A SEGUNDA VINDA DE CRISTO COMO ADVENTO

Por João Valente | 20/12/2009 | Religião

A SEGUNDA VINDA DE CRISTO COMO ADVENTO

 

 

Para a Igreja Católica Romana, estamos agora no período do Advento, e este é, para Roma, quase exclusivamente associado ao Natal, ou à primeira vinda de Jesus. Todavia o Advento também se refere à Segunda Vinda, chamada “parousia” ou simplesmente parusia, em termos teológicos.

 

O que nos espantou nestas últimas semanas, depois de um curso de catequese onde pudemos examinar o zelo eclesial romano, foi uma descoberta impressionante e digna de nota, digo, de nota baixa. Ela pode ser exposta pela seguinte sentença: “A Igreja Católica Romana congelou ou eliminou o seu discurso escatológico porque descobriu uma denúncia bíblica contra ela mesma”. Será verdade? Vejamos.

 

Para um clero proselitista e auto-eleito único sacerdócio divino na Terra, a Igreja também é elemento salvífico, porquanto tem o seu Sacramental como único canônico, como se Deus “esperasse” pelos padres de Roma para ter uma chance de se fazer “carne verdadeira comida e sangue verdadeira bebida” na mesa eucarística. Porém como a fé é sempre benigna (Rm 14,22-23), não entraremos no mérito da igreja como elemento salvífico, porquanto cremos que tal juízo cabe a Deus.

 

Entretanto esta noção de elemento salvífico levou a Igreja a acreditar que a 2a Vinda não é bem assim uma “parusia”, ou uma “mega-apoteose dantesca”, na qual a Humanidade (pelo menos numa geração próxima), em profunda agonia pelo caos total das vésperas do fim, iria poder ver com os próprios olhos a chegada da Comitiva de Jesus nos ares, iluminando toda a Terra e as nuvens com sua Glória e brilho inefáveis. Esta noção veio em razão da idéia de que, se a Igreja está salvando almas, se o próprio Cristo se dá por inteiro em cada Hóstia, e se o encontro com Cristo ocorre na verdade é num átimo após a morte, então concluíram o absurdo teológico de que “a parusia, como apoteose, a rigor, é desnecessária, e se Jesus demorar outros milhões de anos, as almas não sentirão nenhuma falta daquele momento apoteótico”. Isto até pode ser verdade em relação a se sentir falta da apoteose, sem dúvida, embora Lucas chame a parusia de nossa “redenção” (Lc 21.28). Mas não é este o ponto a refletir.

 

O que estamos dizendo é que o afastamento deliberado da proximidade da parusia para o futuro longínquo embute a estratégia proselitista de manter o Templo até às últimas conseqüências, evitando ter que responder à responsabilidade de mudar a metodologia em face do caos do fim, no qual a fé já não existe (Lc 18,8) e muito menos o amor (Mt 24,12), sem os quais não há como manter viva uma igreja nos moldes atuais da hierarquia romana.

 

E qual é o texto bíblico onde está a denúncia que a Igreja de Roma temeu e “congelou”? Encontra-se nos dois primeiros versículos do cap. 24 de Mateus, e pasmem, bem no início do chamado “Sermão Profético de Jesus”. Ali os apóstolos, ao entrar no Templo, ficaram fascinados pela suntuosidade daquelas construções magníficas e começaram a elogiar tais belezas para Jesus. O Mestre, sem pestanejar, e quase bruscamente, respondeu: “Vocês estão vendo estas belas construções? Pois eu vos digo que não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada!”. O leitor sentiu a força da resposta de Jesus e até um certo ar de revolta embutida na irrupção do Mestre? E por que Jesus reagiu assim?...

 

Eis aí a razão exposta. Jesus antevia os últimos dias do mundo, naquela geração perversa e corrupta onde a fé e o amor já terão passado, e onde o Templo (as igrejas feitas por mãos humanas) não teria mais razão de existir, conquanto instrumento de um culto mixado ao pecado e evangelização infrutífera, que a figueira queimada por Jesus tão bem exemplifica. Eis aí porque a Igreja Romana não prega mais a parusia, pois viu que a profecia anti-templo se aplica direitinho a ela mesma, numa prova de que não é tão necessária como se julga ser. [É claro que há exceções, e alguns religiosos de fato pregaram a parusia, como foi o caso do Pe. Marcelo Rossi, que ousou reaproveitar uma luminosa inspiração do Rei Roberto Carlos: <http://www.youtube.com/watch?v=J_gLhQ_L90M&feature=PlayList&p=8763A4E2FDE0544B&playnext=1&playnext_from=PL&index=20>].

 

Por tudo isso, se alguém quiser ouvir falar aquela velha e tão doce voz que diz “Cristo está voltando, prepara-te”, vai ter que ir a uma igreja protestante mais “atenta”, e talvez do tipo mais fanática, infelizmente. Ali, pelo menos neste mister, ainda se pode ouvir “o clarim que chama os crentes à batalha”.

 

 

Prof. João Valente de Miranda.

(eatjvs@gmail.com)