A ÚLTIMA AVENTURA
Por Vicente Ivo | 20/01/2011 | ContosPRIMEIRA PARTE
REFLEXÕES
Dizem que lembranças, saudades, alegrias e tristezas são sentimentos que apenas os tolos sentem, mas, te digo, que quem nunca sentiu estes sentimentos antes não viveu.
Estou hoje com noventa anos, já vivi tudo que poderia ter vivido. Conheci diversos lugares e diversas pessoas. Viajei durante meses nas caravelas, enfrentei tempestades, mares bravios, respirei os mais diversos ares.
Conheci terras que nunca foram pisadas pelo homem. Conheci tribos com diversos costumes. Matas tropicais, com paisagens virgens. Ouvi diversos cantares de aves, vi suas cores variadas.
Comi frutas que nunca deram nas árvores de minha terra. Senti frio, calor,... mas de todas as aventuras a que mais senti medo foi a das ilhas ..., desculpe estou cansado.
Nestas minhas reflexões adormeço e retorno a aventura de minha vida.
SEGUNDA PARTE
RELATOS
Em certo dia, de certo mês, de certo ano, aportamos em uma ilha, se podíamos chamar aquelas terras de ilha, de tão grande era a sua extensão. O navio ficou ancorado a alguns metros da costa, pois as águas eram rasas e se fossemos com o navio correríamos o risco de ficar preso na parte rasa. Subimos em dois pequenos barcos, o capitão e eu, juntos foram doze homens, marinheiros experientes em navegações. Cada um carregava bacamarte, espada longa e punhal. Não levamos nada mais.
O capitão pediu para que tomássemos muito cuidado, pois, as terras, que agora iríamos poderiam estar cheia de perigos desconhecidos.
Os pequenos barcos, agora dentro d?água, eram jogados de um lado para o outro com grande força pelas ondas. Uma vez por outra, alguns marinheiros empurravam os barcos com os remos para que eles não se despedaçassem nos corais e nas rochas que apareciam em nossa frente. As ondas batiam com tanta força nas rochas que as espumas subiam ao céu, mas as imponentes figuras permaneciam sem dar atenção à força das águas. Rochedos com uma empáfia única desafiando o poder de netuno.
Assim, em uma luta implacável entre homem e a natureza chegamos exaustos em terra. Puxamos os barcos para a areia.
Após alguns minutos de descanso resolvemos adentra na mata. Preparamos as armas e seguimos caminho entrando na mata. Utilizamos nossas espadas para abrir caminho, pois a plantas formam uma muralha quase impenetrável.
Fomos a cada passo adentrados na mata virgem, cada vez mais entravamos, uma hora depois, já tínhamos percorrido uma grande distância. Paramos para descansar, neste momento, ouvimos sons que vinham de longe. Todos ficaram parados ouvindo os sons, um dos marinheiros, falou baixinho, dizendo que eram sons de tambores, e, pelo que parecia, estavam perto. A cada momento os sons iam ficando mais alto. Neste tempo, já se ouvia, além dos sons dos tambores, gritos que vinham em nossa direção. O capitão, em um súbito nervoso gritou para que todos corressem. Mas, para a nossa falta de sorte, de dentro da mata saltaram varias figuras seminuas, corpos pintados com listras negras e brancas, seguravam nas mãos longas lanças com pontas de pedras negras. Estávamos cercados, por todos os lados figuras gritavam e agitavam lanças no ar.
O capitão gritou para que todos ficassem calmos, mas era meio difícil. Quando tentamos pegar nossas armas, gritos soaram de todos os lados, e as figuras ficaram agitadas. Não sabíamos, no momento, o que faríamos. O circulo foi se fechando cada vez mais e um dos marinheiros deu um grito, uma lança, naquele momento, atravessou seu obro direito. Todos, para salvarem suas vidas, começaram a disparar suas armas. Os estampidos dos bacamartes fizeram aqueles seres sumirem dentro da selva, pois nunca tinham ouvido estes sons. Neste momento, aproveitamos a oportunidade e corremos em disparada em direção da praia.
Corríamos como loucos, eu corria na retaguarda, sempre olhando para todos os lados. Mas, para o meu maior temor, ao olhar para trás tropecei em uma raiz de uma árvore e cai dentro de um buraco. Fiquei lá meio atordoado por um tempo.
Após ter me recuperado tentei subir pelas paredes do buraco, mas parei, pois, ouvi o ruído de passos, galhos quebrando ao serem pisados, encostei mais na parede do buraco para poder ficar escondido. Vi, no alto uma sombra passar rapidamente, logo após outra e mais outra. Meu sangue gelou, não tive coragem de mexer, fiquei lá por um bom tempo. Já tinham passado alguns minutos quando os barulhos das pisadas retornaram. Olhei para cima, de novo, e vi meus companheiros sendo carregados, todos com as mãos e os pés amarrados em grandes varas de bambus sendo carregados por figuras estranhas.
Um calafrio tomou todo o meu ser, fiquei horrorizado com a cena. Eles estavam desacordados ou mortos, não sabia. Pensei comigo mesmo, que a despeito do meu medo, não podia deixar meus companheiros sozinhos nesta hora. Deixe que todos passassem, sai do buraco, tirei a camisa que vestia, fui até um buraco cheio com uma lama escura, passei no corpo todo, puxei a espada e um punhal e sai na perseguição. Durante horas segui o grupo, de perto. Consegui, no caminho, eliminar alguns que estavam sozinhos logo atrás do grupo que carregava meus companheiros.
A noite tinha chegado, e mesmo assim, ainda conseguia acompanhar as figuras. Passo a passo fui chegando mais perto. Uma hora depois cheguei perto do grupo maior. Eles carregavam meus companheiros, uns desacordados, outros já acordados. Em uma clareira dentro da mata eles pararam. Colocaram os prisioneiros no chão. Juntaram lenhas e fizeram uma fogueira. Colocaram dois paus com forquilha nas pontas nos dois lados da fogueira. Uma das figuras, um ser todo pintado com machas negras por todo corpo, apontou para um dos meus companheiros, seu gesto, mesmo não entendendo o que dizia deu para saber que tinha mando colocar um dos prisioneiros na fogueira.
Pensei comigo, será loucura ou verdade, as figuras eram canibais. Eles iriam comer um dos prisioneiros. Tinha que fazer algo. Não podia assistir um dos meus companheiros transformado em comida para aqueles seres animalescos. Os outros, lá amarrados, gritavam de medo. Previam o seu destino, pois, também, seriam comidas daquelas criaturas.
Andava de um lado para o outro tentado pensar. Não sabia o que fazer. Não sabia como agir. Eram muitos contra um só. Tinha cerca de uns trintas daquelas figuras. De repente parei e vi quatro das figuras já seguravam um dos homens no ar. Ele se debatia alucinadamente tentando se soltar.
Não, não, gritei comigo mesmo, não tenho tempo para pensar. Que loucura. Gritos dos prisioneiros chegavam a cada momento aos meus ouvidos como grandes sinos a badalarem nas catedrais. Neste instante, uma fúria enlouquecedora e descontrolada tomou conta de meu ser, virei um animal, uma fera furiosa, capaz de dilacera sua presa com um toque de suas garras. Com a espada na mão direita e o punhal na mão esquerda pulei de dentro da mata e investi contra as figuras. Elas, pegas de surpresa, ficaram sem ação, pois, nunca em suas vidas tinham visto um "animal humano". Eu estava todo sujo de lama, com o rosto horrendo em fúria parecendo um demônio que tinha saído de dentro da terra.
Em minha fúria descontrolada abati, dos trinta, dezoito deles sem nenhuma resistência. Meu ataque de surpresa não deu chance para os meus inimigos. Os outros correram assustados para dentro da mata. Corri para os meus companheiros que estavam no chão amarrados, cortei as cordas e saímos correndo.
Corremos, corremos desesperados, chegamos à praia, empurramos os barcos para dentro d?água, pulamos dentro e com grande esforço lutávamos contra as ondas que vinham em fúria tentando, insistentemente, afundar os barcos. Mas, com grande esforço chegamos ao navio, os marinheiros que ficaram ergueram rapidamente as pequenas embarcações para dentro do navio. Todos, quando nos viram, ficaram assustados.
Sai da embarcação e me joguei no convés, estava exausto e fiquei deitado, jogado ao tombadilho, sendo jogado de um lado para o outro pelo mar que sacudia a embarcação. Eu via lá deitado, no alto o mastro indo e vindo e as velas que eram baixadas sendo sacudidas pelos ventos. Assim, fechei os olhos e nada mais vi.
TERCEIRA E ÚLTIMA PARTE
A ÚLTIMA AVENTURA
Abro os olhos, a janela do meu quarto está aberta, uma brisa fria da manhã entra devagar, ouço, ao longe, gritos de gaivotas lá fora. Meu corpo vai se erguendo de vagar, atravesso a janela, vou à praia, caminho por entre as águas, que agora não molham mais meus pés.
Neste momento, paro, olho para trás e vejo um movimento em meu quarto, muitas pessoas vão e vêm. Dou a última olhada e viro de frente para o mar. Ao longe um túnel de luz se abre em minha frente, vejo agora, muitos dos meus amigos, companheiros de jornadas, todos me esperando. Sim, agora vou para mais uma aventura.
FIM