a reação adversa e explosiva dos veículos de imprensa nacionais.

Na primeira manifestação por mim observada, um dos jornalistas disse que “nada se compara ao Holocausto”. Lamento, meu caro, mas, tristemente, se compara: o terrível massacre de judeus na Segunda Guerra Mundial foi um dos capítulos mais infelizes da História, rendendo seus respectivos 06 milhões de mortos, mas Stálin trucidou 20 milhões na URSS, ao passo que o chinês Mao Tsé-Tung estraçalhou quase 80 milhões no seu país. Já Pol Pot, no Kampuchea, eliminou “apenas” 02 milhões de seus concidadãos, mas correspondentes a 1/3 do povo (mesma proporção de judeus europeus vitimados pelos nazistas).

Então, caro leitor, você pode argumentar que os judeus europeus foram perseguidos por Hitler apenas por serem judeus. Sem suscitar o mérito das motivações econômicas (que sempre há), podemos dizer que Stálin se tornou algoz de tantos milhões por, na sua concepção, serem “inimigos do povo”, tal como Mao Tsé-Tung e Pol Pot. Desta forma, percebe-se que a imprensa brasileira desconhece fatos históricos que poderia usar, ironicamente, contra o próprio Lula, eis que, durante o século XX, houve vários holocaustos oriundos do espectro político esquerdista, mas isso teria o custo de retirar de Israel a exclusividade da condição de vítima.

Além de Stálin, Mao-Tsé Tung e Pol Pot, há um punhado bem grande de ditadores de esquerda que a mídia, se lesse fontes que não seus próprios e lamentáveis artigos, poderia mencionar: Fidel Castro, Tito, Muammar Kadhafi, Saddam Hussein, Kim Il-Sung, Mengistu Harle Mariam, Idi Amin, Gamal Abdel Nasser, Erich Honecker, Gustav Husák, Nicolae Ceausescu, Todor Zhivkov, Wojciech Jaruzelski, Omar Al-Bashir, Abdel-Aziz Bouteflika, Juan Velasco Alvarado e outros, bem como Mahmoud Abbas, atual presidente da Autoridade Nacional Palestina, que governa a Cisjordânia.

Ao revés, nossos jornalistas só relembram figuras como Fulgêncio Batista, Alberto Fujimori, Jorge Videla, Augusto Pinochet, Gustavo Rojas Pinilla, Alfredo Stroessner, Baltazar Johannes Vorster, Juan Maria Bordaberry, Mobutu Sese-Seko, Ferdinand Marcos, Emílio Garrastazu Médici e tantos direitistas quantos forem. A título de informação, foram cerca de 110 milhões de cadáveres na conta de cada um dos lados, esquerdista e direitista.

Mais que ignorância, é uma predestinada subserviência aos EUA e a Israel, a quem consideram modelos incondicionais de vida a reproduzir, independentemente das constantes rusgas entre os EUA e as sucessivas lideranças israelenses. Mas isso não importa, e sim o fato de que “nada se compara ao Holocausto”, numa distorção da realidade que demonstra o nível de comprometimento com os interesses sionistas (nada, absolutamente nada contra judeus, que são uma religião ou etnia, ao passo que o Sionismo é uma ideologia), ainda que percam esta que foi a mais preciosa das oportunidades de calarem o Presidente: além de tencionarem titular somente, e somente Israel como vítima, dando ao maldito e malfadado Holocausto a dimensão de maior crime cometido contra a Humanidade (e não um dos maiores), se veriam, involuntariamente, propagandeando regimes de esquerda que não os da URSS, China ou Kampuchea, pois estes foram, conjuntamente, responsáveis por mais de 90% das mortes associadas ao esquerdismo, o que levaria líderes outrora respeitados, como Fidel Castro, Tito e Gamal Abdel Nasser, a uma nova evidência entre os jovens, bem como o próprio Mahmoud Abbas.

Essa é a nossa imprensa. Esse é o nosso jornalismo jumentalizador. Como diz Noam Chomsky, estadunidense tido como o maior intelectual vivo do mundo, “a imprensa causa mais danos que uma bomba atômica”.

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