A sustentabilidade e a mobilidade urbana.
Por Murilo Prado Badaró | 13/02/2010 | AmbientalAgora em
Mas tudo isso tem um lado perverso. A sustentabilidade urbana fica comprometida, as cidades vão ficar entupidas.
Além do inconveniente dos congestionamentos e da perda de tempo de todos (lembre-se que tempo é dinheiro), ainda temos o problema sério da poluição, mais séio do que muitos imaginam. Não falo só do efeito estufa pelo CO2 do combustível, mas a poluição via material particulado e emissões.
Vejam os números do Brasil. Fonte: Denatran 2009-
Total de veículos: 58.506.136. As principais cidades:
- São Paulo: 6.105.954 Belo Horizonte: 1.205.415 Rio de Janeiro: 1.932.327 Curitiba: 1.181.551 Brasília: 1.138.005
Mais dados sobre o problema: Os principais poluentes emitidos por veículo.
- Partículas Totais em Suspensão (PTS)
- Partículas Inaláveis (PI)
- Fumaça
- Dióxido de Enxofre (SO2)
- Dióxido de Nitrogênio (NO2)
- Monóxido de Carbono (CO)
- Ozônio (O3)
Principais impactos da poluição atmosférica por emissões veiculares:
- Aparelho respiratório: bronquite, enfisema, asma e o cancropulmonar;
- Plantas: atacam as folhas, estas caem, diminuem a fotossíntese, respiração e a transpiração. Crescimentos mais lentos, tornando-se menos resistentes ás doenças e aos parasitas;
- Animais: contato com ao ar poluído como pela ingestão devegetais mais ou menos envenenados
Olhem mais:
- Segundo estudo do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP, baseado em parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS), a chance de uma pessoa morrer de doença cardiorrespiratória nos 39 municípios da região é atualmente de 10,9%.
- Sem as emissões veiculares, cairia para 2,4%.
Nos atuais padrões,
- O ar da região de São Paulo mata indiretamente, por ano, 7.187 pessoas a partir dos 40 anos (grupo de maior vulnerabilidade).
- São 65% a mais que em 2004, ano da última pesquisa. As principais doenças agravadas são infarto, acidente vascular cerebral, pneumonia, asma e câncer de pulmão.
- A poluição já mata mais do que a Aids e o trânsito juntos na cidade de São Paulo.
- Paulo Saldiva, médico do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, afirma que uma única medida, a redução da liberação de enxofre pelo óleo diesel usado pelos veículos, pode evitar 150 mortes por ano - pouco menos que o número total de vítimas de Aids na cidade de São Paulo, que chegaram a 232 em 2007.
- Segundo estudos, as doenças provocadas pela poluição, que vão de problemas respiratórios a enfartos, causam cerca de 9 mortes por dia na capital paulista.
- Por ano, são cerca de 3,5 mil óbitos.
- Na capital, o trânsito causou em todo o ano de 2007, 1.352 mortes de acordo com dados da secretaria municipal de Saúde.
- Somados, no ano passado, a Aids e o trânsito mataram 1.624 pessoas na cidade.
- Segundo estimativa do laboratório, a região metropolitana de São Paulo gasta por ano US$ 1,5 bilhão para tratar as doenças causadas pela poluição do ar.
- Os gastos levam em conta custos de internação e tratamento por doenças causadas ou agravadas pela poluição e também a redução de cerca de um ano e meio da expectativa de vida da população economicamente ativa.
- Além dos custos diretos, existem as perdas com os dias que os indivíduos internados deixaram de trabalhar, uma vez que os casos mais graves ocorreram na faixa etária entre 15 e 64 anos.
- Há maior incidência dos efeitos nos meses de inverno, em decorrência da inversão térmica.
A questão da mobilidade urbana e da sustentabilidade nas grandes cidades é mais séria do que imaginamos.
O trem urbano "Metro" com todos os seus problemas de sustentabilidade econômica pode ser uma saída se computados os gastos com a saúde pública.
Soluções? Vou dar algumas idéias:
- Rodizio de veículos como existe em São Paulo
- Pedágio eletrônicos como existem em Tóquio e Londres, ou seja, área determinadas que carros não podem circular, e se os motoristas quiserem pagam caro para acesso a estas áreas.
- Melhorar o transporte urbano. Isso incentivaria muitas pessoas a usarem, como em New York.
- O metro, mesmo com problemas de sustentabilidade econômica e precisar de subsídios, pode ser mesmo a saída. O custo desta poluição e os problemas de saúde causados podem pesar definitivamente na conta favorável a implantação de metros.
- Consciência da população para uso racional dos veículos.
- Efetivação de políticas de sustentabilidade urbana com programas e ações concretas.
Não podemos frear o desenvolvimento da indústria nem do mercado, mas ações em paralelo precisam ser tomadas para equilibrar os problemas gerados.
A palavra mágica chama-se sustentabilidade urbana. A mobilidade urbana está relacionada a ela, mas as políticas que algumas cidades estão adotando têm foco mais abrangente. As grandes cidades nos países desenvolvidos têm uma atuação na questão da sustentabilidade urbana de forma focada e relevante. Aqui no Brasil faltam políticas mais sérias e eficientes. Ainda temos muito a fazer, enquanto isso gastamos bilhões e sofremos transtornos de toda natureza.