A Revolução Inglesa de 1640

Por | 30/11/2008 | História

1- Referências Bibliográficas:

HILL, C. A Revolução Inglesa de 1640. IN: Fundo político da revolução inglesa. Lisboa: Ed. Presença, 1985. p. 49-77

2- Credenciais do autor:

John Edward Christopher Hill, historiador inglês, nasceu no dia 6 de fevereiro de 1912. Lecionou em Oxford onde desenvolveu seus estudos sobre a Revolução Inglesa, a guerra civil e da era de Oliver Cromwll. Escreveu "os eleitos de Deus", "O mundo de ponta cabeça", "Origens intelectuais da Revolução Inglesa", entre outros livros. Sua produção esta ligada ao marxismo inglês da década de 1950. Também foi militante do Partido Comunista Britânico. Faleceu em 23 de fevereiro de 2003aos 91 anos.

3- Resenha Descritiva:

Na obra "Fundo Político da Revolução Inglesa" o autor Hill descreve as características das monarquias Tudor e Stuart. Para isso identificará a política de ambas as dinastias para uma melhor compreensão do processo da Revolução Inglesa. Assim Hill irá analisar o período entre os séculos XV e XVII por meio de uma abordagem historicizada em que identificará a força das classes em progresso, "classe endinheirada", em relação à política e a economia. A obra abordar fatos essenciais para o entendimento do surgimento da burguesia e o processo da Revolução Inglesa onde se constata a colaboração no Parlamento entre a monarquia Tudor, a pequena nobreza e a burguesia unidas por interesses gerando no primeiro momento uma conscientização nacional e uma aliança contra os inimigos internos (guerras privadas) e contra os inimigos externos a (Espanha e a Igreja Católica Internacional). Dessa forma a burguesia necessitava de uma proteção monárquica, visto sua formação protestante, e a Monarquia dependeria dos empréstimos feitos junto à burguesia para manter o sistema feudal e separar a Inglaterra do domínio católico com a finalidade de fundar o anglicanismo. Assim, houve uma adaptação conciliadora durante a dinastia Tudor. Entretanto durante a dinastia Stuart, os quais são representantes do catolicismo apostólico romano, a conciliação entre burguesia e monarquia será quebrada, visto que esta dinastia não respeitou os direitos consuetudinários. Contudo vai se destacar também uma classe burguesa mais definida e cristalizada a qual não aceitara tais políticas impositivas. O autor identifica a monarquia Stuart ligada à ordem feudal, a necessidade de manter cada um no seu estamento, bem como a de proteger a aristocracia e o povo dos comerciantes, porém necessitada do capital gerado pelos burgueses para custear a monarquia em guerras e na economia nacional. Com isso a burguesia em um primeiro momento, irá contribuir, mas exigirá do rei Carlos I a assinatura da Petição de Direitos quais vão restringir seu poder real referente ao aumento de impostos, prisões arbitrárias e no comprometimento de não manutenção de um exército por parte do rei. Carlos I com seu governo pessoal assina petições e utiliza dos recursos oriundos da burguesia, que representa a Câmara dos comuns, e quando não precisa mais desse parlamento, o dissolve rompendo com acordos documentados e assinados por ele mesmo. Em um segundo momento, a Aristocracia que representava a Câmara dos Lordes passa também a ter motivos de votar contra o rei, associando-se relativamente à burguesia. Por fim tem o compromisso de identificar as questões jurídicas, políticas econômicas e religiosas para uma melhor compreensão do processo que gerou a Revolução Inglesa de 1640, aonde o rei vai ser julgado executado.

4 – Resenha Crítica:

A obra de Christopher Hill é construída sob uma perspectiva marxista da década de 1950 de se ver a História. Nessa perspectiva, a visão materialista da historia é a que prevalece. Hill estuda o evento da Revolução Inglesa sob uma ótica progressista, teleológica, e tenta explicar o determinado evento através da análise da disputa política do que ele considera a classe decadente (a monarquia) e a classe em progresso (a "burguesia"). A visão marxista de Hill foi importante para se estudar e analisar os entrelaçamentos da Revolução Inglesa na época em que a obra foi pensada, porem não servindo mais para explicar a dita "revolução" nos dias de hoje. Desta maneira, faz-se necessário analisar alguns pontos da obra de Hill. Primeiramente, se pensarmos como Lawrence Stone, não existia uma classe sólida e unida a qual Hill chamava de "burguesia". Em um cenário histórico caracterizado pela constante instabilidade das instituições sociais, a "burguesia" era na verdade um ajuntamento dos novos ricos da Inglaterra (os comerciantes) que tinham interesses em comum e reivindicavam maior poder político, ou seja, maior poder de decisão dos rumos da sociedade da época. Outro ponto a destacar é o juízo de valor que o autor faz de algumas instituições políticas: chamando a pequena nobreza de "parasita", evidencia a "podridão" da estrutura governamental de Carlo I e insiste em classificar o sistema feudal como "obsoleto". Percebemos a identidade ideológica do autor através desse juízo de valor, os quais devem ser evitados, pois, segundo os historiadores da nova História, quem estuda um documento histórico objetivando produzir alguma analise documental, deve afastar-se o máximopossível de influencias e ideologias. Lógico, sabemos que não existe o historiador sem influencia alguma, mas o máximo de afastamento é necessário para que seja feita uma boa análise do documento. Destacamos ainda que a chamada "burguesia" não queria derrubar o rei. Segundo Stone, os comerciantes reivindicavam maior participação política. Já detinham o poder econômico, logo se achavam no direito de reivindicar também o poder político. É bom lembrarmos que esses homens são descendentes de uma tradição medieval e no século XVII não é possível rejeitar essa tradição.Até mesmo o termo "revolução" de que tanto Hill se utiliza para justificar uma suposta ruptura de sistemas (do feudal para o capitalista) deve ser criticado. Segundo Stone, o termo "revolução" não deve ser entendido como nos dias de hoje, que representa uma ruptura com alguma ordem estabelecida, mas sim como uma "reforma" do sistema vigente. Tanto que para justificar a decapitação do rei Carlos I, os parlamentares utilizaram o motivo de que o rei teria atentado contra o direito consuetudinário, tradição que era produto da sociedade feudal que Hill considerava "obsoleta". Posteriormente, os próprios membros da Câmara dos Comuns admitiram a necessidade da presença do rei como um elemento essencial e aglutinador paramaior controle da sociedade. Apesar da lógica reivindicante dos comerciantes, é possível entender que eles consideravam o rei como "pai", um líder natural. O próprio Cromwell admite, após o regicídio, que aquele desfecho não era o que eles buscavam. É possível criticar ainda a separação de "classes" que Hill faz nas duas Câmaras do Parlamento: a dos Lordes, reservada para a aristocracia; e a dos Comuns, reservada aos comerciantes. É necessário destacar que essa separação não foi tão cristalizada. É possível que houvesse comerciantes na Câmara dos Lordes e aristocratas na Câmara dos Comuns. Isso demonstra a relativa desarticulação da sociedade, a instabilidade dos Estados. Desarticulação essa causada por vários fatores. Por esse motivo, segundo Stone, não é possível pensar os eventos da Revolução Inglesa sob a ótica da luta de classes, do embate entre o sistema "decadente" e o sistema "progressista". Não é possível destacar apenas uma causa para a Revolução Inglesa, mas sim uma gama de fatores que eclodiram com a reforma dos lugares que cada um dos grupos de status exercia na sociedade inglesa do século XVII. É necessário pontuar que, apesar dos problemas de contextualização histórica e de influências ideológicas, a obra de Hill é de grande valor e importância para o estudo da Revolução Inglesa. É sempre bom lembrar que Hill produziu o documento "A Revolução Inglesa de 1640" no contexto histórico da Guerra Fria, na polarização e embate entre os defensores do capitalismo e os defensores do socialismo. Portanto, para aquele momento essa forma de se pensar os eventos da Revolução Inglesa poderia ser satisfatória, mas hoje em dia, com novas abordagens da História, essa lógica não é suficiente para explicá-la, um acontecimento tão complexo como foi este. Ademais, essa é uma obra importante para refletirmos sobre os eventos ocorridos na Inglaterra durante o século XVII, local onde houve grandes transformações e onde uma nova ordem estaria estabelecida a partir daquele momento.