A Utilização e Interpretação de Mapas Temáticos no Ensino de Geografia Como Forma de Compreender a Realidade

Por Paulo Frick | 28/11/2008 | Educação

A UTILIZAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE MAPAS TEMÁTICOS NO ENSINO DE GEOGRAFIA COMO FORMA DE COMPREENDER A REALIDADE

Paulo Roberto Frick

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Geografia (GED0611) – CARTOGRAFIA

14/11/08

RESUMO

A Cartografia como a ciência de fazer mapas possui uma estreita relação com a ciência Geográfica, pois, permite espacializar os fenômenos geográficos. Desta forma não é adequado que nas aulas de Geografia o conteúdo "Cartografia" seja apenas comentado e sim este e a sua linguagem cartográfica deva ser ensinado e compreendido pelos alunos, para que estes consigam através do mapa ver a realidade. Esta pesquisa tem por objetivo mostrar a utilização e interpretação de mapas temáticos no ensino da Geografia como forma de compreender a realidade. Para tanto os assuntos aqui abordados referem-se à Cartografia, a relação da Cartografia com a Geografia, a Educação Cartográfica e aos exemplos de utilização de mapas temáticos no ensino da Geografia. Conclui-se com esta pesquisa que muitos são os esforços em permitir a alfabetização cartográfica e que através da linguagem cartográfica o aluno possa entender o mapa, a realizar leituras dos temas do espaço geográfico sobre este mapa.

Palavras-chave: Cartografia; Geografia; Mapa Temático.

1 INTRODUÇÃO

Hoje é evidente nas aulas de Geografia que o assunto de Cartografia e linguagem Cartográfica deva ser ensinado e compreendido, e não apenas ser vagamente comentado. Atualmente é essencial que os alunos conheçam o mapa e possam fazer a leitura deste mapa, compreendendo o que está ali e através dele entender a realidade.

Este trabalho refere-se à utilização e interpretação de mapas temáticos no ensino da Geografia como forma de compreender a realidade. Desta forma, foi abordado inicialmente o que é cartografia e seus desdobramentos ao longo do tempo, a relação entre as duas ciências a Cartografia e a Geografia, a Educação Cartográfica e a sua importância e exemplos de utilização e interpretação de mapas temáticos nas escolas.

2 CARTOGRAFIA

No XX Congresso Internacional de Geografia, realizado em Londres em 1964, a Associação Cartográfica Internacional (ICA) adotou como definição de Cartografia, citado por Duarte (2002, p.15) como "conjunto de estudos e operações científicas, artísticas e técnicas, baseado nos resultados de observações diretas ou de análise de documentação, com vistas à elaboração e preparação de cartas, planos e outras formas de expressão, bem como sua utilização".

A Cartografia passou por vários avanços até chegar neste conceito atual. O grande avanço da cartografia ocorreu na Europa, estando relacionado com o Renascimento (séculos XV e XVI), época em que começaram a surgir relações capitalistas. Com a intensificação do comércio entre o Oriente e o Ocidente, exigindo o desenvolvimento da navegação, houve novamente grande ímpeto na necessidade de mapas, bem como a criação de meios para a respectiva orientação — a bússola. (MARTINELLI, 2003).

Outro significativo avanço na cartografia foi dado no século XVIII, com a instituição de academias científicas, marcando assim o início da ciência cartográfica moderna. Grandes inovações foram propostas pelo astrônomo francês Cesar-François Cassini de Thury (1714-1784), que elaborou a primeira série sistemática de mapas topográficos para a França. Entretanto, o maior impulso imprimido aos mapeamentos, como apoio aos novos conhecimentos, se dá com o avanço do imperialismo, no fim do século XIX. Cada potência necessitaria de um inventário cartográfico preciso para as novas incursões exploratórias, incorporando, assim, também essa ciência às suas investidas espoliativas nas áreas de dominação (PALSKY, 1984 citado por MARTINELLI, 2003).

Contribuiu também para isso o florescimento e a sistematização dos diferentes ramos de estudos operados com a divisão do trabalho científico, no fim do século XVIII e início do século XIX, fazendo com que se desenvolvesse, mediante acréscimos sucessivos, outro tipo de cartografia: a Cartografia temática o domínio dos mapas temáticos (MARTINELLI, 2003).

Essa crescente vocação da cartografia em busca de uma especialização vai se operando com uma gradativa libertação do registro eminentemente analógico, passando a considerar temas que paulatinamente se acrescentam à topografia. Essa nova construção mental na cartografia fica evidente com a preocupação do mapeamento do uso do solo: o mapa topográfico vai sendo enriquecido com acréscimos temáticos (ROBINSON, 1982 citado por MARTINELLI, 2003).

Atualmente, a cartografia entra na era da informática. A automação se introduz na cartografia através das fases mais matemáticas do processo cartográfico, graças ao aparecimento dos computadores, por volta de 1946. As primeiras aplicações são feitas aos cálculos astronômicos e geodésicos, ao estabelecimento das projeções e, mais tarde, aos tratamentos estatísticos de dados. Mas é a partir da década de 1960 que pode-se considerar uma cartografia assessorada por computador, a qual passa a ser operacional em todas as etapas da elaboração dos mapas. Na cartografia temática, em especial, ela tem grande avanço em função do sensível progresso da Geografia quantitativa, a partir da década de 1950 (MARTINELLI, 2003).

2.1 A CARTOGRAFIA E A GEOGRAFIA

Quando se fala em mapas, imediatamente os associamos à Geografia. É um aspecto eminentemente cultural. Os mapas, portanto, representariam a Geografia, o que é geográfico. Seriam a própria Geografia. Sinônimos. Neste sentido, pode-se verificar que o mapa sempre surge como representação simbólica da Geografia. Isso parece se confirmar mais ainda em nossos dias. Organizações geográficas, eventos de Geografia, instituições científicas ligadas à Geografia, até mesmo empresas que lidam com várias partes do mundo e operadoras de turismo marcam sua presença mediante tal símbolo nos seus logotipos. Desde sua existência, o homem gravou em pedra ou em argila, pintou em pele de animais ou armou em estruturas diversas o seu lugar, seu ambiente e suas atividades. Ao fazer isso não só representava a prática de suas relações espaciais, em terra ou mar, como também expunha o conteúdo das relações sociais de sua comunidade (KISH, 1980, citado por MARTINELLI, 2003).

A Geografia trabalha com imagens, recorre a diferentes linguagens na busca de informações e como forma de expressar suas interpretações, hipóteses e conceitos. Pede uma cartografia conceitual, apoiada numa fusão de múltiplos tempos e numa linguagem específica, que faça da localização e da espacialização uma referência da leitura das paisagens e seus movimentos. Na escola, assim, fotos comuns, fotos aéreas, filmes, gravuras e vídeos também podem ser utilizados como fontes de informação e de leitura do espaço e da paisagem. É preciso que o professor analise as imagens na sua totalidade e procure contextualizá-las em seu processo de produção: por quem foram feitas, quando, com que finalidade, etc., e tomar esses dados como referência na leitura de informações mais particularizadas, ensinando aos alunos que as imagens são produtos do trabalho humano, localizáveis no tempo e no espaço, cujas intencionalidades podem ser encontradas de forma explícita ou implícita (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1998).

2.2 EDUCAÇÃO CARTOGRÁFICA

O estudo da linguagem cartográfica tem cada vez mais reafirmado sua importância, desde o início da escolaridade. Contribui não apenas para que os alunos venham a compreender e utilizar uma ferramenta básica da Geografia, os mapas, como também para desenvolver capacidades relativas à representação do espaço. A cartografia é um conhecimento que vem se desenvolvendo desde a pré-história até os dias de hoje. Através dessa linguagem é possível sintetizar informações, expressar conhecimentos, estudar situações, entre outras coisas — sempre envolvendo a idéia da produção do espaço: sua organização e distribuição (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1998).

A educação cartográfica pode ser entendida como um processo de construção de estruturas e conhecimentos favorecedores da leitura e interpretação de mapas, que se inicia com a suposição, de que os mapas representam um modelo da realidade. O responsável pela formação cartográfica do estudante é o professor de geografia, que para cumprir com êxito a sua função, terá que possuir habilidades e sensibilidade no despertar das percepções para o trabalho dos conceitos cartográficos (ABREU; CARNEIRO, 2006).

O ensino da cartografia nos níveis de ensino fundamental e médio é sumamente importante para despertar a percepção espacial, proporcionando à criança o entendimento sobre o espaço físico que habita. É necessário, portanto, trabalhar na perspectiva de o próprio aluno "desenhar o mapa". Mas, para que ele se torne um "produtor de mapas" consciente, deve ser levado a desenvolver atividades como a construção de mapas mentais, plantas da casa onde mora e da escola, maquetes da sala de aula, e não somente pintar e copiar contornos (ABREU; CARNEIRO, 2006).

A decodificação, ou seja, a leitura do mapa é o principal processo da alfabetização cartográfica. Preparar o aluno para ler mapas, deve incluir a sua ação como elaborador de mapas. Além disso, o objeto a ser mapeado deve ser o espaço conhecido do aluno, cujos elementos lhe são familiares. Assim, no processo de alfabetização, o aluno deve ser treinado e estimulado a codificar, através de significados atribuídos às coisas da sua vivência e da sua imaginação. As ações envolvidas nos processos de codificação e decodificação de mapas devem ser propostas de forma a respeitar o desenvolvimento cognitivo da criança, os estágios e evolução da sua percepção espacial (SILVA, 2004 citado por ABREU; CARNEIRO, 2006).

As formas mais usuais de se trabalhar com a linguagem cartográfica na escola é através de situações nas quais os alunos têm de colorir mapas, copiá-los, escrever os nomes de rios ou cidades, memorizar as informações neles representadas. Mas esse tratamento não garante que eles construam os conhecimentos necessários, tanto para ler mapas como para representar o espaço geográfico. Para isso, é preciso partir da idéia de que a linguagem cartográfica é um sistema de símbolos que envolve proporcionalidade, uso de signos ordenados e técnicas de projeção. Também é uma forma de atender a diversas necessidades, das mais cotidianas (chegar a um lugar que não se conhece, entender o trajeto dos mananciais, por exemplo) às mais específicas (como delimitar áreas de plantio, compreender zonas de influência do clima). A escola deve criar oportunidades para que os alunos construam conhecimentos sobre essa linguagem nos dois sentidos: como pessoas que representam e codificam o espaço e como leitores das informações expressas através dela (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1998).

A partir de uma abordagem semiótica, busca-se a interação entre Cartografia e Geografia como forma de despertar uma percepção visual, através dos signos cartográficos. Desta conotação, verifica-se que a Educação Cartográfica, que é um processo de construção de estruturas e conhecimentos favorecedores da leitura e interpretação de mapas, não é utilizada de forma correta nas escolas. Isto ocorre, porque, os conteúdos cartográficos desenvolvidos para serem ensinados aos adultos são repassados da mesma forma às crianças, sem nenhuma adequação ao entendimento infantil nas suas diversas faixas etárias (SALES; SILVA, 2008).

A análise da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB e dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN, indica a importância do despertar do entendimento espacial do aluno. O mesmo não se aplica às diretrizes curriculares dos cursos de graduação em geografia que, por não darem a ênfase correspondente às exigências dos documentos reguladores, permitem que cursos de licenciatura em geografia possuam, em suas matrizes curriculares, pouco ou nenhum conteúdo voltado para a educação cartográfica. É importante salientar que a maioria dos cursos, possui conteúdos de cartografia e leitura de mapas; no entanto são os temas específicos de educação cartográfica que capacitam o professor para trabalhar os conteúdos cartográficos voltados para o entendimento das crianças, utilizando metodologias adequadas a cada faixa etária, através de processos lúdicos e do despertar da percepção espacial (ABREU; CARNEIRO, 2006).

3. UTILIZAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE MAPAS TEMÁTICOS NO ENSINO DA GEOGRAFIA

O ramo da cartografia temática trata de temas ligados às diversas áreas do conhecimento. Os produtos gerados constituem documentos cartográficos em qualquer escala, onde sobre um fundo geográfico básico (extraído da cartografia topográfica) são representados os fenômenos geográficos, geológicos, demográficos, econômicos, agrícolas, etc., visando ao estudo, à análise e à pesquisa dos temas, no seu aspecto especial, ou ainda, uma representação dos fenômenos localizáveis de qualquer natureza e de suas correlações (JOLY, 1990).

3.1 EXEMPLOS DE UTILIZAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE MAPAS TEMÁTICOS EM ESCOLAS

O Atlas Escolar do Quebec, Canadá, (em fase de elaboração) tem uma proposta inovadora em termos de Atlas escolares eletrônicos: ser um instrumento interativo que auxilie diretamente no processo de ensino-aprendizagem. O protótipo do Atlas Escolar do Quebec apresenta uma arquitetura centrada na criança que possibilita ao estudante a construção de conhecimento através de experiências próprias com os meios colocados à sua disposição. Está estruturado em quatro níveis diferentes de dificuldade, de acordo, com o desenvolvimento cognitivo dos alunos. Utilizando recursos de multimídia, o Atlas apresenta uma coleção de mapas temáticos e banco de dados para os quatro níveis. Apresenta verbetes cartográficos, com definições apropriadas a cada nível exemplificadas através de texto, gráfico, mapa ou ilustração, além de contar com hiperlinks que permitem navegar no Atlas ou em assuntos correlatos (VIEIRA, 2001).

Exemplo de interação entre SIG (mapas temáticos) e Atlas Eletrônico é o Projeto Costa do Descobrimento, que apresenta dados de geologia, levantamento de recursos minerais e naturais da zona costeira, com a interposição de dados atualizados de infra-estrutura, de vegetação e de unidade de conservação. Para possibilitar que toda a informação do projeto seja passível de visualização e consulta, sem que seja necessário dispor de um software de SIG especializado, foi desenvolvido um aplicativo independente de visualização de projetos em SIG, denominado Atlas Digital. Para o Projeto Costa do Descobrimento, o Atlas Digital foi programado para exibir mapas pré-compostos. Com ele, é possível navegar nos diversos temas integrados no projeto, que foram agrupados em mapas (VIEIRA, 2001).

Um outro exemplo de utilização de mapas temáticos é o aplicado no projeto mão na massa do Programa Educar. Neste projeto os alunos tiveram que elaborar os mapas temáticos do bairro, com isso gerou-se discussões sobre a dificuldade em ler o mapa produzido, estimulando-os a criar soluções para o problema. A partir das soluções apresentadas, elaborar diferentes mapas, de acordo com o que se quer representar: localização da escola e moradia dos alunos; problemas do bairro e serviços disponibilizados. Isto permitiu que os alunos refletissem sobre as categorias; decidisse qual categoria a ser utilizada neste ou naquele caso (ex. uma padaria é classificada como indústria ou comércio?); selecionassem as informações mais relevantes; elaborassem uma lista de símbolos para cada categoria e criassem a legenda para o mapa (RUFFINO; MARTINS; SALVADOR, 2008).

4 CONCLUSÃO

A Cartografia que é a ciência de fazer mapas possui uma íntima relação com a Geografia, pois, ela permite representar o espaço geográfico no papel através da linguagem cartográfica. O Geógrafo pode realizar análises de determinando local sem mesmo ter estado lá, apenas com os mapas temáticos da área em mãos. Fazer um mapa parece ser uma tarefa fácil, no entanto, fazer o mapa para "ver" e também para "ler" necessita que a pessoa que o fez tenha uma alfabetização cartográfica, ou seja, tenha os conhecimentos necessários para construir um mapa em que outras pessoas até mesmo as leigas consigam entende-lo.

Cada vez mais é necessário que a Educação Cartográfica seja um assunto discutido e ensinado pelos professores nas escolas, pois, os alunos precisam conhecer esta linguagem, pois, o ser humano tem a necessidade de compreender o espaço em que ele vive, do que este espaço é formado e como é a utilização do espaço pelo homem. Desta forma conclui-se com este trabalho que a utilização e interpretação de mapas temáticos nas aulas de Geografia, permite que o aluno através do mapa enxergue a realidade que o circunda, como por exemplo: onde ele está inserido dentro do seu território, quais são os tipos de usos do solo, quais os tipos de solos que existem e compreender quais são mais adequados para cultivo; para moradia; ou para preservação, onde está e qual a dimensão da área de manancial para abastecimento de água, quais os tipos de vegetação, entre outros temas, importantes de se conhecer e de se compreender.

5 REFERÊNCIAS

ABREU, P. R. F. de; CARNEIRO, A. F. T. A Educação Cartográfica na Formação do Professor de Geografia em Pernambuco. IN: Revista Brasileira de Cartografia No 58/01, Abril, 2006.

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1998.

DUARTE, P. A. Fundamentos de Cartografia. 2ª edição revista e ampliada, Florianópolis: Ed. da UFSC, 2002.

JOLY, F. A Cartografia. Campinas: Editora Papirus, 1990.

MARTINELLI, M. Mapas de Geografia e Cartografia Temática. São Paulo: Editora Contexto, 2003.

RUFFINO, S. F.; MARTINS, S.; SALVADOR, A. O Uso de Mapas. Disponível em: <http://educar.sc.usp.br /maomassa/cartografia.htm#5>. Acesso em: 10 nov. 2008.

SALES, J. J. G.;SILVA, R. M. da. O Ensino de Cartografia Temática como um instrumento perceptivo no Ensino de Geografia. In: X Encontro de Iniciação a Docência. João Pessoa: UFPB, 09 a 11 de maio de 2007.

VIEIRA, E. F. C. Produção de material didático utilizando ferramentas de geoprocessamento. Minas Gerais (Monografia de especialização), Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Cartografia, 2001.