A SÍNDROME DO IRMÃO GÊMEO

Por Paulo de Aragão Lins | 16/05/2009 | Religião

A SÍNDROME DO IRMÃO GÊMEO

 

Sob as condições do velho concerto a Lei era mais importante do que a pessoa. Se alguém saísse da linha, se alguém quebrasse a Lei, esta era mais sagrada e mais importante do que a pessoa, então a pessoa tinha de morrer. E não devemos nos espantar, porque isto não era sequer uma questão de mera interpretação humana. Dentro da economia divina isto funcionava sob a permissão do próprio Deus! Vejamos alguns exemplos: Uzá (II Samuel 6). Tentou ajudar, mas foi morto. Alguém que fosse encontrado fazendo algum trabalho no sábado – era morto.

 

O novo concerto trouxe uma perspectiva completamente diferente. As pessoas tornaram-se mais importantes do que a violação da Lei! Tal foi o caso da mulher que foi apanhada em adultério. Pela Lei tinha que ser apedrejada, mas Jesus mostrou um caminho mais excelente do que o da Lei para lidar com o problema dela.

 

Zaqueu – era um publicano, digno de ser punido, mas Jesus resolveu honrá-lo. Jesus falou muito claro a respeito “do novo e vivo caminho” que ele veio apresentar, quando mostrou que a pessoa é mais importante do que o mero e frio cumprimento da lei. Isto chocou terrivelmente os fariseus e saduceus, que passaram a planejar sua morte.

 

O maior choque do evangelho foi a simplicidade! Jesus juntou a Lei e os profetas e disse que tudo isto se resumia apenas em duas coisas: “amar a Deus e ao próximo!” Veja o que diz Mateus 22.37-40. “E os fariseus, ouvindo que ele fizera emudecer os saduceus, reuniram-se no mesmo lugar; e um deles, doutor da Lei, interrogou-o para o experimentar, dizendo: mestre, qual é o grande mandamento na Lei? E Jesus disse-lhe: amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo semelhante a este, é: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende toda a Lei e os profetas.”

 

Veja o exemplo do filho pródigo – o pai não disse: vá se lavar, vá se perfumar, depois venha cá que eu lhe abraço! O plano do novo concerto permite que a pessoa seja mais importante do que o problema! Quem sabe, se o irmão do filho pródigo fosse o primeiro a vê-lo, o coitado ainda hoje estaria cuidando de porcos. Em muitas igrejas e comunidades hoje, regras e padrões, leis, princípios e programas, são mais importantes do que as próprias pessoas por quem Jesus morreu. “Se a pessoa não se medir de acordo com nossa medida, e de acordo com nossa opinião, estará para sempre perdido!”

 

Vivemos hoje a terrível síndrome do irmão gêmeo! E o que é isto? Se meu irmão não falar do mesmo jeito que eu falo, não é meu irmão. Se não se vestir da mesma maneira que eu me visto, não é meu irmão. Se não aparentar a mesma coisa que eu aparento, não é meu irmão. Se não pensar da mesma maneira que eu penso, não é meu irmão. Se meu irmão não for tão rico quanto eu, não é meu irmão. Se meu irmão não for pobre como eu, não é meu irmão. Se meu irmão não é tão letrado quanto eu, não é meu irmão. Se meu irmão não for ignorante como eu, não é meu irmão. Se meu irmão não for da minha cor, não é meu irmão. Se meu irmão não for do mesmo sexo que eu, não é meu irmão. Se meu irmão não é da mesma denominação que eu, não é meu irmão. Se meu irmão não pertencer à mesma igreja que eu freqüento, não é meu irmão.

 

Em outras palavras, a síndrome do irmão gêmeo está tomando conta dos arraiais cristãos de tal maneira que as igrejas estão cheias de guetos espirituais. E como sabemos que, mesmo gêmeos univitelinos não são semelhantes em tudo, a pessoa que tem a síndrome do irmão gêmeo, vive totalmente isolada, sem ter um verdadeiro irmão.

 

Estes erros situam-se nos níveis de padrões de santidade, padrões de companheirismo e padrões de compreensão. Por exemplo: será que existem irmãos nossos que não freqüentam qualquer igreja?

 

Será que existem pessoas que tiveram as mesmas grandiosas experiências espirituais que nós tivemos e, ainda assim, são nossos irmãos e são tão amados por Deus como nós o somos? Será que somos os únicos que conhecemos a verdade?

 

A grande realidade é a seguinte: se alguém teve uma experiência com Deus, só pôde ser pelo Espírito Santo e se o Espírito do nosso Pai celestial está fazendo uma obra em sua vida, ele é meu irmão, não importa quanto isto possa parecer aborrecido.

 

Mas, será possível que alguém possa se converter fora da minha igreja?

 

Conheci um pastor que sempre dizia para termos cuidado. Ele dizia: Deus pode fazer uma prostituta ou um ébrio, de repente, transformar-se em um crente bem melhor do que você!

 

Quando Ananias foi se encontrar com Paulo, ele não viu ali o grande apóstolo dos gentios, não viu ali o grande paladino do evangelho, não viu ali aquele que sofreu tantas injúrias e prisões por causa do evangelho. Ele viu o terrível perseguidor dos cristãos, aquele homem horroroso que permitiu que um homem tão santo quanto Estevão fosse apedrejado. Mas, qual foi a primeira palavra que Ananias falou para ele? Irmão Saulo! Ananias e Saulo eram filhos do mesmo Pai.

 

Há membros de outras igrejas que provavelmente oram mais do que nós, lêem mais a Bíblia do que nós e dão mais do seu tempo e do seu dinheiro para a obra do que nós e, ainda assim, achamos tão difícil chamá-los de “irmãos”, porque somos um pouquinho mais “piedosos” do que eles, ou porque “entendemos” melhor as doutrinas do que eles, ou porque a aparência deles não é tão “santa” quanto a nossa. Isto tudo por causa da nefanda síndrome do irmão gêmeo!

 

Talvez precisemos de uma visão daquele objeto que desceu na frente de Pedro, cheio de animais que ele chamou de comuns e imundos. E Deus falou aquela palavra tão dura para ele: “o que Deus purificou, não consideres comum.” Talvez precisemos disto para arrancar de nós nosso ranço teológico e esnobismo denominacional.

 

Se Deus fez alguma coisa na vida de alguém, devemos ser os primeiros a nos regozijar! Ajudá-lo! Amá-lo! Darmos o exemplo! No devido tempo, aquele que começou a boa obra há de aperfeiçoá-la. Se o jogarmos fora, ele vai demorar mais a crescer. Muitas de nossas igrejas até parecem tribunais. Até são arrumadas em forma de tribunal. Cultos, pregações e sessões, parecem, muitas vezes, batalhas judiciais. Ninguém precisa de um dedo em riste, dizendo quanto somos miseráveis e pecadores.

 

Nós o sabemos. Eu sei! Eu sei quanto minha conflitante natureza decaída me impede de ser aquilo que eu gostaria de ser! Então, meu irmão, seu dedo em riste é desnecessário, não vai me ajudar em nada. Eu preciso é de sua mão estendida, em um gesto elegante de companheirismo, dizendo: vem, meu irmão, eu te recebo e quero te ajudar!             

 

Quando José recebeu sua túnica de muitas cores, marcando-o como o favorito e colocando-o em todas as gerações como tipo de Cristo, todos querem identificar-se com ele, todos querem ser identificados como o povo especial e favorito de Deus.

 

Tenho ouvido pregadores exaltarem sua exclusiva denominação, e sua exaltada posição teológica, embora esqueçam que o messias não veio através da linhagem de José, mas veio pela linhagem de Judá. Da mesma maneira, coisas grandiosas podem ser produzidas por irmãos que não têm qualquer “túnica de muitas cores”.

 

Talvez isto possa parecer um pouco duro, mas Jesus tem sido apresentado ao mundo por muitos irmãos que não têm o mesmo cartão de identificação eclesiástica ou denominacional que nós temos. E, quer queiramos ou não, eles tem feito um portentoso trabalho.

 

Em Lucas 9.49,50 encontramos este interessante relato: “E, respondendo João, disse: Mestre, vimos um que em teu nome expulsava os demônios, e lho proibimos, porque não te segue conosco. E Jesus lhes disse: Não o proibais, porque quem não é contra nós é por nós”.

 

Que fora, ein, João?

 

Os coitados dos samaritanos sofreram muito com o preconceito religioso dos judeus. Eles criam no mesmo Deus e o serviam melhor do que a maioria dos judeus, mas eram alijados, escorraçados, desprezados. O maior insulto que acharam de falar com Jesus, foi este:

 

João 8:48: “Responderam, pois, os judeus, e disseram-lhe: Não dizemos nós bem que és samaritano, e que tens demônio?”

 

Pedro e Paulo ministravam o mesmo ensinamento a respeito da maneira como devemos tratar nossos semelhantes:

 

Atos 10:34: “E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas”.

 

 

Romanos 2:11: “Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas”.

 

Glória a Deus por isto!