A SS TRINDADE, A RIQUEZA INTERIOR DO DEUS ÚNICO CRIADOR

Por Geraldo Barboza de Carvalho | 31/10/2009 | Bíblia

A SS TRINDADE, A RIQUEZA INTERIOR DO DEUS ÚNICO CRIADOR

Geraldo Barboza de Carvalho

A fé judeu-cristã é monoteísta. "Ouve, Israel! Javé nosso Deus é o único Deus. Creio em um só Deus, Pai misericordioso, Criador de todas as coisas, as invisíveis e visíveis. Ouve, ó Jacó, que eu chamei: Eu sou Javé; este é o meu nome! Não cederei aos ídolos, a outrem a minha glória, a minha honra. Eu sou o primeiro e o último. Amarás Javé teu Deus com todo teu coração, toda tua alma, toda tua força. Não seguireis outros deuses, qualquer um dos deuses dos povos que estão ao teu redor, pois Javé é Deus ciumento e habita no teu meio. Javé é o Deus dos deuses, o Senhor dos senhores, o Deus valente, terrível, grande que não faz acepção de pessoas nem aceita suborno, mas ama perdoar com largueza; Javé ama o estrangeiro, lhe dá roupa e pão, faz justiça à viúva e ao órfão. Amarás o estrangeiro, pois estrangeiro foste no Egito. Farás o que é justo aos olhos de Javé. Que estas palavras que hoje te ordeno estejam no teu coração. Tu as inculcarás a teus filhos e falarás delas sentado na tua casa, deitado, de pé, andando no teu caminho". Este rígido monoteísmo, âncora da fé judaica, ignora a presença de Deus Trino. Porém, desde os primórdios de Israel, na revelação veterotestamentária, há sinais da existência de Deus Trino, em paralelo com o monoteísmo, ainda que o povo não o perceba. "No princípio (do tempo) Deus (Pai) criou o céu (firmamento) e a terra. A terra estava vazia e vaga, o Espírito Santo (Deus Mãe) pairava sobre as águas. Deus (Verbo) disse: 'Faça-se a luz', e a luz se fez". Pelo processo de palavra eficaz, palavra criadora, Deus criou todas as coisas no céu e na terra. Por fim, dando toque de qualidade à criação, cria sua obra prima, a mulher e o homem, à sua imagem e semelhança, para ter interlocutores à altura. Deus não poderia dialogar com planetas, astros, luz, trevas, animais, vegetais e água, mas com imagens e semelhanças sua. Homem e mulher refletem o Trino Criador quando formam família, geram filhos. O pai é a imagem e semelhança do Pai; a mãe é a imagem e semelhança de Deus Mãe; os filhos, imagem e semelhança do Filho Único. O primeiro sinal de Deus Trino na revelação da antiga aliança é quando o hagiógrafo usa o plural pra exprimir a complexidade da substância de Deus único, cujo nome comum em hebraico "Elohim" é plural de Elói: "Elói, Elói, lama sabactani", diz o monoteísta Jesus nos estertores da cruz. "Deus disse: façamos (plural) o homem á nossa imagem, como nossa semelhança. Ele criou o homem à sua imagem, à sua imagem o criou; os criou homem e mulher" Gn 1,1-3; 26-28. Criado à imagem (visível) e semelhança do Criador (invisível), o homem expressa no seu ser e agir características substanciais da natureza una e plural do Original divino. Tudo de positivo que há no ser humano há também, com perfeição, em Deus Criador. Pra a filosofia grega, a essência do homem é espírito, razão, que o faz imortal. Corpo e emoções são perecíveis. Antes da filosofia, a tragédia grega mostrava o homem inteiro, com corpo, alma, sensibilidade, inteligência, sentimentos, inseparavelmente unidos. Por isto, o homem da tragédia grega está mais perto do homem bíblico, visto como unidade ontológica indivisível tão sólida que nem a morte desfaz: a ressurreição restaura na morte o ser humano inteiro e o faz imortal de corpo e alma, pelo poder criador de Deus Mãe, Senhora que dá vida a todas as coisas. À semelhança do Criador, a essência do homem não é razão, mas amor, que é da natureza de todos sentimentos divinos e humanos. Antes do discípulo amado dizer "Deus é amor e todo que ama está em Deus", Jesus declara que nos ama como o Pai nos ama e deseja que nos amemos uns os outros como o Pai e ele nos amam. Ele revela em palavras e atos a natureza divina: misericórdia, compaixão, amor que acolhe, protege estrangeiros, viúvas, órfãos, não condena, perdoa os pecadores. Por amor Deus cria e salva o homem e quer que se lhe assemelhe na misericórdia e santidade: "Sede santos, pois Javé vosso Deus é santo. Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso". Sendo imagem e semelhança de Deus, é natural que atos e palavras humanas reflitam a essência de Deus trino e uno. O homem têm sensibilidade, inteligência, sentimento, liberdade, emoções, vontade, pode ser pai, mãe, gerar filhos, trabalhar. Atributos que a Causa criadora única tem com perfeição. Emoções: "Javé, Javé, Deus de piedade, compaixão, cheio de amor e fidelidade, lento para a cólera, seu rancor não dura sempre; guarda o amor a milhares, tolera falta, transgressão e pecado, mas não deixa ninguém impune, pois castiga a falta dos pais nos filhos, nos filhos dos filhos até a terceira, quarta geração dos que odeiam Javé, mas também age com amor até a milésima geração dos que o amam, guardam os mandamentos" Inteligência: Diz o Servo, figura do Primogênito: "O espírito de Javé pousa sobre mim, espírito de sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, conhecimento e temor: sua inspiração está no temor de Javé". Trabalho: "Javé modelou o homem com argila do solo, soprou hálito de vida em suas narinas e o homem se tornou um ser vivente. Não dorme, não cochila o guarda de Israel, que dá o pão aos filhos, cuida deles até enquanto dormem. Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também. De dia o sol não te ferirá nem a lua durante a noite. O Senhor deu ordem a seus anjos para que não tropeces nalguma pedra. Vê! Teus discípulos fazem o que não é permitido no Sábado. Jesus respondeu: O Sábado foi feito pro homem, não o homem pro Sábado: Sou Senhor até do Sábado" Ex 20,6.34,6-7. Is 11,2-3Gn 2,7; Sl 120 (121); Jo 5,17; Mc 2,24.27.

O rígido monoteísmo impedia o povo de experimentar a presença de Deus trino, até com os sinais inequívocos da sua atividade no meio dele. O monoteísmo era tão rígido que condenava à morte quem ousasse dizer que há deuses além de Javé. Não obstante, o Criador universal é reconhecido pelo povo judeu como seu Pai e sua Mãe: "Tu és um povo consagrado a Javé teu Deus. Javé te escolheu para lhe pertenceres como seu povo próprio, dentre todos os povos que existem sobre a terra. O povo que Javé resgatou do Egito "ergueu-os, carregou-os no seu amor e misericórdia, logo esqueceu seu libertador e Pai. Rebelaram-se e magoaram o Espírito Santo de Javé. Pecastes contra Javé: sois um povo de cerviz dura, já não sois seus filhos, mas uma raça degenerada, depravada perversa. É assim que agradeceis a Javé, povo frívolo e insensato? Não é ele teu criador e Pai, que te estabeleceu e fez? No deserto, levou-te nos braços como um pai leva o filho, por todo o caminho que percorreste até chegares a este lugar. Foi então que Javé se transformou no seu inimigo, guerreou contra eles. Mas depois se lembrou de Moisés seu servo: onde está aquele que os fez subir do Mar, o pastor do seu rebanho, que pôs seu Espírito Santo no meio do povo? Onde está teu zelo e teu valor, o frêmito de tuas entranhas para conosco, tua compaixão se recolheu? Olha desde o céu e vê, desde a tua morada santa e gloriosa. Pois, tu és nosso Pai, nosso redentor; nós somos a argila e tu o nosso oleiro, todos nós somos obras das tuas mãos, somos teu povo. Javé, és nosso pai. Ainda que nos desconhecesse Abraão e Israel não tomasse conhecimento de nós, Javé, és nosso pai e redentor: tal é o teu nome desde a antiguidade. Javé, tu és nosso Pai, nós somos argila, tu, nosso oleiro, somos obras das tuas mãos. Reconhece no teu coração que Javé teu Deus educava-te, como um homem educa seu filho. Serei um pai para ele, ele será para mim um filho: se ele fizer o mal, o castigarei com vara, açoites de homem. Meu filho, não desprezes a disciplina, não te canses da exortação de Javé; ele repreende os que ama como um pai o filho amado. Aos teus provastes como pai que repreende. Jacó ainda era criança, e eu amava-o com amor de mãe. Jerusalém, Jerusalém, quantas vezes eu quis acolher-te como a mãe galinha acolhe seus pintinhos sob as asas e tu o recusaste" " Is 63,10-11.15-16; 64,7-8. Dt 1,31; 8, 5; 14,1-2; Dt 32,3-6; Is 63,16; 64,7; 2 Sm 7,14; Pr 3,11-12; Sb 11,10. Na saga de Abraão são evidentes os sinais da presença de Deus trino no monoteísmo rígido judeu. Javé aparece a Abraão sob a forma de três anjos, para anunciar-lhe a gravidez de Sara e o nascimento de Isaac. "No Carvalho de Mamoré Javé aparece a Abraão, que estava sentado na entrada da tenda no maior calor do dia. Tendo elevado os olhos, viu três homens perto dele de pé; de imediato, correu da entrada da tenda ao encontro deles, prostrou-se por terra. Disse: peço-te, meu senhor (1), se encontrei graça a teus olhos, não passes junto do teu servo sem te deteres. Traga-se um pouco d'água, lavar-vos-ei os pés, vos estendereis sob a árvore, trarei um pedaço de pão e reconfortareis o coração antes de irdes mais longe. Os três disseram-lhe: "Faze como o disseste. Depois de comerem, perguntaram a Abraão: Onde está tua mulher, Sara. Respondeu ele: Está na tenda". No próximo ano voltarei (1) a ti; então tua mulher terá um filho". Sara escutou a conversa e riu-se da proposta do hóspede, dizendo: "terei ainda prazer, agora que estou velha e deixei de ter o que têm as mulheres jovens, e meu senhor também está velho? E Javé disse a Abraão: Por que se ri Sara dizendo: agora que sou velha, será verdade que darei à luz,? Acaso há algo de tão maravilhoso para Javé? Nesta estação, no próximo ano, voltarei e Sara terá um filho. Tendo-se levantado, os (3) homens partiram. Disse Javé: 'O que vou fazer, ocultarei a Abraão, já que tornar-se-á poderosa, grande nação, por ele serão benditas todos os povos terra? Pois o escolhi para que ordene a seus filhos e à sua casa depois dele que guardem o caminho de Javé, pratiquem a justiça e o direito; assim, Javé fará o que prometeu a Abraão". Os profetas, salmos e livros sapienciais também revelam Deus Trino apesar do rígido monoteísmo. "Por que as nações e reis da terra unidos se insurgem contra Javé e seu Ungido? Disse-me o decreto de Javé: tu és meu filho, gerei-te hoje. És eternamente sacerdote segundo a ordem de Melquisedec. Envias teu Espírito, tudo é criado, renovas a face da terra. Um ramo sairá do tronco de Jessé, rebento das suas raízes. Eis o meu Servo, meu eleito que eu sustenho, no qual alegro-me. Sobre pousará o meu Espírito: Espírito de sabedoria e inteligência, conselho e ciência, fortaleza e temor de Javé. Julgará os pobres e as nações com justiça. Não julgará pela aparência nem dará sentença apenas por ouvir dizer" Gn 18; Sl 2,1-2.7; 103 (104), 40; 109 (110),4; Is 42, 1;1,1-4.

Ao povo judeu faltava reconhecer explicitamente a presença de Deus Trino no meio dele. Precisou Jesus vir do Pai e revelar sem equívocos a riqueza interior do Deus único de Israel, a presença amiga da Família Divina em ação redentora e criadora no mundo.

A fé do discípulo amado revela algo luminoso: "No princípio (ab eterno), era o Verbo, o Verbo estava com Deus, o Verbo era Deus. Ninguém jamais viu Deus: o Filho único, que vive junto do Pai, deu-o a conhecer. Saí do Pai e vim ao mundo. Deixo o mundo agora e volto para o Pai. Rogarei ao Pai e ele vos enviará Deus Mãe em meu Nome. Eu, o Pai e Ruah somos um só Deus". A fé cristã é, pois, moderadamente monoteísta, pois concilia a diversidade das Pessoas com a unicidade da substância divina. Daí, judeus e cristãos somos herdeiros da fé monoteísta de Abraão, Isaac, Jacó, assumida por Jesus e transmitida aos Doze e seguidores até hoje. O shemá Israel vale também pra os cristãos, cujo Credo incorpora e explicita o Credo judeu . "Não penseis que vim revogar a Lei e profetas. Não os vim revogar, mas dar-lhes cumprimento pleno" Jo 1, 18; Dt 6,4-7.14-15.18; 10,16-19; Is 42, 8; Mt 5, 17. Com risco de apedrejamento no nome da Lei, Jesus revela que Javé, o único Deus judeu, não é Deus solitário, ensimesmado, mas solidário, misericordioso, que ama perdoar, gera vida e comunidade fora de si. Javé comunica-se, relaciona-se, revela-se em Três Pessoas distintas, cada uma com a mesma substância do Deus único: o Pai criador, o Filho salvador, Deus Mãe santificadora, que gera santidade e vida no Pai, no Filho e nos filhos adotivos. Os judeus escandalizam-se quando Jesus diz que é o Enviado do Pai na força de Ruah, que é consubstancial ao Pai e Deus Mãe. A prova da consubstancialidade de Jesus com Javé, o Deus único de Israel, é o uso do nome de Javé revelado a Moisés na teofania da sarça ardente: "Eu sou Aquele que é". Jesus diz 'Eu sou' com a naturalidade admirável: "Antes que Abraão fosse, Eu: sou. Eu sou a luz do mundo, a videira, o pão da vida". Era inaceitável um judeu ouvir de Jesus que Javé, ele e Ruah são o Deus Único judeu. Por isto, além da razão política - desde o nascimento sabe-se que Jesus é da estirpe de Davi, herdeiro do trono real, uma ameaça ao Imperador Romano. Por isto, Herodes, sem saber onde achar Jesus, manda matar todos os meninos abaixo de 2 anos, entre os quais estaria o rival de César – uma razão religiosa grave levou Jesus à morte na cruz: a Lei declarava blasfêmia alguém dizer-se Deus além de Javé, o Deus único de Israel. Equívoco, pois Jesus era monoteísta, como fica claro na tentação do deserto. "Disse ele a Satanás: Não tentarás o Senhor teu Deus.

Só a ele adorarás, prestarás culto". Deus Trino é revelado explicitamente na encarnação do Verbo. "O anjo Gabriel disse: Não temas, Maria. Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, o chamarás com o nome de Jesus, porque ele salvará seu povo dos seus pecados. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono do seu pai Davi. Deus Mãe virá sobre ti e o poder do Altíssimo (o Pai) te cobrirá com a sua sombra; por isso, o Santo que de ti nascer será chamado o Filho de Deus". Revelação reiterada no batismo e transfiguração. "Jesus veio de Nazaré e foi batizado por João Batista no Rio Jordão. E logo ao subir da água, viu os céus rasgando-se e Deus Mãe, como uma pomba, descer até ele e uma voz veio do céu: És meu Filho, alegro-me em ti. Uma nuvem luminosa cobre-os com sua sombra e uma voz saindo da nuvem, disse: Este é o meu Filho amado, em quem alegro-me; ouvi-o" Mt 1,20; Lc 1, 26-35; Mc 1,9-11; Mt 17,5. Jesus afirma a presença de Deus Trino no mundo durante sua vida pública. "Se é pelo Espírito Santo de Deus Pai que expulso os demônios, então o Reino está entre vós. Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas a vossos filhos, quanto mais o Pai celeste dará Deus Mãe a quem a pedir. Se me amais, guardais meus mandamentos, rogarei ao Pai, ele vos dará Ruah, o Espírito da verdade, que convosco ficará pra sempre, que o mundo não pode acolher, pois não o conhece nem vê. Ruah, que o Pai enviará no meu nome, ensinar-vos-á e recordará tudo que vos disse. Quando vier o Paráclito, Espírito da verdade que vos enviarei da parte do Pai, ele testemunhará de mim. Tenho ainda muito a dizer-vos, mas não o podeis suportar agora. Quando vier o Paráclito, ele vos levará à plena verdade, pois não falará de si, mas dirá tudo que tiver ouvido e vos anunciará coisas futuras. Ele me glorificará, pois receberá do que é meu e vos anunciará. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isto vos disse: ele receberá do que é meu e vos anunciará" Mt 12,28; Lc 11,13; Jo 14,15-17.26;15,26; 16,12,15. Na tarde do dia da ressurreição, "veio Jesus, se pôs entre eles e lhes disse: A paz esteja convosco. Como o Pai enviou-me, eu vos envio também. Recebei o Espírito Santo" Jo 20,19-22. Antes da ascensão, "durante uma refeição com eles, ordenou-lhes que não saíssem da Cidade, mas aguardassem a Promessa do Pai, que ouvistes de minha boca: pois João batizou com água, mas vós sereis batizados em Deus Mãe dentro de poucos dias. Ide pelo mundo, fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e de Deus Mãe" At 1,4-8; Mt 28,27. Depois de Pentecostes, os discípulos de Jesus anunciam Deus Trino sem medo. "Quando chegou a plenitude do tempo, o Pai enviou o Filho, nascido de mulher, pra recebermos a adoção filial. E porque sois filhos, enviou Deus a vossos corações o Espírito do Filho que clama: Aba, Pai! Todos que são

conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Se somos filhos, somos herdeiros de Deus, co-herdeiros de Cristo, pois sofremos e somos exaltados com ele. Tendo sido justificados pela fé, estamos em paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual temos acesso a esta graça, pela fé, na qual estamos firmes e nos gloriamos na esperança de Deus. A esperança não decepciona, pois o amor do Pai foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Dobro os joelhos diante do Pai, do qual toma nome toda família no céu e na terra, para lhe pedir que, segundo a riqueza de sua glória conceda que sejais fortalecidos em poder pelo Espírito no homem interior, que Jesus more em vossos corações, sejais arraigados e fundados no amor pela fé. Deus é amor: o Pai vos ama, Eu vos amo também. Todo que ama está em Deus e Deus nele. Amai Deus, amai também vossos irmãos. Pois é mentiroso quem diz amar Deus que não vê, mas odeia o irmão que vê. A graça de Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão de Ruah estejam convosco" 2Cor 13,13; Rm 8,14-15; Gl 4,4; Ef 2,14-16.

Jesus revela, pois, que Javé, o Deus único de Israel, Deus de Abraão, Isaac, Jacó, é Deus Trino. Javé pode ser o Pai, o Filho ou Deus Mãe: cada Pessoa Divina é o Deus Único e Criador. Deus uno e trino é criador, cria sem cessar. A criação não é geração efêmera, mas dom incessante de amor e vida, cuidado permanente com as criaturas. De toda eternidade, é ininterrupta a geração do Filho no seio da Trindade imanente. Pelo mesmo ato de geração do Unigênito, o Pai e Deus Mãe geram nele todas as coisas, sem cessar, em especial a mulher e o homem, desde antes da criação do mundo e na criação temporal. "No Filho amado o Pai nos escolheu e predestinou antes da criação do mundo para sermos seus filhos adotivos por Cristo" Ef 1,4-5. A criação que inicia a histórica continua a criação intratrinitária. "No princípio (ab eterno) era o Verbo, o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio Ele estava com Deus. Ele é antes de tudo e tudo nele subsiste. Tudo foi feito por meio dele, sem ele nada foi feito. O que foi feito nele era vida, a vida era a luz dos homens. Ele é o Primogênito de toda criatura, visível Imagem do Deus invisível; nele foram criadas todas as coisas, no céu (criação ideal) e na terra (criação temporal), as visíveis e as invisíveis. Tudo foi criado por ele e para ele. Nele nos movemos, existimos e somos. Fora de ti, não há Deus que se ocupa de tudo. Diante de ti o mundo inteiro é como nada que faz pender a balança, ou gota de orvalho

que desce de madrugada sobre a terra. Tendes compaixão de todos, porque podeis tudo; pra que se arrependam, fechais os olhos aos seus pecados. Sim, amais tudo que criastes e não desprezais nada do que fizestes; pois se odiásseis alguma coisa, não a teríeis feito. Como poderia algo subsistir, se não o tivesses querido? Como poderia ser mantido na existência, se por ti não tivesse sido chamado? Porém tratas todos com bondade, pois tudo é teu, Tu que amas a vida. Castigas com brandura, advertes quem peca, mostrando em que peca, para que rejeitem a malícia e creiam em vós, Javé. Castigando-os pouco a pouco, dáveis tempo ao arrependimento. Se te mostras indulgente com eles em suas faltas não era por temor do que quer que fosse. Porque sois justo, governais com justiça e julgais indigno do vosso poder condenar quem não merece punição. Pois vossa força é o fundamento da vossa justiça; o fato de serdes Deus de todos vos faz indulgente para com todos. Mostrais vossa força aos que não crêem no vosso poder, confundis quem a não conhece e ousa afrontá-la. Senhor da vossa força, julgais com bondade, com grande indulgência nos governais, pois vos é sempre possível empregar vosso poder, quando quiserdes" At 17,28; Sb 11,24-26;12, 1-2;10,11-18. A característica do Pai Criador é sua misericórdia e bondade, sua capacidade infinita de perdoar, que se mostra no trato misericordioso dispensado aos que erram. "O Senhor é misericórdia e compaixão, lento para a cólera e cheio de bondade. Não está em contenda e sua ira não dura eternamente. Não nos trata conforme nossos pecados, não nos castiga conforme nossas culpas. Pois quanto alto é o céu sobre a terra tanto prevalece sua bondade para com os que o temem. Quanto dista o Oriente do Ocidente, tanto afasta nossas culpas de nós. Como um pai se compadece dos filhos, ele se compadece dos que o temem. Pois ele sabe do que somos feitos: sabe o pó que somos. Reconhece, pois, no teu coração que Javé te educa como um pai educa seu filho. Meu filho, não desprezes a correção de Javé, não te canses com a sua exortação, porque ele repreende os que ama como um pai o filho preferido. Os teus provaste como o pai que repreende, mas como rei severo que condena, castigastes os ímpios" Sl 102 (103); Dt 8,5; Pr 3,11-12; Ap 3,19.

Mesmo Jesus revelando a Trindade econômica, o Credo Niceno-constantinopilitano e Niceno seguem a teologia javista e identifica o Criador com o Pai: "Creio em Deus Pai misericordioso, Criador da terra e do céu, de todas as coisas visíveis e invisíveis". Na verdade, toda a criação, tanto a intratrinitária, quanto a temporal e a nova criação é obra das Três Pessoas divinas: Não só Deus Pai é Criador, também Ruah e o Filho. O Filho é Criador: "O Filho amado existe antes de todas as coisas no princípio junto do Pai. Ele é a Imagem do Deus invisível, o resplendor de sua glória, a expressão do seu ser; o Primogênito de toda criação, pelo qual o Pai criou os séculos; nele todas as coisas têm consistência e foram criadas, no céu e na terra, os seres invisíveis e os visíveis; tudo foi criado através dele e para ele. Tudo foi feito por meio dele e sem Ele nada foi feito de tudo que existe. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens. Nele temos a vida, nos movemos e somos" Jo 1,1-4; Hb 1, 2; Cl 13-17; At 17,28. Deus Mãe é Criadora: o Credo niceno-constantinopolitano diz: "Creio no Espírito Santo", Senhor que dá a vida (cria). Como são numerosas tuas obras, Javé! Fizeste tudo com sabedoria, a terra está cheia das tuas criaturas. Se escondes teu rosto, desfalecem, se lhes tiras a respiração, emorrem e voltam ao pó. Mas envias teu Espírito, são criadas, renovas a face da terra" Sl 103 (104),24-30. Graças ao poder criador do Pai e Deus Mãe, o Filho Único é gerado de toda eternidade na Trindade imanente. A geração do Filho Único no ventre de Maria na plenitude do tempo deu-se pelo mesmo processo de geração intratrinitária. Com a diferença: na encarnação, o Unigênito se faz Primogênito de toda criatura, o Criador se faz criatura, tomando corpo de carne, nervos, ossos, necessidades fisiológicas, vontade e sentimentos, sensibilidade e inteligência, humano como nós, menos o pecado. "Deus Mãe virá sobre ti e o poder do Altíssimo (o Pai) te cobrirá com sua sombra. Por isso o Santo que de ti nascer se chamará Filho de Deus". A geração escatológica dos filhos de Deus também se dá pelo poder do Pai e de Ruah: a mesma ação que nos gera filhos no Unigênito na Trindade imanente, antes da criação do mundo, no Cristo, nos gera filhos de Deus no ventre de Maria, juntamente com Jesus, nos faz imediatamente irmãos dele, mediante a fé na ação geradora divina no ventre de Maria, pela qual recebemos Jesus em nossas vidas. "Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas, os que o receberam, os que creram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, da vontade da carne nem da vontade humana, mas de Deus. E o Verbo se faz carne e habita entre nós". Primeiramente, graças à fé absoluta de Maria, a cheia, prenha, plena da vida gratuita de Deus Trino: "Feliz aquela que creu, pois será cumprido o que lhe foi dito da parte do Senhor". O que se cumprirá da parte do Senhor? Por causa da fé incondicional de Maria na vida divina que habitava no seu corpo, o Verbo se fará carne também em nós, pois somos membros do Corpo de Cristo e o mundo verá sua glória toda vez que praticarmos ações teândricas pela fé em Jesus Cristo, que vive em nós e nos comunica o poder de gerar filhos de Deus pela fé. Assim como a fé de Maria fez o Primogênito estar presente no meio de nós, em corpo de carne semelhante ao nosso, por nossa fé o Verbo se faz carne também e nasce em nosso meio e veremos sua glória, toda vez que testemunharmos a presença de Jesus em nossas vidas e pela fé levarmos pessoas a acreditar nele. Toda ação humana movida pela fé, todo ato de fé é divino-humana, teândrica, pois faz Jesus nascer na vida de alguém. O sim de Maria é teândrico, pois é resposta de fé que a fez plena de graça, grávida de Deus, Mãe de Jesus. Nossa filiação divina se dá pelo mesmo processo: a cada ato de fé o Verbo se faz carne em nós e em alguém por meio de nós, pois somos membros do Corpo de Jesus. Não só Maria, todo aquele que crê torna-se mãe de Deus, à medida que Jesus nasce em nós e em alguém, pela fé. "Quem crê em mim faz o que eu faço, até mais, pois vou pra junto do Pai". Por que somos capazes de ações divinas pela fé, assim

como o ato de fé de Maria permitiu ao Verbo ser Deus-Conosco e a Jesus gerar vida em abundância entre nós? É que incorporamos pela fé o poder criador divino que habilita-nos a praticar atos divinos com jeito humano. "Os que creram no seu Nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Nossa capacidade vem de Deus. É ele que opera em nós o querer e o executar. Através de nós é Deus mesmo quem vos exorta" 2 Cor 3, 5,20. Jesus gera vida em nós porque é o Portador de Deus Mãe em plenitude, a qual nós incorporamos pela fé. Jesus possui Deus Mãe por natureza, nós, por participação na sua natureza divina. Nossa participação na natureza de Jesus pela fé, que nos comunica o Espírito de santidade filial e nos gera filhos, nos capacita a realizar as mesmas obras de Jesus. Nicodemos pensava que a filiação divina (nascer da água e do Espírito) se dava por um retorno improvável ao ventre materno. Jesus se admira da ignorância dele: "Tu és mestre em Israel e ignoras essas coisas? Se alguém não nascer da água e do Espírito, não poderá ver o Reino de Deus. O que nasce da carne (de baixo) é carne, o que nasce do Espírito (do alto) é espírito. Por isso, não te admires do que te disse: precisas nascer de novo, do Espírito. Recebestes o Espírito que vos torna filhos e filhas, por adoção. A prova que somos filhos é que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama Aba, Pai. Se alguém não tem o Espírito de Cristo não pertence a ele", não é membro do seu Corpo nem filho de Deus. Todo que têm o Espírito filial e se deixam conduzir por ele são filhos de Deus" Gl 4,6; Rm 8,9-15. Nossa filiação divina decorre da natureza de Deus trino. Se Deus criou o ser humano à sua imagem e semelhança, é óbvio que o masculino é o feminino integram a natureza das Pessoas divinas. Se mulher e homem são semelhantes ao Criador, aptos a gerar filhos, ser mãe, pai, formar família, é óbvio que o Criador também é Pai, Mãe e Filho, origem da maternidade, paternidade, filiação. A trina Família é a comunidade perfeita, origem da família humana. "Dobro os joelhos diante do Pai, do qual toma nome toda família no céu e na terra, para pedir-lhe que conceda, segundo a riqueza de sua glória, que sejais fortalecidos no homem interior em poder pelo Espírito, que Cristo habite em vossos corações pela fé e sejais fundados e arraigados no amor". A família humana é reflexo da Família Divina. "Submetei-vos uns aos outros no temor de Cristo. As mulheres sejam submissas aos maridos como ao Cristo. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja também e se entregou por ela. Cada um de vós ame sua esposa como a si mesmo; e a esposa respeite o marido. Filhos, obedecei aos vossos pais no Cristo: Honra teu pai e tua mãe a fim de que sejas feliz e tenhas longa vida sobre a terra. Pais, não provoqueis revolta nos vossos filhos; antes, educai-os com uma pedagogia inspirada no Senhor" Ef 5,21-22.25.33-6,4.

A figura do Pai está na vida e pregação de Jesus desde a declaração de independência no Templo de Jerusalém aos doze anos de idade. "Ao vê-lo ficaram surpresos e sua mãe lhe disse: Meu filho, por que agiste assim conosco? Vê: teu pai e eu te procurávamos aflitos. Ele respondeu: 'Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na casa do meu Pai'. Mas, eles não compreenderam as palavras que lhes disse" Lc 2, 48-49. Faz sentido. Maria e José que eram os pais humanos de Jesus. Mas não sabiam ainda quem era este Pai de que ele falava. Gabriel disse a Maria no dia da anunciação: "O Santo que nascer de ti se chamará o Filho de Deus" Lc 1,35. Doze anos depois, talvez Maria tenha esquecido as palavras do Arcanjo. Por isso, só durante sua vida pública, pouco a pouco, Jesus revelará o mistério do Pai, tanto a Maria e José, como aos Doze. Dizia Jesus aos Doze: "Eu e o Pai somos um. Alguém jamais viu Deus: o Filho Único, que está voltado para o seio do Pai, deu-o a conhecer. Quem me vê, vê o Pai, que me enviou." Jo 1,18; 10,30; 12,27; 14,9. Os discípulos observam como Jesus se conduzia em relação ao Pai. Depois de longas jornadas anunciando a boa nova da salvação ao povo sofrido, falando-lhes do Reino de Deus, da bondade do Pai, Jesus costumava recolher-se em lugares ermos para ficar a sós com o querido Pai. Os Doze devem ter ficado tão impressionados com a beleza da oração de Jesus, com a estética da divina intimidade do Filho amado com o querido Aba, que não resistiram e lhe pediram pra lhes ensinar a rezar. "Um dia, num certo lugar, estava Jesus a rezar. Terminada a oração, disse-lhe um dos discípulos: 'Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos. Disse-lhes ele: quando orardes, dizei: 'Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino; seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai as nossas ofensas, assim como perdoamos os que nos ofenderam; e não nos deixeis cair na tentação, mas livrai-nos do mal. Pois, se perdoardes as ofensas dos homens, também vosso Pai celeste vos perdoará. Mas, se não lhes perdoardes, tampouco o vosso Pai vos perdoará. Pedi e vos será dado: buscai e achareis; batei e se vos abrirá. Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater se lhe abrirá. Se um filho pedir um pão, qual o pai entre vós que lhe dará uma pedra? Se ele pedir um peixe, acaso lhe dará uma serpente? Se, pois, vós, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial vos dará Ruah aos que lho pedirem" Mt 6,9-15; Lc 11,1-2.9-13. Para confirmar a revelação que Jesus faz do Pai, este também se revela juntamente com Ruah, quando do batismo de Jesus no Rio Jordão e na transfiguração no Monte Tabor. "Batizado, Jesus subiu da água imediatamente e logo os céus se abriram e ele viu Deus Mãe descer como pomba e vindo sobre ele. Ao mesmo tempo, uma voz vinda dos céus dizia: Este é meu Filho amado, no qual me alegro". Com Moisés, Elias, Pedro, Tiago e João por testemunhas, Pedro "ainda falava quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra e uma voz que saia da nuvem disse: Este é o meu Filho amado, em quem eu me comprazo. Ouvi-o. Naquela mesma hora Jesus exultou em Ruah e disse: louvo-te, Pai, Deus do céu e da terra, pois escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, as revelaste aos pequeninos. Pai, assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai e ninguém conhece o Filho a não ser o Pai; e ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem Ele o quiser revelar" Mt 3,16;17,5; Lc10,21-22. Jesus tem prazer em nos ensinar os segredos do Pai. "Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz seu Senhor. Chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi do meu Pai. Como o Pai ama-me, eu vos amo também. O Pai mesmo vos ama" Jo 15, 9-17. Fazendo-se um de nós, Jesus nos dá seu Pai por Pai, e podemos chamá-lo de Pai nosso. A maravilha de tudo isso é que nosso Pai nos ama como filhos e filhas com o mesmo amor com que ama o Filho Único. A prova que o Pai nos ama é que ele o enviou ao mundo para nos redimir do pecado e adotar-nos por filhos, só por amor, gratuitamente, em troca de nada. "Por graça fostes salvos; isto não é mérito vosso, mas dom de Deus em Jesus Cristo, que nos amou e por nós se entregou. Pois Deus ama tanto o mundo, que entregou o Filho Único, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna. Deus não enviou o Filho ao mundo pra condenar o mundo, mas para salvar o mundo. A condenação é esta: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas que a luz, pois suas obras eram más" Jo 3,16-20. Na manhã da ressurreição Jesus diz à primeira testemunha do fato, Madalena: "Não me toques, porque ainda não subi a meu Pai. Mas vai a meus irmãos e diz-lhes: subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus" Jo 20,17. O Pai nos ama com amor misericordioso, cheio de ternura e nos comunica o Espírito de santidade. O Pai é santo, nos ama e nos quer santos como ele é santo; mas não impõe-nos a santidade: deixa-nos livres para escolhermos o caminho da santidade, da justiça e paz. Sofre quando somos desobedientes e seguimos caminhos tortuosos que desviam da casa do Pai. Mas recebe-nos de braços abertos, se um dia resolvermos voltar. "Porque há mais alegria no céu por um só pecador que se converte, do que por 99 justos que não necessitam de penitência" Lc 15,7. "Bendito seja Deus, o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias, Deus de toda compaixão e piedade, que nos consola nas nossas tribulações, para que, com as mesmas consolações com que somos consolados, possamos também consolar os que passam tribulações" 2 Cor 1,2-3. Toda família no céu e na terra se origina na Família Divina e dela recebe benção sobre bênção. "Dobro os joelhos diante do Pai, de quem toma nome toda família no céu e na terra, pra pedir-lhe que conceda, segundo a riqueza de sua glória, que sejais fortalecidos em poder pelo seu Espírito no homem interior, que Cristo habite pela fé em vossos corações e sejais arraigados e fundados no amor. Já não sois estrangeiros, forasteiros, mas concidadãos dos santos, membros da Família divina, com direito a "assentar-vos nos céus, em Cristo Jesus" Ef 3,14-16;2,6.19. A marca do Pai é o amor pelos pecadores, o perdão gratuito do filho que volta arrependido pra a casa paterna, único lugar onde é feliz. Grande lição de tolerância, parcialidade, brotada do coração compassivo do Pai misericordioso, que toda família no céu e na terra deve aprender. Apesar de saber que, diante da Lei, o filho errado é devedor de reparação incalculável, merece castigo, movido de compaixão, não o condena, não faz conta do estrago que a filha errada fez no patrimônio, na economia dos bens do Reino: esquece o mal que fez, a recebe com a alegria de quem ama perdoar sem explicação. "Não sinto prazer com a morte do pecador, mas que ele se converta e viva", diria o pai ao filho mais velho, enciumado com a recepção calorosa, gratuita que o pai dispensou ao filho/irmão trânsfuga: em lugar de cobranças e castigo, festa pra comemorar o retorno do filho sem juízo. O Pai justifica sua atitude aparentemente sem lógica, injusta dizendo: "Se vossa justiça (a Lei) não exceder a dos fariseus escribas, que desconhece a misericórdia do Pai e estabelecem a própria justiça, não entrareis no Reino dos Céus". O misericordioso Pai fez entender ao filho mais velho, cumpridor fiel da Lei, que a legítima justiça de Deus não é dureza de coração que julga e condena em nome da lei, mas misericórdia e perdão, dado gratuitamente, acolhido livremente na fé, independentemente das exigências da Lei. "Porque o Pai enviou o Filho ao mundo, não para julgar e condenar, mas buscar a ovelha perdida, o pecador" que a lei era incapaz de salvar. Falando pelo Pai, Jesus diz aos legalistas fariseus, na parábola do filho pródigo, em que o irmão mais velho representa o povo judeu, e o irmão mais novo, os pagãos, que não conhecem a lei, mas não são julgados, pois são tão pecadores quanto os judeus: "Não vim buscar os justos, mas os pecadores, não vim ver os sadios, mas os doentes". Eis a razão porque, "há mais alegria no céu diante dos anjos de Deus por um só pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos legalistas que de arrependimento não precisam. Filho, tu estás sempre comigo e tudo que é meu é teu. Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois o teu irmão estava morte e voltou a viver, estava perdido e foi reencontrado" Ez 18,23; Lc15,7.31; Mt 5,20; Rm 10,3; Ef 3,9.

CONCLUSÃO

Os cristãos iniciamos as orações com o Sinal da Cruz, sinal da salvação, da vitória do amor sobre o ódio, da vida sobre a morte. O Sinal da Cruz é uma oração trinitária, que inicia com a tríplice cruz na testa, na boca e no peito, que significa a abertura do espaço sagrado, do templo, da assembléia do encontro de Deus com o povo que crê, e termina com o louvor à Família Divina. Depois da assembléia fazer o sinal da cruz, o presidente da celebração diz: "O Senhor esteja conosco". A assembléia responde convicta na fé: "O Senhor está no meio de nós". A cruz na testa livra dos maus pensamentos, a cruz na

boca livra das más palavras, a cruz no peito livra dos maus desejos. Orar "em Nome do Pai, do Filho e Ruah" é reproduzir o permanente louvor da Igreja militante, padecente e triunfante à SS Trindade. "Glória ao Pai, ao Filho e a Deus Mãe. Como era no princípio (ab eterno), agora (na caminhada da fé) e sempre (por toda a eternidade)". O "Glória ao Pai" é a oração dos resgatados pela misericórdia da Trindade Santíssima. Só Deus Uno e Trino merece louvor, honra e glória, em todos os estágios da salvação – "no princípio, agora e sempre". Os agraciados com o perdão, que faz a glória divina brilhar nas trevas do pecado, retribuem a glória a quem realmente a merece. "Não a nós, Javé, não a nós, mas a ti, só a ti o louvor e a glória", diz o monoteísta salmista. Javé é o Deus Único de Israel, revelado por Jesus como o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Ruah). O Apocalipse, a revelação dos selos, os últimos mistérios de Deus Uno e Trino pelo Cordeiro imolado, expressa com brilho o louvor à Trindade Santíssima. A cruz é o esplendor máximo da glória de Deus. Nela, a SS Trindade escancara a imensidão do amor divino por nós. "O Verbo se fez carne, esvaziou-se de si mesmo e assumiu a condição de servo, tomando semelhança humana. E achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte e morte de cruz. No seu rebaixamento da encarnação à cruz, vimos a sua glória. Glória que ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade". Nada é mais glorioso que o Grande descer até o pequeno, o Santo fazer-se pecador e acolhê-lo, não pra humilhar e condenar quem já está humilhado, mas pra "libertá-lo da escravidão da corrupção e fazê-lo entrar na liberdade da glória dos filhos de Deus". A desgraça da cruz que Jesus levou sobre os ombros significa a graça máxima, o perdão sem tamanho do amor misericordioso de Deus Trino aos devedores insolúveis que são os pecadores. "Deus demonstrou seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter dado a vida por nós quando éramos ainda pecadores". Em vista desta glória às avessas, o vidente de Patmos se expressa com tanta beleza: "Dignos és tu, Senhor e Deus nosso, de receber a honra, a glória e o poder, porque tu criaste todas as coisas; por tua vontade elas não existiam e foram criadas. Vi na mão direita daquele que estava sentado no trono (o Pai) um livro escrito por dentro e por fora e selado com sete selos (os mistérios da salvação, ocultos até a encarnação/imolação do Cordeiro). Quem é digno de abrir o livro, rompendo seus selos? O Rebento de Davi, que venceu a morte, tem o poder de abrir e seus sete selos. Vi o Cordeiro de pé, como que imolado. Ele veio, então, receber o livro da mão direita daquele que está sentado no trono. Ao receber o livro, os quatro Seres vivos (a criação resgatada com a humanidade) e os vinte e quatro Anciãos (12 tribos de Israel, que agora formam um só povo com "os homens de toda tribo, língua, povo, nação (12) que vêm da grande tribulação: lavaram e alvejaram as vestes no sangue do Cordeiro) prostraram-se diante do Cordeiro, cada um com uma cítara e taças de ouro cheias de incenso – as orações dos santos – cantando o cântico novo: Digno és tu de receber o livro e abrir os

seus sete selos, pois foste imolado e resgataste para Deus, por teu sangue, homens de toda tribo, língua, povo, nação. Dele fizeste para nosso Deus uma Realeza e Sacerdotes; eles reinarão sobre a terra. Digno é o Cordeiro imolado de receber o poder, a sabedoria, a riqueza, a força, a honra, a glória, o louvor. Ao que está sentado no trono (o Pai) e ao Cordeiro pertencem o louvor, a honra, a glória e o domínio pelos séculos dos séculos". A oração principal de quem vive pela fé é a intercessão, a oração sacerdotal feita em, com e pelo Cordeiro: entrega da vida para salvar os mortos e louvor ao Pai por aceitar o sacrifício de louvor do Cordeiro e dos que se imolam com ele, oferecendo a vida para o direito e a justiça reinarem no mundo. Como diz o Apóstolo: Exorto-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa, agradável a Deus Uno e Trino: este é o vosso culto espiritual".