A Tragédia Do Populismo

Por Glaucia Tiana Silva Gonzaga | 26/11/2007 | Sociedade

A tragédia do populismo

O texto trata de uma questão importante na história de Alagoas, trata-se de dois expoentes: o progresso de Arnon de Mello e o populismo de Muniz Falcão. A história de Arnon de Mello inicia-se com sua candidatura através dos meios de comunicação que encontravam-se em expansão. Se olharmos bem a candidatura de Arnon de Mello, ela assemelha-se com a candidatura de Fernando Collor de Mello, principalmente  na representação do novo, enquanto Arnon de Mello representa a expansão dos meios de comunicação, o progresso, Fernando Collor de Mello representava o novo pós-ditadura, um novo tempo chegando após um período de escuridão.

Além disso, Alagoas estava vivendo um período de crescimento populacional, o Estado estava crescendo, entretanto, junto com o taxa de crescimento vieram os problemas estruturais e sociais aumentando assim a situação da pobreza em Alagoas. É nesse sentido que ambos os governos irão voltar suas propostas, não muito diferente dos dias atuais. Nesse mesmo período o setor sulcro-alcooleiro continuava em progresso e permanecendo no mesmo patamar econômico. O fumo também cresce enquanto que o setor têxtil decai.

Através desses apelos é que surge o governo de Muniz Falcão, no intuito de propor uma administração que atenda as necessidades estruturais e sociais, onde irá implantar a CEAL (Companhia Energética de Alagoas), que por tais atuações o mesmo irá receber o título de populista, uma vez que inflama as massas afim de estas o apoiarem e buscarem realizações. É necessário vermos que nesse período a educação dá uma reviravolta, expandindo o ensino com o surgimento de um dos maiores centros educacionais do país, o atual CEAGB. Mas, tal expansão se dá no nível do ensino primário, ofertado a população, enquanto que o ensino superior continuava apto para poucos, onde apenas a elite era possuidora dos diplomas.

Um fator importante nessa passagem política, é a questão da Era Vargas, Alagoas estava vivendo o auge do varguismo e mesmo Arnon de Mello sendo contra o governo de Getúlio Vargas, o mesmo, assim como Muniz Falcão, recebeu incentivos federais para serem aplicados no Estado. Diante da perspectiva dos recursos federais, a oposição de Arnon de Mello ao governo varguista pareceu ter pouca argumentação.

Apesar dos avanços sociais do governo de Muniz Falcão pouca mudança se viu refletir no Estado. O contraste econômico era evidente nas ruas e locais freqüentados pela elite, no vestuário, o forte apoio da igreja a esse grupos sociais minoritários, e o laser praticado apenas pela elite. Mas o que realmente irá incomodar a elite sulcro-alcooleiro é o fato de Muniz Falcão se aproximar dos sindicatos, e passar a exigir os direitos trabalhistas daqueles que atuavam na cana-de-açúcar. Ele irá levantar a regularização do trabalhado, assim como o governo de Vargas estava propondo nesse período. Sentindo-se incomodados, a elite irá tratar como populista as práticas do governo em andamento, incomodo esse que refletiu em xingamento e vais em clubes socais, chegando a ser chamado de "forasteiro". Nesse ponto é que proponho uma reflexão: Será que se Muniz Falcão não tivesse indo contra a classe dominante, no caso os grandes do setor da cana-de-açúcar, ele seria taxado de "forasteiro"? Será que esse forasteiro estigmatizado teria vindo a tona? A minha opinião, não, pois foi a partir do momento em que a alta classe social sentiu-se ameaçada é que esta viu-se na obrigação de revidar afim de assegurar sua hegemonia local.

Foi através desse incomodo ocasionado pelas ações do governo tido como populista que acelera o andamento do processo de impeachment , situação essa até então nunca ocorrida em âmbito nacional. A Gazeta de Alagoas, como um vinculo de oposição vindo de Arnon de Mello, trata de escandalizar ainda mais a imagem de Muniz Falcão. Nesse período ocorrem as sabotagem nas linhas de transmissão energética. A situação em Alagoas é destaque nacional, e tal conflito foi usado para atacar o governo de JK, muito embora, Muniz Falcão não fosse simpatizante. De acordo com o texto "Muniz Falcão cometeu um grave erro: querer fazer política pessoal numa terra de tradição partidária arraigada".  E realmente foi, não se sabe se por interesse pessoal ou coletivo, mas o certo é que ele mexeu com as forças conservadoras e consolidadas do Estado de Alagoas.

O impeachment de Muniz Falcão se deu num clima de pura violência e tumulto. A escandalosa assembléia trouxe consigo todo um aparato militar com proteção da bancada transformando-a numa verdadeira trincheira, além do fato dos convocados se apresentarem armados junto com seus homens. A assembléia violenta termina com a morte do Deputado Humberto Mendes, que até hoje não se sabe ao certo de que arma veio o disparo, além do ferido o também Deputado Carlos Gomes, mas que de um modo geral a violência que repercutiu o Brasil, teve seu objetivo alcançado: o Impeachment.

Devemos notar nesse período, e ainda hoje, a força da elite local e como essa força é capaz de mudar os rumos da história política de um Estado. Muniz Falcão não foi o único populista de Alagoas, Silvestre Péricles também obteve seu governo em bases populistas. O que devemos deixar claro é a prática da política alagoana, que ao longo do tempo, formou seu curral eleitoral afim de realizar seus mandos e desmandos, conservando sua força, e a oligarquia que ainda permanece no poder continua a pressionar o Estado e sua camada popular. Sempre quem esteve a frente de Alagoas foram partidos compostos por tais elites liberais, mesmo que esta não estivesse na representação máxima do poder político alagoano, mas como um xadrez escolhe as peças do jogo em andamento.

Mesmo após o impeachment a imagem de Muniz Falcão perante a massa não se abalou, o que vemos é que diante dela, ele é tido como um herói. A derrota da elite se dá no momento em que Silvestre Péricles, apoiado pelo mesmo, obtém uma vitória esmagadora sobre Arnon de Mello, garantindo uma cadeira no senado. No entanto, embora Muniz Falcão tenha ganho as eleições de 1965 com a grande diferença de 15.753 votos do segundo colocado, o vitorioso não pode assumir o governo, devido o AI2 (Ato Institucional 2), que vetou qualquer possibilidade de um líder ou partido com tendências populistas assumir o poder. A indignação não toma conta apenas do vencedor, mas sim de todo o seu eleitorado que se decepciona com a prática política em vigor, crendo que de nada adiantou o voto "democrático".

O período de Muniz Falcão foi importante porque é nele que os sindicatos ganham forças, a população obtém seus direitos trabalhistas, ocorre todo um levante de luta e libertação política no Estado. Ainda sim é bom assinalar as realizações por ele feitas como o CODEAL e o Plano Diretor que buscou realizar uma nova forma de administrar o Estado. Realizou obras estruturais e sociais, criou a CEAL, etc. O que é fundamental na figura de Muniz Falcão é que este não veio do berço da elite alagoana, trata-se de um homem que superou as barreiras sociais e chegou ao máximo no Estado de Alagoas, mas teve uma característica importante como afrontar as elites locais.

Seu prestigio perante a massa se ver também no seu enterro que foi acompanhado com histeria pelas camadas populares, que chorava a perda de seu herói, que pela primeira vez luta por ela e valoriza o trabalhador. O marco dessa valorização foi a construção do palácio do trabalhador. Pode-se dizer que o governo de Muniz Falcão tenha sido populista, mas como chamar de populista um governo que luta pelos trabalhadores em uma terra de extremo coronelismo conservador? Sendo ou não populista o fato é que Muniz Falcão foi um marco histórico em Alagoas e para o trabalhador alagoano.