A síndrome de burnout em profissionais da área de saúde
Por CAMILA OLLÉ DA LUZ SZKLAR | 13/12/2011 | SaúdeA Síndrome de Burnout em profissionais da área de saúde
The Burnout Syndrome on health professionals
Camila Ollé da Luz Szklar
Fisioterapeuta, Graduada pela Universidade Federal do Paraná
RESUMO
A síndrome Burnout caracteriza-se por esgotamento emocional, falta de interesse nas atividades desempenhadas, acomete indivíduos que, durante o seu período de trabalho ficam sob stress contínuo. O presente trabalho tem como finalidade realizar revisão de literatura sobre a síndrome, sua origem e a população afetada.
Palavras-chave: estafa profissional, síndrome de burnout, saúde do trabalhador.
ABSTRACT
The Burnout Syndrome is characterized by emotional exhaustion, lack of interest on perfomed activities, it afflicts individuals that, during their working period, are submitted to continuous stress. The present essay intends to provide a literature overview about this syndrome, its origins and afflicted population.
Keywords: proffesional depletion, burnout syndrome, laborer's health
INTRODUÇÃO
Através do trabalho o homem desenvolveu muitas de suas habilidades e conhecimentos ao longo do tempo. Durante milênios conheceu e explorou o mundo e evoluiu através de sua atividade funcional. Em cada etapa de sua evolução aprendeu a dominar uma propriedade da natureza. Cada transformação que o homem realizou na natureza teve uma consequência, transformando-o também e de várias formas. Mas o trabalho ao longo dos tempos ocasionou também uma série de moléstias ao homem refletindo o desequilíbrio causado a cada grande transformação causada por este.
Vivemos na atualidade, com o desenvolvimento da tecnologia e do nosso sistema econômico, uma nova organização do trabalho, onde há a setorialização e a repetição motora e cognitiva durante toda a jornada ocupacional. Além disso, foram acrescentados a vida do trabalhador prazos, horários, metas e regras o que colabora em muito para o surgimento das patologias psicossociais modernas. O estresse é uma situação vivida diariamente e em nível elevado por grande parte dos trabalhadores, especialmente os que trabalham com pessoas (BORGES, et al., 2002).
A síndrome da estafa profissional ou síndrome de Burnout é um tipo de estresse do trabalho que pode ser observado em todas as profissões, principalmente naquelas que envolvem altos níveis de estresse, como controladores de tráfego aéreo, bombeiros e, particularmente, profissionais da área da saúde (TUCUNDUVA, et al., 2006). Isso acontece por que profissionais que atuam em contato direto com outras pessoas, quando este é classificado como ajuda (profissionais da saúde, professores) (MARTÍNEZ, 1997) normalmente têm pouco tempo livre para lazer e férias e grande intensidade de interações emocionais.
Estudos feitos nos Estados Unidos e da América indicam que a síndrome de Burnout é um dos grandes problemas psicossociais atuais, sendo de interesse de muitas áreas da sociedade atual. Sua incidência possui consequências tanto individuais como organizacionais, visto que o individuo que sofre, têm a saúde e também o desempenho afetados³.
Esse estudo tem o objetivo de revisar o conhecimento produzido a respeito dessa patologia moderna em profissionais que atuam na área da saúde. O profissional que trabalha na melhoria da qualidade de vida da população necessita que seu corpo e mente estejam sempre no melhor estado possível para que possa assistir aos que necessitam de cuidados.
Metodologia
Para a realização desse estudo foi feita uma revisão bibliográfica sobre a síndrome de burnout através das bases de dados eletrônicas BIREME, LILACS, MEDLINE e SCIELO. Os termos utilizados para a pesquisa foram: síndrome de burnout, estafa profissional, estresse e saúde do trabalhador. Foram incluídos na pesquisa artigos que datavam de 1997 a 2007. Ao reunir os artigos encontrados selecionamos apenas os que tratavam da síndrome especificamente em profissionais da área da saúde e os que abordavam um contexto geral da mesma. Em seguida os artigos foram analisados e as informações reunidas neste trabalho.
DISCUSSÃO
Os primeiros estudos da síndrome de Burnout mostraram que profissionais que têm contato direto com outras pessoas (área da saúde e humanas), onde o cuidado ocorre de forma direta, são acometidos mais facilmente pela Síndrome de Burnout. Segundo Maslach e Leiter (1999) as profissões mais vulneráveis são geralmente as que envolvem serviços, tratamento ou educação.
Segundo Souza e Silva (2002) a síndrome do Burnout foi inicialmente descrita em 1974 por Freudenberger. O termo pode ser traduzido como “aquilo que deixou de funcionar por exaustão de energia” e foi usado pelo autor para descrever o estresse ocupacional. A síndrome de Burnout é uma psicopatologia que afeta principalmente profissionais cujo trabalho é caracterizado como auxílio como na área da saúde e educação (MARTÍNEZ, 1997). Agravantes para profissionais da saúde como médicos são a grande intensidade de interações emocionais, convívio intenso com os pacientes e a falta de tempo livre para lazer e férias. Além disso, vem ocorrendo um progressivo declínio da autonomia profissional, diminuição do status social da profissão e o aumento das pressões sofridas pelos médicos (TUCUNDUVA, et al., 2006).
A estafa profissional ou Burnout possui um quadro clínico bem definido caracterizado por exaustão emocional, despersonalização e diminuição da realização profissional (TUCUNDUVA, et al., 2006). A exaustão caracteriza-se pelo cansaço, esgotamento emocional do indivíduo. Despersonalização é uma característica fundamental da síndrome, que faz com que o profissional trate seus colegas e pacientes sem humanização, como objetos. E a diminuição da realização profissional acontece porque o indivíduo sofre uma perda de auto-estima resultante de um sentimento de incompetência profissional e insatisfação com o trabalho, consequentemente decaindo o seu desempenho no trabalho (Souza e Silva 2002).
Existem quatro dimensões onde podem ser encontrados fatores de risco para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout, entre elas a organização, o indivíduo, o trabalho e a sociedade. A dimensão da organização do trabalho concentra tais fatores de risco: a burocracia (excesso de normas); a falta de autonomia (dependência de decisões superiores); mudanças organizacionais frequentes (alterações de normas e regras); falta de bom relacionamento entre os membros da equipe (confiança, respeito e consideração); comunicação ineficiente no grupo; impossibilidade de ascendência na carreira, melhora da remuneração e reconhecimento de seu trabalho, entre outras; o ambiente físico e seus riscos, como calor, frio, iluminação insuficiente, alto risco de contaminação tóxica ou até risco de vida e outros fatores como acúmulo de tarefas pelo indivíduo e convívio com pessoas afetadas pela síndrome.
Algumas peculiaridades do indivíduo também são fatores predisponentes, como tipo de personalidade com características resistentes ao estresse, lócus de controle interno (acreditam que os sucessos que obteve na vida são consequência de suas habilidades e esforços), superenvolvimento, pessimismo, passividade, caráter controlador, perfeccionismo, grande expectativa e idealismo em relação à profissão, nível educacional elevado, estado civil (viúvos, solteiros e divorciados), gênero (mulheres são mais acometidas por exaustão profissional e homens por despersonalização), auto-estima, auto-eficácia e auto-confiança.
A dimensão do trabalho tem como fatores de risco as características do mesmo, entre elas o nível de sobrecarga (seja na quantidade ou na qualidade das atividades que devem ser desempenhadas); o baixo nível de controle e decisão do indivíduo em sua própria rotina de trabalho; o conflito entre as expectativas da pessoa e a realidade enfrentada no desenvolvimento profissional; sentimento de injustiça e iniqüidade nas atividades laborais; trabalhos por turnos ou noturno; precário suporte organizacional; tipo de ocupação (maior em relação aos cuidadores); responsabilidade sobre a vida de outras pessoas; contato muito próximo com as pessoas que deve atender; ambiguidade de papéis (regras e normas não muito bem definidas).
Por fim, os itens sociais de risco da Síndrome de Burnout são a falta de suporte social e familiar; manutenção do prestígio social em oposição à baixa salarial que envolve determinada profissão; alguns valores e normas culturais que podem aumentar ou não a chance de desencadeamento da síndrome (TRIGO, TENG e HALLAK, 2007).
Segundo estudos, profissionais da área de saúde que são acometidos pela síndrome não procuram inovar em sua prática clínica, deixando de se basear em evidências durante suas condutas. Devido ao desgaste psicológico e físico dedicam menos tempo e energia ao trabalho, fazendo apenas o que lhe é requisitado, tendo mais faltas e a criatividade diminui durante a execução da tarefa (MASLACH e LEITER, 1997). Os atendimentos ao público tendem a perder sua qualidade, devido à apatia por parte do cuidador. Todos os profissionais atuantes na área da saúde, desde médicos até agentes comunitários de saúde podem ser afetados por essa psicopatologia, pois é freqüente a existência de muitos dos fatores de risco da doença nos locais de atuação desses profissionais.
As consequências da síndrome no indivíduo se refletem tanto no trabalho quanto em casa, porque a pessoa sofre alterações emocionais e de conduta. No trabalho ocorre diminuição do desempenho, que pode ser causada por problemas físicos ou psicológicos, sendo freqüente o aparecimento de situações depressivas, podendo haver modificação também no convívio com familiares e amigos. É possível ainda, ocorrer o aumento de auto-medicação e do consumo de tóxicos como álcool e outras drogas (MARTÍNEZ, 1997).
Segundo Trigo, Teng e Hallak (2007), a nível físico, o indivíduo entra em progressivo e constante estado de fadiga, apresenta dores musculares ou osteomusculares frequentes, distúrbios do sono, cefaléia, enxaqueca, perturbações gastrintestinais, imunodeficiência com resfriados e gripes constantes ou com afecções na pele, transtornos cardiovasculares, distúrbios respiratórios, disfunções sexuais e alterações menstruais em mulheres. Já a nível psicológico pode apresentar diminuição da atenção, perda de memória, lentificação do pensamento, sentimento de solidão, impaciência, sentimento de impotência, baixa auto-estima e desânimo, o que pode levar ao aumento de medicamentos e tóxicos.
A diminuição do seu nível de atenção pode trazer riscos à saúde das pessoas que são atendidas pelo profissional afetado pela Síndrome de Burnout, pois este atua com imprudência e pode negligenciar no atendimento de seus pacientes. Além disso, o indivíduo pode se distanciar de sua família e amigos, estando aí a extensão dos efeitos da síndrome à sociedade.
CONCLUSÃO
A Síndrome de Burnout é um tema que interessou as alunas pois, é mais comum do que o esperado e existem poucos estudos relacionando a síndrome e os profissionais da área da saúde.
É de suma importância o desenvolvimento de novos estudos sobre essa psicopatologia, pois sua ocorrência é dependente das características de cada indivíduo e os conhecimentos sobre ela ainda não se mostram completamente esclarecedores. Os profissionais que atuam na saúde têm em seu local de trabalho a ocorrência de muitos dos fatores de risco para a ocorrência da Síndrome de Burnout.
REFERÊNCIAS
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