A Situação Linguística em Angola: Valorização das Línguas Nacionais e sua Coabitação Pacífica com a Língua Portuguesa

Por Fidel Jaime Jorge | 04/05/2018 | Literatura

A época colonial apresentou-se como um período de glotofagia das línguas locais, no sentido em que, a política de dominação visava à aculturação e a imposição da língua portuguesa e o desrespeito e desvalorização das línguas nacionais. Com a independência de Angola, a questão da valorização das línguas nacionais foi iniciada, porém, infelizmente o projecto faliu, por causa da guerra civil. Terminada a guerra e, de acordo a dinâmica da globalização das sociedades modernas, precisamos de retomar o projecto da valorização das línguas nacionais num ambiente de coabitação pacífica com a língua portuguesa.

1. Considerações Iniciais

A discussão sobre a valorização das línguas nacionais em Angola merece uma atenção e tratamento especiais, porque, sabemos que a língua é o principal elemento da cultura e o primeiro instrumento de socialização (Rousseau, 1998), razão pela qual, a sua crise implica consequentemente a crise da cultura e da identidade de um povo. Eis a razão da escolha do tema deste artigo, que pretende ser uma possibilidade de reflexão em torno da problemática linguística em Angola.
Após todas as vicissitudes históricas por que o povo angolano passou, muitas foram as consequências resultantes destas metamorfoses, e a desvalorização das línguas nacionais foi uma delas, e quiçá a pior de todas. A política colonial conseguiu impor, não apenas a sua língua, mas, mais grave do que isso, inibir os autóctones de falarem as línguas locais, com o pretexto de uma inferioridade cultural. Ao fazê-lo, não apenas criou o sentimento de rejeição, desprezo e desvalorização, das próprias línguas locais, como também da própria identidade cultural, expressa na forma de ser e de estar, na cosmovisão, na espiritualidade e demais dimensões existenciais do povo.
O escopo desta pesquisa é contribuir para uma leitura crítico-filosófica do debate sobre a valorização das línguas nacionais. Não é objectivo deste trabalho aprofundar aspectos da linguística interna, mas compreender de forma geral e externa a situação linguística em Angola. Portanto, deixamos aos especialistas da ciência linguística o que lhes diz respeito.
Hoje, emancipados do jugo colonial e da longa guerra entre irmãos, a preocupação de sabermos quem somos verdadeiramente é de fulcral importância na vida espiritual do pais. E não podemos saber quem somos se não nos questionarmos nas nossas próprias línguas, sobre elas mesmas e o seu valor. Eis então a questão que colocamos como ponto arquimediana do nosso artigo:
Como entender a questão da valorização das línguas nacionais num contexto onde a língua portuguesa (língua imposta pelo colonizador) é a oficial?
Pensamos que é possível uma coabitação pacífica entre as línguas nacionais e a língua portuguesa, desde que as elevemos aos mesmo nível de funcionabilidade e operatividade públicas que esta; as políticas linguísticas devem, verdadeiramente promover e divulgar as línguas nacionais em toda a extensão do país e não só, sem menosprezo ou rejeição das outras línguas, em particular da língua portuguesa, pois, quanto maior for a diversidade linguística maior será a diversidade cultural, afinal, é possível a unidade na diversidade.
O nosso enfoque metodológico centrou-se na pesquisa qualitativa e bibliográfica, consubstanciada numa perspectiva crítica, descritiva e histórica.
Estruturamos o nosso trabalho, partindo de uma caracterização geral das línguas nacionais para maior inelegibilidade da realidade em questão; procedemos a posteriori a uma apresentação da política linguística nos períodos essenciais da história do pais, a fim de percebermos o mover mesmo do problema no tempo e no espaço; o último ponto, apresentamos uma reflexão sobre a necessidade da coabitação pacifica e igualitária entre as diversas línguas que fazem parte da cultura angolana, chamando atenção ao perigo que constitui a supervalorização de uma sobre as outras.
Porém, afigura-se necessário confessar que, pesquisar sobre a realidade linguística de um pais como angola é desafiador para qualquer académico, por isso, reconheço de antemão, que as insuficiências deste trabalho é da minha exclusiva e inteira responsabilidade.

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