A Submissão da mulher à luz da Bíblia e o uso equivocado do termo

Por Jeane Katia dos Santos Silva | 12/06/2017 | Religião

Embora eu discorde de alguns pontos defendidos por Saul Brandalise Jr. em seu artigo publicado na internet, destaco aqui o significado que ele traz da palavra submissão. Ele diz: "A etimologia da palavra ? em seu sentido original - é "estar abaixo da missão" de outra pessoa.". E, ressalta que não se pode confundir etimologia com significado. Segundo ele, em escritos antigos [como a Bíblia, por exemplo] ser submisso tem o significado de estar debaixo da missão, que era como ele esclarece, o sentido da palavra submissão na época em que os relatos bíblicos foram escritos. E ele chama a atenção para o fato de que o significado mudou, tendo a ver em nossos dias apenas com obediência inquestionável.

 Percebe-se que há em nossos dias um uso equivocado do sentido da palavra "submissão" e em especial quando se trata da submissão da mulher ao seu esposo. E, para entendermos o porquê desse equívoco, é preciso que façamos as seguintes considerações:
  

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1. À luz do relato bíblico a mulher foi criada por Deus para ser adjutora do homem. Por sua vez, o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa dá à palavra adjutor o seguinte significado: "Aquele que ajuda ou adjutora; ajudante." E, esse significado não é contrário ao sentido que a palavra adjutora tem na Bíblia;

 2. A Bíblia faz analogia entre a submissão da mulher ao seu esposo e a submissão da Igreja [corpo] a Cristo [cabeça]. E, acerca disto, assim diz o apóstolo Paulo em sua carta aos cristãos da cidade de Éfeso:

 As mulheres sejam submissas a seus maridos como ao Senhor, porque o marido é cabeça da mulher como Cristo é cabeça da Igreja, seu corpo, do qual ele é o Salvador. Ora, assim como a Igreja está sujeita a Cristo, assim o estejam também as mulheres a seus maridos em tudo. [Efésios 5:22-24].

 3. Se, porém, partirmos da premissa que a submissão da esposa ao seu cônjuge significa que ela tenha que está constantemente disposta a fazer a vontade do marido, ainda que esta vontade vá contra os seus próprios desejos e interesses resultando em renúncia diária, então a relação marido/esposa que analogicamente corresponde à relação que Cristo tem e deseja ter com sua Igreja, realmente precisa ser alvo de grande reflexão entre os cristãos; e isto se dá justamente em razão dessa analogia que a Bíblia faz. E, uma vez que o apóstolo Paulo diz que o marido deve tratar a esposa como à sua própria carne, é imprescindível que à luz da Bíblia nos perguntemos:

 3.1 Em seu dia-a-dia, os maridos cristãos têm tratado suas esposas como à sua própria carne?

 3.2 Alguém em sã consciência faz algum mal à sua própria carne? Traindo? Humilhando? Coagindo? Desrespeitando? Magoando? Ferindo?

 Por outro lado, à luz da Bíblia a relação que Cristo deseja ter com sua Igreja não é uma relação do manda quem pode e obedece quem tem juízo, e sim, uma relação de amor em que a submissão seja consequência da certeza de que tudo o que Cristo faz visa o bem de sua Igreja e isso nos dá o parâmetro de qual deve ser a relação marido/esposa à luz da bíblia. Contudo, um parâmetro que não se restringe à esposa em relação ao marido, mas inclusive dele em relação a ela.

 Como diz Dostoievski, o poder de Deus é interno e não é coercivo. E, segundo o autor do livro aos hebreus, Cristo é a expressa imagem de Deus! Isto significa que Ele nos revela o caráter de Deus! Por conseguinte, a relação de Cristo com sua Igreja também nos revela o caráter de Deus! E assim, uma vez que a Bíblia faz analogia entre o casamento e a relação de Deus com seu povo, a conclusão que podemos chegar é a de que o caráter de Deus deve ser a marca da relação marido/mulher; ou seja, não se trata de uma relação do manda quem pode e obedece quem tem juízo; e sim, uma relação de amor em que a submissão da esposa ao seu marido possa encontrar respaldo na certeza de que ele saberá trata-la como à sua própria carne.

 Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só, como se aquentará? E, se alguém prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; e o cordão de três dobras não se quebra tão depressa. [Eclesiastes 4:9-12].

 Note que o texto acima denota uma relação em que impera o companheirismo entre o casal. O fato é que o uso equivocado do significado de submissão da mulher ao seu esposo tem sido a causa do fim de muitos casamentos cristãos, isto por que, uma relação onde um dos cônjuges sempre se anula em prol do outro, estará sempre fadada ao fracasso, tendo como resultado um divórcio que mais cedo ou mais tarde poderá acontecer, quando a outra parte perceber não ser mais possível permanecer num relacionamento que envolva tanta anulação de si mesmo. Infelizmente, o que se vê, é que essa submissão tem sido interpretada como se significasse que a mulher, não pudesse ter opinião própria e, muito menos se posicionar frente a ela.

 Porém, não podemos nos esquecer que Deus nos chama a um relacionamento que envolve renúncia de nosso próprio eu; mas também, devemos ter em mente o fato de que Deus não anula em nós aquilo nos torna peculiar em nossa individualidade. A renúncia a qual todos nós [homens e mulheres] somos convidados não envolve tal aniquilação do eu. E sim, a mudança onde ela realmente precisa acontecer. Abraão, Moisés, Pedro e, Paulo tiveram suas vidas transformadas, mas não tiveram suas peculiaridades como indivíduos modificadas. Embora impactados pela experiência pessoal com Deus, suas características como indivíduos foram mantidas.

 E, diante disso, considerando a analogia que a bíblia faz do casamento com a relação que Deus deseja ter com o seu povo, a conclusão que se pode chegar é a de que a submissão da mulher ao marido no casamento também não envolve aniquilação daquilo que a define em sua individualidade. Até por que, se traçarmos o perfil de mulheres na Bíblia veremos que Deus não buscou mudar em nenhuma delas aquilo que lhes é peculiar como indivíduos que são. E assim, nem todas as mulheres são como Sara, nem todas são como Ester e nem todas são Débora.

 Eu encerraria por aqui este artigo, porém, torna-se inevitável abordar dentro deste assunto "submissão da mulher", a indagação que se faz sobre ela poder ou não ensinar. E é acerca disto que passaremos a tratar agora.

 Em sua carta a Timóteo, Paulo deu a seguinte orientação:

 A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação. [I Timóteo 2:9-15].

 Em sua carta aos corintos, ele diz:

 As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei. E se querem ser instruídas sobre algum ponto, interroguem em casa os seus maridos, porque é vergonhoso para uma mulher o falar na igreja. [1 Coríntios 14:34-35].

 A meu ver, o uso de textos como esses dois que acabo de mencionar, para defender a tese de que a mulher não deve ensinar nas igrejas é equivocado! E, por certo, à primeira vista, afirmar ser isto um equívoco soe bastante estranho ao leitor. Mas não é! E, para entendermos melhor isto, será preciso abrir um parêntese para entrarmos na questão de usos e costumes na Bíblia, a fim de mostrarmos como Deus age na quebra de paradigmas.

 

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