A Revolta de Fausto Cardoso

Por Cerivaldo Pereira Filho | 01/04/2019 | História

No início da República dois nomes tiveram grande destaque na política sergipana: Monsenhor Olímpio Campos¹ (do grupo Cabaú) e Fausto Cardoso² (Peba). O primeiro, velho político do Império, ligado aos produtores de açúcar, foi deputado provincial, e na República, foi eleito presidente do Estado (Governador) e senador. Fausto Cardoso, participante da propaganda republicana, era advogado, poeta e jornalista. Na República, exerceu dois mandatos de deputado federal, sendo apoiado pelos setores médios urbanos e proprietários rurais adversários de Olímpio Campos.

A partir de 1904 o deputado Fausto Cardoso, junto a outros políticos sergipanos, passou a fazer oposição radical ao poderoso padre Olímpio Campos e a seu grupo. Em 1906, a rivalidade entre os “Olimpistas” e os “Faustistas” ficou mais forte. Ao chegar em Aracaju vindo do Rio de Janeiro, Fausto Cardoso foi recepcionado com grande festa popular, além de ter sido muito elogiado pelos jornais e políticos da oposição. No dia 28 de agosto de 1906, os “Faustistas” conseguiram revoltar a Força Pública (atual Polícia Militar) que atacou o Palácio do Governo, obrigando o presidente Guilherme de Campos³ (irmão de Olímpio Campos) a renunciar. Assim, os “Faustistas” tomaram o poder colocando no governo o desembargador João Loureiro, enquanto no interior eram derrubados os intendentes (prefeitos) ligados ao “Olimpismo”.

O presidente da República Rodrigues Alves ordenou ao Exército que acabasse com o movimento revoltoso, e garantisse a volta de Guilherme de Campos ao governo. Rapidamente, tropas do Exército comandadas pelo general Firmino Rego, chegaram a Aracaju e prenderam vários partidários de Fausto Cardoso. Os “Faustistas” tentaram resistir ocupando o Palácio. O deputado Fausto Cardoso morreu na luta. Após este episódio, o presidente Guilherme de Campos reassumiu o poder. Em 09 de novembro de 1906, os filhos de Fausto Cardoso (Humberto e Armando) assassinaram o senador Olímpio Campos no Rio de Janeiro (na Praça XV). Olimpistas e Faustistas continuaram inimigos ferozes na política sergipana e cada grupo esforçou-se para homenagear o seu líder assassinado. Por isso, encontramos em todo o Estado, ruas, escolas, praças, monumentos e prédios com os seus nomes.

A REPÚBLICA EM SERGIPE:

A proclamação de República em 15 de novembro de 1889, no Rio de Janeiro, deixou surpresos todos os sergipanos, inclusive, os de ideologia republicana. Em Laranjeiras, o Clube Republicano comemorou a vitória com uma passeata, mas em Aracaju tudo era confusão; ninguém sabia o que estava acontecendo. Com a confirmação da proclamação, os republicanos de Sergipe se organizaram para tomar o poder, buscando o apoio de políticos, jornalistas e militares do exército e da polícia. Uma junta governativa republicana formada por Siqueira de Menezes, Baltazar Gois e Vicente Oliveira tomou posse oficializando a República em Sergipe. A divisão do espaço político em Sergipe, após a proclamação da república é o segundo ato de um confronto ideológico que começou no Recife, quando Olímpio Campos viu de perto o embate filosófico entre sergipanos e outros nordestinos que cursavam direito na faculdade da capital pernambucana. Com a república a adesão dos políticos, como o próprio padre, causou embaraço e desconforto a “republicanos históricos” (aspas do autor), preteridos, como Fausto Cardoso, para que brilhassem as estrelas dos adesistas. De um lado o general Oliveira Valadão, espécie de representante do florianismo em Sergipe, e que contava com o apoio de Martinho Garcez, Silvio Romero e Fausto Cardoso, do outro lado o grupo liderado por Coelho e Campos, contando com o general José Calazans, e apoiado por Olímpio de Souza Campos. A nomeação do padre Olímpio Campos para intendente (prefeito) de Aracaju, pelo presidente do Estado Felisbelo Freire causou feridas que jamais cicatrizariam. Fausto Cardoso, sentindo-se traído, foi embora para o Rio de Janeiro e só voltou em 1906, para liderar o movimento revolucionário. Duas assembleias são eleitas, uma em Aracaju e outra em Rosário. O general Calazans chega ao governo, após a promulgação da constituição do Estado, em 18 de maio de 1892, tendo Olímpio Campos como presidente do poder constituinte. Silvio Romero, aproveitando-se de estar em Sergipe para o enterro do pai - André Romero - , em Lagarto, parte para derrubar o presidente Calazans. O general Oliveira Valadão no governo promove um expurgo no tribunal da relação, “a bem da ordem e dos interesses da justiça” aposentou três desembargadores, entre eles Guilherme de Souza Campos, irmão de Olímpio Campos, juntamente com seus colegas Francisco Alves de Oliveira Brito e José Sotero Vieira de Melo. Um acordão entre Martinho Garcez e Olímpio Campos satisfaz, em parte, os interesses dos dois grupos. Tanto Silvio Romero como Fausto Cardoso são eleitos deputados federais, Martinho Garcez vai para o senado, onde encontra Coelho e Campos e encontrará o próprio Olímpio Campos, três anos mais tarde. Outros conchavos permitiram a troca de lado de diversos políticos dos dois blocos hegemônicos. Valadão apoiou Guilherme Campos, enquanto Coelho e Campos compôs com Fausto Cardoso uma chapa surpreendente. (BARRETO, 2006, p. 16) 3 Os acordos políticos, no entanto, não pacificaram os ânimos exaltados, Silvio Romero continuou um crítico ferrenho de Olímpio Campos, seguido por Gumercindo Bessa, e por Fausto Cardoso, que na Câmara Federal reproduz os artigos virulentos de Bessa, a respeito do terreno da Tebaída, que o Estado, na gestão de Olímpio Campos comprou para ajudar aos padres salesianos na instalação de uma escola agrícola, e que pertenceria ao próprio padre presidente. A troca de insultos continuou; desembocando no movimento popular, que contou com a liderança de Fausto Cardoso e forçou a renúncia do presidente Guilherme de Souza campos e do vice Pelino Nobre, perante o capitão dos portos Amintas José Jorge, que leva o desembargador Loureiro Tavares ao exercício temporário do Governo, em 10 de agosto de 1906 (BARRETO apud DUARTE, 2006, p. 17). [...]

 

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