A RESSURREIÇÃO INVIABILIZA A REENCARNAÇÃO
Por Geraldo Barboza de Carvalho | 20/04/2009 | ReligiãoO PERDÃO INVIABILIZA A REENCARNAÇÃO - Geraldo Barboza de Carvalho
O perdão de Jesus é absoluto, apaga o pecado por completo, justifica o pecador, comunica-lhe a santidade de Deus, mediante a fé. "Todos me conhecerão, porque vou perdoar sua culpa, e não me lembrarei mais do seu pecado" Jr 31,34. Se Jesus Cristo apaga totalmente nossos pecados, estamos absolutamente limpos, espiritualizados no corpo e na alma, perfeitos, santos. Não há mais necessidade de prosseguir nos aperfeiçoando numa outra encarnação. Por isso, o perdão total dado por Jesus torna inútil, supérflua, sem sentido, desnecessária a reencarnação.
Perdão é dom completo, incondicional, gratuito de amor a quem merece castigo. Perdoar é não levar em conta o mal que sofreu, mas pagar o mal com o bem. "O ódio provoca disputas, o amor cobre todas as ofensas. A ninguém pagueis o mal com o mal; seja vossa preocupação fazer o que é bom a todas pessoas, procurando, se possível, viver em paz com todos, porquanto de vós dependa. Não façais justiça por vossa conta. Antes, se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer, se tiver sede, dá-lhe de beber. Agindo desta forma, estarás acumulando brasas sobre a cabeça dele. Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem" Pr 10,12; Rm 12,17-21.
Perdoar não é necessariamente esquecer. A mente humana - consciente, subconsciente, inconsnciente pessoal e coletivo - registra de maneira indelével todos os fatos e circunstâncias da vida de cada um. Tudo que é registrado na mente jamais será apagado; no máximo será posto na quarentena do inconsciente, à espera do momento oportuno para ser reativado, seja em sonhos, em condutas impróprias, em obras de arte, em memórias, etc. Quem perdoa sabe (não esquece) que a pessoa que lhe fez o mal continua no seu caminho. Mas, em vez de se vingar, de pagar o mal com a moeda do "dente por dente, olho por olho", o ofendido redireciona concientemente a intenção de sua vingança para o perdão do agressor, que consiste em não fazer mal, mas o bem a quem fez o mal. Esquecer é uma atitude passiva, cômoda, que nada constrói, apenas corta a ponte entre ofendido e ofensor. Ao perdoar, o ofendido deixa aberta a ponte da comunicação com o ofensor, embora este espere o contrário: o revide. Mas, em vez do revide, o ofendido faz o bem ao ofensor. Em vez do ódio que levaria ao revide, ama o ofensor na forma de perdão, de orar por ele, conforme ensina Jesus. "Ouviste o que foi dito: Amarás o teu próximo e o odiarás o teu inimigo. Porém, eu vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem e maltratam". É o amor em forma de não cortar relações, de pensar e fazer o bem ao inimigo. Perdoar é fazer dom (donare) completo e continuado (per) do amor a quem merece ódio. É assim que Deus faz. "Dificilmente alguém dá a vida por um justo, talvez por um homem de bem haja quem se disponha a morrer. Mas Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido (dado a vida, perdaodo) por nós quando éramos pecadores. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por alguém". Javé é exemplo de perdão gratuito. "Javé, Javé, Deus ciumento, de compaixão e piedade, lento para a cólera e cheio de amor e fidelidade; que guarda o seu amor a milhares, tolera a falta, a trasngressão e o pecado até a milésima geração para aqueles que o amam e guardam seus mandamentos, mas a ninguém deixa impune, castiga a falta dos pais nos filhos e nos filhos dos seus filhos até a terceira e quarta geração dos que o odeiam" Ex 20,5-6; 34, 7. O perdão de Javé é sem proporção com o castigo das faltas: perdoa até milésima geração e castiga até a terceira e quarta gerações. Javé ama perdoar: "Vossas mãos estão cheias de sangue: lavai-vos, purificai-vos! Tirai da minha vista as vossas más ações! Cessai de praticar o mal, aprendei a fazer o bem! Buscai o direito, corrigi o opressor! Fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva! Procurai Javé enquanto pode ser achado, invocai-o enquanto está perto. Abandone o ímpio o seu caminho, e o homem mau os seus pensamentos, volte para o Senhor, pois dele terá compaixão, e para o nosso Deus, que é rico em perdão. Então, mesmo que os vossos pecados sejam como o escarlate, tornar-se-ão alvos como a neve; ainda que sejam vermelhos como carmesim, tornar-se-ão como lã. Todos me conhecerão, dos maiores aos menores, porque vou perdoar sua culpa e não me lembrarei mais do seu pecado". Jesus incorpora a compaixão de Javé, que ele chama de Pai e nos manda chamar de Pai, clamar-lhe, louvá-lo e agradecer-lhe. O dom de amor, o perdão do Pai por nós vem por Jesus Cristo. "Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos em nossos delitos, juntamente com Cristo nos vivificou e com ele nos ressuscitou. Portanto, já não há mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus" Rm 5,7-8; 8,1; Mt 5,43-44; Jo 15,13; Is 54,6-7; 1,16-18; Jr 31,34. Estar em Jesus é aderir livremente a ele, crer nele, enxertar-se nele pela adesão de fé, como se enxerta um ramo num tronco, e passar a viver da vida que está nele. "Eu sou a videira e vós sois os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto. Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê (permanece) em mim, ainda que morra viverá. E quem vive e crê em mim, jamais morerá. Todo aquele que crê no Filho do Homem tem a vida eterna. Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho único, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Quem crê no Filho tem a vida eterna. Quem recusa crer nele não verá a vida eterna. Como o Pai resuscita os mortos e os faz viver, também o Filho dá vida a quem crê. Quem escuta a minha palavra e crê no Pai que me enviou tem a vida eterna" . A salvação, a perfeição, a santidade nos é comunicada por Jesus aqui e agora pela fé. A santidade é dom de Deus, não mérito nosso. Cabe-nos abrir-nos a ela e incorporá-la pela fé. Pela fé, passo a viver da vida de Jesus. "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne (fragilidade) vivo-a pela fé no"Filho de Deus, que me amou e entregou-se a si mesmo por mim. O justo vive da fé". A perfeição não depende de esforço moral de nossa parte para cumprir normas exógenas. A santidade é dom de Deus, que incorporamos acolhendo o perdão e a vida divina que Jesus Cristo traz, em qualquer o estágio de perfeição moral. Santidade é acolhimento na fé do dom, do perdão, da vida divina, da intimidade de Deus, não mérito nosso. "Por graça fostes salvos, através da fé; isto não vem de nós, é dom de Deus: não vem das obras, para que ninguém se encha de orgulho. Pois somos criaturas dele, criados em Jesus Cristo para as boas obras que Deus já antes tinha preparado para que nelas andássemos" Jo 11,25-26; 15,5; 3,15-16.36; 5,21.24; Ef 2,8-10; Hab 2,4; Gl 2,20-21.
O perdão dado por Deus, através de Jesus Cristo, é, pois, radical, completo - apaga o pecado, esquece a culpa e comunica vida nova. Quem o aceitar na fé está livre de toda carga negativa que precisaria ser apagada num outra geração; quem aceita o perdão na fé está justificado, santo, perfeito diante de Deus: não precisa de reencarnação para se purificar. Só temos uma vida para santificar-nos pela fé, ou perder-nos. A fé em Jesus Cristo garante-nos vida nova, definitiva, já, sem necessidade de reencarnação. A vida que teremos depois da morte é a mesma que já temos aqui, na tribulação. Quem precisa de reencarnação para se purificar dos pecados não confia no perdão do Pai por meio de Jesus Cristo. Não são nossos méritos pessoais que nos salvam, mas a fé na redenção operada por Jesus Cristo em nosso favor. A encarnação, vida pública, morte de expiação e ressurreição, a ascensão aos céus e "envio do Espírito Santo sobre toda criatura" Jl 3,1 são a redenção da criação inteira. Todos esses momentos da vida terrena de Jesus configuram o dom da vida, o perdão por nós, em nosso lugar, que apagou todos os nosos pecados e os da criação atingida por nossos pecado. Todas as criaturas somos solidárias na graça e na desgraça. "Por causa da maldade dos habitantes da terra, os animais e os pássaros perecem. Não há mais fidelidade nem conhecimento de Deus nem amor na terra. Mas perjúrio e mentira, adultério e violência, o sangue derramado soma-se ao sangue derramado. Por isso a terra se lamentará, os seus habitantes desfalecerão, desaparecerão os animais selvagens, e até os peixes do mar. A criação foi submetida à vaidade - não por querer seu, mas por vontade daquele que a submeteu (a maldade humana) - na esperança de ser também libertada da escravidão da corrução para entrar na liberdade da glória dos filhos de Deus. A criação inteira geme e sofre as dores do parto até o presente. Não somente ela, também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos interiormente, suspirando pela redenção do nosso corpo (não só da alma, do espírito)" Jr 12,4`; Jl 4,1-3 2,16; Rm 8,20-23. O corpo humano é a morada da SS. Trindade. O homem não pode viver sem corpo, nem na terra nem no céu, pois o corpo faz parte da substância do ser humano, não é algo acessório, descartável. "Se alguém me ama, guardará minha palavra, e o meu Pai o amará, e viremos a ele e nele estabeleceremos morada. Vosso corpo é a morada de Deus e o Espírito de Deus habita está em vós. Glorificai a Deus em vosso corpo" Jo 14,23; 2 Cor 3,16; 6,19-20. Por sermos membros do corpo de Cristo, o Espírito que habita em Jesus habita também nós. A Pessoa de Jesus é corporativa, solidária, incorpora em si a criação inteira no bem e no mal. Deus o fez maldição, pecado (2 Cor 5,21; Gl 3,13) para destruir a maldição do pecado em seu corpo de expiação da encarnação à cruz. O morte de Jesus é o perdão e o dom da vida por nós, com o imediato derramento do Espírito Santo no nosso ser mais íntimo, no nosso coração, em nosso DNA; é a restauração do corpo e alma, da totalidade do nosso ser enfermo por causa do pecado. O dom gratuito da vida de Jesus por nós é o perdão. "Jesus é o nosso perdão", diz o Apóstolo Paulo. Ao incorporarmos o perdão pela fé tornamo-nos novas criaturas, frutos da nova genética do Espírito. Milagre devido ao dom generoso da vida de Jesus por nós, pela vontade do Pai, no poder gerador de vida de Deus Mãe, o Espírito de santidade do Pai e do Filho, e de todos que aderimos a Jesus pela fé.
Isaías profetizou o sacrifício expiatório de Jesus. "Eram nossas enfermidades que ele levava sobre si, as nossas dores que ele carregava. Nós o tínhamos como vítima de castigo, ferido por Deus e humilhado. Ele foi trespassado por causa das nossas transgressões, esmagado em virtude das nossas iniquidades. O castigo que havia de trazer-nos a paz, caiu sobre ele, sim, por suas feridas fomos curados. Foi maltratado, mas livremente não abriu a boca. Javé quis feri-lo e submetê-lo à enfermidade. Na verdade, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores fez intercessão. Mas se ele oferece a sua vida como sacrifício pelo pecado, verá certamente uma descendência numerosa, prolongará os seus dias, e por meio dele o desígnio de Deus (resgatar a criação) há de triunfar" 53,4-12.
O dom da vida, o sacrifício, o sacerdócio existencial do Filho Unigênito configura a restauração, a ressurreição da carne, uma vez por todas. "Por vontade do Pai, somos santificados pela oferenda do corpo de Cristo, realizada uma vez por todas. Depois de ter oferecido sacrifício único pelos pecados, Jesus sentou-se para sempre à direita do Pai, que nos vivificou juntamente com Cristo e com ele nos resssucitou e com ele nos fez assentar nos céus, em Cristo Jesus. Já não somos estrangeiros e forasteiros, mas concidadãos dos santos, membros da Família de Deus. De fato, com esta única oferenda, Jesus levou à perfeição, e para sempre, os que ele santifica" Hb 10,10.12-14; Ef 2,5-6.19. A verdade básica da fé cristã é a ressurreição de Jesus e a nossa juntamente com ele. Negar a ressurreição em nome da reencarnação é anular a fé cristã. "Se pregamos que Jesus ressuscitou dos mortos, como podem alguns de vós dizer que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, nem Cristo ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia é vossa fé e ainda estais nos vossos pecados" 1 Cor 15,12-14.17.
Historicamente, a doutrina da reencarnação remonta ao filósofo e matemático grego Pitágoras, que viveu no século sexto antes Cristo. A doutrina de Pitágroas foi desenvolvida por Platão e o neo-platonismo. Ela ensina que a essência do ser humano é a alma. O corpo não faz parte da substância humana. As almas viviam num mundo feliz, que Platão chama de super-céu ou hyperuranós. Um dia, as almas se rebelaram e foram castigadas sendo enviadas à terrra para viverem num corpo. O corpo é lugar de castigo, de punição da alma. Se ela corrigir-se, deixrá o corpo na terra e voltará a viver vida feliz no céu. Se continuar rebelde, reencarnará quantas vezes forem necessárias até atingir a perfeição e retornar ao céu. Se a falta for gravíssima, a alma reencarnará num animal. O movimento de encarnação, desencarnação e reencarnações sucessivas das almas Pitágoras o chama de transmigração das almas. A doutrina de Pitágoras influenciou a pregação de padres e pastores mal informados sobre a salvação da alma. Nada mais contrário à fé judeu-cristão que a divisão do ser humano em dois: o ser humano é uma unidade indissolúvel de corpo e alma. A salvação oferecida por Jesus é para o ser humano completo, corpo e alma. O corpo faz parte da essência humana. Nem a morte o separa da alma. A alma não é superior ao corpo, mas ambos atuam em conjunto e têm destino comum, no bem e no mal, na vida e na morte. O Credo cristão não fala em alma, mas em ressurreição da carne, isto é, da fragilidade, para a vida eterna. É heresia grave anunciar como verdade de fé que a alma se salva e o corpo será destruído. A salvação ou perdição é do ser humano inteiro, e será construída nesta vida. Depois da morte, não há mais retorno à terra para novo aperfeiçoamento. "Os seres humanos devem morrer uma só vez, depois do que vem um julgamento (o juízo final particular). Do mesmo, Cristo foi oferecido uma vez por todas para tirar o pecado da multidão" Hb 9,27-28. A doutrina da reencarnação inspira-se na filosofia grega, não na fé cristá. É abusivo equiparar reencarnação com ressurerição da carne. Estou por ver pessoas reencarnadas depois de desencarnadas. Fundamentados na Escritura e na fé, sabemos que os que viveram nesta vida em Cristo, com Cristo, por Cristo já ressuscitaram com ele e com ele são santos; depois da morte, ratificarão a ressurreiçào da carne vivida na fé e na esperança, e continuarão a viver com ele pela eternidade, sem necessidade de reencarnação. Do ponto de vista da fé na ressurreição, a reencarnação não tem fundamento antropológico, cristológico, pneumatológico