A sociedade suburbana soteropolitanense.

Por JOANIZIA CAMANDAROBA | 08/04/2010 | Filosofia

Sou paulistana residindo em Salvador, cidade do axé, do negro, da dor camuflada pela alegria  das famílias de baixa renda.

Quem assiste ao espetáculo carnavalesco e eufórico, ao trio embalado por seus mais belos artistas, seguido por gente bonita e sorridente nem imagina o horror e terror que se vive aqui.

O tráfico, hoje, comanda a cidade de Salvador, a instituição da polícia mal preparada, sem material humano capacitado sem armamento necessário para enfrentar essa guerra,  e coibir ou mesmo represar a atuação do tráfico,  torna-se mais um refém do submundo. Quem passeia pela orla magnífica não faz idéia do que é a vida no subúrbio.

Subúrbio esse que se encontra logo ali, não só nas favelas propriamente dito, mas ao longo da Av. Paralela, ou no Centro Histórico da Cidade Baixa,  na Av. Sete.

Pobre negro, pobre branco, pobre índio, pobre favela, animada pelo som do Rebolation sufoca a dor da bala perdida, da criança aliciada, da menor utilizada na prostituição da idosa traficante.

Eis a realidade de quem vive nos barracos de alvenaria enfileirados sob as encostas dos morros, nas ladeiras de paralelepípedos, sim a vida aqui é dura. Não há emprego suficiente, nem rede de esgoto para a maior parte da população, assistência social para quem realmente precisa e Hospitais para atender o mínimo da população.

Deus é o apocalipse! Não essa é Salvador.  

Ao meio dia através dos programas muitas vezes sensacionalistas, ou realistas é possível enxergar a olho nu o corpo do jovem adolescente morto a bala, perdão morto não, estilhaçado pelo tráfico ou mesmo parte de corpos encontrados em valas, na briga pela posse da  "boca de fumo" ou mesmo pela simples cobrança da dívida da pedra "crack" dívida essa  muitas vezes representada  pelo  valor irrisório de  5,00 ou 10,00 reais, sim esse é o preço de uma vida.

O que fazer com o lar dessa vítima, com a família chacinada pela crueldade da marginalidade que sepulta um e transformam aos outros  em moribundos assolados   pela lembrança da dor. 

O Estado  tem o dever, a obrigação, assegurado pela Carta Magna em seu artigo 5º. de prover a ordem a segurança o bem-estar social a educação, lamentavelmente o que se vê é o retrato do descaso do caos e da desordem, o corpo inerte ao chão já não choca mais, tornou-se comum banalizar a vida. Nosso país tem Planos de Governo eficazes em enriquecer os ricos e empobrecer os pobres. Sim temos   reformulações dos Códigos, Mas essas mudanças são como soro inserido na veia lentamente, tão lento que quase imperceptível o é. Enquanto que a necessidade de socorro é para ontem.

O que fazer? Lutar pelo seu Direito de cidadão é um bom começo, formar associações de bairros, para que um tenha o poder de uma centena, buscar meios legais para proteger-se, pois a sociedade é minha, sua, nossa. Portanto cabe a nós, representantes do bem estar social não permitir que a nossa voz  cale-se jamais, que essas linhas aqui escritas  tenham o mesmo peso do choro da mãe que perdeu seus filhos para as drogas, que esse singelo relato possa levar ao mundo  a mensagem de muitos, centenas, que não teriam condições nem psicológicas ou mesmo monetárias de expressar a sua dor. Meus pêsames.