A REPRESENTAÇÃO DO FEMININO NA OBRA FALA SÉRIO, MÃE! DE THALITA REBOUÇAS.

Por Gleice José Maria | 26/08/2011 | Literatura

Introdução:

Inicialmente faz-se necessária uma análise da produção literária sobre a ótica da mulher. Desde a década de 60 há uma busca por descobrir e divulgar a tradição de escrita feminina, reavaliar a imagem da mulher na literatura e valorizar as vivências desta do ponto de vista individual e coletivo.
Para tanto surge à crítica feminista que entende a literatura com o propósito de contraponto à tradição cultural e parte do princípio de que é necessária uma compensação, que equilibre o lugar do masculino e do feminino na história literária. Tal crítica é entendida mais como revisão, do que método crítico. Um dos pontos fundamentais para esta abordagem é a diferenciação entre sexo e gênero. Segundo (LOURO, 1997) o gênero não é entendido como identidade primordial absoluta, mas como um dado culturalmente adquirido, que acompanha as mudanças da própria cultura. Esta posição crítica deriva da consciência reflexiva de mulheres que ousaram se destacar em séculos mais distantes. A história mostra que é de longa data que elas vem se submetendo a ocuparem lugares predeterminados pelos homens. A partir do movimento feminista as mulheres passaram a dizer o que são num processo de redescoberta, reavaliação e construção contínua e intemporal. Houve um resgate e a valorização do olhar feminino sobre a tradição historico-literária masculina.
Tais colocações permitem dizer que a crítica feminista traz o questionamento acerca da construção de grandes textos da cultura ocidental por terem sido escritos por homens e apresentarem uma visão do mundo a partir de um ponto de vista masculino. Estudos sobre este tema demonstram que textos conceituados na maioria das vezes apresentam a mulher-como-objeto ou a mulher-como-o-outro. De acordo com (BONICCI, 2009) ao pensarmos no papel da mulher na literatura percebemos que ela é usada esteticamente nas grandes obras literárias apenas como veículos para o crescimento ou salvação do protagonista masculino. Suas idéias são apresentadas quando elas se relacionam, servem ou se opõem aos interesses do mesmo. A crítica feminista busca compreender a relação da mulher na literatura tanto quanto autora ao resgatar textos de escritoras passadas, como quando leitora, ao identificar o "machismo" presente nos textos literários. Uma questão comum entre os círculos feministas, ainda em (BONICCI, 2009), consiste na distinção entre os termos feminista (posição política, fase protesto), fêmea (questão biológica, auto realização) e feminina (conjunto culturalmente pré-definido de características, internalização das normas masculinas x femininas), que são as três fases por que passou a tradição literária de autoria feminina. Diz que numa mesma obra podemos perceber as três fases. As relações entre homens e mulheres ao longo dos séculos, mantêm entre si um caráter excludente, acontecendo de forma desigual, sendo designada à mulher a condição de inferior. Tal condição vem sendo reproduzida pela maioria dos formadores de opinião e pelos que ocupam as esferas de poder na sociedade.
Desde a antiguidade clássica (TIBURI, 2002), percebe-se este papel de subjugação estabelecido para as mulheres. Platão, em A República, V livro, desenhou a mulher como reencarnação dos homens covardes e injustos. Aristóteles, em A História Animalium, afirmava que a mulher é fêmea em virtude de certas características: é mais vulnerável à piedade, chora com mais facilidade, é mais afeita à inveja, à lamúria, à injúria, tem menos pudor e menos ambição, é menos digna de confiança, é mais encabulada. Na idade média os ideólogos burgueses destacaram sua inclinação natural para o lar e a educação das crianças. Na idade moderna, Rousseau descreve a mulher como destinada ao casamento e à maternidade. Kant a considera pouco dotada intelectualmente, caprichosa indiscreta e moralmente fraca, sendo o encanto sua única força. Sua virtude é aparente e convencional. Esses são alguns dos atributos dados a mulher, que reforçam a base da exclusão do feminino na sociedade. Reverter este papel demandou e demanda esforço, luta das feministas na busca pela construção de conceitos de eqüidade entre os dois sexos para tirar a mulher da exclusão, e contemporaneamente para a construção de uma nova identidade. Essa iniciativa faz parte de uma batalha no campo das idéias que avança de forma heterogênea nas conjunturas sociais, econômicas, políticas culturais em diversas partes do planeta, e no nosso campo de análise, literário. O desafio de romper o esquema em que o masculino e o feminino se constroem em oposição um ao outro, foi o ponto crucial para o movimento feminista. A proposta inicial foi reconstruir o esquema construído a partir da lógica patriarcal que dificultava a percepção de outras formas. Importante destacar que a construção tem como premissa a lógica da diferença como elemento positivo, pautado na identidade e sem a desigualdade, considerando a diferença dos termos, mas mostrando que um está presente no outro, e, portanto, ambos podem ser equivalentes. As diferenças entre homens e mulheres, ao se afirmarem, rompem a unidade, possibilitando a existência de uma identidade masculina e de uma outra identidade feminina. Elementos como classe, etnia, religião, idade etc. atravessam a pretensa unidade de cada elemento, transformando em múltiplo o sujeito masculino ou feminino pensado no singular.
A partir de agora será discutida a questão da construção do feminino a partir da influência de obras literárias (BONNICI 2009, p. 218)

"o termo feminino aparece como oposição ao masculino e faz referência às convenções sociais,ou seja, a um conjunto de características atribuídas à mulher definidas culturalmente, portanto em constante processo de mudança."

Desde a mais tenra idade há uma extrema preocupação das instituições em demarcar os espaços do masculino e do feminino para os pequeninos. Tais marcas se dão na forma de vestir, de se portar, de falar e até de andar, enfatizando diferenças entre ambos. Em outras palavras, a maioria delas insiste em demarcar a feminilidade e a masculinidade através do processo cultural onde os símbolos estabelecem diferenças entre homens e mulheres. Esta diferença não é definida por gêneros, mas por valores impregnados no universo de formação infantil. Tal atitude interfere diretamente no mecanismo de construção da identidade dos indivíduos.
Para a análise deste, destaca-se que a literatura é um dos instrumentos que contribui para esta construção, principalmente porque através das obras literárias a questão de gênero é demarcada tendo o feminino e o masculino os seus lugares. Com uma obra literária poderemos transmitir valores institucionalizados e reforçar o papel de subjugação existente no meio social.
Vejamos o que há por detrás das narrativas femininas presente nas obras literárias. Vem sendo relevante o papel da mulher na sociedade e neste caso específico, na literatura? (BONNICI 2009, p. 217) "... tal presença não deve ser analisada como um fato que passa a despertar curiosidade por estar ligado a este momento de afirmação." O olhar atento para o papel do feminino no social possibilita a ampliação do campo epistemológico das disciplinas que se preocupam em entender e analisar o papel da mulher na sociedade, ganhando força nos estudos sociológicos, psicológicos, históricos e antropológicos, além de sua constante abordagem no campo artístico literário. A obra literária se debruça sobre o discurso polifônico das mulheres na sociedade para registrar seus hábitos em diferentes épocas descortinando pelas escrituras tudo aquilo que não foi dito, mas que ficou subentendido. A literatura desta forma traz à tona a evolução histórica do pensamento e comportamento humano, neste caso do feminino. A mulher ocupou um lugar minoritário por muito tempo em nossa sociedade, principalmente na patriarcal. Ela estava submetida aos desmandos do pai, irmãos, marido. Era obrigada a obedecer a todos e ficava restrita às seus próprios sentimentos, desejos reprimidos, alegrias, tristeza e medos. Embora esta situação de exclusão e massacre a presença da mulher nos textos literários seja como personagens ou como autoras e na vida de forma geral, denota o significado do feminino em nossa cultura. Segundo (DUARTE 1990, p. 76)

Talvez mais importante que detectar os valores exaltados através das figuras femininas, fosse conhecer o porquê a exaltação de uns valores sobre outros numa determinada época, o que torna imperiosa a revisão crítica dos códigos culturais em que se insere a obra literária. O trabalho de resgate das escritoras antigas começa a ser feito, não deve pretender apenas se constituir num arrolamento das "esquecidas", mas sim permitir o conhecimento das tradições literária das mulheres, o percurso, as dificuldades e mesmo estratégias utilizadas para romper o confinamento cultural em que se encontrava.

Na analise para este pretende-se identificar como a identidade feminina foi construída no livro de literatura infanto-juvenil na obra Fala sério mãe de Thalita Rebouças. Entendendo a questão de gênero como construída socialmente, optei por trabalhar com este tema por observar, que a leitura dos livros paradidáticos influencia sobremaneira a atitude dos adolescentes, (SCHWEICKART, 1994, p. 271) "a literatura androcentrica estrutura a experiência de leitura de modo diverso dependendo do gênero do leitor." Quanto mais próxima estiver uma obra literária da realidade maior condições de assimilação e gosto pela leitura propiciará. A analise desta obra tem o intuito de detectar o papel do feminino dentro da mesma tendo em vista o grande transito desta autora entre as adolescentes de 10 a 14 anos idade. Em outras palavras: é uma autora, escrevendo para leitoras, sobre relação de duas pessoas do sexo feminino: mãe e filha.
Antes de tudo cumpre mencionar as demais obras desta autora e fazer uma colocação sobre sua biografia. Alguma de suas obras: Fala sério, mãe; Fala sério, professor; Fala sério, amor; Fala sério, amiga; Tudo por um pop-star; Tudo por um namorado; Tudo por um feriado; Traição entre amigas e Uma fada veio me visitar. Além de ser escritora, é também jornalista e mantém uma coluna na revista Atrevida, chamada Fala, sério!, Sua expressão chave, e atualiza um blog e um site, onde mantém as fãs leitoras informadas sobre o seu trabalho. Estão na promessa mais dois livros: Fala sério, pai e um outro, ainda sem título, que terá um menino como protagonista estas são algumas das demais obras escritas por esta escritora, carioca do Rio de Janeiro jornalista formada em direito e que vem sendo bem aceita pelas adolescentes estabelecendo contato direto com suas leitoras através de blogs e presenças em bienais.
A obra estudada trata da experiência vivida entre mãe e filha de uma forma bem peculiar. A história é construída toda em diálogos entre a mãe Ângela e a filha Maria de Lourdes a Malu. A narração é feita da seguinte forma: a primeira parte do livro, da gestação da Maria de Lourdes até seus treze anos, é narrada pela mãe, que, então passa a palavra à filha de uma forma bastante inteligente e sensível:

"É a menina cedendo lugar não à mulher, mas a uma linda mocinha. A minha mocinha (...) que se orgulha de ter idéias e ideais, que me ensina muito, diariamente, e que se expressa com clareza e coerência através de gestos, atitudes e, principalmente, palavras. É, palavras. A partir de agora, tenho certeza, ela já pode falar por si própria." (REBOUÇAS, 2004, p. 68)

Neste momento entra em cena a segunda narradora, a própria Maria de Lourdes, contando, de acordo com sua ótica, a relação de amor e conflitos com a figura materna. Sua narração se estende até o fim da história, quando está com 21 anos e saindo de casa para morar sozinha.
A obra demonstra que na relação mãe e filha os dois lados apresentam sua cota de "martírio". Se por vezes os filhos não compreendem as mães, em certos momentos são as mães que não compreendem os filhos, tentando passar toda suas demandas de angustias e frustrações aos rebentos.

- Vai estudar francês, ué.
- Eu não quero estudar francês! Nunca tive a mínima vontade. Como é que você teve coragem de fazer isto comigo? Mãe que absurdo.
(...)
- Maria de Lourdes, poupe-me de seus sermões adolescentes, sim?
-Não, não vou te poupar não! Todos os dias faço um monte de coisas só porque você quer. Vou ao inglês porque você quer, faço natação porque você quer,leio livro que você e os professores me obrigam a ler, vou a museus que você escolhe, faço programas que você acha legais, dou satisfação em casa porque você acha certo... será que você não entende que pelo menos na minha matrícula, eu queria ter um pouquinho de autonomia?
- Que drama! Como você é mal agradecida, como é geniosa! Maria de Lourdes, que gênio ruim você tem! Seus irmãos são tão meus amigos, tão fofos, tão zen... (REBOUÇAS, 2004, p. 91)

O que mais se destaca na presente obra é a capacidade da autora em retratar esta relação com respeito à construção de uma identidade feminina tranqüila e equilibrada, sem repressões vulgarizantes. Para isto se vale das habituais, e saudáveis, discordâncias existentes entre mães e filhas. As discussões entre Maria de Lourdes e Ângela Cristina, às vezes sérias, outras vezes engraçadas; às vezes importantes, outras vezes irrelevantes, todas, no entanto, regadas a amor, possibilitando-lhes crescimento e amizade.

...Não vai ser difícil me acostumar com a idéia de que ela odeia balé. Sonho muitas outras coisas para minha filha.
- Aula chata, professora chata, todas as meninas chatas. Balé é chato resumiu seus sentimentos sobre dança na ponta dos pés.
Está bem, não sonho mais. A partir de agora vou torcer. Torcer para que ela seja uma excelente médica violoncelista, acho lindo violoncelo... (REBOUÇAS, 2004, p. 26)

E ainda:

...Por isso matriculei-a na aula de judô que acontecia na lá ao lado e fisgou sua atenção de forma impressionante... (REBOUÇAS, 2004, p. 26)

A autora apresenta o lugar do feminino levando em consideração o respeito pelo diferente, o diverso o múltiplo, entendendo que as mulheres não precisam fazer coisas ditas só de mulheres para serem aceitas e respeitadas. Avaliando a influência da sociedade exercida sobre à auto-estima das mulheres, evidencia como a imagem literária desta obra traz a dinâmica de uma relação de respeito e compreensão sobre o lugar do feminino que se respeita. Esta foi uma conquista do movimento feminista que através de várias manifestações lutou por um espaço de respeito e igualdade de condições:

Minha querida primogênita resolveu entrar para um curso de teatro. Achei ótima a idéia, teatro solta a cabeça, faz pensar, ler, criar, fantasiar, imaginar- e, como disse Albert Einstein, "imaginação é mais importante que conhecimento." Dei a maior força.
Em pouco tempo Maria de Lourdes ficou menos tímida, mais segura de si, mais articulada, muito mais comunicativa. E muito amável. Mas amável demais. Aquele tipo de amável que beira ao exagero. Do dia para à noite, minha amabilíssima filha resolveu virar uma abraçadora, profissional. É um tal de abraça para cá, abraça para lá. (...)
(...) - Minha filha troca de energia é bonita e tal, mas é atiradinha demais para o meu gosto. Agora você vive pendurada em um monte de gente. Quem não conhece a beleza de tanta energia deve te achar uma menina... Como ou dizer isto? Fácil.
- Fala sério mãe! Que comentário mais sem noção! Eu não estou nem aí para o que as pessoas pensam ou deixam de pensar de mim. Ninguém tem nada a ver com a minha vida.
- Mãe eu gosto de trocar carinho com as pessoas, só isso. Nunca ninguém me abraçou com vontade aqui em casa. Abraço na nossa família sempre foi longe, rápido, sem força, sem vida. Um abraço pode ser a melhor coisa do mundo por alguns segundos. E quem não quer a melhor coisa do mundo? Abraçar com vontade quem eu gosto não quer dizer que eu seja uma menina facinha. Aliás eu sou a menina menos fácil que conheço, achei que você soubesse. (...)
(...) Papéis invertidos. Levei uma senhora bronca da minha pirralha. Uma bronca elegantérrima, mas uma bronca. E dou razão a ela por cada palavra, por cada sentimento que ela pôs em seu discurso. Fiquei orgulhosa de sua entrega, de suas verdades... dos eu coração. (REBOUÇAS, 2004, p. 61, 62 e 63)

Muitos estudos vem contribuindo para compreensão das transformações pelas quais a sociedade moderna vem passando. Existem diferentes teorias em diferentes áreas que levam em consideração a dicotomia entre o masculino e o feminino. Diferentes propostas sobre este estudo evoluem para questionamentos ideológicos. Para que as mulheres construam seu espaço dentro do social faz-se necessário o respeito a seu papel e no caso específico da literatura deve-se haver uma construção coletiva deste espaço literário, onde mulheres escrevam sobre mulheres, sejam analisadas e lidas por mulheres para legitimar seu espaço de atuação. SCHWEICKART 1994 destaca que em virtude da necessidade de romper com o processo de masculinização, as leituras voltadas para mulher deve ser motivadas pela necessidade de "conectar-se", de recuperar ou de reformular o contexto, a tradição que ligam as escritoras umas às outras, às leituras, aos críticos e à grande comunidade de mulheres.
Masculino e feminino são concebidos e definidos por intermédio de práticas masculinizantes ou feminizantes, de acordo com os conceitos construídos no processo de relação (LOURO,1997). Homens e mulheres começam a fazer parte de um mundo social que estabelece parâmetros, ou seja, masculino e feminino e passaram a ser vistos como partes de um processo evolutivo, contínuo e ativo das instituições sociais.
O lugar do feminino é construído a partir da identidade da mulher, que se estabelece multifacetada, plural e elaborado em um tempo e lugar constituídos, englobando uma realidade social. Nesta obra percebemos que embora toda a excentricidade da Ângela, mãe da Malu, ela consegue lidar bem com a desconstrução do papel de subjugação do feminino no meio social, criando uma relação de confiança, auto-estima e de um espaço de independência embora respeite as peculiaridades pertencente ao sexo feminino, estando na vanguarda do processo de conquista do espaço pela mulher.

Ando meio jururu. Hoje mais que ontem, talvez seja a TPM. Fazer o que? O fato é que apesar de ser uma menina feliz, amada, bem resolvida, que já sabe que vai prestar vestibular para Jornalismo (90% dos meus amigos não tem idéia do que querem fazer quando crescer) e com uma família linda, há tempos não arrumo um namorado sério (...)
(...) Mamãe me explicou que sim, é assim a vida toda. O importante é não deixarmos nossa auto-estima ir para o pé por conta da indecisão e da falta de comprometimento do sexo masculino.
- Temos de gostar da nossa própria companhia, filha. Aprender a gostar de nós mesmas é um grande passo para deixar de querer entender a cabeça dos homens. Eles são feitos de outro material, de outra espécie. Nossa felicidade não pode depender deles ou de um relacionamento sério. Existem milhões de coisas que me fazem felizes e enquanto meus namoros não vingarem, eu vou me divertindo com elas.
Até que minha mãe estava boa de conselhos... (REBOUÇAS, 2004, p. 144 e 146)

Com tais colocações, destaca-se a importância desta obra para a construção da identidade feminina de adolescentes, sendo fonte de estudo e análise para outros pesquisadores. Vale considerar que, nas palavras de (DUARTE, 1990 p. 73)

Para quem tanto tempo esteve ausente como sujeito da história, reduzida a uma inferioridade calcada em na sua condição biológica, à mercê de ideologias que a colocavam como um segundo sexo e da indústria cultural masculina que se encarregou da construção e quase cristalização das imagens do feminino, não é fácil recuperar o tempo e reconstruir esta identidade.

Uma obra como esta, demonstra os avanços alcançados pelas escritoras femininas e a luz no fim do túnel do caminho que ainda se tem a percorrer.


CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Considerando que as identidades também são construídas através das obras literárias num lugar de produção cultural, como espaço de enunciação, deve traduzir as diferenças, partindo do princípio de que, invariavelmente afetam e formam. Em outras palavras, é importante estar atento aos significados que as obras literárias trazem, pois constroem as identidades ou produzem as diferenças inseridas no imaginário humano. Assim a literatura, como disciplina humanística, favorece a construção da identidade. Não houve aqui nenhuma pretensão em resolver os problemas em relação a visão da leitura de obras femininas, nem tão pouco determinar este papel para educação literária. A principal preocupação foi tentar entender o processo que faz a ligação entre o interesse das jovens por literatura e as prováveis possibilidades de levar para suas vidas espaços de atuação livre de olhares aviltantes de massacre e subjugação.
No livro pode-se observar a intencionalidade da autora diante da representação feminina, apresentada através da narrativa que solidifica os padrões culturais e os transforma em marcadores do padrão estético e cultural feminino bem coerente com a atualidade.






Referências Bibliográficas:


BONICCI, Thomas & ZOLIN, Lucia Osana. Teoria Literária: Abordagens Histórias e Tendências Contemporâneas. Maringá, EDUEM, 2009.


DUARTE, Constância Lima. Literatura feminina e crítica literária. In: GAZZOLLA, Ana Lúcia Almeida (org.) A mulher na literatura. Belo Horizonte: UFMG. 1990. p. 70-79.


LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis: 1997.


REBOUÇAS, Thalita. Fala sério, mãe! Rio de Janeiro, Rocco, 2004.


SCHWEICKART, Patrocínio P. Reading ourselves: toward a feminist theory of reading. In: RICHTHER, David H. Conflicting views on reading literature. Boston: Bedford Books of St. Martin?s Press. 1994. p. 269-278.


TIBURI, Márcia./MENEZES, Magali M. de./EGGERT, Edla. (Orgs.) As mulheres e a filosofia. São Leopoldo: Editora UNISINOS, 2002.