A REVIRAVOLTA LINGUISTICA E WITTGENSTEIN: UMA BREVE ABORDAGEM A CERCA DO TRACTATUS LÓGICO-PHILOSOPHICUS

Por Cristóvão de Sousa Gomes Júnior | 04/02/2013 | Filosofia

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ-UVA

CURSO: FILOSOFIA – LICENCIATURA

DISCIPLINA: FILOSOFIA DAS CIENCIAS

PROFESSOR: MARCOS FÁBIO

A REVIRAVOLTA LINGUISTICA E WITTGENSTEIN: UMA BREVE ABORDAGEM A CERCA DO TRACTATUS LÓGICO-PHILOSOPHICUS[1] 

Cristóvão de Sousa Gomes Júnior [2] 

APRESENTAÇÃO 

O seguinte trabalho é uma tentativa de fazer uma ponte entre a questão da reviravolta lingüística que a meu ver configura um ponto de partida para uma abordagem acerca do tractatus lógico-philosophicus; em que Wittgenstein irá à busca de uma estrutura lógica que pudesse dar conta do funcionamento da linguagem; seria a possibilidade de uma figuração lógica da realidade, através do método de projeção do pensamento. Apresentar alguns conceitos sobre a reviravolta linguistica e abordar questões do tractatus lógico-philosophicus são os temas principais desse artigo.

PALAVRAS-CHAVE: Fundamentação; conhecimento; Wittgenstein; Tractatus Lógico-philosophicus; mundo; linguagem; pensamento; proposições. 

  • INTRODUÇÃO

A questão da fundamentação do conhecimento sofreu uma grande mudança quanto sua legitimação como ciência moderna. Mudou suas referências e rompeu com toda tradição filosófica. As ciências modernas são marcadas por uma racionalidade apenas do método científico, dos procedimentos do conhecer ao combinar as dimensões teóricas e experimentais. O racional agora está ligado a soluções de problemas, o que torna possível ao homem interferir no mundo dos fenômenos, diferente da tradição clássica em que o racional estava ligado ao ser das coisas, e nos modernos era a subjetividade transcendental, ou a ordem das coisas pelo processo de formação do espírito.

Segundo os filósofos do circulo de Viena, só se fez progresso em filosofia, na medida em que as discussões filosóficas se aproximaram da metodologia utilizada nas ciências. Dessa forma, abandonar o caráter metafísico e especulativo da filosofia e por a prova o conteúdo empírico das suas afirmações, ou seja, não mais se deve preocupar com as coisas e eventos do mundo, mas com a análise lógica da linguagem. A verificabilidade de um enunciado é a condição necessária e suficiente para que ele seja considerado como dotado de sentido empírico; e é a partir dessa perspectiva que Wittgenstein desenvolve seu “tractatus Logico-Philosophicus

  • O “TRACTATUS”

O Tractatus é uma obra cujo método de exposição não é convencional na história da Filosofia. Ela é estruturada a partir de sete aforismos, que são numerados de 1 a 7. A partir deles, todo o restante da obra é numerado como se fossem itens ou subitens que comentam os aforismos. O aforismo n.º 1 diz que “O mundo é tudo o que ocorre”. É evidente que não está dito neste aforismo o que o filósofo entende por mundo, tudo e também pela expressão “o que ocorre”.

Por conseguinte, se nos perguntarmos o que entendemos por mundo, sem pretendermos uma resposta filosófica, cientifica ou teológica, podemos dizer que é a totalidade daquilo que conhecemos que existe. Talvez pudéssemos reescrever esta proposição da seguinte forma: o mundo é tudo aquilo que sabemos que existe. Mas, a partir desta expressão, poderíamos nos perguntar o que significa conhecer (saber) e existir; isto se não quisermos nos complicar mais e nos questionarmos sobre o que significa ser (ou não ser).

Para não nos confundirmos, passemos para o aforismo seguinte. Em 1.1, lemos que O mundo é a totalidade dos fatos, e não das coisas. Dedutivamente, comparando os aforismos 1 e 1.1, podemos concluir que, se o mundo é tudo o que ocorre, e se é também a totalidade dos fatos, então, tudo o que ocorre são fatos, e a totalidade destes é que constitui o mundo. Entretanto, não está dito ainda o que são fatos, o que encontraremos no aforismo 2, que é o seguinte: o que ocorre, o fato, é a existência de estados de coisas, e estes são ligações de objetos (coisas) (2.01). Por outro lado, como lemos em 1.1, o mundo é a totalidade dos fatos, e não das coisas, como parece afirmar 2.01. Isto parece uma contradição, pois, se fatos são existências de estados de coisas, então pareceria legítimo afirmar que o mundo é a totalidade dos objetos, desde que ligados uns aos outros, formação esta que daria origem a estados de coisas que, por sua vez, nada mais são do que fatos!

  • O OBJETIVO

Wittgenstein parecia acreditar que seu livro resolveria todos os problemas genuínos da Filosofia. No seu “Tractatus, ele intensificou a busca de uma estrutura lógica que pudesse dar conta do funcionamento da linguagem. A estrutura da linguagem deveria corresponder à realidade dos fatos. Noutros termos, a verdade de uma proposição deve ser verificada na experiência do mundo real.

De modo que o objetivo imediato do Tractatus Logico-Philosophicus é explicar como a linguagem consegue representar o mundo. Como uma proposição é capaz de representar um estado de coisas real ou possível. No contexto do tractatus observamos as seguintes proposições:

  • As proposições factuais: proposições contingentes que figuram os fatos; seus valores de verdade (verdadeiro ou falso) dependem de uma confrontação com a realidade;
  • As tautologias: proposições complexas, necessariamente verdadeiras, mas destituídas de conteúdo descritivo;
  • As contradições: proposições complexas, necessariamente falsas, e também destituídas de qualquer conteúdo descritivo

Do mesmo modo, segundo Wittgenstein, as relações entre os elementos básicos de uma proposição, os nomes próprios lógicos, guardariam entre si, segundo um método de projeção adequado, as mesmas relações lógicas vigentes entre os objetos simples que constituem o estado de coisas representado.

Em suma, pode-se dizer o seguinte: o mundo é constituído por um conjunto de fatos; as proposições são imagens lógicas de fatos atuais ou possíveis; noutros termos, as proposições equivalem a possíveis estados de coisas do mundo; se o estado de coisas representado por uma proposição vigora no mundo, então a proposição é verdadeira. Assim, Wittgenstein conclui que a estrutura lógica subjacente da linguagem espelha a estrutura lógica do mundo.

  • O ATOMISMO LÓGICO E O TRACTATUS

De acordo com o Tractatus, tudo que pode ser pensado também pode ser dito. 0s limites da linguagem são, portanto, os limites do pensamento. Todos os problemas metafísicos decorrem da tentativa de dizer o que não pode ser dito. Uma análise apropriada da estrutura dos termos utilizados nessa tentativa mostrará tal coisa e, desse modo solucionará ou diluirá problemas.

Wittgenstein dividiu todas as sentenças em complexas e atômicas As sentenças atômicas são aquelas que empregam os primitivos da linguagem isto é, os nomes e predicados elementares que, sendo indefiníveis, servem para distinguir (ou "descrever") o que Wittgenstein chamou de fatos atômicos.

 Só uma proposição completa pode ser verdadeira ou falsa e, por conseqüência, só uma proposição completa pode dizer-nos algo sobre o mundo. Conseqüentemente, o constituinte mais básico do mundo é o que corresponde à sentença atômica. Esse constituinte básico é o fato atômico, sendo o mundo, portanto, a totalidade de tais fatos.

Os fatos complexos correspondem às proposições complexas e, para compreender tais fatos complexos, é necessário que compreendamos a complexidade da linguagem usada para expressá-los.

  • CONCLUSÃO

A problemática da fundamentação, ou seja, na reviravolta lingüística, vai reduzir a análise das formas de sentenças, abstraindo da situação ou do contexto da fala. Agora se tem consciência de que a ciência só começa onde observações são articuladas linguisticamente. A reviravolta do pensamento filosófico vai então constituir na “viragem da direção da linguagem”, que se vê assim vinculada à questão maior, da busca dos fundamentos do conhecimento cientifico.

Do mesmo modo o filosofo Wittegenstein em seu Tractatus pretendia enunciar a busca de uma estrutura lógica que pudesse dar conta do funcionamento da linguagem. A estrutura da linguagem deveria corresponder à realidade dos fatos. Noutros termos, a verdade de uma proposição deve ser verificada na experiência do mundo real. Postulou que os limites do pensamento são os limites da linguagem, e que a linguagem passa a ser o ponto central da filosofia. Wittgenstein conclui seu livro com o enunciado: "o de que não se pode falar deve-se calar". O cerne do trabalho crítico no Tractatus é a reflexão lógica sobre o alcance representativo da linguagem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • Oliveira, Manfredo Araujo. Sobre a fundamentação. Porto Alegre: Edi,PUC,RS,1997.
  • WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. In: Os pensadores (coleção). São Paulo: Nova Cultural, 1996.
  • http://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Wittgenstein
  • Oliveira, Jurandir Alves de; Wittigenstein: o filosofo como terapeuta da linguagem. In.filosofia ciência e vida,anoII, n;17,2007.
  • Cotrim, Gilberto.fundamentos da filosofia.São Paulo: Ed.nova cultural,2006.

 



[1] ARTIGO UTILIZADO COMO CRITERIO AVALIATIVO DA NOTA FINAL DA DISCIPLINA DE FILOSOFIA DAS CIENCIAS.

[2] ALUNO DO 7° PERIODO DE FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAU.