A rotina do menino Antônio.
Por Tiago Paradiso de Oliveira Real | 04/04/2010 | LiteraturaAntônio não era um garoto como qualquer outro. Dentre as condições mais desfavoráveis, cresceu junto aos dez irmãos objetivando uma vida melhor.
Certa vez, questionado sobre o seu futuro, respondeu: "Quero ser caminhoneiro." Na verdade, ele queria mesmo um prato de comida e uma cama para dormir.
A fim de ajudar a mãe nas despesas de casa, abandonou cedo a escola, quando ainda cursava a antiga terceira série do ensino fundamental.
Trabalhava na agitada Estação da Luz. Ao som dos apressados passos dos passageiros, tentava vender doces. Tinha uma meta diária a ser cumprida: arrecadar vinte reais, fosse vendendo, fosse pedindo. Caso contrário, seria duramente castigado pelo seu terceiro padastro. Castigo este aplicado com frequência.
Socorro, proprietária de uma barraquinha de cachorro quente, sempre que encontrava o menino, ficava com dó e oferecia-lhe um lanche. De posse do alimento, o maltrapilho tinha de sair de lá, e rápido, para não espantar a freguesia.
Diferentemente de seus amigos, se é que assim podemos conceituá-los, nunca furtou. E olha que oportunidades não faltaram para tanto. Bom caráter.
No bolso da calça rasgada, carregava consigo um amarelado recorte de jornal que continha a foto do Cafu beijando a taça da copa do mundo de 2002. Fã de futebol. Timidamente, cantarolava pelas ruas: "Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor!"1
A noite, no barraco da família, quando não apanhava, a esperança ressurgia. Lembrava vagamente das poucas palavras de seu falecido pai: "Filho, para ser alguém na vida, precisa estudar."
Exausto, no velho colchão, dormia serenamente. Só assim, podia sonhar.
1Trecho da Canção "Vamos lá Seleção" (Composição: Petrúcio Amorim).