A SUBJETIVIDADE FEMININA NA ORDEM TERCEIRA DO CARMO DE GOIANA

Por Aureni Braz de Oliveira | 03/11/2016 | Psicologia

Resumo

A presença da mulher dentro da igreja se deu desde o início do cristianismo, quando as mulheres que acompanhava Jesus   e seus apóstolos, deram continuidade a sua Missão, após a sua morte. No entanto, mesmo a dignidade da figura feminina pelo próprio Jesus, o gênero feminino sempre foi colocado em segundo plano, devido a convenções sociais e corolários propagados pela Igreja   sob a justificativa de que a dominação feminina das mulheres na igreja católica é pautada nas interpretações de Santo Agostinho, e São Tomás de Aquino, santos   católicos. Na figura de Maria   a mãe de Jesus, compreende-se o ideal de mulher a ser seguido e suplantado na sociedade, perpassado por gerações.  Infelizmente as mulheres terminam por reiterar a mensagem, pois devido a influência das doutrinas religiosas na constituição da subjetividade, ocorre entre elas o choque de opiniões, ideologias e posicionamentos, suscitando, por vezes, o sofrimento de seus integrantes, já que acabam questionando este papel a ser experenciado na sociedade, fora dos muros da Igreja.   A Ordem Terceira do Carmo de Goiana enfrenta esta realidade de sofrimento, proveniente da dicotomia existente entre a nova geração e antiga geração de mulheres que adentram nas fileiras da ordem; que não admite ser trazida à tona questionamentos e novos parâmetros do gênero feminino, do ser mulher e da subjetividade feminina.

1-Introdução:

A presença da mulher dentro da Igreja Católica ocorre desde o início do Cristianismo, sendo comum vermos relatos bíblicos ao respeito da presença feminina ao lado de Jesus; essa atitude de Jesussuscitou uma quebra de paradigmas numa sociedade judaica e machista, que nunca havia levado em consideração a dignidade da mulher “Em uma época marcada pelo machismo, a prática de Jesus foi decisiva para significar a dignidade da mulher e de seu valor indiscutível” (APARECIDA, 2007 p.111).  A valorização das mulheres no interior da igreja, pode-se dizer, que foi iniciada por Jesus Cristo; e após a sua morte, as mulheres que os acompanhavam junto com seus apóstolos deram continuidade a sua missão. No entanto, apesar do resgate da dignidade da figura feminina por Jesus Cristo, registrado por meio da bíbliagênero feminino sempre foi colocado em segundo plano quando se trata da Igreja Instituição.

A Igreja detentora de uma estrutura patriarcal desde a sua fundação, buscou ocultar as atuações de mulheres e também desvalorizar sua posição, negando-a o lugar de ocupar altos cargos dentro de sua estrutura hierárquica. Um bom exemplo é o de Maria Madalena; a judia convertida por Jesus Cristo, segundo a bíblia, esteve presente em sua crucificação e ressurreição, sendo inclusive a primeira a testemunhar o sepulcro vazio, saindo às pressas para comunicar aos apóstolos “Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo” (JOÃO, 20:01). Todavia,Maria Madalena não teve o merecido destaque de Pedro e Paulo, vistos como baluartes do Evangelho e principais continuadores da mensagem de Jesus na terra.

Com o passar dos anos, a Igreja realizou tentativas de reconhecimento da mulher, de forma dúbia na verdade, pois se refere a falta de valorização da dignidade da mulher, pelo não reconhecimento de ações que segundo a Igreja cabe a ela, como a educação dos filhos e transmissão da fé, como bem pode-se observar em Aparecida (2007, p.111):

Lamentamos que inumeráveis mulheres de toda condição não sejam valorizadas em sua dignidade, fiquem com frequência sozinhas e abandonadas, não se reconheçam nelas suficientemente seu abnegado sacrifício e inclusive heróica generosidade no cuidado e educação dos filhos nem na transmissão da fé na família.

Anterior à Aparecida, temos o Concílio Vaticano II, o mesmo vai romper com o tradicionalismo da igreja católica ao lançar um novo enfoque sob o corpo, visto comoalgo integral ao espírito, portanto, homem e mulher são uma só carne, um só espírito, dando a ideia de unidade e não complementaridade de fato. O Concílio tem a particularidade de ter presente entre as fileiras de sua elaboração mulheres “consagradas e em número muito reduzido com relação aos homens” (BASSINI, 2011, p.02).

Na busca de um ideal feminino a ser seguido,Maria, mãe de Jesus, que desde os primórdios do Cristianismo e, também na atualidade, é apontada como a figura discípula por excelência; é peça fundamental na constituição do gênero feminino dentro da Igreja católica: “A figura de Maria, discípula por excelência entre discípulos, é fundamental na recuperação da identidade da mulher e de seu valor na Igreja” (APARECIDA,2011, p.111).

 Todavia, é importante enfatizar que o modelo construído em torno de Maria, obedece a uma normatização idealizada do gênero feminismo, aderindo as transformações sociais, e que no fundo guarda a essência controladora e, porque não dizer, excludente da Igreja perante a mulher. 

As doutrinas religiosas terminam tendo um papel importante neste processo, pois elas influenciam na formação da subjetividade do indivíduo, diante do contexto social cultural que está inserido “não são os indivíduos que tem a experiência, mas sim os sujeitos que são constituídos na experiência”(SCOTT,1998,p.8).

           

A Ordem Terceira do Carmo de Goiana é um exemplo de onde se observa o conflito proveniente da busca de uma conduta ideal na qual a jovem mulher religiosa deve-se portar. Para a mesma implica guardar-se para o matrimônio, e qualquer indício de quebra do “contrato” acarreta punição, estabelecida pelos Estatutos da Ordem, que recomenda o seguinte: [i]

“Um irmão ou uma irmã que por motivo de doença o outro justificável, não participa regularmente das atividades do Soldalício, continua pertencendo a Ordem, porém nãogoza de voz ativa ou passiva em eleições ou outras decisões do Sodalício. ” (2006, Art.82). 

A elaboração dessa pesquisa surgiu da necessidade de se compreender como a mensagem do ser mulher é propagada nestes grupos católicos, compreendendo que neste espaço institucional o gênero feminino vem sendo colocado em segundo plano, mesmo com toda notoriedade e evolução da mulher na atualidade;  Não existindo mais espaços para regras e padrões de outrora, observando que ela não se “visualiza a dona-de-casa, conformada e satisfeita com sua dependência e submissão ao marido, ou à espera de um” (VENTURINI,  2004, p.28).

2-Objetivo geral:

Analisar a construção da subjetividade feminina dentro da Ordem Terceira de Goiana.

2.1 - Objetivos específicos:

            Discutir asubjetividade feminina presente nos principais documentos da Igreja católica;

Pesquisar sobre o papel da mulher dentro das associações, ordens e movimentos da Igreja;

             Refletir de que forma as questões de gênero são encaradas pela Igreja.

3-Material e Métodos

De cunho qualitativo esta pesquisa está fundamentada na epistemologia feminista, tendo como referencial teórico textos de Judith Butler (1990;1985), Joan Scoot, (1975)Sandra Azêredo e Maria Rigaud Peixoto dos Santos (2016); queinovam em sua concepção de ciência e sujeito. A perspectiva feminista vale-se de procedimentos que problematizam a ideia de mulher, não mais como complementodo homem, mas como autônoma e sujeita de direitos próprios.  Nesta pesquisa a base teórica do feminismo é resgatada para elucidar as categorias de sexo e gênero, que por sua vez, contribuem na compreensão e problematização do papel da mulher dentro da Igreja Católica; visando desconstruiras representações sociais do ser mulher, observando os mecanismos sociais de divisão social dos sexos e de outros sistemas de dominação como o Patriarcado(SAFFIOTI 1992).

            O enfoque principal será dado a partir de uma análise da concepção da mulher sustentado na Ordem Terceira do Carmo de Goiana. Vê-se que mesmocom o advento e transformações sociais, principalmente no que concerne ao papel da mulher na sociedade, a mesma, nesta instituição, permanece resistente a toda e qualquer ideia contrária de mulher já eternizada pela Igreja Católica, ocasionando sofrimento eum entendimento equivocado acerca da sua subjetividade feminina.

Esta pesquisa abordará questões relacionadas ao ser mulher na atualidade, dentro Igreja, analisando documentos, cartas e encíclicas cujo tema seja a presença e atuação da mulher no seu interior, logo será uma pesquisa documental (VERGARA, 2008). Far-se-á uso da Bíblia Sagrada, pois é tida entre os cristãos como base direta e verdade a ser seguida; sendo a fonte principal para o estabelecimento da doutrina e conduta dos cristãos;atuando de forma analítica e reflexiva diante este processo. Por fim, buscar-se-á realizar incursões sobre a bibliografia feminista, observando seus conceitos que buscam desconstruir as relações binárias entre os gêneros encontradas em alguns seguimentos desta Instituiçãoreligiosa.

[i]  Ordem religiosa constituída por membros da Igreja católica, composta maioritariamente por homens e mulheres leigos, mas que estão ligados espiritualmente, e de modo bastante particular, aos restantes membros da Ordem do Carmo.

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