A SAGA
Por josé nazareno dos santos ferreira | 21/07/2014 | CursosEu me formei em 2011, no Curso de Letras da FAI, aos 47 anos, para muitos uma idade avançada para alguém continuar os estudos, mas isso não serviu para desestimular-me embora de fato tenha ingressado no Ensino Superior de maneira tardia. Não tive um ciclo linear em minha vida escolar, comecei a ser alfabetizado somente aos oito anos, na década de 60, pois nasci em 1959, numa sexta feira, numa madrugada de muita chuva num lar muito pobre, mas rico em fraternidade. Meus pais eram humildes agricultores, fui mais um em uma família de 7, fui colocado enrolado em panos num caixote como se fora um berço dos dias atuais, minha mãe me gerou com auxílio de uma parteira de mão boa, Dona Lourdes. Minha mãe era analfabeta mais seu sonho é que todos nós estudássemos, incentiva muito. Seu desejo era tanto que para compensar nossa pobreza reciclava papéis de embrulhos que papai trazia da feira para improvisar cadernos costurados artesanalmente com agulhas e fios de linha. Nasci filho de Maximino e Maria, meu batismo de pia deu-me o nome de José Nazareno dos Santos Ferreira, meu pai se chamava Maximino Melo Ferreira e minha mãe Maria Madalena dos Santos Ferreira. Na época em que comecei a estudar, a educação era regida pela LDB de 1964, desse período até 1985 a educação sofria fortes influências nos anos do regime militar aonde eram restritas as ações de educandos e educadores. Éramos obrigados a cantar o Hino Nacional e respeitar os símbolos da Pátria inclusive isso era pregado pelos professores pela matéria educação moral e Cívica. Era uma educação na época formada por um modelo educacional onde a figura do professor restringia-se apenas a transmitir conhecimentos , avaliar alunos através de provas ou aplicar-lhes punições por infrações cometidas, ou seja, métodos e práticas didáticas que, aos dias atuais, são criticados e contrastados com novas tendências pedagógicas e intitulados como tradicionais, muito embora sejam realidades. A LDB promulgada em 1961 tirava a obrigatoriedade do ensino primário gratuito mas obrigava o estado a investir 12% na educação. O nome de minha primeira professora era Dona Almerinda, muito rígida, falava com os olhos, bastava tossir que todos entendiam, mas era muito dedicada nos tratava como se cada um fosse seu filho. O ano era 1967, pois havia nascido em 1959, à escola aonde estudava era pequenina, simples feita de taipa e coberta com cavaco, não tinha cadeira e me sentava nos bancos em fileiras, o que dificultava porque doía nossas costas. Recordo-me que nossa turma era em torno de 30 crianças entre meninos e meninas. Não tinha merenda na escola e tínhamos que levar de casa ou então colaborávamos com os ingredientes e a professora preparava na escola mesmo. Quando não havia comida em casa, isso ocorria às vezes isso não impedia que eu fosse estudar. Nessa época me referindo a década de 60 quando aos oito anos fui pra escola havia a figura do assistente social que faza acompanhamento junto aos professores para verificar os índices sobre avalia escola, evasão e outros termas. Estudava pelo período da manhã, precisava andar uns quatro quilômetros até chegar à escola, caminhava por uma estrada que atravessava pequenos igarapés, quintais cercado de árvores frutíferas entre elas mangas, ingá xixica, araçás, goiabas que serviam às vezes para mitigar minha fome quando saia de casa sem almoçar. A distância era reduzida pelo meu encanto de estar no meio da natureza. Na época a professora usava um método de nos ensinar o a.b.c cantando, primeira ela identificava numa cartilha, cada um olhando a sua, ela falava letra por letra e pedia que depois repetíssemos todas elas e quem não falasse podia ficar de castigo no final da aula isso se não levasse uma cipoadas antes. Depois a professora ia juntando as letras formando palavras e depois frases como passo inicial para que pudéssemos a aprender a ler. Era comum também o ditado quando copiávamos textos diretamente do quadro ou às vezes do livro. Lembro que ainda não tínhamos livros como os de hoje, mas era comum as cartilhas ou a tabuada, a professora nos ensinava no sistema como o multiseriado de hoje, nos ensinando matemática, português, historias e demais disciplinas. Na 3ª série primária eu já tinha 12 anos e confesso que dei muito trabalho para Dona Almeirinda que quando mandava bilhete pro meu pai eu acabava levando uma surra de cipó do meu pai, era sapeca, mas na época respeitávamos nossos professores. Foi nesse tempo que fiquei encantado ao receber minhas primeiras coleções de livros distribuídos pelo governo, recordo-me que uma delas se chamava as mais belas histórias aonde líamos em todas as aulas e precisávamos recontar alguma dessas histórias para ver se tínhamos realmente compreendido, todos eram obrigados a ler, no meu caso era uma atividade prazerosa apesar de ainda não dominar totalmente a leitura. A história que me fascinou era a que contava as proezas do João Jiló que saiu para caçar na sexta feira da paixão e foi castigado. Eram distribuídas na escola também umas cartilhas com propaganda de um remédio pra verme, escrita por Monteiro Lobato com o título de Jeca Tatu, achava divertida e perguntava para a professora porque Jeca tatu era triste e andava descalço... Foi através desse almanaque impresso pelo xarope Biotônico Fontoura que conheci os livros de Monteiro Lobato, muitas vezes perdia aulas porque ficava embaixo da jaqueira lendo as aventuras de Narizinho e Pedrinho, acho que foi daí que nasceu hoje essa grande paixão que tenho por livros me tornando um leitor proficiente. Inclusive pela propaganda do almanaque nosso pais começaram a nos obrigar a tomar o Biotônico misturado com outro remédio aonde um homem carregava um peixe nas costas, eram uma mistura de biotônico com emulsão que dava uma tonalidade de café com leite, mas era muito ruim tinha gosto de peixe, de bacalhau, mas servia para dar energia e acabar com os vermes e a preguiça dizia minha mãe. Os livros eram grandes, coloridos e repletos de gravuras, pois fotografias ainda eram raras nesse tempo. O de geografia se chamava Pindorama e o de leitura era as mais belas Historias que trazia também lições práticas de português. Apesar de enfrentar muitos problemas com meu pai que começou a beber muito, eu me considerava uma criança feliz pela liberdade de brincar correr no mato, tomar banho nos igarapés, empinar papagaios, jogar bola nos campinhos improvisados em brincadeiras que não se pratica mais nos dias de hoje. Quando meu pai estava sóbrio era carinhoso, responsável, mas quando estava bêbado nos agredia, espancava minha mãe que às vezes interferia para nos defender, não gostaria de colocar isso aqui, mas não podemos negar a realidade dos fatos. Meu pai era um caboclo pouco estudado só chegou até a 4ª série, mas era inteligente e presidiu o sindicato Rural de minha cidade e tinha ativa militância política na extinto época que só existiam dois partidos no Brasil a Arena e o PMDB. Tinha um verdadeiro escritório ambulante aonde numa bicicleta caloi e com uma máquina de escrever Ollivet Letera de cor verde, nela ele tirava todo tipo de documentos, aposentava as pessoas, ganhava um bom dinheiro, mas não juntou nada porque era muito farrista. Apesar de ser analfabeta minha mãe era nossa maior incentivadora, meu pai preferia que trabalhássemos ao invés de estudar, tanto que ele em toda sua vida também foi autodidata aprendendo por conta própria, tendo estudado somente até a quarta série do primário. Embora esses fatos melancólicos familiares me afetassem sempre pensei em ser alguém na vida, não pensei em fazer minha mãe sofrer mais do que já sofria nas garras do meu pai, sem dúvida que tudo isso me atrapalhou, tanto que não tive uma trajetória de estudos seqüenciais, pois precisei fazer várias interrupções para trabalhar, isso sem falar nas vezes em que meu pai bêbado, me expulsava de casa, sendo que também precisei várias vezes deixar de estudar para trabalhar ajudando meu pai que era muito rígido e violento. Quando cheguei aos 15 anos recomecei de novo a estudar concluindo a 4ª série do primário (o equivalente hoje como se fosse Ensino Fundamental) e já estava muito bom de leitura porque mesmo quando estava fora da escola sempre gostava de livros e admirava a inteligência do meu pai que também aprendia muito estudando sozinho, não nego a grande importância que a professora Almeirinda foi fundamental na minha vida quanto à leitura, mas continuar sendo autodidata me ajudou a ganhar o tempo perdido de vida escolar quanto a aquisição de conhecimentos. Meus pais nem sempre podiam comprar livros e então eu tinha o hábito de ganhar ou catar livros que as pessoas jogavam no lixo, saia lá do meu bairro de periferia (Nova Olinda, em castanhal aonde nasci) e ia ao centro, lia muito gibis, Tio Patinhas, Zé Carioca, Tarzan, Demolidor, Mandrake, Zorro, Thor, Capitão América, Homem Aranha, Recruta Zero quando me divertia muito com as intrigas entre Sargento tainha e o recruta zero. Passava muitas horas na Biblioteca pública municipal lendo, e dona Terezinha Ponciano Brasil , que tomava conta da biblioteca uma grande leitora também me incentivava muito, dizia que quem gosta de livros cresce mais, tem mais visibilidade na vitrine da sabedoria, depois fazia minha ficha e e eu levava livros emprestados assim começi lendo Monteiro Lobato, Carlos Drummond, Graciliano Ramos, Jorge Luiz Borges,Victor Hugo, Jorge Amado, Castro Alves, Pablo Neruda, Kalihil Gibran e centenas de livros em vários gêneros. Era fascinado pelo tesouro da Juventude uma famosa encicoplédia com muitos volumes que cotinha informações em todas as áreas. Quando era criança ganhava livros fazendo mandado para os padres, cheguei a ser coroinha e dois padres marcaram minha infância, pois sempre diziam que eu era muito inteligente que bastaria uma oportunidade na vida para que eu vencesse nos meus sonhos. Padre Cônego Leitão que ganhou uma escola em sua homenagem e o Padre Davi Sá que depois abandonou a batina para se casar e sua esposa era reitora da UFPA, que também muito me ensinou. Quando me via lendo sozinho dentro do salão paroquial falava ao sacristão. esse garoto tem futuro e o futuro dele ele está nos livros Mesmo morando em castanhal cerca de 70 Km de Belém, Ingressei no Exército Brasileiro no dia 05 de fevereiro de 1979 e dei baixa no dia 31 de janeiro de 1980, pois lá descobri que não tinha a menor vocação para a vida militar e apenas cumpri meu dever. Servi n 8º Comando da Região Militar de onde sai como reservista de 1ª categoria em Belém do Pará. Quando sai do exército ainda tinha apenas o nível de quarta série, mas graças ao meu hábito de ler muito conseguia me sobressair em diversas atividades intelectuais inclusive arriscando meus primeiros versos como aspirante a escritor. Ao deixar a vida militar retornei a Castanhal e passei a trabalhar como autônomo como vendedor de livros, depois trabalhei na casa de Cultura em Castanhal. Quatro anos após deixar a vida militar cheguei no ano de 1984 em Itaituba trabalhando com livros mas por pouco tempo já que ingressei na atividade jornalística na televisão, na TV Tapajoara retransmissora do SBT de propriedade do empresário Silvio de Paiva Macedo. Paralelo ao trabalho na TV também fui correspondente com sucursal aqui do Jornal de Santarém do saudoso mestre Arthur Martins que muito me ensinou na difícil arte do jornal escrito. Tanto é verdade que meu autodidatismo com muita leitura que já exercia profissões que exigiam conhecimento especializado e nem por isso deixei de sempre estar em evidência naquilo que fazia nessa e em outras áreas aonde o intelecto se fazia necessário. Mas como cada vez mais o mercado exigia qualificação resolvi retomar meus estudos agora com a meta estabelecida de que iria prosseguir até o nível superior. No dia 10 de Dezembro de 1994 finalmente consegui sair da quarta série e recebi meu certificado do Curso Supletivo-1º grau concluído na Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental, Antônio Gonzaga Barros cuja diretora era a minha inesquecível professora Rosirene Maria Lopes Silva. Conclui com direito a prosseguir os estudos em caráter regular. Terminei tudo em dois anos, para recuperar o tempo perdido com duas series por ano. Estava pronto agora para o desafio do Ensino no Médio. Em seguida cursei por quatro anos na Escola Estadual de Ensino Médio Benedito Correa de Souza fiz habilitação específica para o Magistério de 1ª a 4 ª séries quando em 1997 conclui o mesmo recebendo meu diploma três anos depois registro nº 368, no dia 15 de Agosto de 2000 assinado pelo então diretor da época, professor Raimundo Reis de Almeida. Vencida mais uma etapa de desafios na minha vida me perguntei. E agora? Itaituba nessa época não tinha instituição de Ensino Superior, a alternativa era Santarém e outras cidades na região, mas em face dos meus afazeres profissionais e também por já ter constituído família era inviável. Itaituba ganha depois uma extensão da UVA (Universidade Vale do Acarau), mas a oferta era apenas em pedagogia e não pretendia fazer esse curso. Mas como Itaituba ganhou sua primeira Faculdade, a Faculdade de Itaituba com a sigla FAI, não perdi tempo e ingressei na primeira turma optando pelo Curso de Letras por se identificar com minha queda para a escrita e leitura. Com meu Ensino Médio já ministrava aulas tanto nas sirenes iniciais já que estava habilitado como também para o ensino Fundamental haja vista a carência de profissionais ser grande. Entrei na primeira turma quando conclui meu curso superior no dia 23 de janeiro de 2009, recebendo o diploma no dia 16 de fevereiro do mesmo ano. Defendi meu TCC e recebendo meu diploma um ano após o tempo previsto em razão de um acidente que me impediu de concluí-lo junto com a primeira turma. Após concluir meu curso de Letras na FAI, isso me abriu portas para que pudesse ministrar aulas em diversas Escolas do Município entre elas Águia do Saber, Padre José de Anchieta, Antônio Gonzaga Barros , Magalhães Barata, Joaquim Caetano Correa, Maranata, Maria de Socorro Mendonça no bairro jardim Aeroporto juntando ai experiência de vida, leitura com minha formação acadêmica consegui desenvolver excelente trabalho em todas essas instituições pública de Ensino.Todas as aula foram com pro labore já que não era professor concursado Como pretendo ministrar aulas também no Ensino Superior resolvi fazer uma pós graduação em Docência de Ensino Superior na própria FAI aonde obtive graduação. Iniciei a pós graduação ano passado e em 2015, resumindo toda essa trajetória que hoje que hoje me acompanha aos 54 anos de idade. Mas no período em que ministrei aulas no Ensino Fundamental trabalhei com as disciplinas de História, Geografia, Estudos Amazônicos, Artes e Língua Portuguesa. Não obtive em nenhuma etapa dos meus estudos bolsa de estudo, nem iniciação cientifica nem monitoria. Mas paralelo as minhas etapas de estudos sempre me dediquei ao ofício da escrita tanto de livros quanto em jornais aonde hoje em Itaituba sou editor do Jornal Tribuna Tapajônica, mantendo um blog jornalístico, apresentando programa de Rádio na Rádio Tapajoara . Na minha carreira de escritor tenho entre edições cerca de 13 obras literárias, produção essa que me conduziu a Academia Itaitubense de letras aonde ocupo a cadeira nº 01. Minha produção literária é vasta quando produzi trabalhos tanto em verso quanto em prosa. Durante quatro anos exerci a função de Diretor de cultura na gestão do então prefeito Edilson Dias Botelho no período de 1997 a 2000 sendo que nesse período criei diversos eventos entre eles Carnaituba, Festivais Juninos, recuperamos a parte física e foi atualizado grande parte do acervo da Biblioteca Pública Municipal Rui Barbosa, fomentamos a entidades diversas como a associação dos Artesãos de Itaituba. Entre as homenagens recebidas em Itaituba destaco como mais representativa o título de cidadão Itaitubense recebido da Câmara de vereadores por preposição do vereador João Crente (In memorian) já que pelas raízes, pelo meu envolvimento coma cidade que me acolheu co tanto carinho, acabei oficializando então através desse titulo a condição de filho adotivo quase 20 anos após ter deixado minha cidade Castanhal para viver em Itaituba.