A tão sonhada paz!
Por Geraldo Gerraro Goulart | 09/09/2013 | FilosofiaA tão sonhada paz!
Passamos grande parte de nossa vida a remendar a paz, vivemos de oportunismo a oportunismo. Conseguimos paz com os filhos em um dia e a perdemos no outro, conseguimos em um instante, a paz com o vizinho, o amigo, a namorada, o irmão ou o patrão e a perdemos em outro instante por causa de um afobamento de pensamentos e alguma palavra mal falada. Vivemos a remendar a paz que quebramos com a mãe, o pai e os amigos, assim estamos a procurar a paz perdida a remendar a convivência diária.
O viver, de certa maneira é uma loucura. A vida é confusão, confusão porque na maioria das vezes não enxergamos aquilo que está diante dos olhos, perdemos de vista nossos alvos de vida, perdemos ou esquecemos dos nossos projetos, sonhos e ideais. Daí, por causa deste “viver às cegas” sem saber para onde ir ou, mesmo para onde se está indo, a vida se torna só loucura e confusão.
Neste modo de vida é que perdemos a paz tão dificilmente conquistada, pois ao viver de forma confusa e ansiosa perdemos de vista a oportunidade de manter-nos em paz e em paz com os outros. Claro, pois para viver em paz não é necessário apenas a conquista da paz, mas principalmente é necessário saber manter a paz conquistada. Facilmente percebemos que de tantos remendos o que nos resta são pedaços de paz costurados dia-a-dia numa tentativa, às vezes vã e desesperada de ter paz, o que nos leva a concluir que de tanto ser remendada a nossa paz se torna uma colcha de retalhos.
Vivemos de remendar a vida porque perdemos a luz principal de nossa visão, perdemos o ritmo e o rumo da vida. Perdemos o caminho da paz interior e buscamos a paz exterior, mas é impossível encontrar paz externa principalmente com os outros, quando não temos a paz dentro de nós, não temos a paz em nós mesmos. É difícil vivermos em paz com as pessoas quando a vida dentro de nós é uma agitação só, é um caos, é uma conturbação sem tamanho.
Quando o homem se sente perdido não há paz nele e em seu interior, não há sossego nem quietude em seu coração, em seus olhos. Pelo contrário, quando se está sem paz resta ao homem apenas um lamento interno silencioso e agonizante. O homem sem paz é um ser doente por dentro, é um ser enfermo na mente, no espírito e no corpo, ou seja: um homem sem paz é um enfermo completo, um zumbi que caminha pensando estar vivo. Contudo vive, sem sentir a vida. O homem sem paz fica enfermado só de pensar que não encontra a paz que tanto procura.
Em um universo imenso como este no qual vivemos o homem que não sabe ou não consegue encontrar o seu caminho nele, vive assombrado com a perspectiva da derrota pela tristeza e pela solidão. Vive desesperado com o vazio interior e a perda do rumo da vida. Qual cego a apalpar com a bengala o chão que pisa, assim vive o homem de hoje que ainda não possui direção certa na vida.
O homem que se sente espiritualmente perdido vive de um experimentalismo cotidiano em busca de terra firme, a sondar onde está o caminho certo que o levará a um cais seguro. Vivemos com um pé no tempo presente e outro pé no tempo futuro e não nos sentimos seguros em nenhum deles porque tememos tanto um quanto o outro. Vivemos inseguros pois não conseguimos unir estas duas coisas, são como duas paralelas e vivemos em uma, vendo a outra muito de perto sem no entanto conseguir tocá-la.
Nosso temor se baseia única e exclusivamente no fato de pensarmos que algo está errado a nossa frente, de que algo está ou poderá estar fora de controle. Tememos por não sabermos e nem podermos controlar nossa vida presente e muito menos a nossa vida futura. Por estarmos assim, à mercê das circunstâncias e dos imprevistos dos acontecimentos, temos a consciência, ainda que remota, que alguma coisa está errada em nosso caminho e que somente, à medida que damos o próximo passo, é que descobriremos se temos razão ou não.
O homem geralmente não possui consciência de estar no caminho certo. O piloto do avião não se importa muito com as nuvens quando se acha no meio delas, mas quando está fora delas precisa temê-las por não saber que perigos elas escondem e que tragédias elas podem lhe causar. Podemos até agüentar e superar todas as adversidades, se tivermos a certeza de para onde estamos indo. Mas e se não soubermos para onde estamos indo? E se não pudermos ter a segurança de onde pisar e de qual caminho escolher?
Portanto, mais importante que o ato de caminhar é sabermos escolher o caminho no qual caminhar, não simplesmente para ter segurança ou certeza daquilo que se quer, mas porque buscamos a libertação, buscamos ser livres de nossas duvidas, anseios e ansiedades mesquinhas. Procuramos, na verdade, é vislumbrarmos todos os dias e em todos os momentos um refúgio a frente de nós, tendo a certeza absoluta de que não só estamos caminhando em direção a ele, mas que chegaremos lá.
De um jeito ou outro procuramos verificar se tudo o que fazemos e vivemos nesta vida são realmente necessários à nossa felicidade, se o que sentimos é realmente aquilo que precisamos e queremos sentir para realizar por fim nossos sonhos.
Geraldo Gerraro Goulart