A revolução árabe e a reconquista da identidade
Por Lahcen EL MOUTAQI | 11/05/2011 | PolíticaHoje, no mundo árabe assistimos a uma aprovação geral desta revolução popular por causa de sua oposição à injustiça. Ela é também uma passagem obrigatória, após uma fase de "bloqueio", a qual a sociedade árabe atravessou. E também "unânime" aceito, pois reflete a voz das massas; voz que permaneceu muito tempo em espera.
A elite e as massas
A idéia da expressão das massas por si só é o maior problema que enfrentamos. Enraizado no imaginário árabe e islâmico, a imagem negativa das massas e das pessoas em geral têm sido afetadas por esta revolução. Nossa história árabe é uma história de "elites". Muitas páginas do nosso património literário, inútil a sinalar, degradadas por essa revolução e pelas massas e pelo público em geral. Todos a descreveram como "escória" e "scrap" ou simplesmente "pessoas pequenas". Estas páginas do nosso património literário têm poucos elogios das massas como fez, Ali ibn Abi Talib, que Allah esteja com sua alma, dizendo: "As pessoas da comunidade é o pilar da religião, o que reúne os muçulmanos e a arma para combater os inimigos. "
Este retrato negativo das pessoas existe também no Ocidente. O filósofo Inglês Thomas Hobbes foi o primeiro a ter estudado o termo "povo" em seu livro "O Cidadão". Ele diz sobre as pessoas aquelas que são compostas de "bárbaros" tendo o seu amor à guerra, o que o mal faz pela sua natureza. No século XIX, o filósofo holandês, Espinosa explicou esta idéia. Falando do povo, ele usou o termo "massa" que ele considera em seu Tratado Teológico-Político, como um ser dotado de grande poder.
Outros estudos têm-se centrado sobre o conceito de "massa ou multidão". No final do século XIX, o historiador francês Gustave Le Bon considerou em seus dois livros de Psicologia e da Psicologia das Revoluções, que as massas formam uma entidade desorganizadas e irracional. Ele disse que tal entidade tende a ter um sentido impensado e propenso ao extremismo. Esta posição de Gustave Le Bon e do entusiasmo que começou a defender como uma política crescente à medida que ele aprofundou seu estudo sobre o impacto devastador do frenesi das massas sobre os órgãos sociais. Os cem anos que seguiram a Revolução Francesa foram marcados por uma sucessão de revoluções dolorosas. Hoje, o Ocidente desenvolveu instrumentos políticos e informação que influenciam a opinão pública, fazendo dele um ator influente e soberano.
Atualmente, a expressão do sentimento popular árabe e seu pensamento causaram efeito através de aparelhos democráticos e modernos. Este é o maior benefício esperado após a revolução popular. Graças a este manifesto popular, as massas tornam-se conscientes de si, da sua força é de fato que elas foram uma entidade a parte inteira. Esta entidade tem uma existência, ela é capaz de organizar suas próprias idéias, expressá-las e implementá-las. A grandeza da revolução árabe vai prosperar porque ela representou essas massas, cada vez mais ela se torna uma voz, sem reproduzir a revoluções árabe da década de 1950. Estas revoluções expressam as orientações das elites militares, sem guardar desta revolução de "massas" a não ser o seu nome.
Os exemplos da Tunísia e do Egito têm demonstrado um desejo insaciável das massas árabes para se expressar. O aparelho de autoridade e das elites, recorrendo as relações de poder e do clientelismo, baseam-se sobre a rejeição violenta da identidade e do interesse do povo. Eles consideraram que, para tirar proveito de interesses "particulares" isso necessita a tomada de posição contra o interesse "geral". A elite não toma conta de sua opinião e despreza o aviso "geral".
Finalmente, o dominante "se reconhece e conhece os outros", como disse Pierre Bourdieu em sua pesquisa sócio-política. Neste modelo de equilíbrio de poder e de força, o dominante é aquele que classifica as pessoas, e define sua posição e o grau de sua identidade.
Tunísia ... A identidade de uma elite ou identidade de uma sociedade?
No mundo árabe, a Tunísia foi o melhor modelo de processo de alienação da identidade existente. A usurpação e a marginalização da identidade árabe-islâmica eram mais profundas e claras para o Presidente, Habib Bourguiba, bebindo o suco de laranja na frente das pessoas durante o mês do Ramadã? Renunciando o hajj, segundo ele porque pode afetar os recursos financeiros do país? expressando explicitamente o seu desprezo para o idioma árabe?
Após a independência da Tunísia, Habib Bourguiba foi condenado pelo Shuyukh Zaytuna e o « Velha Destour », pela sua ofensa e luta contra os símbolos do arabismo e islamismo. Sob o slogan de modernização", Bourguiba trabalhou no sentido a destruir os pilares da identidade arabo-islâmicos. Ele aboliu os tribunais islâmicos e promoveu a educação "Francofonia".
Da mesma forma, ele liderou o batalhão daqueles que foram diplomados das universidades francesas, controlando o movimento nacional e as instituições para um Estado da Tunísia moderno. Essa elite obrava pela ruptura de qualquer contacto com as raízes da personalidade, aquela que é baseada sobre o árabe e a identidade islâmica. No entanto, esta elite foi disposta a apoiar e envolver todos os elementos da identidade, os que entram em oposição com os pilares da personalidade da Tunísia.
Iniciada em 1987, a era de Ben Ali foi acompanhada por um simulacro de abertura política e democrática, com respeito aos direitos humanos e promoção do crescimento econômico. Mas a verdade logo surgiu. A identidade do país e a voz de seu povo entraram numa nova fase de alienação. Na Tunísia, o general Ben Ali liderou uma política da tirania e da repressão. Ele dirgiu o país diretamente, através do seu aparato de segurança, enquanto seu antecessor, Habib Bourguiba se alinhou, principalmente, com seu partido.
Além do seu caráter árabo-islâmico e identidade tunisiana, ele foi um alvo durante a sua história pós-independência. Como professor de sociologia política na Universidade de Tunis El Manar, Salim Labid explicou em seu livro Identidade: O Islão, o arabismo, a « tunisianidade » : "Identidade na Tunísia, durante muitas fases de sua história moderna, ele incarnou uma verdadeira batalha entre a elite das massas da identidade árabo-islâmica, e as pessoas que se assimilam, tratando de uma elite que construi a sua identidade com base em provas selecionadas. Essas provas decorrem da Francofonia, do Mediterrâneo, do africanismo, do romano ou da identidade cartaginês, menos a identidade árabo-islâmica ".
Temos de nos concentrar sobre a dimensão islâmica e árabe da personalidade tunisiana, porque esta dimensão tem sido objeto de ataques e marginalização política. Na verdade, a identidade do povo tunisiano ou egípcia se baseou sobre uma profunda herança histórica, que garante o direito à diferença e à expressão natural dos seus componentes. A manifestação de uma identidade não implica necessariamente a recusa do outro.
No entanto, tratando das identidades em oposição com uma outra identidade, identificam métodos praticados como forma de despotismo. Em um país, que não considera as organizações de direitos humanos e as instituições civis, as que não representa nenhuma democracia efectiva, buscam a consolidar os laços e relações fundadas sobe a identidade. Isso torna-se um fator de corrupção, em vez de fator de riqueza e diversidade, se não for bem organizado e transparente. Ao contrário do que aconteceu na Tunísia, no Egito, houve um aproveitamento político por parte do governo de Hosni Mubarak e do Anwar Sadat, embora a marginalização da contribuição "islâmica" e da identidade egípcia.
Egito ... Um presente do céu nas mãos dos poderosos
Desde a chegada ao poder de Sadat, o Egipto tomou um novo rumo que se manifestou em aliança com os Estados Unidos e a política de "abertura" econômica sobre o modelo liberal (infitah). Estas duas características não beneficiaram o Egito como esperava. Em vez disso, apenas uma parte da elite e dos setores bem definidos da sociedade egípcia aproveitaram os benefícios. Em geral, estas duas orientações foram fatores de enfraquecimento do povo egípcio.
Do ponto de vista econômico, o início de 1980, o Egito apresentou uma taxa de crescimento de 8% nacional, fato considerado sem precedentes na história. Este crescimento econômico não beneficia o país como um todo. As pessoas queixaram-se de má administração e do aperto de um único partido que promoveu itens que ele mesmo tinha escolhido.
Na segunda metade da década de 1980, a taxa de crescimento da receita doméstica caiu drasticamente, bem como a taxa de migração e dos preços do petróleo. Este aspecto econômico causou um impacto considerado sobre todo o país. Ele abaixou o nível de vida e levou a um racha entre o povo e a liderança política do país, com a sua orientação estratégica. Apesar desses problemas, as classes mais altas e alguns particulares, próximos ao governo colocavam em prática uma política que os beneficia. Desde aquela época, o Egito se tornou um país inegualável em relação ao "serviço de ricos", como observou o pensador egípcio, Galal Amin.
Nos últimos anos, o Egito apresentou a pior versão desta política que favorece as classes superiores. Se o país não fez esta revolução, ele teria sido o passageiro em virtude do trem da globalização econômica "neoliberal" defendido, ardentemente, por Jamal Mubarak e sua comitiva. Essa nova economia transformou de fato a identidade do país, deflagrando as estruturas de produção e estrangulando as classes mais baixas, que representam 40% da população.
O Egito e suas políticas dependem de homens e empresários ,"nova guarda", como o designou o Centro de pesquisa americano "Center American of Research Carnegie" no mês de setembro do ano passado. O Centro anotou que empresários egípcios desempenham um papel significativo na tomada de decisão política.
Os "gangs" políticos concordaram com os "gangs" de pilhagem da economia do país para buscar formulas de ajuda externa. Acreditando que muito dinheiro foi desviado em meados da década de 1990, com cerca de 300 bilhões de dolares. A aliança com os Estados Unidos não foi um fator de estresse para o Egito como sempre, caso para qualquer um que aceita as condições dos EUA.
Os relatórios mostraram que a administração de Obama ficou neutra desde o início sem nenhuma crítica contra o Governo de Mubarak, embora as lacunas nas áreas de democracia e de direitos humanos são enormes. O regime de Mubarak não foi capaz de refletir a identidade do povo, porque o regime era desprovido de identidade. Era um regime de "natureza pessoal", sem estrutura, nem como evoluir em qualquer direção que seja. Não foi nem democrática nem mesmo totalitário, como indicou Maysa al-Jamal, em seu livro A elite política no Egito.
Liberação da autoridade do Estado e da tutela da oposição
A característica específica da transformação atual reside na sua intransigência. As massas falam por si simplesmente e diretamente: "governo corrupto pois vai embora...! "Assim, no primeiro tempo, o movimento de massas tomou as coisas em mãos. O movimento se reestrutura em funçãoão da nova situação, na qual se governa sem elites ou onde os seus semelhantes são a elite da autoridade ou da oposição.
Na verdade, as elites são verdadeiramente elites quando elas foram uma fonte de alimento e um servidor de massas. Mas não quando se alimentam em nome das massas e tornando o cena como um campo de manipulação. Em virtude da sua grande qualidade do processo de transformação, a revolução das massas começou com a formação de elites. Criando mais uma vez um quadro estável a partir dos objetivos realistas e concretos relacionados, em particular, com as base de bens do povo.
A libertação das pessoas e seu afastamento das dimensões autoritárias e ideológicas são os maiores benefícios da revolução popular árabe. Trata do sentido capaz de levar ao encontro da sua identidade. Bem como a expressão direta da sua vontade e da sua natureza.
As massas concentram-se em torno dos critérios gerais que as pessoas aceitam. Da mesma forma, elas eliminam as diferenças ideológicas que possam existir entre elas, como as normas relativas à liberdade, ao respeito à democracia e à justiça social. Do ponto de vista político, o interesse próprio não é mais importante e central, como poderia ser para a elite governante das potências ocidentais. Da mesma forma, o que o Ocidente busca é um regime árabe, não tão importante como a autoridade da rua unida pela opinião do povo.
Todas as Janelas foram abertas para os árabes durante o século passado desde a queda do califado, o fim do colonialismo, o colapso da União Soviética e a cooperação política com os Estados Unidos. Os árabes não utilizaram esses acontecimentos para efeitos de mudança democrática na região. Ao contrario essas aberturas foram aproveitadas por elites despóticas e como ideologias extremistas.
No entanto, hoje, as características para uma intervenção global do corpo da sociedade e das ideais das massas necessitam da consciênça coletiva no seio dos países árabes. Isto, depois das forças da tirania se esgotarem a sua energia e seus truques e após o surgimento de uma nova ordem "social", base para erradicar os efeitos do despotismo do seu país.
Concluindo que hoje as pessoas ganharam o direito de falar por si. As massas não são mais a "maioria silenciosa", como foi descrito por Jean Baudrillard. Ele tem sudiblinhado sobre a energia negativa que se absorve e que se injeta as elites. Eles não são mais, como pensa Abu al-Ala al-Maari "o batalhão dos mudos" refém do espirito dos outros.
Lahcen EL MOUTAQI
Consultor_professor