A SINGULARIDADE DE ENFRENTAMENTO DAS PERDAS E LUTO

Por ADRIANA CRISTINA ALVES FERREIRA | 03/09/2016 | Psicologia

ADRIANA CRISTINA ALVES FERREIRA

Resumo

A presente pesquisa decorrente de uma pesquisa bibliográfica, traz  uma reflexão sobre a morte, as condições que levam à ela mesmo que por sua antecipação a partir do suicídio, e a maneira de enfrentamento das perdas a partir do luto elaborado, vivido ou patologizado. Faz uma sucinta distinção entre luto e melancolia ao tratar das consequências das perdas  e sofrimentos psíquicos que levam a transtornos mentais. Tem como objetivo articular as multifaces da finitude a partir da morte que é parte da vida tendo como referenciais esclarecedores o suicídio e  o câncer observando as condições de ressignificação da vida a partir do conhecimento desses aspectos.

 INTRODUÇÃO

            Como parte da vida, a morte tem suas interfaces que nos leva a refletir sobre as condições de enfrentamento desta.  A noção de perda que circunda as rupturas ocasionadas não somente pela morte em si, mas também pela perda de um objeto de desejo, leva o sujeito a sofrer e passar por um processo de luto. A tristeza que se tem a partir da morte pode ser elaborado ou patologizado, basta o sujeito fixar-se no desamparo proveniente do objeto faltoso.

            Como pensar a existência desvinculada da dor pela ausência que pode ser presente, de pessoas, sentimentos e emoções sem afetar um eu existente, como ser desejante e desejado? Das mais variadas perdas muitas trazem reações diversas, favorecendo ou não a superação da dor e ressignificação da vida. Pensa-se a morte sempre a partir do outro que seja pelo adoecimento, acidente, suicídio, ou ainda pela ruptura dos laços amorosos, separações que levam os objetos de amor. Conforme Ferreira (2010) um objeto de amor é um elemento de identificação muito forte e quando a separação acontece, ocorre uma mutilação do Ego. Então esse despedaçamento que muitos idealizam a partir da perda por morte poderia ser comparado com os distanciamentos dos sujeitos cada um na posição de objeto de desejo.

            O presente trabalho tem como objetivo principal, a partir de uma revisão bibliográfica, relacionar alguns aspectos sobre perdas e luto, articulando conceitos e desmistificando o sofrimento que é inevitável para todos, para que se compreenda melhor as formas de sofrimento que podem levar ao adoecimento psíquico e até ao suicídio, cume de um sofrimento que muitos desconhecem as causas e temem falar do assunto.                 

FALANDO DE MORTE

            Considerando a morte como parte da vida, ainda assim há uma estranheza em torno do assunto ao saber que, a dinâmica da vida se contrapõe  a inércia da morte. O prazer proporcionado pela vida é atravessado pela dor lancinante  das perdas que são provenientes dos mais variados cenários e das mais variadas formas, não importando a classe social, nem a cor, nem a localização geográfica, ela é o que encerra a vida naturalmente ou de forma programada. Para toda perda, mesmo que não seja morte, subjetivamente precisa-se de um tempo de elaboração dessa ruptura que pode ser nefasta para quem perde, a dor da separação, da morte, dentre outros sofrimentos psíquicos que podem devastar o ser humano.

            Para Freud (1915), diante do cadáver da pessoa amada nasceram não só a teoria da alma, a fé na imortalidade e uma poderosa raiz de sentimento de culpabilidade dos homens, mas também os primeiros mandamentos éticos. Este fato sustenta muita gente que perdeu seus entes queridos, a crença em outra vida. Para Freud(1915), o nosso inconsciente não crê na própria  morte, comporta-se como se fosse imortal.

                  Toda perda gera um luto, assim sendo, Freud(1915), nos traz um conceito de luto como sendo a reação a perda de um ente querido, reação esta que é singular para cada estrutura psíquica dos seres humanos. O tempo tende a ser  um determinante para que a dor da perda seja elaborada e superada,  com o passar do tempo o luto pode se tornar patológico, se não for elaborado. Ele deve ser vivido na íntegra, com a inteireza lógica da real situação, com a tristeza, a dor, o choro, a falta de ânimo para participar de atividades sociais, um dia há de cessar.

            O luto é um sofrimento que pode se comparar a outros sofrimentos psíquicos mas, Freud ( 1915) faz uma distinção importante entre luto e melancolia, quando diz que esta traz traços mentais diferenciados, a contar com um desânimo profundamente penoso, a cessação de interesses pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda e qualquer atividade, e uma diminuição de auto-estima, e a inda delírio de punição.  Nos dois casos há implicações da perda do objeto amado, e esta perda não é arremessada apenas sobre a morte, mas a outras condições degradantes de ruptura como é o caso das separações.

            A partir de Aries, duas atitudes ilustram a morte, a primeira diz que  morremos todos, a segunda  a partir do século XII, traduz a importância da própria existência e pode ser traduzida pela morte de si mesmo. Já no século XVIII a morte é exaltada, onde a morte romântica é antes de tudo a morte do outro que inspiram nos séculos seguintes o culto aos túmulos e dos cemitérios. Agora no século XXI, percebe-se que as condições de enfrentamento da morte continua sofrendo alterações, vista que muitos são os modos e causas desta.  Segundo o mesmo autor, quanto mais se avança no tempo e se ascende na escala social e urbana, mais o próprio homem sente sua morte próxima e dessa forma chega a pagar plano funerário, além de um plano de saúde.

            Há todo um processo de mercantilização em torno da morte segundo Veras (2015), o corpo morto, que em outros momentos históricos era de posse da família, tem seu domínio repassado às instituições, de maneira semelhante ao que havia acontecido com o corpo vivo, tudo entregue ao promotor de eventos funerais.

A PERDA DO OBJETO DE AMOR COMPARADO A MORTE

            As perdas que geram dor e luto nem sempre decorrem da morte do corpo, mas também das perdas dos objetos de amor, que segundo Ferreira(2010) a partir das leituras de Feud, a paixão se encontra dentre as doenças narcísicas, quando o sujeito busca alcançar sua completude através de um objeto idealizado, com isso o risco de um grande sofrimento pelo sentimento de falta, o que originaria uma dimensão psicopatológica da paixão.  Isso poderia levar a dor similar a dor da perda por morte. Mas faz-se necessário tratar  aqui de um tema que leva as pessoas de forma bem surpreendente e trágica, que tem como gatilho, algum tipo de sofrimento psíquico, assunto polêmico e devastador para quem o comete e para os familiares, amigos, sociedade de um modo geral que é o suicídio.

 AS IMPLICAÇÕES DA CONTEMPORANEIDADE FRENTE AO SUICÍDIO

            Netto (2013) menciona o suicídio como sendo uma morte determinada num contexto contemporâneo capitalista, não que seja um fato exclusivo deste cenário pós-moderno porém, tem sido motivo de alerta. Surge sempre a questão  mediante os fatos, o que levaria uma pessoa a cometer tal ato, e como a sociedade lida com essa questão?

             Historicamente a idéia que se tinha do ato suicida era segundo Santo Agostinho (sec.V apud Netto 2013), como um ato pecaminoso. Já na Idade Media foi tido segundo Netto(2013), como um crime. O autor trata de como a morte é tida como um tabu. Sempre vem a questão sobre o motivo pelo qual tantas pessoas chegam a dar cabo a própria vida, sabe-se que  “ mais de 90% dos casos de suicídio concretizados estão relacionados aos transtornos mentais, a depressão e ao abuso de substâncias psicoativas”(NETTO, 2013, p.18 e 19). Será que  há outros fatores que podem contribuir para tal fenômeno?

             “O tema “Suicídio” é de extrema importância devido ao impacto social que ele causa, seja em termos numéricos, seja em relação a familiares, amigos ou conhecidos das pessoas que fazem uma tentativa ou ameaçam se matar” (WERLANG,2013, p.25).

             Conforme Werlang (2013) , o suicídio  deve ser tratado pela família e depois pela escola, onde as crianças podem ser orientadas para valorizarem a vida, aprender sobre fraternidade,  harmonia e  respeito  que são elementos que as preparam para as dificuldades  pois, na vida há sempre vulnerabilidades psíquicas como por exemplo,  um transtorno psiquiátrico, brigas na família e a perda de um emprego, etc. Tais  fatores, considerados como estressores, podem afetar as pessoas com predisposição ao suicídio de forma específica em relação a uma pessoa sem sofrimento. Os estressores podem levar o sujeito a ver a morte como a saída mais fácil para acabar com o sofrimento.

            Sendo considerado pela Organização Mundial de Saúde como um grave problema de saúde publica mundial, o suicídio levou a OMS a elaborar um recurso importante que é o Suicide Prevention Program (Supre), manual de prevenção ao suicídio que, sugere políticas próprias que englobem assistência e prevenção do suicídio. Segundo  Rigo (2013), pesquisas mostram que  entre a maior incidência de suicídio, a depressão figura como mais prevalente, dentre a esquizofrenia e alcoolismo pois esta está geralmente associada a situações de perda do objeto idealizado.    

Lidar com a angústia é algo que perpassa a condição de satisfação,  conforme  Rigo(2013),  o sujeito deprimido é aquele mergulhado numa angustia desmedida, angustia materializada no corpo sob a forma de dor, dor insuportável que o ideal seria buscar a única alternativa viável para acabar com tão imensa dor. Dessa forma ocorre o que se conhece como passagem ao ato, nesse caso o que está em vigor é o sofrimento do sujeito, que é imensurável. Dessa forma para o profissional da psicologia há um grande desafio no que concerne ao  paciente e familiares quando se sabe que

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