A Terapia de Choque Americana Pós 11 de Setembro
Por Caroline Ribeiro | 24/11/2008 | PolíticaA Terapia de Choque americana pos 11 de setembro
Caroline Ribeiro Pereira
AM4RI
Resumo
Após o 11 de setembro os Estados Unidos sofriam uma crise com relação ao modelo liberal da administração Bush. Com medo e sensibilizada, a população começava a questionar a segurança nacional pública na mão privada, a irresponsabilidade de determinadas corporaçõese a vulnerabilidade da maior potência mundial.
O discurso dos estadistas anunciavam que a partir daquele dia tudo iria mudar, o que daria a entender que as políticas econômicas voltariam a ser mais keynesianas não passaram de um novo modelo de super capitalização e privatização de empresas, com um novo mercado,o mercado da segurança.
Introdução
Dr. Ewen Cameron, psiquiatra norte-americano da Universidade McGill estava totalmente convencido de que o primeiro passo para a recuperação da saúde mental de seus pacientes era a destruição total de suas mentes; memórias e lembranças passadas que estariam bloqueando a sua perfeição mental e implantar uma nova idéia em suas mentes, um novo ideal correto que substituiria o falho. Com sessões de eletro choque, inibição de sentidos e isolamento, seus pacientes regrediam sua idade mental e ficavam totalmente vulneráveis. Na década de 50 a CIA começa a se interessar pelo assunto e passa a financiar as pesquisas em McGill em busca de um desenvolvimento próprio de métodos de interrogatório. Mais tarde surge um novo doutor do choque, chamado Milton Friedman e sua Escola de Chicago com pensamentos liberais rigorosos e pesados apoiando-se no laissez-faire deixando o Estado totalmente inútil nas relações micro e macroeconômicas. Mas como espalhar essas idéias para o resto do mundo?Uma vez que já havia conquistado os Estados Unidos. Como impor esse novo modelo ao resto do mundo e pregar de olhos fechados que este seria o melhor modelo a se adotar? Para os marxistas pela revolução, livrando-se do sistema atual e implantando o socialismo. Para os membros de Chicago a resposta não estava tão clara, e mais tarde, acharam a tal resposta com uma nova utilidade para as pesquisas de Cameron, impondo o livre-mercado ocultamente com a terapia de choque.
O 11 de Setembro e o serviço público
Em janeiro de 2001 quando Bush toma posse, novas fontes de crescimento para as corporações americanas eram cada vez mais urgentes, com uma grande ameaça de crise econômica com uma bolha de tecnologia e queda do índice Dow Jones as reformas eram mais e mais importantes já nos dois primeiros meses de mandato.
Para Keynes a solução se daria no investimento em obras públicas, já para Bush a solução seria a destruição de seu próprio governo, entregando grandes parcelas da riqueza publica retalhada e colocando em mãos das corporações americanas com cortes de impostos e contratos lucrativos.
Então acontece o inesperado ataque de 11 de setembro contra o Estado americano, colocando o governo contra a parede, quando em tal época de frágil soberania americana uma autodestruição não seria uma boa idéia. Com a população aterrorizada e sensível reclamava da proteção de um governo forte e sólido aquele poderia ser o fim da administração e projeto Bush e foi quando Ed Feulner foi um dos primeiros a usar a frase profética ''O 11 de Setembro modificou tudo''. Naquele momento muitos acreditavam que essa mudança seria uma reavaliação da administração violentamente liberal de Bush afinal de contas as falhas de segurança no 11 de setembro mostraram as falhas de vinte anos do sucateamento dos serviços públicos e terceirização das funções governamentais para as empresas privadas capitalistas.
Com a inundação de Nova Orleans as condições lamentáveis da infra-estrutura governamental eram ainda mais expostas e mais preocupantes, e o mundo se debatia mais ainda com uma potência americana fraca na realidade. Rádios da polícia e corpo de bombeiros quebraram nas operações de socorro em Nova York,controladores aéreos de tráfego não detectaram a tempo os aviões fora de rota e os terroristas passaram facilmente pelos circuitos de segurança terceirizados dentro dos aeroportos, em que os trabalhadores ganhavam muitas vezes menos do que aqueles que trabalhavam na praça de alimentação.
A primeira grande vitória contra o neoliberalismo de Friedman nos Estados Unidos foi o ataque de Ronald Reagan ao sindicato dos controladores de trafego aéreo e desregulamentação da aviação civil. Após vinte anos o sistema de tráfego aéreo estava mais desregulado e privatizado do que antes, e seus funcionários mal remunerados e mal treinados.
O que acontece depois dos ataques é que o inspetor-geral do Departamento de Transportes detectou que cada companhia aérea era responsável pela segurança em seus vôos, e com uma política de corte de gastos a segurança se enfraqueceu. Um dia antes dos atentados, nata disso importava, uma vez que os vôos estavam lotados e as passagens aéreas baratas, mas no dia 12 esses cortes de gastos viraram uma irresponsabilidade.
Outro problema que o Estado americano enfrentou um mês depois foram envelopes mandados para congressistas e jornalistas por correspondência contendo um pó branco suposto como antraz que gerou pânico quanto a uma possível epidemia e mais uma vez as privatizações geram certas dúvidas em relação a segurança e irresponsabilidade. Como um único laboratório privado possui o direito exclusivo de fabricar o antraz? Como ficaria o papel de preservação da vida do Estado quando este esta em mãos privadas? Como agentes letais poderiam ser espalhados tão facilmente por correios privados sem a menor fiscalização do governo?
As reações anti-corporações estavam cada vez maiores com as fragilidades expostas em tão pouco tempo e de uma só vez, os escândalos apareciam come freqüência desmascarando as maçãs podres da falta de fiscalização neoliberal. Três meses após os ataques a Enron decretou falência e levou com ela milhares de empregados que perderam suas contribuições previdenciárias.
Os servidores públicos como bombeiros, policiais, professores estavam no topo do pedestal durante aquele período, enquanto os CEOs das empresas caiam. Durante um certo tempo Bush tratou o trabalho público com um grau de respeito e dignidade que não existia nos Estados Unidos há quatro décadas. Porém, essa gloria durou pouco tempo, enquanto isso Bush já pensava em seu New Deal com as corporações.
A nova era corporatista
Na verdade, Bush e seus agentes não tinham interesse nenhum em tornar sua política econômica mais keynesiana, o que aconteceu foi o contrário disso, após o 11 de setembro suas convicções ideológicas eram mais profundas e seu propósito era estabelecer um New Deal corporatista, dedicado exclusivamente as corporações americanas.
Houve um período de desorientação após os atentados, ou seja, em retrospectiva uma terapia de choque econômico doméstica. Bush e sua equipe usou o choque que abateu a nação como um jeito de avançar seus projetos em que tudo, dês da reação ao desastre, o medo e ate a guerra gerasse lucros. Seria uma evolução da terapia de choque, onde não bastasse vender as empresas estatais como aconteceu na década de 90, mas sim, a Guerra ao Terror, feita para ser privatizada.
A Guerra ao Terror tinha dois principais estágios. Um em que o governo usou a onda de perigo para aumentar o policiamento, a vigilância, a detenção e o poder do Executivo para elevas seus gastos com a guerra como Andrew Bacevich denominou ''golpe do certeiro''. As funções de segurança, invasão, ocupação e reconstrução financiadas eram totalmente terceirizadas ao setor privado e formarem moldes lucrativos.
O objetivo declarado era a guerra contra o terrorismo porém seu efeito foi um complexo do capitalismo de desastre, um molde novo de economia sustentada pela segurança doméstica, guerra privatizada e reconstrução de desastres, que seu objetivo seria um Estado de segurança privatizado dentro e fora dos seus limites.
A melhor ferramenta ideológica nesse processo foi que a ideologia econômica não era mais a motivação principal dos Estados Unidos. A frase ''O 11 de Setembro modificou tudo'' encobriu o fato de que, para os ideológicos do livre mercado e corporações para qual eles defendiam os seus interesses, a única coisa que havia mudado era a facilidade com que agora poderiam expandir seus lucros e objetivos.
A equipe de Bush criou um novo papel para o governo no qual a função do Estado não seria oferecer seguraça e sim comprá-la de empresas privadas, ou seja, o Estado cria a demanda e o setor privado oferece todas as soluções, o Estado começa a ser o principal cliente de suas corporações .
Um exemplo dessa forma terceirizada de governança se da com o Departamento de Segurança Nacional criado por Bush. Como disse Jane Alexander,diretora do departamento, ''Nos não produzimos nada. Se não obtivermos da indústria, não obteremos de lugar nenhum''. Cada pequeno detalhe pensado por Bush na administração da Guerra ao Terror foi pensado para aumentar ao máximo a sua lucratividade e sustentabilidade.
O documento que fundou o Departamento de Segurança Nacional diz que os terroristas de hoje podem aparecer em qualquer lugar, a qualquer hora e com qualquer arma, o que significa que os serviços de segurança devem estar prontos para oferecer a segurança contra qualquer tipo de risco imaginável e em qualquer tempo e lugar possível. Além disso, não é necessário provar que a ameaça seja real para que ela sofra uma reação, como o que pregava a doutrina do 1% de Cheney, a qual justificava a invasão do Iraque com o argumento de que se há uma chance de 1% de que algo no Iraque seja ameaçador os americanos deveriam agir como se a ameaça tivesse 100% de chances. Esta doutrina caiu do céu para os fabricantes de detectores de alta tecnologia.
No período de cinco anos o Departamento de Segurança Nacional entregou na mão dos fornecedores privados 130 bilhões de dólares, um dinheiro que não estava na economia antes e que representa mais do que o PIB do Chile ou da República Tcheca .
Quando na década de 90 o objetivo era desenvolver a mercadoria mais genial, mais nova e surpreendente e vende-la para a Microsoft ou a Oracle, agora o objetivo se volta para a tecnologia mais inovadora para capturar terroristas e vende-la para o Departamento de Segurança Nacional ou Penagono.
Esta também foi a razão que a indústria do desastre originou, além dos pioneiros e dos fundos de investimentos, um exército de novas firmas lobistas, que prometiam envolver as empresas do ramo com as pessoas ''certas'' em 2001. Haviam duas dessas firmas especializadas em orientação de segurança ,já no final de 2006, 543 novas empresas novas surgiram no ramo de segurança.
Mais do que nunca o mercado continua aquecido, e agora com a proteção do governo maior ainda, sendo o próprio Estado como maior aquecedor e que mais influência a desregulamentação apenas mudando o foco dos negócios.
Conclusão
Partindo dos argumentos citados anteriormente podemos concluir que a implementação do modelo neoliberal da Escola de Chicago de Friedman funciona teoricamente semelhante aos resultados das pesquisas do Dr. Ewen Cameron quanto a terapia de choque que testava em seus pacientes.
Os objetivos e resultados são semelhantes, enquanto o Dr. Ewen Cameron induzia sessões de choque, inibição de sentidos e isolamento de seus pacientes,estes voltariam a idade mental de crianças, frágeis e vulneráveis perante qualquer imposição de um pensamento novo, diferente daquele inicial. Quando Bush depara-se a uma população americana insegura,frágil e chocada após os atentados de 11 de Setembro, percebe que este seria o momento ideal para impor mais firmemente e violentamente suas doutrinas e autodestruição do Estado, dandocontrole total de seu Estado as corporações privadas,defendendo interesses lucrativos.
Além disso, contradizendo o liberalismo econômico, ele mudara o foco dos investimentos lucrativos os deixando a serviço do Estado, sem total forca publica para rege-lo. O Estado interfere no mercado para implantar um regime de autonomia em que o próprio mercado regula a economia?
O 11 de Setembro foi apenas uma das diversas vezes em que o capitalismo de desastre aconteceu. Poderíamos citar inúmeros desastres sociais e ambientais em que os Estados Unidos se aproveitou do choque e abriu as portas para as empresas privadas tomarem o lugar do bem público.
Desde a ditadura militar na América latina ate o desastre ambiental em Nova Orleans, os mecanismos de adesão ao capitalismo de desastre apareceram, e continuam aparecendo com freqüência na idéia em que o desastre gera a limpeza, e da reconstrução tudo poderia ser recriado nos moldes em que o que era de esfera pública, sem fins lucrativos, como educação, segurança, etc., poderia ser entregue para empresas privadas e desregulamentadas, deixando de serem bens comuns sistemas que deveriam ser de acesso igual a todos os súditos de determinado Estado.
Assim o liberal passa de seus limites, vira um jogo de interesses privados e o comum a todos deixa de existir, as oportunidades deixam de ser iguais, e tudo o que move o homem passa a ser de seu interesse privado a ponto de comemorar um desastre, aproveitando o medo e a destruição por um fim lucrativo.